'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 12
As Bruxas de East End & Três Beijos


Notas iniciais do capítulo

Hey, pessoal! Nem demorei muito né? Tenho que agradecer os comentários do último capítulo, fiquei muito, muito, muito feliz por terem gostado. Muito obrigada por estarem acompanhando e opinando. Comentem o que quiserem e o quanto quiserem, adoro saber o que estão achando da fic. Sei que algumas pessoas não comentam por achar que eu não leio os comentários, mas gente, eu leio sim. Então tratem de comentar!
Esse capítulo não ficou engraçado como os dois últimos, mas tem Regina e tem personagens de uma série chamada Witches Of East End. Não se preocupem, não é necessário ter visto a série pra entender, porque eu adaptei de acordo com a história da fic. Mas recomendo que assistam essa série, tenho certeza de que vão adorar. E aproveitem, lá também tem um Killian bonitão, charmoso, que tem um barco e toca piano kkkk Acho até que ele vai aparecer no próximo capítulo (dois Killians pra deixar vocês loucas).
Ah e já que gostaram da ideia de ter temporadas, farei pelo menos mais uma. Tenho quase tudo planejado até o final desta, que deve terminar lá pelo capítulo vinte. Já vou avisando que ela vai terminar com uma grande revelação, que pode ser chocante (ou não) para vocês. Mas enfim. Espero que gostem! Boa leitura!



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– RUBY LUCAS, É VOCÊ NA TELEVISÃO? ACABO DE VER UMA GAROTA DE MECHAS VERMELHAS BEIJANDO UM CARA PARECIDO COM O DOUTOR SIMONS... AH MEU DEUS, É O DOUTOR SIMONS! RUBY, QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO AÍ?

– É a sua avó? – perguntou Killian, que escutara os berros que vinham do celular – Como assim ela nos viu na televisão?

Será que ele não vira a quantidade de jornalistas no local? Bem, de qualquer modo, as ruas estavam uma loucura, era realmente difícil prestar atenção a tudo o que estava acontecendo.

– Vovó, falo com a senhora depois, está bem? – ia dizendo, mas ela sequer escutou.

– ACABO DE LIGAR A TV NA CNN E VEJO MINHA NETA NO MEIO DO PANDEMÔNIO, AOS BEIJOS COM O PATRÃO! RUBY, MINHA FILHA, VOCÊ NÃO TEM AMOR À VIDA? PELO AMOR DE DEUS, O QUE É QUE ESTÁ FAZENDO AÍ? NÃO VIU O QUE ACABOU DE ACONTECER? E SE DE REPENTE UM ELEFANTE LOUCO ESMAGA VOCÊS?

Vovó não me deixava falar, estava desesperada. Com certeza, fôramos pegos por milhares de câmeras. De fato, uma câmera da CNN estava posicionada do outro lado da rua – bem na nossa direção -,enquanto o repórter falava e apontava para o zoológico.

– Vovó, se acalme, está tudo sobre controle! Estou acompanhando o Doutor Simons a uma viagem de negócios. Acabamos presos no engarrafamento e fomos pegos pela confusão aqui do zoológico.

Mais uma mentira. Odiava mentir assim pra ela, mas o que eu podia fazer?

– PELO AMOR DE CRISTO, RUBY! NEM TEVE A DECÊNCIA DE AVISAR À SUA AVÓ QUE ESTAVA SAINDO DE VIAGEM! E NEM TERIA ME CONTADO SE EU NÃO TIVESSE TE VISTO NA TV, NÃO É? – ela parou de berrar, mas continuou a falar alto – Você agora está pegando seu patrão?

– Vovó! Foi só um beijo... e eu não tive culpa, ele me beijou primeiro... – disse e Killian me encarou com a sobrancelha arqueada.

– Bem, não estou reclamando... Você sabe, minha filha, só quero que seja feliz...

Não tive tempo de dizer mais nada, porque nesse momento um bando de jornalistas veio para nosso lado. Gancho certamente gostou da atenção, mas fiquei agoniada com tantos microfones e câmeras apontados pra mim. Fizeram milhões de perguntas, querendo saber nossa reação ao caos instaurado na cidade. Eles precisavam mesmo perguntar? Todos estavam muitíssimo assustados, para dizer o mínimo.

– Bem, nós tomamos um susto – falou Killian, extasiado por seus minutos de fama – Não é todo dia que se vê uma manada de elefantes à solta. Eu diria que tive sorte, muita sorte. Poderia ter morrido esmagado...

Deixei que ele respondesse às perguntas e fiz cara de paisagem, enquanto ouvia a vovó berrar feito louca por eu estar em todos os canais da TV. Minutos depois, quando todos nossos conhecidos nos viram nas notícias de última hora, não tivemos mais sossego. Nossos celulares não paravam de tocar.

– VOCÊ E O GANCHO ESTÃO SE PEGANDO? – Regina perguntara aos berros, quase me deixando surda – NÃO ACREDITO, ESTÃO SE PEGANDO EM FRENTE ÀS CÂMERAS. JESUS AMADO, É VERDADE QUE QUASE FORAM ESMAGADOS POR UMA MANADA DE ELEFANTES?

Mary me ligara em seguida, fazendo uma balburdia danada. Ficou louca de felicidade por finalmente termos “sucumbido aos sentimentos”. Tanto escândalo por um beijo?

Voltamos ao hotel para descansar a cabeça. Assim que fechamos a porta, pudemos nos jogar em nossas camas e fechar os olhos por cinco minutos. Não chegamos a comentar o beijo, porque tudo acontecera muito rápido e ainda precisávamos de tempo para colocar a cabeça no lugar. Foi deitada naquela cama que percebi o quanto estava cansada. Meus ossos e cabeça doíam e eu daria tudo por um bom banho de banheira. Infelizmente, o hotel era muito simples e nos proporcionava apenas uma ducha no banheiro.

– Ruby? – Killian chamou, depois de muito tempo. Achei que ele estivesse dormindo, já que estava tão silencioso – Sabe o que eu estava pensando?

– Hum?

– Agora podemos escrever um manual de sobrevivência.

Ri. Depois dos eventos narrados no capítulo anterior, confesso, pensei seriamente em escrever um livro. Aquele caso fora tão louco que eu precisava compartilhá-lo com alguém.

– É, eu vou escrever. O título vai ser: Manual do Sobrevivente Urbano: Um Guia De Como Sobreviver A Catástrofes E Manadas de Elefantes.

Ele achou graça.

– É uma boa ideia. Sabe de uma coisa? Você devia fazer como Watson, o amigo de Sherlock Holmes que narrava suas aventuras.

– Quer que eu escreva o caso do zoológico e o do espantalho? É, seria uma boa.

Assim o fiz. Enquanto descansávamos em nosso quarto de hotel, narrei tudo o que acontecera no zoológico. Bem, quase tudo.

– Você devia pensar seriamente na carreira de escritora – falou Killian, sentado numa poltrona e lendo meus relatos (ele tivera crises de riso enquanto lia, principalmente na parte em que eu narrara seu resgate, quando Sam e Dean saíram carregando um banco de madeira). – Mas por que não escreveu a parte do beijo?

– Não achei que fosse necessário. – dei de ombros, sorrindo com a lembrança do beijo. – O caso é a única coisa que importa, não há necessidade de narrar o que aconteceu depois.

– É claro que há! Já que não quer escrever, farei isso depois. Tá com fome? Vou sair pra comprar alguma coisa.

Pelo visto, ele gostara do beijo também.

Devo contar aqui o que aconteceu depois de Castiel ter expulsado o espírito de dentro do elefante e de Seu Madruga ter dito que aquilo fora incrível.

O elefante, que no fundo era uma criatura bastante dócil e amorosa, voltou a ser como era antes de o espírito de Lucy, a tratadora que fora assassinada, se apossar de seu corpo. Tão logo o espírito fora destruído, percebemos a diferença. Miko ainda ficaria isolado por uns dias, até terem certeza de que ele poderia conviver com os outros, mas claro, o fato de ele ter matado uma pessoa colocava em risco não apenas sua vida, mas a do zoológico, que poderia ser fechado a qualquer momento.

– Que tragédia, que tragédia! – repetia Seu Barriga, que ficara desolado por ver o estrago em seu amado zoológico – Que tragédia, que tragédia! É o fim...

Fora os vidros espatifados, as cercas arrebentadas, as plantas amassadas, as mesas e barraquinhas reviradas e etcetera e tal, Seu Barriga ainda tinha que lidar com os danos físicos e morais que aquela tragédia havia causado. A família da garota que se ferira com o vidro do recinto dos orangotangos iria processar o zoológico (a garota estava bem, mas levara centenas de pontos). A treinadora que batera a cabeça passava bem, mas tomara trauma de golfinhos. Um tratador fora atacado por uma cobra píton, que quase o sufocara até a morte. Um garoto levara uma cabeçada de girafa, enquanto alimentava as mesmas. Sem mencionar as pessoas que foram bicadas por flamingos, as que foram atacadas por orangotangos, ou as que perderam seus pertences durante a corrida dos elefantes. O próprio diretor do zoológico perdera os óculos.

– Meus óculos... onde é que foram parar meus óculos?... – ele parecera muito confuso e olhara para os lados como se não soubesse por onde começar a avaliar os estragos- Agora vejam só, que tragédia... É o fim do zoológico de Indianapolis... um dos mais conhecidos deste país... cuidei tanto para que as pessoas o amassem... Que tragédia, que tragédia!

– Os estragos são o mínimo com o que tem que ser preocupar – dissera uma autoridade ambiental, responsável pela vistoria dos animais – Para mim está claro que estes animais têm sido tratados de maneira relapsa. Estão estressados, é por isso que agiram agressivamente.

– M-mas veja bem, meu senhor, estes animais são muitíssimo bem tratados. Há algo de estranho com este zoológico... – ele coçara os poucos fios de cabelo e então olhara em nossa direção – Espere aí! O que estes dois ainda estão fazendo soltos? São farsantes! Estavam se passando por fiscais da vigilância sanitária. Que absurdo! E os outros três devem ser cúmplices! Prendam-nos imediatamente!

É claro, naquele momento tentamos nos explicar, enquanto Dean afirmava não ter nada a ver com aquilo. Nós cinco fôramos levados de volta ao prédio de administração, enquanto, lá fora, biólogos, tratadores e fiscais ambientais tentavam trazer de volta os animais fujões. Os elefantes, soubemos, além de terem pisoteado o carro de Dean, ainda haviam derrubado um semáforo, estourado um hidrante e congestionado o trânsito. Sem mencionar as gazelas galopantes, que quase não foram pegas, de tão rápidas que eram.

Nos víramos sendo interrogados por policiais, que no começo acharam que éramos terroristas e que, em parte, havíamos sido culpados pelo o que acontecera. Não sei de onde tiraram essa ideia! Tratamos de desmentir essa hipótese, enquanto Killian tentava se esquivar das perguntas.

– É claro que somos fiscais da vigilância sanitária! – ele afirmara, fingindo indignação –Estão vendo minha identidade? Sou fiscal com muito orgulho!

– Não é fiscal coisa nenhuma! – exclamara Seu Barriga, suando feito porco – Ficou tentando me enrolar com uma baboseira de azeitonas estragadas. Esse aí nunca foi e nunca será vigilante sanitário. E esta mocinha tentou fugir quando o parceiro foi pego, não é mesmo? Apenas mais uma prova de que é uma farsante!

– Ora, isso não importa. – retrucara Killian – Eu quase fui esmagado por elefantes, devia receber uma indenização por danos morais.

– De fato, ele está certo quanto a isso – concordara um dos policiais – Mas devo adverti-lo, senhor, se provarmos que não é fiscal, terá de responder por falsificação de documentos. Passar-se por fiscal da vigilância é crime!

A partir daí, não tivéramos escolha, contamos tudo. Bom, antes disso, Seu Madruga aparecera dizendo algo sobre Castiel ser um anjo que apareceu para nos salvar. No começo, ninguém acreditou, principalmente quando Seu Madruga contou a história do espírito sendo expulso do corpo do elefante. Riram da cara dele, até que confirmamos a história e assumimos nossa verdadeira identidade. Aí Seu Barriga, que já estava no fundo do poço, resolvera contar a verdade sobre Miko.

– ...minha pobre Lucy morreu naquele dia. Desde então, quando botei meus olhos naquele elefante, soube que havia algo de diferente. Nunca acreditei no sobrenatural, mas eu soube... soube que minha pobre Lucy se tornou um espírito vingativo e que foi a grande responsável pela morte de Michael Tillman... ela não suportava que outros tratadores cuidassem do Miko. Escondi o elefante para poupar minha pobre filha... – ele assoara o nariz, fazendo um barulhão – Graças a Deus, agora ela foi libertada e viverá num lugar melhor.

– Então o responsável por todo esse caos foi o espírito de Lucy, que vivia preso no elefante? – alguém perguntara. Fiquei surpresa por acreditarem no fato de sermos caçadores de criaturas.

– Exatamente! – Dean assentira, largado na cadeira dura na qual estava sentado – Talvez ela e Michael agissem em conjunto. O espírito de Michael apareceu durante o acidente com os golfinhos, talvez ele também tenha sido um espírito vingativo, antes de o mandarmos para o outro lado.

Depois de ficarem sabendo o que havíamos feito pelo zoológico, perdoaram as ações de Gancho, que realmente era um péssimo fiscal. Seu Barriga se derretera em pedidos de desculpa e agradecera por termos dado à sua Lucy a libertação. Bem, quem fizera aquilo fora Castiel, que desaparecera misteriosamente após sermos liberados. Ao menos tudo acabara bem...

Quando Gancho voltou trazendo uns crepes de morango, me contou que o zoológico seria fechado por uns tempos. Também disse que encontrara os Winchesters e que o carro de Dean já fora rebocado.

– Sabe, foi muito legal o que você fez pelo Dean. – comentei, dando uma mordida no crepe e quase deixando o recheio vazar pelos lados – O coitado ama mesmo aquele carro.

– É, foi um pagamento por ele ter salvado minha vida, mas ainda não foi o suficiente. Aquele idiota sempre vai se lembrar do que fez por mim...

– Agora você vai me contar! Qual é o problema entre vocês? Por que é que se odeiam tanto? Eu sei que tem caroço nesse angu.

Ele riu, sentando-se ao meu lado na cama e mordendo seu crepe.

– Eu já te disse, não vou com a cara dele...

– Aham... Aposto como essa rixa de vocês é por uma bobagem sem motivo. Algo me diz que há uma mulher no meio... e sinto que esta mulher é a Emma...

– Ah, está bem, está bem! Quando você quer descobrir uma coisa não desiste, não é? – ele suspirou – Não foi a Emma, foi outra garota. Os Winchesters são caçadores há mais tempo do que eu. Eles viviam mudando de cidade quando eram mais novos e o pai estava investigando algum caso. Numa dessas andanças, foram parar na escola em que eu estudava. Acontece que Dean Winchester sempre foi muito mulherengo. Nos apaixonamos pela mesma garota e brigamos por ela, o que quase resultou na minha expulsão. Anos depois, quando nos reencontramos e descobri que ele também era caçador, a rixa continuou. De um jeito ou de outro, nossos caminhos sempre se cruzam, e toda vez que isso acontece, ele sempre dá jeito de ficar com os melhores casos. E com as melhores mulheres.

– Ah meu Deus, mas isso é idiotice! – revirei os olhos.

– Não é idiotice! Ele sempre deu em cima de todas as minhas namoradas, até da Elsa, que era quase um homem. Dessa vez ele ficou interessado em você...

– Ele não estava interessado em mim!

– Claro que estava! Não sou idiota, percebi a troca de olhares. – Hum, ele estava com ciúmes. Eu sabia!

– Troca de olhares? Não viaja, Killian! – falei, tentando limpar a meleca de açúcar que se formara em meus dedos. Fiz uma bagunça com o crepe, sujando o rosto, feito criança. Killian riu:

– Aqui, deixa eu te ajudar! – limpou o açúcar que grudara numa de minhas bochechas e, para minha surpresa, me deu um beijo no canto da boca.

Prendi a respiração e me mantive imóvel. Quando me dei conta, ele estava me puxando para mais perto e enfiando a língua na minha boca. E meu Deus, como aquele homem beijava bem! Quase não ouvi um toque de celular soando ali perto. Como é que eu podia pensar com a língua do meu patrão na minha boca? E aquele maldito celular! Que droga, fomos interrompidos na melhor parte...

Fui me esconder no banheiro enquanto ele atendia ao telefone. Estava me sentindo envergonhada, embora tivesse sido ele a me beijar. Ouvi enquanto conversava com Regina e presumi que houvesse mais um caso importante a ser resolvido. Precisei voltar ao quarto quando ele me chamou, dizendo que deveríamos partir na manhã seguinte.

– Cora foi vista em East End. – informou, um tanto irritado. Ele era um dos que odiavam a Cora – Ao que parece, andou aprontando. Regina quer encontrá-la pra terminar o serviço.

– Terminar o serviço? Matá-la? – arregalei os olhos. Não gostava da ideia de alguém sujar as mãos com a Cora. Gancho assentiu:

– É o único jeito de a impedirmos de continuar fazendo o mal. – ele apanhou uma muda de roupas limpas. Só então notei o quanto suas roupas estavam sujas e amarrotadas – Você não a conhece como nós conhecemos, Ruby. Cora é perigosa e traiçoeira, me admira que ela nunca tenha feito nada de ruim a você e sua avó.

– E matar é o caminho mais fácil? Não há outra maneira de impedi-la?

– Olha, eu sei como se sente sobre isso. – ele me encarou com aqueles olhos lindos e brilhantes – Sei que matar não é certo, mas é nossa única opção no momento. E a Regina quer fazer isso, então não há o que discutir. Cora não destruiu apenas a própria vida, também destruiu a felicidade da filha e a família da sobrinha. Não podemos ficar parados enquanto ela machuca mais gente. – ele me deu as costas e apanhou a toalha felpuda sobre a cama – Regina vai nos encontrar em East End, há pessoas lá que podem nos ajudar com a Cora – imaginei que fossem outros caçadores – Vou te deixar em um hotel enquanto isso, não quero que se arrisque de novo.

– Ah, mas eu quero ir com vocês. – fiz biquinho – Não quero ficar sozinha! O que vou fazer enquanto não voltam?

– Escrever! – ele abriu um sorriso – Ainda tem o caso do espantalho pra narrar... Será que posso tomar banho antes de você? Só agora percebi o quanto estou imundo.

E o pior é que ele ficava bonito de qualquer jeito, até com as roupas amarrotadas e os cabelos suados.

***

– Nós não vamos discutir, está bem? – dizia Killian, extremamente calmo enquanto dirigia – Eu não vou permitir que se arrisque novamente. Se algo lhe acontecer, sua avó arranca meu couro.

– Não vai acontecer nada. Sobrevivi a um espantalho e a animais estressados, a Cora não pode ser pior.

– Ruby, eu já te disse que você...

– ...não conhece a Cora como conhecemos – completei, revirando os olhos – É, já disse isso milhões de vezes. Mas é o seguinte: eu não vou ficar parada num quarto de hotel enquanto vocês entram em ação. Eu não quero ir caçar, só quero passear pela cidade enquanto tratam dos troços. Eu não vou ficar trancada num quarto de hotel! O que você pensa que é? Meu dono?

Ele riu, diante de minha teimosia e indignação.

– Está bem, faça como quiser. Mas leve uma arma na bolsa, como precaução.

Após onze horas de viagem, chegávamos à cidade de East End, na costa leste do país. Descobri por uma placa que estávamos próximos a Nova Iorque e tentei convencer Killian a nos levar até lá depois que dessem jeito na Cora. Ele disse que poderíamos ir, desde que eu ligasse pra vovó. A coitada andava uma pilha de nervos desde que me vira na TV. Eu sei, fui inconseqüente a ponto de não dizer a ela que estava saindo de Seattle, mas quando é que eu ia imaginar que quase seria morta por um espantalho e por uma manada de elefantes?

– Ruby, minha filha, a vida é sua – ela me disse quando liguei para avisar onde estava – Fico feliz por ter acompanhado o Doutor Simons nessa viagem, Deus sabe o quanto você precisa se divertir, não é?

– É uma viagem de negócios, vovó, não é para me divertir – sorri.

– Ahá! Pensa que me engana! E aquele beijo lá no zoológico foi o quê? Ah, Ruby, pelo amor de Deus, o país inteiro assistiu aquela cena – ela riu marota e sorri envergonhada – Se isso não é diversão, então não sei o que é. Olhe, se for a Nova Iorque, não se esqueça de me trazer uma camiseta, está bem?

– Certo! E como estão as coisas na pensão?

– Tudo na mesma, exceto pela ausência da Cora. Devo dizer, este lugar se tornou muito mais agradável sem a presença daquela velha inútil. Agora eu quero saber: o que há entre você e seu patrão? Vocês estão de namorico?

Namorico? Quem é que ainda fala namorico? Só a vovó mesmo...

– Claro que não, vovó.

– E o que é que está esperando para agarrar aquele homem? Bem, isso você já fez no zoológico, mas eu quero dizer, por que é que ainda não seduziu aquele bonitão?

– Vovó! – segurei uma risada. Killian estava muito atento ao trânsito, mas sabia que estava curioso por saber do que tanto falávamos. Ele me lançava olhares de vez em quando, achando que eu não ia perceber.

Vovó gargalhou alto.

– Ora, você é mesmo muito lenta! Ele é tudo o que uma mulher procura: rico, bonito, charmoso, educado, cavalheiro... O que é que está esperando, menina? Agarre este homem e não largue mais! Eu não sei por que, mas tenho a ligeira impressão de que ele sente algo por você.

– Não diga besteira... – ela já estava me deixando constrangida com aquela conversa.

– É verdade! Sabe o que ele me disse aquele dia, no almoço de Natal? Disse que você é muito especial pra ele e que se não fosse por você, estaria perdido no meio do caminho. Eu não sei se ele disse isso com intenção de elogiar seu trabalho ou por outra coisa. Mas sabe, eu acho que ele quis dizer: “Se não fosse pela Ruby, eu não seria ninguém”. Entende o que quero dizer? Ele precisa de você! Não por seu trabalho, mas por sua pessoa. Ele sente uma enorme afeição por você. Bem, não sei se afeição é a palavra certa, talvez seja outra coisa...

– Que coisa?

– Amor!

Não sei por que, mas senti um frio na espinha quando ela disse isso. E o fato de Killian cantarolar minha música – como ele dizia quando se referia à música Ruby do Kaiser Chiefs – não ajudava em nada. Eu era mesmo uma lesada por duvidar dos sentimentos de Gancho, mesmo tendo percebido os sinais. Era óbvio que ele sentia algo por mim.

Vovó se despediu dizendo que precisava cuidar de seus afazeres e então enfiei o celular na bolsa, mal prestando atenção à pergunta de Killian, que queria saber como ela estava. Respondi vagamente e me atentei às paisagens que passavam pela janela. East End era uma cidade histórica, o que era facilmente perceptível, devido à quantidade de monumentos e construções antigas.

Adentramos uma ruazinha tranqüila, na qual avistei uma praça e uma pequena feira, e estava a ponto de perguntar o que fazíamos ali quando um gato preto atravessou na frente do carro. Gancho não teve tempo de parar e freou bruscamente. A inércia nos mandou pra frente e teria batido a cabeça no pára-brisa se não fosse detida pelo cinto de segurança. O bichano soltou um gemido estridente quando foi atropelado e pus as mãos na boca.

– Killian, você matou o gatinho!

– Eu não tive culpa, foi ele quem atravessou na minha frente!

Descemos do carro pra verificar se o gato ainda estava vivo. Qual não foi minha surpresa, porém, quando, no lugar do gato, encontrei uma mulher completamente nua? Soltei um grito histérico ao ver uma poça de sangue se formando sob a cabeça dela e Gancho se abaixou ao lado da mesma.

– Puta merda! – ele praguejou e sacudiu o corpo imóvel – Wendy! Wendyyyy! Acorda! Acorda!

– Você a conhece? – perguntei, pasma. Ele não respondeu.

De onde é que ela surgira, afinal? Eu tinha certeza de que Killian atropelara um gato, não uma mulher.

– Ah meu Deus, precisamos chamar uma ambulância! – fui em busca de meu celular, mas Killian acabou por fazer uma constatação.

– Tarde demais, ela morreu!

– Você matou uma pessoa! – gritei, incontrolável – Você matou uma mulher nua! Ah meu Deus, ah meu Deus...

– Quer se acalmar? Ela vai ficar bem!

– Como vai ficar bem? Ela está morta! Meu Deus do Céu, Killian, você matou uma mulher nua!

– Você já disse isso!

– Eu sei, mas... O que está fazendo?

Gancho fez strip tease no meio da rua e retirou a camisa, cobrindo a mulher e erguendo-a nos braços em seguida. Tentei não pensar no fato de ele estar carregando uma mulher nua.

– Não podemos deixar ela aí, não é? – disse ele, vendo minha cara de confusão – Pode estacionar o carro pra mim?

Assim o fiz, enquanto Killian subia para a calçada com a defunta nos braços. Felizmente, não havia ninguém por perto para testemunhar a morte da tal Wendy. Já tínhamos problemas demais e Killian não precisava ir preso por matar uma pessoa. Saí do Impala batendo a porta.

– E agora?

– Vem, a Joanna sabe o que fazer. – ele seguiu em frente, reclamando do peso da mulher morta. Fui atrás dele correndo e perguntando quem era Joanna e de onde ele conhecia a tal Wendy – Eu disse que havia pessoas para nos ajudar com a Cora.

Então eram caçadoras! Mas se Killian atropelara um gato, como é que Wendy fora parar morta debaixo do carro? A não ser... a não ser que ela fosse o gato! Ah misericórdia, agora eu não estava entendendo mais nada!

Killian subiu a escadinha da varanda de uma casa em estilo vitoriano, mandando que eu tocasse a campainha. A porta se abriu revelando uma moça bonita e sorridente, de cabelos volumosos e lábios carnudos. Ela olhou pra mim, depois pra Killian e por último pra mulher nua e morta nos braços dele.

– Ah meu Deus, você matou a tia Wendy! – guinchou, colocando as mãos na boca.

– Foi um acidente! – ele justificou.

– Traga ela pra dentro!

A cabeça da mulher bateu na parede quando Killian passou pela porta e a jovem novamente guinchou (“Cuidado com a cabeça dela!”). Seguimos a garota até a sala de estar e ela mandou que colocássemos a defunta no sofá.

– O que aconteceu? – perguntou, tomando o pulso da morta, para se certificar de que realmente estava morta.

– Um gato atravessou na frente do carro, não sabia que era ela e não tive tempo de parar. – explicou Gancho, enquanto eu olhava para todos os lados, sem saber se me preocupava com a defunta ou se observava os detalhes.

– Que aconteceu, Freya? – uma moça um pouco mais velha veio até a sala e teve a mesma reação que a garota chamada Freya.

– Tia Wendy! – e correu a tomar o pulso da morta – Você a matou, Killian!

– Foi um acidente, ela atravessou na frente do carro – ele repetiu mais uma vez.

O mais estranho é que nenhum deles agia desesperadamente, como acontece como os parentes de um morto, na maioria das vezes. As moças não choravam, não faziam escândalo, nem gritavam feito loucas. Agiam com o mínimo de preocupação, como se estivessem lidando com um vidro quebrado ou com uma unha encravada. Era como se a morte da Tia Wendy fosse uma coisa normal.

Uma mulher de meia idade veio descendo a escadaria ali perto.

– Mas que é que está acontecen... Wendy! – e correu a socorrer o corpo inerte depositado no sofá – Que aconteceu?

– Killian a matou! – acusou a jovem que abrira a porta.

– Killian! – ralhou a mulher, fazendo cara feia para Gancho.

– Foi um acidente, eu já disse! Essa não era a última vida dela, era?

– Ah não, ela ainda tem algumas, não se preocupe – disse a mulher mais velha, acariciando os cabelos da morta – Ela vai voltar em algumas horas.

– Hum, será que alguém pode me explicar o que está acontecendo? – pedi, completamente confusa. Por que é que eles agiam como se Wendy, de alguma forma, fosse ressuscitar? Espere aí, talvez ela fosse mesmo!

– Quem é essa? – sorriu a moça mais velha, que se vestia como bibliotecária – Sua namorada?

– Esta é Ruby, minha assistente. – apresentou Gancho, passando um braço por meus ombros.

– Oh. Estão tratando de negócios, imagino! – disse a mulher mais velha, cobrindo a defunta com um lençol e devolvendo a Killian a camisa – Em que podemos ajudar?

– Bem...

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – tornei a perguntar, um tanto histérica. Aquilo era muito confuso! – Será que dá pra pararem de agir como se Killian não tivesse acabado de matar uma mulher pelada, que agora está jogada num sofá?

As três apenas sorriram divertidas e a mais velha, que devia ser a mãe das duas jovens, veio até mim e segurou minhas mãos, me tranqüilizando.

– Oh, ela não está tão morta assim. Ela vai voltar à vida em algumas horas, não é a primeira vez que acontece.

– Mas... mas como...? Eu não entendo...

– Wendy tem nove vidas – explicou, como se fosse a coisa mais normal do mundo – Bem, tinha. Receio que agora ela tenha uma a menos, já que Killian fez o favor de matá-la.

– Tudo bem, continuem a me acusar – disse ele, fazendo biquinho – Minhas justificativas nunca são bem aceitas, não é?

– Não seria a primeira vez que você mata a Tia Wendy – falou a moça mais velha, a que parecia bibliotecária.

– Venham, é melhor tomarmos um chá enquanto esperamos a Wendy acordar, aí vocês nos contam o que está acontecendo. – chamou a mãe, nos levando até a cozinha.

Eu ainda tentava entender tudo aquilo. Elas não pareciam simples caçadoras, não quando uma delas virava gato e tinha nove vidas. No que é que eu fora me meter? Mas bem, imaginei que não representassem perigo, ou Gancho não teria me levado com ele.

– Eu posso perguntar o que você são? – me atrevi a perguntar e as três olharam pra mim.

– Bruxas! – responderam juntas.

Estremeci, pensando em Cora. Pelo o que já ouvira falar das bruxas, eram extremamente perigosas, além de compactuarem com o lá-de-baixo. Apesar de elas não parecerem esse tipo de gente, as aparências poderiam enganar.

– Oh, não se preocupe – disse a mãe, apanhando uma chaleira – somos pessoas de bem. Sente-se! Acredito que Killian não lhe disse nada sobre nós.

– Não mesmo!

Estávamos na imponente residência das Beauchamp, uma das mais antigas famílias de feiticeiros. Ao contrário das pessoas normais que faziam pactos em troca do poder, as Beauchamp eram verdadeiramente poderosas, tendo cada uma nascido com um dom. Freya, a filha mais nova, era hábil com poções e sabia ler auras. Ingrid, a filha mais velha, era inteligentíssima e capaz de escrever seus próprios feitiços. Wendy, como já sabemos, era capaz de se transformar em gato; também lia auras e era quase tão poderosa quanto à irmã. Já Joanna, a matriarca, era a fodona da família. Segundo Freya e Ingrid, não havia nada que a mãe não pudesse fazer – exceto, é claro, transformar-se em animais.

– E então, a que devo a honra da visita? – indagou Joanna, nos servindo chá e se sentando numa das pontas da mesa – Suponho que estejam com problemas.

– Ah, sim... Você se lembra da Cora? – disse Killian, sentado de frente pra mim e ao lado de Ingrid.

– Oh, eu me lembro, ela é difícil de esquecer... O que ela andou aprontando? Pensei que tivesse sumido no mundo.

– Ah não, ela foi vista aqui em East End.

– Aqui? – ela pareceu surpresa – Mas como? Eu escondi essa cidade do mapa, não há bruxo ou bruxa que possa encontrá-la.

– Não se esqueça, estamos falando da Cora – Gancho sorriu, bebericando um pouco do chá – Tenho certeza de que ela encontrou um meio de burlar a proteção que colocou na cidade. Regina me disse que ela foi vista aqui e que não estava fazendo coisa boa. Achamos que ela está metida em alguma irmandade de bruxas.

Gancho contou o que acontecera no almoço de Natal da pensão, o que deixou Joanna intrigada. Eu não era a única a achar estranho o fato de Cora ter vivido naquela pensão por tantos anos sem machucar a vovó e os pensionistas. A Beauchamp mais velha achava que havia algo de errado nisso, pois todos sabiam: Cora não sabia viver entre os outros pacificamente e não aceitava pouca coisa. O que a levara a viver num quartinho antigo de pensão?

– A sua avó nunca desconfiou de nada? – Joanna perguntou a mim, ao que neguei com a cabeça.

– Não, ela não sabe quem Cora realmente é. Mas elas nunca tiveram uma relação boa, a vovó só deixou a Cora morar na pensão por bondade, sabíamos que ela tinha sido abandonada pela filha.

– E por falar nisso, onde é que está Regina? – indagou Gancho, dando uma olhada no relógio de pulso. Regina combinara de nos encontrar ali e ainda não aparecera.

– Deve estar a caminho – Joanna nos ofereceu biscoitos e recusei educadamente – Quem contou a ela que a mãe estava aqui?

– Eu contei! – uma voz de mulher veio da sala. Pelo visto, Wendy acordara. Ouvimos quando ela gemeu ao se levantar do sofá. Praguejou ao bater com o pé na mesinha de centro e então veio até a cozinha usando o lençol como vestido – Oh man... meu estômago está revirando... Você! – veio na direção de Gancho, enfiando o indicador no peito dele – Eu devia te matar por me tirar mais uma vida, agora eu só tenho duas!

– Oi pra você também, Wendy! – disse ele calmamente, afastando a mão dela para longe – Da próxima vez, olhe por onde anda.

Ela mostrou a língua pra Killian, nos fazendo rir, então veio se sentar na outra ponta da mesa, bem ao meu lado.

– E quem é essa? – sorriu pra mim – Sua namorada?

– Ruby, minha assistente! – por que é que ele sempre dizia isso com o maior orgulho?

– Oh é um prazer imenso conhecê-la! – agarrou minha mão com excesso de força – Desculpe eu não estar apresentável, não é todo dia que se morre atropelada. – ela então me olhou de uma forma estranha, parecendo um tanto surpresa e intrigada.

– O que foi?

– Nada! – sorriu largamente e soltou minha mão – Só estava lendo sua aura, pra ter certeza de que não é uma louca assassina.

– Wendy! – ralhou Joanna.

– Brincadeirinha! – ela cruzou as pernas e se recostou contra o encosto da cadeira, mal se importando com o fato de estar vestida apenas com um lençol florido – E então, o que tá rolando?

– O que tá rolando é que Cora está escondida na cidade e você nem teve a decência de me avisar – falou Joanna, claramente irritada com o comportamento da irmã – Precisava mesmo incomodar o Gancho e a Regina?

– Ora, eu só não disse nada porque você tem muito com o que lidar, não precisava de mais preocupação... – Wendy deu de ombros, ignorando a carranca da irmã – Além do mais, Regis deixou bem claro que queria acabar com Cora com as próprias mãos.

– Eu posso perguntar de quem é essa Cora da qual tanto falam? – Ingrid questionou, ela e a irmã boiavam na conversa. – O que ela fez de tão ruim?

– Cora é apenas uma tola que vendeu a alma em troca de poder – respondeu Joanna – Ela faz coisas ruins para pessoas boas e temos de impedi-la. Não é a primeira vez que tentamos. Da última vez ela fugiu...

– ... depois de me matar com uma pá... – acrescentou Wendy – Quando eu puser as mãos naquela velha... Se não fosse pela Regina, teria quebrado o pescocinho daquela bitch quando a encontrei ontem à noite.

– Ela viu você? – Joanna ficou preocupada, ao que Wendy fez um gesto de “relaxa!” com uma das mãos.

– Ela não teria me visto mesmo que eu dançasse nua na frente dela. A vadia estava ocupada demais escondendo um saquinho de bruxa no nosso jardim.

No nosso jardim? Wendy, eu vou te matar! – Joanna se levantou de um pulo e realmente acreditei que fosse esganar a irmã – O que é que tem na cabeça? Não pensou em me contar que uma bruxa das trevas está tentando nos matar?

– Relaxa, está tudo sobre controle! Eu queimei o saquinho e lancei um feitiço de proteção na casa.

– Ah meu Deus, eu mereço! – Joanna voltou a se sentar, ligeiramente perturbada.

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Freya estava confusa, assim como Ingrid, que olhava da mãe para a tia sem entender nada – O que é um saquinho de bruxa? Por que tem alguém querendo nos matar? Por que Regina quer matar a mãe dela? E quando foi que encontraram a tal Cora pela última vez? Ingrid e eu éramos nascidas?

– Uma coisa de cada vez, Freya! – pediu a mãe, atordoada com tantas perguntas.

Confesso, eu mesma estava confusa. Wendy explicou o que eu já sabia, que saquinhos de bruxa eram feitiços feitos com ossos e ervas. Já que as bruxas que vendiam suas almas não eram verdadeiramente poderosas, usavam esses saquinhos para espalhar sua maldade. Talvez Cora tivesse intenção de matar uma das Beauchamp quando escondera o saquinho no jardim.

– É óbvio que ela quer se vingar de nossa família – ia dizendo Wendy, sentada com os pés sobre a cadeira e fazendo barulho ao mordiscar cookies integrais – Sabe que somos mais poderosas do que ela e que poderíamos matá-la facilmente... o que não aconteceu da última vez.

– Me parece que ela quer nos tirar do caminho – Joanna estava pensativa e fixara o olhar numa das paredes, como se de repente ela tivesse se tornado muito interessante – Quais quer que sejam suas intenções, não pode ser coisa boa. Temos de encontrá-la o mais rápido possível!

– Vocês não responderam metade das minhas perguntas! – reclamou Freya, cruzando os braços – Desde quando têm uma rixa com uma bruxa das trevas?

– Faz alguns anos... você e Ingrid eram muito novas quando tudo isso começou. E Wendy ainda não morava nesta casa...

– Porque você não queria me ver nem pintada de ouro – retrucou Wendy.

– ... foi na época em que conhecemos Killian e o Sr. Gold – continuou Joanna, como se não tivesse sido interrompida – Eu disse a vocês que estava indo tratar de assuntos financeiros, mas na verdade fui atrás da Cora.

Depois de a louca da Cora ter seqüestrado Bae para tentar impedir que Gold a matasse e após seu plano dar errado, fugira de Seattle e cruzara os estados, em direção à East End, que era a cidade das bruxas (porque havia outros feiticeiros por ali). Ali ela encontrara a proteção de outros bruxos das trevas e acreditara estar segura. Gold, porém, fora atrás dela e acabara topando com as Beauchamp, que ele logo descobriu também serem bruxas (ele era mesmo um caçador muito bom, pra conseguir descobrir essas coisas). Na época Joanna vivia como mãe solteira, porque anos antes tivera um desentendimento com a irmã, além de ter cortado relações com o marido. Gold, achando que as Beauchamp eram bruxas das trevas, tentou matar Joanna, mas aí Wendy apareceu e a salvou no último momento. Apesar de não falar mais com a irmã, Wendy estivera sempre por perto, zelando pelo bem de sua família.

– Eu sempre fui uma boa irmã – disse ela, conforme Killian e Joanna contavam toda a história. – Não sei o que seria da Joanna se eu não a tivesse salvado naquele dia.

– Sim, Wendy, eu sei que salvou minha vida, não precisa me lembrar...

Joanna expulsara Wendy de casa depois de ela ter acidentalmente matado Ingrid (essa parte eu explico melhor depois). Mesmo depois de ter sido salva pela irmã, Joanna não a perdoara. Ainda assim, as duas concordaram em ajudar Gold, Milah e Killian a encontrar Cora que, imaginem vocês, estivera com Bae esse tempo todo. Tudo isso acontecera uns quinze anos antes.

– Encontramos a vadia, lutamos contra seus comparsas, recuperamos o Bae, mas a filha da mãe ainda conseguiu fugir – contava Gancho, zangado por se lembrar de toda essa história.

– Depois de acertar minha cabeça com uma pá – lembrou Wendy.

– Depois disso ela nunca mais apareceu nessa cidade, nem poderia, porque lancei um feitiço para apagá-la do mapa, protegendo a de qualquer bruxo que tentasse encontrá-la. – Joanna continuou, porque Wendy fora atender a porta – Bem, como sabemos, ela foi capaz de burlar o feitiço, o que me faz pensar que nasceu como uma de nós.

– O que quer dizer? – indagou Killian, começando a ficar preocupado – Que Cora é uma bruxa de verdade? Achei que ela tivesse feito um pacto com o lá-de-baixo.

– É, eu também achava... Mas apenas uma bruxa verdadeiramente poderosa poderia passar por cima do feitiço que protegia a cidade. Cora deve ser descendente de feiticeiros.

– Espere aí, mas isso não faria de Regina uma... – comecei a dizer.

– Bruxa? – e lá estava ela, vestida num terninho preto e justo – É, me parece que minha mãe e eu compartilhamos mais do que laços consangüíneos...

***

– E você nunca pensou em nos contar? – Gancho estava terrivelmente irritado com Regina.

– O que queria que eu fizesse? Que eu dissesse? “Oh, vejam que terrível artimanha do destino, sou descendente de feiticeiros e herdei poderes de minha mãe”. Eu ainda estou lidando com isso, Gancho, não é fácil pra mim...

– Há quanto tempo sabe? – perguntei.

– Algumas semanas – Regina esfregava as mãos e estralava os dedos, nervosa pela situação – Depois do Natal, quando minha mãe deixou Seattle, veio me procurar em Storybrooke. Na verdade, não chegamos a nos falar, mas ela me deixou uma carta, uma verdadeira bomba-relógio, revelando o que eu sou. Comecei a me sentir estranha desde então. Por alguma razão, meus poderes estavam adormecidos e eu, sinceramente, preferia que continuassem assim. Wendy esteve me ensinando a controlá-los...

– Você sabia de tudo e não contou? – Joanna botou as mãos na cintura, lançando à irmã um olhar severo.

– Regina não quis tornar isto público – ela deu de ombros.

– Não brigue com ela, Joanna, eu pedi a Wendy que mantivesse segredo. Eu... eu ainda não sei como contar isso aos outros... não sei como vão aceitar...

– Claro que vão aceitar, Regina – segurei as mãos dela, tentando confortá-la – Você continua a mesma... só que poderosa!

Ela riu.

– Não me acho tão poderosa assim. Mal sei balbuciar meia dúzia de encantamentos...

– Mas você vai aprender – sorriu Ingrid – Nós também não sabíamos fazer grande coisa, até que Tia Wendy e mamãe nos ensinaram. Vamos te ajudar!

– Eu sei como se sente! – Freya sufocou Regis num abraço – Foi um choque quando descobri que era bruxa e que minha mãe tinha escondido isso de mim.

– De nós – corrigiu Ingrid, lançando a Joanna um olhar acusatório.

– Não comecem! – ela ergueu as mãos em sinal de rendição – Vocês sabem que foi pelo bem de vocês...

As Beauchamp não eram apenas muitíssimo talentosas e poderosas, eram também amaldiçoadas. Há alguns séculos (sim, eu disse séculos), Freya, Ingrid, Wendy, Joanna e Victor – marido desta última – haviam fugido de Asgard, sua terra de origem (sim, Asgard era real), para nosso mundo. O pai de Joanna e Wendy, Rei Nikolaus (é, elas eram princesas de Asgard, um verdadeiro luxo!), tornara-se um homem mau e manipulador, coisa que elas abominavam. Para completar, uma guerra fora instaurada em Asgard.

Assim, as Beauchamp decidiram partir, então atravessaram um portal para nosso mundo (onde poderiam ter uma vida melhor longe do pai). Nikolaus, no entanto, descobriu o plano e, antes que elas pudessem selar o portal, apareceu para confrontá-las. Ele considerou filhas e netas como traidoras, então ameaçou matá-las, caso ousassem retornar a Asgard algum dia. Para completar, amaldiçoou as quatro. Wendy foi amaldiçoada com nove vidas (o que não era tão ruim, apesar de ela já ter tido mortes terríveis); Freya e Ingrid foram amaldiçoadas com uma vida curta, de forma que nunca passavam dos trinta anos (mas podiam renascer novamente, a cada vez que morriam); quanto a Joanna, essa era a que mais sofria: fora amaldiçoada com a capacidade de engravidar novamente de Freya e Ingrid a cada vez que elas morressem (ela já parira as filhas mais de doze vezes, ao longo dos anos).

Elas não eram imortais, mas Wendy me explicou que bruxos e bruxas de Asgard viviam por muito tempo e demoravam a envelhecer (o que explicava o fato de ela ter mais de quinhentos anos, com uma aparência de quarenta). Ela também me disse que Freya e Ingrid, de um jeito ou de outro, sempre morriam antes de Ingrid completar trinta anos. Se uma morresse, a outra também morria, então Joanna engravidava de novo de Ingrid e mais tarde de Freya. Elas não se lembravam de suas vidas passadas depois que renasciam, por isso, nesta vida, haviam demorado a descobrir que eram bruxas.

– Eu queria que elas vivessem por mais tempo, por isso escondi o fato de terem poderes – Joanna me dissera – Queria que, dessa vez, tivessem uma vida normal. Já estou cansada de ver minhas meninas morrerem.

De um jeito ou de outro, as pessoas sempre descobriam a verdade sobre as Beauchamp, o que levava à perseguição e, em alguns casos, à morte. Freya e Ingrid já haviam morrido na fogueira várias vezes, acusadas de bruxaria. E é claro, houve a vez em que Wendy matou Ingrid acidentalmente, o que levou Joanna a expulsá-la de casa (por isso as duas passaram décadas sem se falar).

Por muito tempo, Joanna e as filhas viveram uma vida normal, com empregos normais. Joanna trabalhava como professora de arte; Freya era bartender num bar local, o Bent Elbow; e Ingrid era bibliotecária (eu sabia, ela tinha cara de bibliotecária!). Freya sempre achara que havia algo de errado com ela, mas aí Joanna a mandava pra terapia e dizia que ela era perfeitamente normal. As mentiras duraram por anos, até que, há uns meses, as garotas descobriram a verdade. Aí Wendy e Joanna fizeram as pazes e resolveram ensinar às garotas como controlar seus poderes (já que elas esqueciam tudo a cada vez que morriam).

– E vocês mantiveram seus empregos? – questionei, completamente envolvida pela história delas. Me sentara com Freya e Wendy na sala, enquanto Regina, Wendy, Killian e Joanna bolavam um plano pra pegar Cora.

– Sim, precisávamos manter a normalidade – explicou Ingrid, que era a típica bibliotecária tímida. – Mas eu amo meu emprego na Biblioteca Pública de East End, aquele lugar é meu paraíso. Por falar nisso, você não quer ir lá pra conhecer?

– Eu adoraria! – sorri. Também adorava livros.

– Oh e podemos ir ao Bent Elbow mais tarde – sugeriu Freya – daí posso preparar uns drinks especiais pra vocês.

– Ah, a Freya tem um talento especial com poções e bebidas, você vai amar os drinks dela. – Wendy veio aos pulinhos e se sentou no braço de um dos sofás. Ainda usava o lençol como vestido. – Eu iria com vocês, se não precisasse ir atrás daquela bitch.

– Ei, você também tem um emprego normal? – perguntei. Eu duvidava que ela tivesse, porque, cá entre nós, Wendy não parecia muito normal.

– Ah não – respondeu Joanna, intrometendo-se – Essa aí passa grande parte do tempo morrendo e arrumando confusão. – notou o lençol florido que a irmã ainda usava –Wendy, pelo amor de Deus, vá vestir uma roupa decente!

– Isso não é verdade! – Wendy protestou, erguendo um dedo – Eu já fiz muitas coisas ao longo dos anos... Não se lembra de quando fomos donas de uma botica? Também já fomos donas de um bar chamado The Cat & Shadow. As garotas não se lembram, mas eu me lembro muito bem. Além disso, Joanna, eu fui dona de uma loja de Voodoo quando não estávamos nos falando. Sem mencionar o fato de eu ter sido artista de circo, até que, por uma trágica influência do destino, morri ao cair do trapézio. – ela suspirou dramaticamente – Desta vez, acabei por decidi me aposentar. Já tive empregos demais...

– Você alguma vez já pensou em ter um emprego sério? – Joanna pôs as mãos na cintura. Era engraçado como as duas irmãs tinham personalidades completamente opostas – Talvez pudesse ganhar a vida como secretária ou coisa assim.

– Ai, Joanna, não sei de onde tira essa ideias – Wendy riu, balançando a cabeça– Secretária? Eu?

– Ela não tem cara de secretária – Killian opinou, abraçando Wendy de lado (não preciso dizer que não gostei nada daquilo, preciso?).

– Awww, e tenho cara de quê?

– De psicopata!

– Ora, seu... – ela agitou as mãos e, no segundo seguinte, Killian exibia asinhas de fada. Asinhas cor-de-rosa ainda por cima. Gargalhamos e Regina fez questão de tirar uma foto com o celular.

– Ora, ora, até que esses poderes não podem ser tão ruins – disse ela.

– Haha, muito engraçado! – ele cruzou os braços e fez cara de poucos amigos, o que lhe deu uma aparência de fado-madrinho entediado – Tire essa coisa de mim!

– Por quê? – Wendy fez vozinha de bebê e lhe apertou as bochechas – Ficou tão engraçadinho!

– Wendy, não temos tempo para suas brincadeiras – Joanna desfez o feitiço e Gancho voltou ao normal. – Temos que focar na Cora! Leve as coisas com um pouco mais de seriedade...

– Aaah, estão vendo? É por isso que todos gostam da Tia Wendy – disse ela, e saiu girando pela sala, até que foi cair no outro sofá, ao lado de Freya – Eu sou a tia legal, engraçada e divertida. Você é a mãe chata, brega e sem humor.

Regina não conseguiu evitar uma risada e gargalhou alto. Joanna fez cara feia e ameaçou deixar a irmã para trás, caso esta não colaborasse. Enquanto os outros se dispersavam pelos cômodos da casa, Killian veio até mim perguntando o que eu achara das Beauchamp.

– Elas são engraçadas, principalmente a louca da Wendy – ri.

– Sabia que ia gostar delas. – ele sorriu, segurando minhas mãos num gesto de carinho – Olha, é melhor ficar com Freya e Ingrid enquanto fazemos o que temos que fazer. Sei que vai estar segura com elas.

– E você?

– Eu o quê?

– Vai estar seguro?

– Claro que vou! Não se esqueça, honey, sou caçador. Sei me virar! – ele deu seu típico sorriso convencido.

– Eu sei, mas tome cuidado, está bem? Se a Cora é tão perigosa quanto dizem...

– Eu vou ficar bem, prometo!

Nos encaramos por segundos que pareceram uma eternidade. Ultimamente, não conseguia olhar nos olhos de Killian sem acabar hipnotizada. Quando dei por mim, ele estava depositando um beijo em meus lábios. Foi só um selinho, mas o suficiente para arrepiar minha espinha.

– O que foi isso? – perguntei, começando a ficar vermelha. Por sorte, estávamos sozinhos na sala.

Gancho deu de ombros.

– Um beijo. Vai dizer que não gosta dos meus beijos? – não respondi e ele riu – Quem cala consente.

Fui salva pelo gongo, ou melhor, por Wendy, que vinha descendo a escada. Vestira-se decentemente, mas usava um vestido que devia ser de Freya e sapatos que provavelmente pertenciam a Ingrid. Wendy era a típica tia de quarenta e tantos anos que não agia de acordo com a idade. Usava roupas das sobrinhas e às vezes agia com infantilidade, o que a tornava engraçada e super divertida. Joana era seu completo oposto: vestia-se com seriedade, o que passava uma imagem de mulher madura e decidida. Ela não era tão divertida quanto a irmã cabeça-oca, mas era um exemplo de mãe, além de compreensiva e muito atenciosa.

– Killianzinho, posso falar com você um minutinho? – pediu, puxando Gancho até a cozinha.

Fiquei intrigada com a conversa em particular, mas não perguntei nada a Killian quando ele retornou a sala. Não era da minha conta. Ele parecia um tanto aturdido, no entanto.

– Você está bem? – perguntei, tentando ler sua expressão.

– Sim, amor, estou bem – ele relaxou e abriu um sorriso. Amor? Ele nunca me chamara assim – Só estou preocupado... Cora é expert em fugir de nós.

– Não se preocupe, desta vez ela não vai conseguir – falei, confiante. Estava muito preocupada, no entanto. Será que eles ficariam bem?

– Vamos, pessoal? – chamou Joanna, abrindo a porta da frente – Já está anoitecendo!

– Fique bem! – disse a Killian e ele agarrou minhas mãos antes de sair.

– Você também! – passou uma mão por meu rosto, afastando meus cabelos, então me puxou pra um rápido beijo – Se algo me acontecer, ligue para Gold. Até logo!

– Até!

E observei enquanto ele saía porta afora, deixando para trás a lembrança de um beijo.


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Notas finais do capítulo

As Beauchamp: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=146512901&.locale=pt-br
Ah, pra quem acompanha a Capitão Pirata: sei que estão desesperadas pelo próximo, mas tenham paciência, ainda estou planejando o capítulo. Prometo que até o fim do mês ele sai kkkk
Ah e pra quem gosta de fanfics no mesmo estilo dessa, recomendo essa fic divertidissima: http://fanfiction.com.br/historia/580609/Eyes_of_a_Huntress
Enfim. Beijos e até a próxima



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