Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 3
The Blessing of Artemis


Notas iniciais do capítulo

Eu estava louca para postar um novo capítulo, sei lá por que... Mas esse vai ser o último até o próximo final de semana.
Boa leitura.



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Luke engoliu em seco, encarando o enorme drakon diante dele. Não era um Drakon de Lídia, mas ainda assim, Luke percebeu que aquele era um monstro que ele, Percy e Thalia não poderiam derrotar.

Luke se perguntava por que ele e seus “irmãos” atraiam tantos monstros. Claro, Thalia era filha de Zeus, e ele próprio era de Hermes. Mas ele já notara a aura de poder em volta de Percy, e em como os monstros pareciam mais focados em matar o menino mais novo.

Thalia estava recebendo um choque de realidade, um termo bem irônico. Enfim, ela aprendeu a aceitar a sua própria mortalidade, e percebeu que ali, em algum lugar do Central Park de Manhattan, poderia ser o lugar em que morreria.

Percy tinha lágrimas nos olhos, seguradas apenas pela verdadeira determinação e força de vontade. Ele não iria desistir. Não iria desistir de sua vida, de sua família. Ele ia lutar até o último suspiro para protegê-la.

Luke bateu a espada contra a pele no drakon, mas a espada retiniu inofensivamente. Thalia mostrou Aegis, mas, pela primeira vez, não surtiu efeito no monstro. Ela lançou um raio sobre a cabeça da fera, mas quando a fumaça baixou, ele ainda estava lá, ileso.

Enquanto isso, Percy subia numa árvore alta. Suas mãos eram arranhadas por galhos e espinhos, mas esse era o menor de seus problemas. Ele chegou ao topo, e, respirando fundo, ele pulou para o drakon.

Ele caiu sobre a cabeça do monstro. O drakon começou a balançar a cabeça para todos os lados, tentando tirar o menino dali, mas Percy permanecia firmemente. Ele empunhou sua adaga, o bronze refletindo fracamente o sol escondido pelas nuvens, e cravou no olho da fera. O drakon rugiu de dor, e finalmente conseguiu derrubar Percy.

O menino bateu com força no chão, e gemeu de dor quando algumas de suas costelas se quebraram com o impacto. O monstro ergueu-se sobre ele, o olho reptiliano restante nos olhos dourados, paralisando-o. Ele rugiu, prestes a dar o golpe final. Luke e Thalia gritaram em alarme, correndo para ajudar, mas sabiam que não conseguiriam chegar a tempo.

Mas então, de repente, uma flecha veio zunindo de dentro das árvores. Ela atingiu o outro olho do drakon que rugiu e arranhou cegamente o chão ao lado de Percy, que tentava se afastar, mas sua perna se torcia numa posição estranha, e doía. Houve uma explosão prateada, e no momento seguinte, tudo o que restou do drakon era pó de ouro.

Luke e Thalia correram para Percy, ficando em posição defensiva acima do amigo, tentando protegê-lo.

– Acalmem-se, semideuses. Isso não é necessário. – Disse uma voz feminina vinda da floresta.

Num estante, os três viajantes estavam cercados por um grupo de talvez vinte garotas, todas encapuzadas e com arcos e flechas levantados. Duas meninas estavam à frente.

Uma parecia ter catorze anos, tendo a pele acobreada, cabelos castanhos escuro, e olhos negros como pedra vulcânica, arrogantes. Tinha uma tiara prateada na cabeça, como uma coroa de princesa.

A outra era um pouco mais jovem, com doze ou treze anos. Tinha cabelos castanho-avermelhados presos num rabo de cavalo, e olhos de um amarelo prateado como a lua. Seu rosto era belo, e a expressão que geralmente seria implacável e perigosa, agora era suave.

Elas se aproximaram lentamente, aquela com catorze anos com o arco levantado, e a outra andando cuidadosamente até Percy. Thalia e Luke esperaram, ainda de armas erguidas, esperando para ver o que elas iriam fazer. A mais nova fez sinal para a mais velha abaixar o arco, e ela o fez relutantemente.

A segunda garota, a de olhos prateados, ajoelhou-se ao lado de Percy. Ela o examinou, vendo os hematomas, cortes e ossos quebrados. Ela fez uma careta para os hematomas, como se soubesse por que estavam lá. Mas ao olhar nos olhos temerosos do menino, os seus próprios suavizaram.

– Está tudo bem, criança. – Ela disse. – Observei de longe e vi sua coragem. Descanse agora. Eu vou curá-lo.

Percy estava quase adormecendo, mas conseguiu sussurrar:

– Quem é você?

A menina deu um sorriso, que mesmo gentil era solene.

– Eu sou Ártemis. A Deusa da Caça.

~~~~~~~PJO~~~~~~~

Percy e Luke tremiam, tentando se aquecer no tênue calor de uma pequena fogueira. As Caçadoras de Ártemis haviam se recusado a dar qualquer material para que levantassem uma barraca, e eles tiveram que se virar sozinhos para fazer a fogueira. Thalia havia sido chamada por Ártemis há meia hora e ainda não havia voltado.

– Onde está Thalia? – Percy finalmente quebrou o silêncio.

Luke deu de ombros.

– Eu não sei, mas deve ser importante, para demorar tanto.

Seus olhos foram atraídos por uma Caçadora, que se aproximava deles em passo de marcha. Aparentava ser a mais velha entre as Caçadoras, com dezessete anos, e, apesar do frio, não vestia uma das parcas prateadas das Caçadoras. Ao invés disso, usava apenas calças camufladas, botas militares cor de terra molhada e uma blusa branca de mangas curtas, exibindo características atléticas e fortes (tão fortes quanto poderiam ainda sendo bonitos numa garota), marcadas aqui e ali com o que parecia ser cicatrizes de bala. No pescoço pendia uma medalha de identificação militar. Nas costas, estava pendurado um rifle sniper. Sua pele era perfeitamente dourada, e o rosto era bonito, emoldurado por cabelos castanho-escuros e curtos, as pequenas cicatrizes (uma cortando a ponta esquerda dos lábios, e outra cortando a ponta da sobrancelha direita) apenas adicionavam mais uma característica ameaçadora nela. Seus olhos cor de fogo os examinavam, como se estivesse decidindo qual dos dois mataria primeiro.

– Vocês têm sorte. – Sua voz era tão forte quanto sua aparência, e ela tinha um forte sotaque escocês. – Se não houvesse uma garota viajando com vocês, teriam sido transformados em jacklopes.

– Ahn... – Luke não sabia bem do que ela estava falando, mas não queria ser rude com a única Caçadora que os estava tratando bem o suficiente para falar com eles. – Ok... Er, eu sou Luke. Este é Percy. E você é...?

Ela tardou a responder. Sentou-se sobre uma grande pedra próxima a eles e tirou algo do cinto. Um pedaço de pano, do cinto, e a arma de fogo pendurada nas costas. Ela sorriu para a arma, murmurando:

– Uma Barrett M82. Também conhecida como Barrett .50cal. Sniper semi-automática. Efetiva a longas distâncias. – E começou a limpar a arma com o pano.

– MacTavish. – Ela enfim respondeu a pergunta. – Alexia MacTavish. Podem me chamar de Alex. – Ela levantou os olhos da arma já reluzente. Eles lembravam a Percy uma forte explosão, como a bomba nuclear lançada ao Japão na Segunda Guerra Mundial. – O que ainda estão fazendo no mundo mortal? Deveriam estar no Acampamento Meio-Sangue. Não se preocupem. Logo um sátiro vai achar vocês. – E voltou a limpar a arma, embora fosse desnecessário.

– Por que está sendo legal com a gente? – Percy perguntou antes que pudesse se controlar, ganhando um olhar de Luke.

Alex deu de ombros.

– Não tenho muitas mágoas contra homens. – Respondeu. – A maioria das Caçadoras teve algumas dificuldades com eles. Mas eu convivi com eles por muito tempo. Até fingi ser um por grande parte da minha vida. Todos os meus amigos eram homens.

– Espere. – Disse Luke, tentando raciocinar. – Então... Você tem mais de dezessete anos? Quer dizer...

– Participei de quase todas as guerras norte-americanas. – Alex interrompeu. – Em 1973, eu me juntei à Caça. Foi o fim de meus serviços militares, depois da Guerra do Vietnam. Meu pai, Marte, havia convencido Juventa a me abençoar para permanecer jovem algumas décadas quase três séculos antes. Escolhi a idade em que os serviços militares podem ser iniciados: dezessete. E eu queria algo para fazer depois das guerras. Meus melhores amigos, em todos os anos em que vivi, seguiram outros destinos. Bowman e Rezenov, o único russo de que eu já gostei, morreram em batalha. Hudson seguiu sua vida na CIA, e Woods, meu melhor amigo, tentou me matar. Então saí.

O silêncio voltou como a bomba que Percy via nos olhos de Alex, e ele percebeu que aquela garota provavelmente havia visto aquela bomba, no dia 9 de agosto de 1945, talvez até tendo presenciado seu lançamento.

Percy hesitou antes de falar:

– Você acha que Ártemis quer convidá-la para a Caça? Thalia, eu quero dizer.

A pergunta não ajudou Luke a se aquecer. Como não havia pensado nisso? Percy tivera um raciocínio rápido, e agora queria uma confirmação de que eles não estavam prestes a perder a sua irmã de armas.

– Claro que vai. – Respondeu Alex. – A garota com o diadema de prata, Zoë? Ela faz a Caça soar como o paraíso.

Distraído com as palavras amargas de Alex, Luke quase não percebeu o olhar que Percy estava lhe dando. Quase.

– Ah, não! – Ele exclamou. – Você não pode estar pensando...

– Nós temos que saber o que está acontecendo naquela tenda! – Percy interrompeu, apontando para a tenda em que Ártemis fora com Thalia e Zoë, a garota com a tiara de prata. – Você não consegue ouvir a discussão que está havendo lá?

Foi só então que Luke percebeu ouvir as vozes que vinham da tenda. Não era de se admirar que Thalia o chamasse de cabeça de vento. Só percebia as coisas séculos depois de vê-las. Mas ele queria saber o que estava acontecendo na tenda.

Luke olhou para Alex, que já havia guardado o pano e a Barrett M82, e se levantava para espanar a poeira inexistente das calças num gesto costumeiro.

– Não sei nem vi nada. – Ela disse antes de se afastar.

Luke a seguiu com o olhar, fitando-a com uma expressão de gratidão, e seguiu Percy, que já se aproximava da tenda sem esperá-lo.

Eles se aproximaram tentando não fazer nenhum ruído. Percy parecia fazer isso naturalmente, mas Luke teve de se esforçar um pouco. Já conseguiam distinguir as palavras vindas da tenda a apenas um metro de distância.

– Estás a ser tola, garota! – Gritou a voz de Zoë.

– Zoë, esta decisão é dela. – Disse Ártemis. – Se ela escolher permanecer mortal, com Perseus e Luke, devemos aceitar.

– Mas, minha senhora! A senhora certamente vê que essa é uma péssima ideia!

– Droga, Zoë! – Disse Thalia. – Você não pode simplesmente aceitar que eu não quero isso?!

– Tua decisão vai te custar caro, menina. – Rosnou Zoë. – Por que insiste tanto em permanecer com esses garotos? – Ela falou “garotos” com nojo.

– Eu nunca iria abandoná-los. Eles são a minha família.

– E quando eles decidirem abandoná-la? Nós podemos ser a tua família!

– Eles nunca fariam isso.

– Como tem tanta certeza? Por que acredita tanto nisso?

– Porque nós sabemos como é ser abandonado! – Thalia estava gritando agora. – Nós sabemos como é não ter alguém que não cuide de nós, sabemos como é ficar sozinho! E nós não desejamos essa dor para ninguém!

Isso foi o suficiente para deixar a tenda silenciosa. Demorou talvez cinco minutos para que Zoë voltasse a falar, dessa vez com mais suavidade:

– Estás a cometer um erro, Thalia. Um dia, pelo menos um desses meninos com quem viajas irá decepcioná-la.

– Eles não vão. – Discordou Thalia, confiante. – Prometemos que seríamos uma família. Eu e Luke fizemos uma promessa para nós mesmos que cuidaríamos de Percy.

– Por que te importas tanto com aquele menino? É só um pirralhinho.

– Zoë. – Ártemis falou em tom de advertência. – Você não sabe o que o menino passou. Ele sofreu nas mãos de um homem, e talvez agora você deva ser compreensiva com esse garoto. – Ela se virou para Thalia. – Você tem certeza de que quer recusar a nossa oferta?

– Sim, eu tenho certeza. – Thalia respondeu sem hesitar.

– Muito bem. – Ártemis se levantou, seguida de Zoë e Thalia. – Mas nossa oferta continua de pé.

– Obrigada.

Percy e Luke recuaram quando as ouviram saindo, sentando de volta ao redor da fogueira, que já estava quase apagada. Eles tentaram reanimar a chama, mas a pequena nevasca não permitia.

Quando Thalia os viu, ali, tentando em vão conseguir fogo para se aquecer, mandou um olhar mortal para Zoë por tratá-los assim. Ela devolveu o olhar. Ártemis os olhou nos olhos, e os dois garotos puderam adivinhar que ela sabia que eles ouviram a conversa. Surpreendentemente, ela não os puniu, apenas desviou o olhar.

– Bem – disse -, está na hora de partimos, de volta à Caçada. – Virou-se para Thalia. – Infelizmente, cada suprimento que temos é necessário, então não poderemos fornecê-los a vocês. Tudo que posso dar a vocês é o meu desejo de que tenham boa sorte.

– Obrigado, Lady Ártemis. – Luke disse, baixa e educadamente. Zoë fez uma careta, descontente por ver um homem falar com sua senhora, mas Ártemis assentiu.

A deusa virou-se para Percy.

– Percy, posso falar com você um minuto?

Percy assentiu, temeroso de que Ártemis quisesse castigá-lo por ouvir a conversa. Eles se afastaram, com os olhares preocupados de Thalia e Luke nas costas de Percy.

Quando estavam longe o suficiente para não ser ouvidos, Percy começou:

– Lady Ártemis, por fav...

– Não se preocupe, Percy. – Ela disse, tranquilizadora. – Eu não vou puni-lo por espionagem.

– Obrigado... Mas espere, eu não estava...

– Percy. – Ártemis sorriu levemente, ajoelhando-se para poder olhá-lo nos olhos. – Eu tenho o pressentimento de que você terá que enfrentar grandes dificuldades. E eu quero lhe dar um presente para passar por elas. Dois, na verdade. Primeiro, isso.

Ela ergueu a mão, com a palma voltada para cima, e houve um brilho prateado. E então, havia um colar de prata em sua mão, com o pingente em forma de lua crescente. Ela o entregou a Percy.

– Este colar vai se transformar em um arco de prata. – Informou. – Tudo que você vai ter de fazer será apertar o pingente. As flechas e a ponta são mágicas, você só precisa puxar para que apareçam. E a ponta das flechas é feita de prata e bronze celestial. Pode ferir tanto mortais quanto imortais e monstros. Se perdê-lo, vai voltar na forma de colar.

Percy olhou maravilhado para o colar.

– Lady Ártemis, eu... eu não posso aceitar isso...

– Está tudo bem. – A deusa sorriu. – Você tem o meu respeito depois de ter enfrentado aquele drakon e a própria morte. Você merece, mesmo que seja um garoto. E além disso, uma de minhas Caçadoras me enviou uma mensagem dizendo que você tinha potencial. Ela é boa em enxergar essas coisas. – Percy deu um sorrisinho, tendo uma ideia de quem ela estava falando. – Agora, o meu segundo presente. Você tem a minha benção. – Ela colocou o dedo indicador na testa do menino.

Percy foi banhado em energia prateada, pulsando de poder. Quando a luz se apagou, Ártemis sorriu. A pele doentiamente pálida do menino, agora tinha um brilho prateado à luz do luar. Sua íris, antes inteiramente dourada, agora tinha um fino anel de prata ao redor da pupila. Era como se ele tivesse os dois metais mais valiosos nos olhos. Ele vestia roupas negras, com desenhos e símbolos de prata. Ele sorriu, e era como o sorriso do Gato Cheshire, com um formato de lua, quase rasgando seu rosto.

O menino avançou e jogou os braços ao redor de Ártemis. Primeiro ela enrijeceu, surpresa, mas depois retribuiu o abraço.

– Obrigado, Lady Ártemis. – Ele disse. – Muito obrigado.

– O prazer é meu, Percy. – Ártemis respondeu. – Mas meu pai não pode saber disso. Ele me puniria por ajudar um semideus.

Percy assentiu fortemente, e Ártemis pousou a mão em seu ombro, encaminhando-o de volta para seus amigos.

Percy realmente não conseguia entender por que uma deusa que odiava homens iria ajudá-lo tanto e ser tão gentil com ele. Não havia feito nada para merecer aqueles presentes, apenas arriscado sua vida e quebrado uma perna (de novo). Tinha a sensação de que Alexia MacTavish tinha algo a ver com isso. No entanto, ele não iria recusar a benção de uma deusa, iria? Porque, no fundo de sua mente, ele sentia que estes presentes da lua iriam salvar sua vida, uma e outra vez.

Claro, ele não demorou muito para perceber que estava certo.

Quando voltaram, Luke e Thalia ergueram as sobrancelhas para as roupas e o anel prateado nos olhos de Percy, mas não falaram sobre nada disso na presença da deusa Ártemis, embora Zoë tenha parecido indignada. Olhando para longe, Percy viu Alex nas sombras de uma das tendas. Ela piscou para ele, confirmando suas suspeitas de que ela realmente havia provocado as ações de Ártemis (ele não sabia como ela havia feito isso tão rápido). Ele sorriu para ela.

– E então. – Thalia sorriu, mas não parecia animada. – Vamos continuar?


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Notas finais do capítulo

Alexia é total e completamente minha criação, e a ideia veio de Call of Duty: Black Ops (sim, eu jogo, problema?). Ela é show, né?
Gostaram do capítulo? Acham que eu devo continuar?