Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 29
A memory that doesn't remember me.


Notas iniciais do capítulo

NOTAS FINAIS, PLEASE!



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Imagine a maior aglomeração de gente que você já viu em um show, um campo de futebol lotado com um milhão de fãs. Agora imagine um campo um milhão de vezes maior do que esse, lotado, e imagine que a energia elétrica falhou e não há barulho, não há luz, nem aquelas bolas gigantes quicando por cima da multidão. Algo de trágico aconteceu nos bastidores. Uma massa sussurrante de gente fica simplesmente vagueando nas sombras sem direção, esperando um show que nunca vai começar. Se é capaz de imaginar isso, tem uma boa ideia de como são os Campos de Asfódelos. A grama preta tinha sido pisoteada por eras de pés mortos. Um vento morno e úmido soprava como o hálito de um pântano. Árvores negras – Grover disse que eram choupos – cresciam em grupos aqui e ali. O teto da caverna era tão alto acima de nós que poderia passar por uma massa de nuvens de tempestade, a não ser pelas estalactites, que brilhavam em um cinza pálido e pareciam malvadamente pontudas. Thalia tentou não imaginar que poderiam cair sobre eles a qualquer momento, mas havia várias delas salpicadas ao redor, que caíram e empalaram a si mesmas na grama preta. Os mortos provavelmente não precisavam se preocupar com pequenos riscos como ser espetados por estalactites do tamanho de foguetes. Annabeth, Grover e Thalia tentaram se misturar com a multidão permanecendo de olho nos espíritos da segurança. Thalia não pôde deixar de procurar rostos familiares entre os espíritos de Asfódelos, mas é difícil olhar para os mortos. Seus rostos tremulam. Todos parecem ligeiramente zangados ou confusos. Eles até viam o grupo e falavam, mas a voz soa como trepidações, como o chiado de morcegos. Depois que eles percebem que você não consegue entendê-los, fecham a cara e se afastam. Os mortos não são assustadores. São apenas tristes.

O grupo se arrastou, seguindo a fila de recém-chegados que serpenteava desde os portões principais em direção a uma grande tenda, negra com uma faixa que dizia: JULGAMENTOS PARA O ELÍSIO E PARA A DANAÇÃO ETERNA - Bem-vindos, Recém-Falecidos! Do fundo da tenda saíam duas filas muito menores. À esquerda, espíritos flanqueados por espíritos malignos de segurança marchavam por um caminho pedregoso rumo aos Campos de Punição, que incandesciam e fumegavam a distância, uma vastidão desértica e rachada com rios de lava e campos minados, e quilômetros de arame farpado separando as diferentes áreas de tortura. Mesmo de longe, Thalia pôde ver pessoas sendo perseguidas por cães infernais, queimadas na fogueira, forçadas a correr nuas por plantações de cactos ou ouvir música de ópera. Thalia também pôde apenas distinguir uma colina minúscula com o vulto do tamanho de uma formiga de Sísifo lutando para empurrar sua pedra até o topo. E viu também torturas piores – coisas que nem queria descrever. A fila que vinha do lado direito do pavilhão dos julgamentos era muito melhor. Dava num pequeno vale cercado de muros – uma comunidade com portões, que parecia ser a única parte feliz do Mundo Inferior. Além do portão de segurança havia belas casas de todos os períodos da história, vilas romanas, castelos medievais e mansões vitorianas. Flores de prata e ouro floresciam nos campos. A grama ondulava nas cores do arco-íris. Dava para ouvir os risos e sentir o cheiro de churrasco. Elísio. No meio daquele vale havia um brilhante lago azul, com três pequenas ilhas como um hotel de lazer nas Bahamas. As Ilhas dos Abençoados, para pessoas que escolheram renascer três vezes, e três vezes conquistaram o Elísio. No mesmo instante Thalia soube que era para lá que queria ir quando morresse.

– É isso mesmo. – Disse Annabeth como se estivesse lendo seus pensamentos. – Este é o lugar para os heróis.

Mas Thalia percebeu como havia poucas pessoas no Elísio, como era minúsculo em comparação com os Campos de Asfódelos ou até os Campos da Punição. Portanto, poucas pessoas se davam bem em suas vidas. Era deprimente. Eles deixaram o pavilhão dos julgamentos e se aprofundaram mais nos Campos de Asfódelos. Ficou mais escuro. As cores se esvaíram das suas roupas. As multidões de espíritos tagarelas começaram a rarear. Depois de alguns quilômetros de caminhada, eles passaram a ouvir guinchos familiares à distância. Agigantando-se longe estava um palácio de obsidiana negra, brilhante. Acima dos baluartes rodopiavam três criaturas escuras semelhantes a morcegos: as Fúrias. Thalia teve a sensação de que os aguardavam.

– Talvez seja tarde demais para voltar atrás. – Disse Grover com tristeza.

– Vai dar tudo certo. – Thalia tentou parecer confiante.

– Talvez devêssemos procurar em alguns dos outros lugares primeiro. – Sugeriu Grover. – Como o EIísio, por exemplo...

– Venha, menino-bode. – Annabeth agarrou-lhe o braço.

Grover ganiu. Seus tênis, que na verdade eram de Annabeth, mas ficaram com ele desde o incidente em Denver, criaram asas e as pernas saltaram para a frente, puxando-o para longe de Annabeth. Ele aterrissou de costas na grama.

– Grover. – Ralhou Annabeth. – Pare de embromar.

– Mas eu não... – Ele ganiu de novo. Os tênis estavam agora batendo as asas como loucos. Levitaram do chão e começaram a arrastá-lo para longe de nós. – Maia! – Gritou ele, mas a palavra mágica parecia não fazer mais efeito. – Maia, agora mesmo! Um-nove-zero! Socorro!

Thalia se refez da perplexidade e tentou agarrar a mão de Grover, mas era tarde demais. Ele estava ganhando velocidade, escorregando colina abaixo como um trenó. Thalia e Annabeth correram atrás dele. Annabeth gritou:

– Desamarre os tênis!

Foi uma ideia esperta, mas provavelmente não é tão fácil quando os seus sapatos o estão arrastando para frente a toda velocidade. Grover tentou sentar, mas não conseguiu alcançar os cadarços. Thalia e Annabeth continuaram correndo atrás dele, tentando mantê-lo à vista enquanto disparava por entre as pernas dos espíritos que matraqueavam para ele, aborrecidos. Thalia tinha certeza de que Grover iria passar direto dos portões do palácio de Hades, mas de repente os tênis desviaram para a direita e o arrastaram na direção oposta.

A ladeira ficou mais íngreme. Grover ganhou velocidade. Annabeth e Thalia tiveram de correr a toda para acompanhá-lo. As paredes da caverna se estreitaram dos dois lados, e Thalia se deu conta de que eles estavam entrando em algum tipo de túnel lateral. Não havia mais grama preta nem árvores, apenas pedras sob os pés, e a luz pálida das estalactites acima.

– Grover! – Gritou, sua voz reverberando. – Segure em alguma coisa!

– O quê? – Gritou ele de volta.

Estava agarrando os pedregulhos, mas não havia nada grande o bastante para reduzir sua velocidade. O túnel ficou mais escuro e frio. Os pelos dos braços de Thalia se arrepiaram. O cheiro ali embaixo a deixava nauseada. A fez pensar em coisas que nem devia saber – sangue derramado sobre um antigo altar de pedra, o hálito fétido de um assassino. De repente, Annabeth estancou. Thalia parou também, confusa, então viu o que estava à frente delas. O túnel se alargava para uma enorme caverna escura, e no meio havia um abismo do tamanho de um quarteirão da cidade. Grover estava escorregando direto para a borda.

– Venha, Annabeth! – Gritou Thalia, puxando-a pelo pulso.

– Mas aquilo...

– Eu sei! – Thalia gritou de volta. – O lugar que você descreveu de seu sonho! Mas Grover vai cair se não o pegarmos.

O apuro de Grover fez com que Annabeth se mexesse de novo. Ele estava gritando, arranhando o chão, mas os tênis alados continuavam a arrastá-lo em direção ao poço, e não parecia possível chegar até ele a tempo. O que o salvou foram seus cascos. Os tênis voadores sempre ficaram folgados nele, e quando Grover chocou-se com uma grande pedra, seu tênis esquerdo saiu voando e disparou para as trevas, abismo abaixo. O tênis direito continuou a puxá-lo, mas não tão depressa. Grover conseguiu reduzir a velocidade agarrando-se à grande pedra e usando-a como âncora. Estava a três metros da borda do abismo quando as meninas o pegaram e o puxaram de volta ladeira acima. O outro tênis alado se desprendeu, circulou em volta deles furiosamente e chutou suas cabeças em protesto antes de voar para dentro do abismo a fim de juntar-se a seu par. Todos os três desabaram exaustos sobre os pedregulhos de obsidiana. Os membros de Thalia pareciam feitos de chumbo. Até sua mochila parecia mais pesada, como se alguém a tivesse enchido de pedras. Grover estava muito arranhado. Suas mãos sangravam. As pupilas dos olhos se transformaram em fendas, no estilo dos bodes como sempre acontecia quando ele estava aterrorizado.

– Eu não sei como... – Arquejou ele. – Eu não...

– Espere. – Falou Annabeth, se levantando. – Escute. – Thalia escutou. Um sussurro profundo na escuridão. Mais alguns segundos, e Thalia tentou:

– Annabeth, este lugar...

– Psiu. – Thalia também ficou de pé. O som estava ficando mais alto, uma voz murmurante, malévola, vinda de longe, muito longe abaixo de nós. Vinda do abismo. Grover sentou-se.

– O... o que é esse ruído?

– Tártaro. – Thalia respondeu, ouvindo a solenidade da própria voz. – A entrada para o Tártaro.

Annabeth desembainhou sua faca. Sua luz de bronze brilhou no escuro, e a voz maligna pareceu vacilar, só por um momento, antes de retomar seu canto. Thalia agora quase conseguia distinguir palavras, palavras muito, muito antigas, ainda mais antigas que o grego. Como se...

– Mágica. – Thalia falou.

– Temos de dar o fora daqui. – Disse Grover.

Mas Annabeth parecia paralisada. Seu olhar estava fixado no abismo. Thalia se moveu para ficar na frente dela com a intenção de chamar sua atenção, mas foi chocada com a visão dos olhos de Annabeth: não eram mais cinzentos; eram dourados, frios e simplesmente sobrenaturais. A mente de Thalia se moveu como um raio (sem trocadilhos). Ela já tinha visto aqueles olhos antes, e vê-los novamente só poderia ter uma explicação: naquele momento, o que mantinha Annabeth parada diante do Tártaro não era ela. Era Percy.

Thalia não tinha tempo para pensar no porquê.

– Percy! – Ela gritou com toda a força de seus pulmões. – Nós temos de dar o fora daqui!

Thalia observou com leve surpresa enquanto os olhos de Annabeth graduadamente voltavam a sua cor normal. Foi estranho – ver como o dourado se encolhia em volta da pupila, antes dela própria brilhar em amarelo antes de enegrecer.

Annabeth piscou.

– Thalia? – Disse, olhando para ela como se nunca a tivesse visto antes. – O que foi?

– Nada. – Thalia respondeu, um pouco mais rudemente do que o planejado. – Vamos logo.

Juntas, Thalia e Annabeth arrastaram Grover (que ficara alheio para o incidente) para cima dos cascos e começaram a voltar pelo túnel. As pernas de Thalia não se moviam depressa o bastante. Sua mochila pesava. A voz ficou mais alta e irada atrás deles, e o grupo desandou a correr.

Bem na hora.

Uma rajada fria de vento os aspirou pelas costas, como se o abismo inteiro estivesse inalando. Por um momento aterrorizante Thalia perdeu o controle, e seus pés começaram a escorregar nos pedregulhos. Se eles estivessem mais perto da borda, teriam sido sugados para dentro. Continuaram fazendo força para frente e finalmente chegaram ao topo do túnel, onde a caverna se abria para os Campos de Asfódelos. O vento parou. Um lamento de indignação ecoou no fundo. Alguma coisa não estava feliz pelo trio ter escapado.

– O que era aquilo? – Ofegou Grover quando o grupo desabou na relativa segurança de um bosque de choupos negros – Um dos bichinhos de estimação de Hades?

Thalia olhou para Annabeth. Seu olhar estava vazio, mas felizmente cinzento, o que levou Thalia à conclusão de que ela estivesse falando com Percy. Quando olhou para cima, sua testa estava franzida em confusão, mas também suspeita. Ela balançou a cabeça negativamente, mas, seja lá o que Percy disse a ela, não a satisfez.

– Vamos andando. – Thalia voltou o olhar para Grover. – Consegue andar?

Ele engoliu em seco.

– Sim, com certeza. Nunca gostei muito daqueles tênis mesmo.

Ele tentou parecer valente, mas estava tremendo tanto quanto Thalia e Annabeth. O que quer que estivesse naquele abismo, não era o bichinho de estimação de ninguém. Era visivelmente antigo e poderoso. Nem mesmo Equidna dera aquela sensação à Thalia. Ela ficou quase aliviada de dar as costas para aquele túnel e se dirigir para o palácio de Hades.

Quase.

As Fúrias rodeavam os baluartes, lá no alto, nas trevas. As muralhas externas da fortaleza brilhavam em negro e os portões de bronze com dois andares de altura estavam escancarados.

De perto, Thalia viu que as gravações nos portões eram cenas de morte. Algumas de tempos modernos – uma bomba atômica explodindo sobre uma cidade, uma trincheira cheia de soldados usando máscaras de gás, uma fila de africanos vítimas da fome aguardando com tigelas vazias – mas todas pareciam ter sido gravadas no bronze havia milhares de anos. Thalia ficou pensando se estava olhando para profecias que se tornaram realidade. Dentro do pátio havia o jardim mais estranho que ela já vira. Cogumelos multicoloridos, arbustos venenosos e plantas luminosas fantasmagóricas cresciam sem a luz do sol. Gemas preciosas supriam a falta de flores, pilhas de rubis grandes como o punho de Thalia, aglomerados de diamantes brutos. Aqui e ali, como convidados de uma festa que foram congelados, havia estátuas de jardim da Medusa – crianças, sátiros e centauros petrificados – todos sorrindo grotescamente. No centro do jardim havia um pomar de romãzeiras, suas flores alaranjadas brilhando como néon no escuro.

– O jardim de Perséfone. – Disse Annabeth. – Continue andando.

Thalia entendeu por que ela quis seguir andando. O cheiro ácido daquelas romãs era quase irresistível. Thalia teve um súbito desejo de comê-las, mas então se lembrou da história de Perséfone. Uma mordida de um alimento do Mundo Inferior e nunca mais poderiam sair. Puxou Grover para longe, para impedi-lo de colher uma delas, grande e suculenta. Subiram os degraus do palácio, entre colunas negras, passando por um pórtico de mármore negro, para dentro da casa de Hades. O vestíbulo tinha um piso de bronze polido que parecia ferver à luz refletida das tochas. Não havia teto, apenas o teto da caverna muito acima. Provavelmente, eles nunca precisaram se preocupar com chuva aqui embaixo. Todas as portas laterais eram guardadas por um esqueleto com trajes militares. Alguns usavam armaduras gregas, outros, uniformes ingleses de casacas vermelhas, e havia ainda os que vestiam roupas camufladas com bandeiras americanas esfarrapadas nos ombros. Carregavam lanças, mosquetes ou fuzis. Nenhum deles incomodou os missionários, mas suas órbitas ocas os seguiram enquanto andavam pelo vestíbulo em direção ao grande conjunto de portas no extremo oposto.

Dois esqueletos de fuzileiros navais americanos guardavam as portas. Eles sorriram para o grupo, com lançadores de granadas atravessadas no peito.

– Sabem de uma coisa – murmurou Grover –, aposto que Hades não tem problemas para despachar vendedores de porta a porta.

A mochila de Thalia agora pesava uma tonelada. Ela não conseguia imaginar por quê. Quis abri-la, verificar se por acaso havia colhido alguma bola de boliche perdida, mas aquele não era o momento.

– Bem, gente. – Disse. – Acho que devemos... bater?

Um vento quente soprou pelo corredor e as portas se abriram. Os guardas deram um passo para o lado.

– Acho que isso significa entrez-vous – Disse Annabeth.

Lá dentro era uma sala do trono semelhante à do Olimpo, mas a) as paredes eram de mármore negro e o piso, de bronze; b) só havia um trono e o trono estava sendo ocupado por Hades. Era o terceiro deus que Thalia conhecia, mas o primeiro que realmente a impressionava como deus. Para início de conversa, ele tinha pelo menos três metros de altura, e usava mantos de seda preta e uma coroa de ouro trançado. Sua pele era branca como a de um albino, o cabelo comprido até os ombros era preto-azeviche. Não era corpulento como Ares, mas irradiava força. Reclinava-se em seu trono de ossos humanos fundidos parecendo flexível, elegante e perigoso como uma pantera.

No mesmo instante, Thalia teve a sensação de que ele deveria dar as ordens. Sabia mais do que ela. Devia ser seu mestre. Então Thalia disse a ela mesma para dar o fora. A aura de Hades a estava afetando, assim como acontecera com a de Ares. O Senhor dos Mortos lembrava retratos que Thalia tinha visto de Adolf Hitler, ou Napoleão, ou dos líderes terroristas que controlam os homens-bomba. Hades tinha o mesmo olhar intenso, o mesmo tipo de carisma hipnotizador e maligno.

Mas se tinha uma coisa que Thalia não fazia, era seguir ordens.

– Você é corajosa de vir até aqui, Filha de Zeus. – Disse ele com uma voz untuosa. – Depois do que me fez, você é muito valente, sem dúvida. Ou talvez seja simplesmente muito tola.

Um entorpecimento se insinuou nas juntas de Thalia, tentando-a a deitar e tirar uma pequena soneca aos pés de Hades. Queria se enroscar ali e dormir para sempre. Thalia lutou contra a sensação e deu um passo à frente. Sabia o que tinha de dizer.

– Senhor e tio, trago dois pedidos.

Hades ergueu uma sobrancelha. Quando ele chegou mais para a frente em seu trono, rostos sombrios apareceram nas dobras dos seus mantos negros, rostos atormentados, como se o traje fosse feito de almas dos Campos da Punição pegas ao tentar escapar, costuradas umas nas outras. A porção transtorno do déficit de atenção de Thalia se perguntou se o resto das roupas dele era feito do mesmo modo. Que coisas horríveis alguém teria de fazer em vida para merecer ser parte da roupa de baixo de Hades?

– Só dois pedidos? – Disse Hades. – Criança arrogante. Como se você já não tivesse recebido o bastante. Fale, então. Acho divertido esperar um pouco para fulminar você.

Thalia engoliu em seco. Não era qualquer um que conseguia amendrontá-la daquele jeito. Aquilo estava indo mais ou menos tão bem quanto ela temia. Ela relanceou para o trono menor, vazio, ao lado do de Hades. Tinha a forma de uma flor negra, decorada em ouro. Thalia desejou que a rainha Perséfone estivesse ali. Lembrou-se de algo nos mitos sobre como ela podia acalmar os humores do marido. Mas era verão. É claro que Perséfone estaria acima no mundo de luz com mãe, a deusa da agricultura, Deméter. Suas visitas, e não a inclinação do planeta, criavam as estações. Annabeth pigarreou. Seu dedo cutucou Thalia nas costas.

– Senhor Hades. – Disse ela. – Olhe, senhor, não pode haver uma guerra entre os deuses. Isso seria... ruim.

– Realmente ruim. – Acrescentou Grover, querendo ajudar.

– Devolva o raio-mestre de Zeus para mim. – Disse Thalia. – Por favor, senhor, deixe-me levá-lo para o Olimpo.

Os olhos de Hades brilharam perigosamente.

– Você se atreve a continuar com essa farsa, depois de tudo o que fez?

Thalia deu uma olhada para os seus amigos atrás dela. Pareciam tão confusos quanto ela.

– Ahn... tio. – Falou. – Você fica dizendo "depois de tudo o que você fez". O que foi, exatamente, que eu fiz?

A sala do trono tremeu com tanta força que, provavelmente, o impacto foi sentido lá em cima, em Los Angeles. Fragmentos de rocha caíram do teto da caverna. Portas se abriram violentamente em todas as paredes, e guerreiros esqueléticos marcharam para dentro, centenas deles, de todas as épocas e nações da civilização ocidental. Enfileiraram-se nos quatro cantos da sala, bloqueando as saídas. Hades urrou:

– Você acha que eu quero a guerra, filhote de deus?

Thalia teve vontade de dizer, Bem, esses caras não se parecem muito com ativistas pela paz. Mas achou que poderia ser uma resposta perigosa.

– Você é o Senhor dos Mortos. – Falou com cautela. – Uma guerra iria expandir seu remo, certo?

– É bem característico dos meus irmãos dizerem uma coisa dessas! Acha que preciso de mais súditos? Não está vendo a grandeza dos Campos de Asfódelos?

– Bem...

– Você tem ideia de quanto meu reino inchou só neste último século, quantas subdivisões tive de criar? – Thalia abriu a boca para responder, mas Hades agora estava embalado. – Mais espíritos de segurança. – Queixou-se. – Problemas de trânsito no pavilhão de julgamentos. Horas extras em dobro para o pessoal. Eu era um deus rico, Thalia Grace. Controlo todos os metais preciosos embaixo da terra. Mas as minhas despesas!

– Caronte quer um aumento de salário. – Thalia despejou, acabando de se lembrar do fato. Assim que falou, Thalia pensou que perdera uma ótima chance de ficar calada.

– Não me fale de Caronte! – Gritou Hades. – Ele está impossível desde que descobriu os ternos italianos! Problemas em toda parte, e eu tenho de lidar com todos eles pessoalmente. O tempo de viagem entre o palácio e os portões já é suficiente para me deixar insano! E os mortos continuam chegando. Não, filhote de deus, eu não preciso de ajuda para arranjar súditos! Não pedi essa guerra.

– Mas você pegou o raio-mestre de Zeus. – Interferiu Annabeth.

– Mentiras! – Mais estrondos. Hades ergueu-se do trono, ficando da altura de uma trave de futebol. – Sua mãe pode enganar Zeus, garota, mas eu não sou tão estúpido. Enxergo o plano dela.

– O plano dela? - Annabeth parecia indignada.

– Você foi a ladra no solstício de inverno. – Disse ele. – Sua mãe pensou em mantê-la como seu pequeno segredo. Ela a mandou para a sala do trono no Olimpo. Você pegou o raio-mestre e meu elmo. Se eu não tivesse enviado minha Fúria para descobri-la na Academia Yancy, Atena talvez tivesse conseguido esconder o plano para desencadear uma guerra. Mas agora você foi forçada a aparecer. Será exposta como a ladra de Atena, e eu terei meu elmo de volta!

– O que Atena tem a ver com isso tudo? – Perguntou Thalia, confusa.

Hades bufou.

– Ela é a deusa da guerra e da estratégia. – Disse ele. – É típico dela armar um plano traiçoeiro quando ela quer alguma coisa. Foi assim em Tróia. Não duvido que ela faria algo assim novamente.

– Mas... – Falou Thalia sua cabeça a um milhão de quilômetros por hora. – Senhor Hades, seu elmo das trevas também desapareceu?

– Não banque a inocente comigo, menina. Você e o sátiro estiveram ajudando essa garota, que veio aqui me ameaçar, sem dúvida em nome de Atena, a me trazer um ultimato. Atena acha que posso ser chantageado para apoiá-lo?

– Não! – Falou Annabeth. – Atena não... eu não...

– Não falei nada do desaparecimento do elmo – rosnou Hades – porque não tenho ilusões de que alguém no Olimpo me faça justiça, que me dê alguma ajuda. Não posso permitir que vaze a notícia de que minha arma mais poderosa está desaparecida. Portanto procurei por você eu mesmo, e quando ficou claro que você vinha a mim para fazer sua ameaça, não tentei detê-la.

– Você não tentou nos deter? Mas...

– Devolva meu elmo agora, ou vou interromper a morte. – Ameaçou Hades. – Esta é a minha contraproposta. Abrirei a terra e mandarei os mortos se despejarem de volta em seu mundo. Transformarei suas terras em um pesadelo. E você, Thalia Grace... – Ele se virou para ela, dando um sorriso malicioso. – Será interessante ver o esqueleto da filha de Zeus liderando o meu exército para fora do Hades.

Todos os soldados esqueléticos deram um passo à frente, com as armas de prontidão.

A essa altura, Thalia deveria ter ficado aterrorizada. O estranho foi que se sentiu ofendida. Nada a deixava mais zangada do que ser acusada de algo que ela não havia feito. Já tivera uma porção de experiências com isso. E Annabeth certamente não estava gostando nada daquilo também.

Estava na hora de fazer uma acusação.

– Você não pode vir fazendo acusações. – Disse Thalia, seu tom de voz elevado. – Acha que não me lembro do que você fez anos atrás? O que você tirou de mim?

Hades franziu o lábio.

– Do que você está falando, menina?

– Você mandou aqueles monstros atrás de mim, cinco anos atrás! - Thalia estava gritando agora. – Você queria me matar, mas quem você matou foi Percy! Ele só tinha oito anos!

A expressão de Hades clareou.

– Eu não mandei monstro algum atrás de você há cinco anos, garota. – Disse ele. – Se eu o tivesse feito, você não estaria aqui agora. Se aqueles monstros mataram seu amigo, e não você, o objetivo deles era ele.

Thalia deu um passo para trás, sentindo como se seu coração parasse.

– O... o quê?

– Não fui eu que mandei aqueles monstros. – Hades falou impacientemente. – Quem o fez queria seu amigo morto.

– Mas... – Thalia podia sentir seu coração e respiração acelerarem com o pavor do que lhe estava sendo dito. Quem ela havia culpado por anos... era inocente? – Mas as Fúrias estavam lá!

Hades ergueu uma sobrancelha, antes de chamar:

– Alectó!

A bruxa monstruosa voou do nada, suas asas de couro emitindo um som estranho e nauseante enquanto batiam, e pousou no ombro de Hades.

– Sim, meu senhor? – Sibilou.

– Diga-me – disse Hades –, você esteve envolvida em algum incidente com essa menina, cinco anos atrás?

Alectó olhou para o grupo, os olhos vermelhos brilhando com maldade, fixando-se em Thalia. Ela sibilou:

– Não consigo me lembrar de nada, meu senhor.

– Muito bem. – Hades assentiu, antes de se virar para o grupo. – Isso responde as suas dúvidas, Thalia Grace?

Não respondia. Se não tinha sido Hades que matou Percy, quem o fizera? E por quê? Percy era uma criança. Uma criança inocente. Quem iria querer matá-lo? Thalia e Luke nunca haviam descoberto quem era o pai dele. Teria algo a ver com isso? Seria alguém tão terrível que seria necessária a morte de seu filho para a segurança do mundo? Mas então por que Zeus o havia salvado? Nada fazia sentido!

– Mas...

– Já chega! – Hades retumbou, e virou-se para Annabeth. – Devolva o que me pertence!

– Mas eu não tenho o seu elmo. – Respondeu ela. – Viemos buscar o raio-mestre.

– Que vocês já possuem! – Bradou Hades. – Vocês vieram aqui com ele, pequena idiota, achando que poderia me ameaçar!

– Não é verdade! – Gritou Thalia, libertando-se de seu torpor.

– Então abra a sua mochila.

Um pensamento horrível assaltou Thalia, expulsando qualuqer outro que envolvesse Percy. O peso da mochila dela, como uma bola de boliche... Não podia ser... Thalia tirou a mochila dos ombros e abriu o zíper. Dentro havia um cilindro de metal de sessenta centímetros de comprimento, com uma ponta de cada lado, zumbindo de energia.

– Thalia. – Disse Annabeth. – Como...

– Eu... eu não sei. Não entendo.

– Vocês, heróis, são todos iguais. – Disse Hades. – Seu orgulho os torna tolos, achando que podem trazer uma arma as sim diante de mim. Eu não pedi o raio de Zeus, mas já que ele está aqui, você o entregará a mim. Tenho certeza de que será um excelente instrumento de barganha. E agora... o meu elmo. Onde está?

Thalia estava sem fala. Não tinha elmo nenhum. Não tinha ideia de como o raio-mestre fora parar em sua mochila. Quis pensar que Hades estava armando algum tipo de truque. Hades era o vilão. Mas de repente o mundo virara de lado. Thalia percebeu que havia sido usada. Alguém fizera Zeus, Poseidon e Hades quererem a caveira um do outro. O raio-mestre estava em sua mochila, e Thalia recebera a mochila de...

– Senhor Hades, espere. – Disse ela. – Isso tudo é um engano.

– Um engano? – Rugiu Hades. Os esqueletos apontaram as armas. Lá no alto houve um bater de asas coriáceas, e as duas outras Fúrias voaram para baixo para empoleirar-se nas costas do trono do seu senhor. Alectó arreganhou um sorriso ávido para Thalia e estalou o seu chicote. – Não há engano nenhum. – Disse Hades. – Sei por que você veio, e sei a razão real por que trouxe o raio. Você veio negociar por ele.

Hades soltou uma bola de fogo dourado da palma de sua mão. Ela explodiu nos degraus diante de Thalia, e lá estava, uma bela ilusão criada de lembranças horríveis; era Jason, pequeno e frágil Jason, seus olhos azuis brilhando tanto quanto no dia em que desaparecera.

– Infelizmente – disse Hades com insatisfação –, eu não o tenho aqui. Nunca tive. No entanto, sei onde ele está. Devolva o meu elmo, Thalia Grace, e talvez eu diga sua localização. Ele não está morto, você sabe. Está bem vivo.

Thalia pensou nas pérolas em seu bolso. Talvez elas pudessem safá-la daquilo. Se ao menos ela conseguisse descobrir onde Jason estava...

– Ah, as pérolas. – Disse Hades, e o sangue de Thalia gelou. – Sim, meu irmão e os seus truquezinhos. Apresente-as, Thalia Grace. – A mão de Thalia se moveu contra sua vontade e ela apresentou as pérolas. – Nunca pensei que Poseidon pudesse ajudar uma filha de Zeus. – Disse Hades. – Se eu não soubesse, diria que ele se aliou à Atena. Dê-me a mochila, menina, e aceite as minhas condições.

Thalia olhou para Annabeth e Grover. Suas expressões eram soturnas.

– Fomos enganados. – Disse-lhes. – Pegos numa armadilha.

– Sim, mas por quê? – Perguntou Annabeth. – E a voz no abismo...

– Ainda não sei. – Disse Thalia. – Mas pretendo perguntar.

– Decida, menina! – Gritou Hades.

– Thalia. – Grover pôs a mão no ombro dela. – Você não pode lhe entregar o raio.

– Eu sei disso.

Thalia se lembrou de Grover bombardeando a medusa no jardim de estátuas, e de Annabeth os salvando de Cérbero; eles haviam sobrevivido ao Parque Aquático de Hefesto, ao Arco de St. Louis, ao Cassino Lótus. Thalia passara milhares de quilômetros preocupada porque seria traído por um amigo, mas aqueles amigos jamais fariam isso. Eles não fizeram nada a não ser salvá-la, vezes e vezes seguidas, por mais que ela jamais fosse admitir isso.

Lembrou-se de Percy, em todas as vezes que ele os ajudara, salvara até. Lembrou-se do garotinho que ele havia sido, do que tinha se sacrificado anos atrás numa colina, para garatir que Thalia e Luke ficassem a salvo.

Garantir que vivessem.

Thalia não faria com que todo esse sacrifício fosse em vão.

– Eu sei o que fazer. – Disse ela. – Segurem isto.

Thalia entregou uma pérola a cada um deles.

Annabeth disse:

– Mas, Thalia...

Thalia se virou e encarou a face sorridente do irmão que ela não via há anos. Queria desesperadamente ficar para trás e descobrir onde ele estava, mas não podia. Thalia não o via há anos. Sabe-se lá se ele valia a pena, se ele estava bem o suficiente para valer a pena. Jason provavelmente nem se lembrava dela. Ele deveria ter oito anos. A idade que Percy tinha quando morreu.

Mas Thalia tinha de levar o raio de volta para o Olimpo e contar a verdade a Zeus. Tinha de impedir a guerra. Percy, Luke, ou mesmo Jason jamais a perdoariam se ela fizesse o contrário. Thalia pensou na profecia feita na Colina Meio-Sangue, que parecia ter sido um milhão de anos atrás: E, no fim, se verá em frente de outra grande intriga.

Por intriga, ela queria dizer a dúvida cruel de não saber onde seu irmão estava? Ou não ter feito nada para achá-lo?

– Desculpe. – Disse ao Jason que ela provavelmente nunca mais veria. – Eu vou achá-lo. Vou encontrar um jeito.

A expressão presunçosa na cara de Hades se apagou. Ele disse:

– Filhote de deus...?

– Vou encontrar o seu elmo, tio. – Thalia disse a ele. – Vou devolvê-lo. Lembre-se do aumento de salário de Caronte.

– Não me desafie...

– E não faria mal brincar com Cérbero de vez em quando. Ele gosta de bolas de borracha vermelhas.

– Thalia Grace, você não vai...

Thalia gritou:

– Agora!

Eles esmagaram as pérolas aos seus pés. Por um momento apavorante, nada aconteceu.

Hades gritou:

– Destruam-nos!

O exército de esqueletos avançou, espadas desembainhadas fuzis engatilhados no modo totalmente automático. As Fúrias mergulharam, os chicotes explodindo em chamas. Exatamente quando os esqueletos abriram fogo, os fragmentos de pérola aos pés dos missionários explodiram em luz verde e uma rajada de ar fresco do mar. Thalia foi encapsulada em uma esfera branca leitosa que começava a flutuar para fora do chão. Annabeth e Grover estavam bem atrás dela. Lanças e balas ricochetearam inofensivamente nas bolhas de pérola enquanto eles flutuavam para cima. Hades gritou com tamanha raiva que a fortaleza inteira se sacudiu e Thalia soube que aquela não seria uma noite tranquila em Los Angeles.

– Olhem para cima! – Gritou Grover. – Vamos bater!

Sem dúvida, eles estavam indo direto para as estalactites, as quais Thalia imaginou que iriam estourar as suas bolhas e espetá-los.

– Como se controla essas coisas? – Gritou Annabeth.

– Acho que não se controla! – Thalia gritou de volta.

O grupo gritou quando as bolhas colidiram com o teto e... Escuridão. Será que eles estavam mortos?

Não, Thalia ainda tinha a sensação de velocidade. Eles estavam indo para cima, através da rocha sólida, tão facilmente quanto uma bolha de ar na água. Aquele era o poder das pérolas, Thalia se deu conta – o que pertence ao mar sempre retornará ao mar. Por alguns momentos, ela não viu nada além das paredes macias de sua esfera, então sua pérola irrompeu no fundo do oceano. As outras duas esferas leitosas, Annabeth e Grover acompanharam Thalia enquanto eles disparavam para cima através da água. E... pimba! Eles explodiram na superfície, no meio da baía de Santa Monica, jogando um surfista para fora da sua prancha com um indignado "Ei, cara!". Thalia agarrou Grover e o arrastou até uma bóia salva-vidas. Pegou Annabeth e a arrastou também. Um tubarão curioso dava voltas em torno deles, um grande tubarão branco com cerca de três metros e meio de comprimento.

Thalia disse:

– Cai fora! – E mandou um choque na direção dele.

O tubarão se virou e fugiu apressado. O surfista gritou alguma coisa sobre cogumelos estragados e se afastou do grupo patinhando o mais rápido que podia. De algum modo, Thalia sabia que horas eram: início da manhã, 21 de junho, o dia do solstício de verão. À distância, Los Angeles estava em chamas, nuvens de fumaça subindo de bairros por toda a cidade. Tinha havido um terremoto sem dúvida, e a culpa era de Hades. Provavelmente estava mandando um exército de mortos atrás de Thalia naquele instante. Mas, naquele momento, o Mundo Inferior não era o maior problema dela. Ela tinha de chegar até a praia. Tinha de levar o raio de Zeus de volta para o Olimpo.

Mais que tudo, Thalia precisava ter uma conversa séria com o deus que a enganara.


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Notas finais do capítulo

Maior capítulo ever. Desculpe por demorar. Eu fui passar o feriado e o final de semana num hotel em que a internet era horrível, então tudo o que pude fazer foi esperar assistindo The Originals. No entanto, aqui estou eu. Quero agradecer à Viick Fanelli pela maravilhosa recomendação. OBG, VIICK! Obrigada, Lyssah Cullen, pela capa nova. Obrigada a todo mundo, por ler e gostar da história!

HEY, POVO! Alguns de vocês já devem ter visto que, no meu perfil, tem uma história nova. Não é realmente minha, na verdade é de uns amigos meus da escola. A gente tá escrevendo sobre a vida de certa pessoa (que eu não conheço, não, imagina, por que iria conhecê-lo, he?) e a convivência com essa pessoa. Meu amigo é horrível escrevendo, mas deem uma chance, sim? Talvez vocês gostem. Me fazem o favor de tentar ler "The Algebra's Devil"? Eu sei que no final vocês vão se reconhecer em algum personagens... e leiam os avisos da história, sim?

E NÃO SE ESQUEÇAM DE COMENTAR NESTA AQUI! EU FIZ UM CAPÍTULO GRANDÃO PARA VOCÊS!

Seven kisses for you!