Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 30
Percy?


Notas iniciais do capítulo

~chega se escondendo atrás de um escudo~ Errr... Oi? Aqui está um novo capítulo. Eu, uh, espero que gostem! Hum...



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Um barco da Guarda Costeira recolheu o grupo, mas eles estavam ocupados demais para ficar com os três por muito tempo, ou para querer saber por que três crianças com roupas casuais foram parar no meio da baía. Havia um desastre para cuidar. Seus rádios estavam entupidos de chamados de emergência. Eles os largaram no píer Santa Monica com toalhas em volta dos ombros e garrafas d'água que diziam EU SOU UM GUARDA-COSTEIRO MIRIM! e saíram às pressas para salvar mais gente. As roupas deles estavam encharcadas, inclusive as de Thalia. Ela também estava descalço, porque entregara suas queridas botas a Grover, que não ficou muito bem nelas, mas eram tudo o que ele tinha. Era melhor a Guarda Costeira se perguntar por que um deles estava descalço do que se perguntar por que um deles tinha cascos. Depois de chegar a terra firme, os três saíram cambaleando pela praia vendo a cidade queimar contra um lindo pôr do sol. Era como se tivesse acabado de retornar do mundo dos mortos – o que era verdade. A mochila de Thalia estava pesada, com o raio-mestre de Zeus. Seu coração estava ainda mais pesado por ter visto seu irmão, ou melhor, não tê-lo visto.

— Eu não acredito. – Disse Annabeth. – A gente passou por tudo aquilo e...

— Foi um truque. – Disse Thalia. – Uma estratégia digna de Atena.

— Ei. – Avisou.

— Você entendeu, não é?

Ela baixou os olhos, a raiva murchou.

— Sim. Entendi.

— Bem, eu não entendi! – Reclamou Grover. – Será que alguém poderia...

— Thalia... – Disse Annabeth. – Eu sinto muito pelo seu irmão. Sinto tanto...

Thalia fez que não estava ouvindo. Se ela falasse sobre Jason, ia começar a chorar como uma criancinha.

— A profecia estava certa. – Disse ela. – Você deve ir para o oeste, e enfrentar o deus que se tornou desleal. Mas não era Hades. Hades não queria guerra entre os Três Grandes. Algum outro executou o roubou. Alguém roubou o raio-mestre de Zeus, e o elmo de Hades, e tramou contra Annabeth porque ela é filha da Guerra e da Estratégia. Mas é Poseidon que será culpado por ambos os lados. Ao pôr do sol de hoje, haverá uma guerra tríplice. E eu a terei causado.

Grover sacudiu a cabeça, desconcertado.

— Mas quem seria tão fingido? Quem iria querer uma guerra tão ruim?

Thalia parou bruscamente, olhando para a praia.

— Puxa, deixem-me pensar.

Ali estava ele, aguardando-os, em seu casaco preto de couro, e óculos escuros, um bastão de beisebol de alumínio ao ombro. A motocicleta roncava ao seu lado, o farol deixando a areia vermelha.

— Ei, garota. – Disse Ares, parecendo genuinamente contente em ver Thalia. – Você devia estar morta.

— Você me enganou. – Disse Thalia. – Você roubou o elmo e o raio-mestre.

Ares arreganhou um sorriso.

— Bem, mas eu não os roubei pessoalmente. Deuses tirando símbolos de poder uns dos outros, nã-nã-nã, isso é inaceitável. Mas você não é a única que pode dar recados.

— Quem você usou? Clarisse? Ela estava lá no solstício de inverno.

A ideia pareceu diverti-lo.

— Não importa. A questão, garota, é que você está impedindo o esforço de guerra. Entenda, você precisa morrer no Mundo Inferior. Então Zeus e o Velho Alga do Mar vão ficar furiosos com Hades por matá-la. O Hálito de Cadáver ficará com o raio-mestre de Zeus, e assim Zeus ficará ainda mais furioso com ele. E Hades ainda está procurando por isto...

Ele tirou do bolso um capuz de esqui – do tipo que os ladrões de banco usam – e o colocou no meio do guidão da sua moto. Imediatamente, o capuz se transformou em um elaborado capacete de guerra em bronze.

— O elmo das trevas. – Arfou Grover.

— Exatamente. – Disse Ares. – Mas onde é mesmo que eu estava? Ah, sim, Hades ficará furioso com ambos, Zeus e Poseidon, porque ele não sabe quem pegou isto. De bônus, Atena vai ficar furiosa com a morte da filha favorita e provavelmente vai culpar Hades. Logo logo teremos uma bela pancadariazinha tríplice em andamento.

— Mas eles são a sua família! – Protestou Annabeth, embora parecesse um pouco fixada na parte do "filha favorita".

Ares encolheu os ombros.

— O melhor tipo de guerra. Sempre a mais sangrenta. Nada como ficar olhando seus parentes lutarem, eu sempre digo.

— Você me deu a mochila em Denver. – Disse Thalia. – O raio-mestre estava lá o tempo todo.

— Sim e não. – Disse Ares. – Provavelmente é complicado demais para o seu pequeno cérebro mortal acompanhar, mas a mochila é a bainha do raio-mestre, apenas um pouco adaptada. O raio está conectado a ela. Eu só precisei modificar a mágica um pouquinho, para que o raio só retornasse à bainha depois de você chegar ao Mundo Inferior. Chegou perto de Hades... Bingo! Você recebeu um e-mail. Se você morresse no caminho, não haveria perda. Eu ainda teria a arma.

— Mas por que você simplesmente não ficou com o raio para você? – Perguntou. – Por que mandá-lo para Hades?

O queixo de Ares crispou-se. Por um momento, foi quase como se ele estivesse ouvindo uma outra voz, bem no fundo da cabeça, dando a Thalia uma certa suspeita, considerando...

— Por que eu não... sim... com esse tipo de poder de fogo...

Ele manteve o transe por um segundo... dois segundos... Thalia trocou olhares nervosos com Annabeth. A cara de Ares clareou.

— Porque eu não queria ter problemas. Melhor você ser pego em flagrante, segurando a coisa.

— Você está mentindo. – Disse Annabeth. – Mandar o raio para o Mundo Inferior não foi ideia sua, foi?

— É claro que foi! – Fumaça escapou por baixo dos seus óculos escuros, como se eles estivessem a ponto de pegar fogo.

— Você não ordenou o roubo. – Thalia adivinhou. – Alguém mais enviou um herói para roubar os dois itens. Então, quando Zeus mandou você caçá-lo, você pegou o ladrão. Mas você não o entregou a Zeus. Alguma coisa o convenceu a deixá-lo ir. Você guardou os itens até que outro herói pudesse vir e completar a entrega. Aquela coisa no abismo está dando ordens a você.

— Eu sou o deus da guerra! Não aceito ordens de ninguém! Eu não tenho sonhos!

Thalia hesitou, sentindo um arrepio correr por sua espinha.

— Quem foi que disse alguma coisa sobre sonhos?

Ares pareceu agitado, mas tentou encobrir isso com um sorriso forçado.

— Vamos voltar ao problema em pauta, garota. Você está viva. Eu não posso deixar que leve aquele raio para o Olimpo. Pode ser que consiga convencer aqueles idiotas cabeças-duras a ouvi-la. Portanto preciso matá-la. Não é nada pessoal.

Ele estalou os dedos. A areia explodiu aos seus pés e surgiu um javali feroz investindo, ainda maior e mais feio que aquele cuja cabeça estava pendurada acima da porta do chalé 5 do Acampamento Meio-Sangue. A besta escavou a areia, olhando furiosamente para Thalia com olhos pequenos e brilhantes enquanto abaixava os presas afiadas como navalhas e aguardava a ordem para matar. Thalia entrou na arrebentação.

— Enfrente-me você mesmo, Ares.

Ele riu, mas deu para ouvir um pouco de tensão na sua risada... um certo constrangimento.

— Você só tem um talento, garota, que é fugir. Você fugiu daqueles monstros, cinco anos atrás, e deixou um pirralhinho para lutar com eles. Você fugiu do Mundo Inferior. Não tem coragem para me enfrentar.

A visão de Thalia ficou vermelha. Se havia algo que ela odiava mais do ser acusada por algo que ela não fez, algo pior do que ser chamada de covarde, era ser lembrada do que fizera há cinco anos atrás. De como havia deixado seu irmãozinho, que quase não tinha nem um metro e meio, para lutar contra monstros que assombraram a Terra durante milênios. De como não havia feito nada para ajudá-lo, mesmo quando se tornou óbvio qual seria o destino dele.

A vontade de Thalia era se jogar contra Ares e estripá-lo com as próprias mãos, mas forçou-se a ficar calma. Percy já disse que não a culpava. Ela só precisava dar o mesmo tratamento a si mesma.

— Com medo? – Forçou-se a dizer.

— Só nos seus sonhos de adolescente. – Mas os óculos escuros de Ares estavam começando a derreter com o calor dos olhos. – Nada de envolvimento direto. Sinto muito, garota. Você não está no meu nível.

Annabeth disse:

— Thalia, corra!

O javali gigante atacou. Mas Thalia já estava cansada de correr de monstros. Ou de Hades, ou de Ares, ou de qualquer um. Quando o javali investiu contra ela, Thalia pegou sua lata de spray e deu um passo para o lado. A lança apareceu em suas mãos. Ela deu um golpe para baixo. A lâmina se fincou na presa direita do javali, e Thalia puxou para cima com toda a força, arrancando a presa e fazendo o animal desorientado rugir de dor enquanto investia contra o mar.

Lorde Poseidon, uma ajudinha agora seria boa, pensou Thalia.

Imediatamente uma onda surgiu do nada e engolfou o javali, enrolando-se nele como um cobertor. A besta guinchou uma vez, aterrorizada. E então se foi, engolida pelo mar.

Thalia voltou-se novamente para Ares.

— Você vai lutar comigo agora? – Perguntou. – Ou vai se esconder de novo atrás de um porquinho de estimação?

A cara de Ares estava roxa de raiva.

— Tome cuidado, garota. Eu poderia transformá-la em...

— Uma barata. – Thalia completou. – Ou uma lombriga. Sim, eu tenho certeza. Isso o salvaria de ter o seu couro divino chicoteado, não é mesmo?

Chamas dançaram por cima dos seus óculos.

— Ah, você realmente está pedindo para ser esmagada até virar uma poça de gordura.

— Se eu perder, me transforme no que quiser. Fique com o raio. Se eu vencer, o elmo e o raio são meus, e você tem de ir embora.

Ares a olhou com uma expressão de escárnio. Ele brandiu o bastão de beisebol que trazia ao ombro.

— Como gostaria de ser esmagada: modo clássico ou moderno? – Thalia lhe mostrou a sua lança. – Legal, menina morta. – Disse ele. – Modo clássico então.

O bastão de beisebol transformou-se em uma enorme espada de duas mãos. A guarda era uma grande caveira de prata com um rubi na boca.

— Thalia. – Disse Annabeth. – Não faça isso. Eu odeio dizer isso, mas ele é um deus.

— Ele é um covarde. – Rebateu Thalia.

Ela engoliu em seco.

— Use isto pelo menos. – Ela tirou a faca de Percy de sua bainha, estendendo-a para Thalia, que a pegou e colocou no bolso de dentro do casaco. – Para dar sorte. – Disse ela.

Pela primeira vez, Thalia mostrou a Annabeth um sorriso genuíno.

— Obrigada.

— E pegue isto. – Disse Grover.

Ele lhe entregou uma lata achatada que parecia estar no seu bolso há mil quilômetros.

— Os sátiros lhe dão respaldo.

— Grover... eu não sei o que dizer.

Ele lhe deu uma palmadinha no ombro. Thalia enfiou a lata em seu bolso de trás.

— Vocês já se despediram? – Ares veio em sua direção, o comprido casaco de couro preto se arrastando atrás dele, a espada faiscando como fogo ao nascer do sol. – Eu venho lutando há uma eternidade, garota. Minha força é ilimitada e eu não posso morrer. O que você tem?

Um ego menor, Percy resmungou, e Thalia sorriu, mas não disse nada. Manteve os pés na arrebentação, recuando na água até os tornozelos. Pensou no que Grover havia dito no restaurante de Denver, tanto tempo atrás: Ares tem força. É tudo o que ele tem. Mesmo a força às vezes tem de se curvar à sabedoria.

Ele desceu a espada, tentando rachar ao meio a cabeça de Thalia, mas ela não estava lá. Seu corpo pensava por ela. O ar ao redor dela pareceu empurrá-la para cima e ela se lançou para cima dele, golpeando para o lado com a espada ao descer. Mas Ares foi igualmente rápido. Torceu o corpo e o golpe que deveria tê-lo pego diretamente na espinha foi desviado para fora pela guarda da sua espada. Ele sorriu.

— Nada mau, nada mau.

Ele atacou de novo e Thalia foi forçada a pular para a terra seca, longe da pequena ajuda que Poseidon (recentemente nomeado "Best Uncle") poderia lhe oferecer. Ares começou a pressioná-la tanto que ela teve de se concentrar totalmente em não ser cortada em pedaços. Thalia continuou recuando para longe da arrebentação. Não conseguia achar nenhuma abertura para atacar. O alcance da espada dele era bem menor que o de sua lança, então Ares lutava muito perto, não dando muito espaço para Thalia atacar. Ela avançou com uma estocada, mas Ares estava esperando por isso. Ele arrancou a lança de suas mãos e a chutou no estômago. Thalia saiu voando – cinco, talvez dez metros. Teria quebrado as costas se não tivesse desabado sobre a areia fofa de uma duna.

— Thalia! – Gritou Annabeth. – Polícia!

Thalia estava vendo tudo dobrado. Parecia que o seu estômago tinha sido atingido por um aríete, mas ela conseguiu se pôr em pé. Ela não podia desviar os olhos de Ares por medo de que ele a cortasse ao meio, mas com o canto do olho viu as luzes vermelhas piscando na avenida beira-mar. Portas de carros batiam.

— Ali, guarda! – Gritou uma voz feminina estranhamente familiar, mas que Thalia não conseguiu encaixar. – Está vendo?

Uma voz brusca de policial:

— Parece aquela garota da tevê... que diabo...

— Aquele cara está armado. – Disse outro policial. – Peça reforços.

Thalia rolou para o lado e a lâmina de Ares cortou a areia. A garota correu para sua lança, pegou-a e desferi um golpe contra o rosto de Ares, apenas para ver sua lâmina desviada de novo. Ares parecia saber exatamente o que ela ia fazer um momento antes. Thalia recuou para a arrebentação, forçando-o a segui-la.

— Admita, garota – disse Ares. – Você está perdida. Estou só brincando com você.

De repente, os sentidos de Thalia pareceram começar a fazer hora extra. Ela estava totalmente desperta, notando cada pequeno detalhe. Podia ver onde Ares estava se retesando. Podia dizer de que lado ia atacar. Ao mesmo tempo, tinha consciência de Annabeth e Grover, dez metros à sua esquerda. Viu uma segunda viatura parando, a sirene uivando.

Espectadores, pessoas que perambulavam pelas ruas por causa do terremoto, começavam a se juntar.

No meio da multidão, Thalia pensou ver alguns andando com aquele estranho passo de trote de sátiros disfarçados. Havia também vultos rebrilhantes de espíritos, como se os mortos tivessem se erguido do Hades para assistir à batalha. Uma garota familiar com calças camufladas e botas de guerra observava com os braços cruzados. Thalia ouviu o bater de asas coriáceas circulando em algum lugar acima. Mais sirenes.

Thalia avançou mais para dentro da água, mas Ares foi rápido. A ponta da sua espada rasgou a manga da roupa dela e roçou seu antebraço. A voz de um policial no megafone disse:

— Larguem as espingardas! Coloquem na areia. Agora!

Espingardas? Thalia olhou para a arma de Ares, e ela parecia estar tremeluzindo; às vezes parecia uma espingarda, às vezes uma espada de duas mãos. Ela não sabia o que os seres humanos estavam vendo em suas mãos, mas tinha certeza de que não os faria gostar dela. Ares virou-se para olhar ferozmente para seus espectadores, o que deu a Thalia um momento para respirar. Havia cinco viaturas de polícia agora, e uma fileira de policiais abaixados atrás delas, com pistolas apontadas para Thalia e Ares.

Thalia, disse Percy, finalmente fazendo uma aparição. Você não pode fazer isso sozinha. Eu só posso ajudar até certo ponto. Você tem de pedir ajuda a Poseidon.

— Este é um assunto particular! – Berrou Ares. – Vão embora!

Ele fez um movimento circular com a mão, e uma parede de chamas vermelhas passou através das viaturas. Os policiais mal tiveram tempo de mergulhar para se proteger antes de os carros explodirem. A multidão se dispersou aos gritos. Ares soltou uma gargalhada retumbante.

— Agora, pequena heroína. Vamos acrescentar você ao churrasco.

Ele golpeou. Thalia desviou da lâmina. Distanciou-se o bastante para atacar, tentou enganá-lo com uma ginga, mas o seu golpe foi rechaçado. As ondas agora estavam atingindo-a nas costas, mas não a derrubavam como deveriam. Ares estava mergulhado até as coxas, avançando atrás dela.

Um flash de ouro, e o tempo pareceu ficar mais lento ao redor de Ares, fazendo-o urrar ao perceber.

Agora, Thalia!, a voz de Percy estava arfante. Peça ajuda agora!

Lorde Poseidon?, tentou Thalia.

Imediatamente, ela ouviu uma voz profunda em sua mente:

Thalia. No que posso ajudá-la?

Thalia sentiu o ritmo do mar, as ondas ficando maiores enquanto a maré avançava, e de repente teve uma ideia.

Ondas pequenas, pensou.

E a água atrás dela pareceu recuar. Ares avançou, sorrindo confiante. Thalia abaixou a sua lança, como se estivesse exausta demais para prosseguir. Aguarde, ela disse para o mar. A pressão da água aumentava cada vez mais, se acumulando, como gás carbônico atrás de uma rolha. Ares ergueu a espada.

Agora!, Thalia pensou, e pulou, sentindo a corrente de ar mudar para ajudá-la, passando diretamente por cima de Ares. Uma parede de dois metros de água o atingiu em cheio no rosto, e ele ficou praguejando e cuspindo com a boca cheia de algas. Thalia caiu em pé atrás dele, espirrando água, e simulou um ataque em direção à cabeça dele, como já havia feito. Ele se virou a tempo de erguer a espada, mas dessa vez estava desorientado e não previu o truque. Thalia mudou de direção, investiu para o lado e mandou Contracorrente diretamente para baixo na água, enfiando a ponta no calcanhar do deus. O rugido que se seguiu fez o terremoto do Hades parecer um evento menor. O próprio mar explodiu para longe de Ares, deixando um círculo de areia molhada com quinze metros de diâmetro. Icor, o sangue dourado dos deuses, jorrou de um talho profundo na bota do deus. A expressão no seu rosto ia além do ódio. Era dor, choque, incredulidade total por ter sido ferido. Ele veio mancando na direção de Thalia, resmungando antigas pragas gregas. Alguma coisa o deteve.

Era como se uma nuvem tivesse encoberto o sol, mas pior. A luz foi sumindo. Sons e cores se extinguiram. Uma presença fria e pesada passou sobre a praia, retardando o tempo, diminuindo a temperatura até o congelamento, e fazendo Thalia sentir que a vida não valia a pena, que lutar era inútil.

Thalia..., ela ouviu a voz de Percy, a voz dele de verdade, cansada e arfando mais do que nunca. Não...

Thalia sentiu um arrepio, e um som como ar escapando de um balão, antes da voz de Percy sumir totalmente, e a mente de Thalia se tornou horrivelmente vazia. Ela tirou a faca de Percy do bolso, e a encarou.

A lâmina não brilhava mais.

As trevas se dissiparam. Ares parecia aturdido. As viaturas da polícia ardiam atrás deles. A multidão de espectadores fugira. Annabeth e Grover estavam plantados na praia, em choque, observando a água se derramar de volta em torno dos pés de Ares, e o seu luminescente icor dourado se diluindo na maré. Ares abaixou a espada.

— Você fez um inimigo, filhote de deus. – Disse ele a Thalia. – Você selou o seu destino. A cada vez que erguer a sua lança em batalha, a cada vez que você esperar sucesso, sentirá a minha maldição. Cuidado, Thalia Grace. Cuidado.

Seu corpo começou a brilhar.

— Thalia! – Gritou Grover. – Não olhe!

Thalia se virou enquanto o deus Ares revelava sua verdadeira forma imortal. A luz se extinguiu. Ela olhou para trás; Ares se fora. A maré recuou para revelar o elmo de bronze das trevas de Hades. Thalia o recolheu e foi andando na direção dos seus amigos. Mas, antes de chegar lá, ouviu o bater de asas de couro. Três vovós de aparência maligna com chapéus de renda e chicotes flamejantes desceram do céu e pousaram diante de Thalia. A Fúria do meio, a que tinha sido Alectó, deu um passo à frente. Seus caninos estavam expostos, mas pela primeira vez não tinha um aspecto ameaçador. Parecia mais desapontada, como se tivesse planejado comer semideus frito na ceia, mas percebera que eles podiam lhe dar indigestão.

— Nós vimos tudo. – Sibilou ela. – Então... realmente não foram vocês?

Thalia jogou o capacete para ela, e ela o agarrou, surpresa.

— Devolva isto ao Senhor Hades. – Disse Thalia. – Conte-lhe a verdade. Diga-lhe para cancelar a guerra.

Ela hesitou, depois passou uma língua bifurcada pelos lábios coriáceos verdes.

— Viva bem, Thalia Grace. Torne-se uma verdadeira heroína. Porque, se você não o fizer, se algum dia cair nas minhas garras de novo...

Ela cacarejou, saboreando a ideia. Então ela e as irmãs levantaram voo em suas asas de morcego, pairaram no céu cheio de fumaça e desapareceram. Thalia juntou-se a Grover e Annabeth, que olhavam para ela assombrados.

— Thalia... – Disse Grover. – Aquilo foi tão incrivelmente...

— Aterrorizante. – Disse Annabeth.

— Legal! – Corrigiu Grover.

Thalia não se sentia aterrorizada. Certamente não se sentia legal. Estava cansada, doída e sem nenhuma energia.

— Vocês sentiram aquele... o que era aquilo? – Thalia perguntou.

Os dois assentiram, constrangidos.

— Devem ser as Fúrias lá no alto. – Disse Grover. Mas Thalia não tinha tanta certeza. Alguma coisa impedira Ares de matá-la, e o que quer que pudesse fazer isso era muito mais forte do que as Fúrias. Olhou para Annabeth, e elas tiveram a mesma sensação. Agora Thalia sabia o que estava naquele abismo, o que havia falado da entrada do Tártaro. Resgatou sua mochila com Grover e olhou dentro. O raio-mestre ainda estava lá. Uma coisa tão pequena quase causara a Terceira Guerra Mundial.

— Temos de voltar a Nova York. – Disse Thalia. – Esta noite.

— É impossível. – Disse Annabeth. – A não ser que nós...

— Fôssemos voando. – Completou.

Ela olhou ceticamente para Thalia.

— Com que dinheiro? – Perguntou.

Thalia não respondeu. Não estava mais pensando em voos, raios, Zeus ou o que fosse. Ao invés disso, pensou na faca de Percy, ainda fortemente segurada por sua mão. Pensou no brilho que sempre pareceu estar lá, e que subitamente sumira. A presença que pareceu espantá-lo, a forma como Percy tentara falar com ela como se nunca mais fosse fazê-lo.

A forma como ele parecia totalmente ausente agora.

Percy?, Thalia chamou, já sentindo as lágrimas ardendo.

Percy, você está aí?

Percy?

PERCY?


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Notas finais do capítulo

Sorry³², gente, I'm so sorry. Eu pensei que iria me desandar a escrever quando as férias começaram, mas aí deu um branco. No final das férias eu fiz uma cirurgia e pensei que fosse escrever alguma coisa nas 168 em que eu não fazia nada, mas eu entrei em um estado de depressão profundo no qual perdi 4,5 quilos. Aí teve as aulas, e essa semana eu tive que fazer prova de álgebra, geometria e robótica, então tem sido meio difícil...
Sorry de novo.
Gente, por favor, me digam o que vocês acham do capítulo, pls.



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