Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 25
Two can play this game.




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O deus da guerra os esperava no estacionamento do restaurante.

– Bem, bem. – Disse ele. – Você conseguiu não ser morta.

– Você sabia que era uma armadilha. – Thalia retrucou.

Ares lhe deu um sorriso malvado.

– Aposto que aquele ferreiro aleijado ficou surpreso quando pegou na rede um par de crianças estúpidas. Você ficou bem na tevê.

Thalia empurrou o escudo para ele, e Annabeth disse:

– Você é um imbecil.

Grover parou de respirar.

Ares agarrou o escudo e o girou no ar como massa de pizza. O escudo mudou de forma, transformando-se em um colete à prova de balas. Ele o pendurou nas costas.

– Estão vendo aquele caminhão logo ali? – Apontou um caminhão de dezoito rodas estacionado do outro lado da rua. – É a carona de vocês. Vai levá-los direto a Los Angeles, com uma parada em Vegas.

O caminhão tinha uma placa na parte de trás, que Annabeth só pôde ler porque estava pintada ao contrário, em branco sobre preto, uma boa combinação para a dislexia: CARIDADE INTERNACIONAL: TRANSPORTE HUMANITÁRIO DE ZOOLÓGICO. CUIDADO: ANIMAIS SELVAGENS VIVOS

Annabeth disse:

– Fala sério!

Ares estalou os dedos. A porta traseira do caminhão se destrancou.

– Carona grátis para oeste, princesa. Pare de reclamar. E aqui está uma coisinha por terem feito o serviço.

Ele suspendeu uma mochila de náilon azul do seu guidom e a jogou para Thalia, que olhou para dentro dela antes de voltar os olhos azuis para Ares e dizer:

– Não quero a porcaria do seu...

– Obrigado, Senhor Ares. – Interrompeu Grover, fuzilando Thalia e Annabeth com seu melhor olhar de alerta vermelho. – Muito obrigado.

Annabeth rangeu os dentes. Devia ser um insulto mortal recusar algo de um deus, mas ela não queria nada que Ares tivesse tocado. Ela viu enquanto Thalia pendurava a mochila no ombro relutante e respirou fundo. Sabia que sua raiva era causada pela presença do deus da guerra, mas ainda sentia uma vontadezinha de lhe dar um murro no nariz. Ele a lembrava de todos os valentões que já havia enfrentado: Nancy Bobofit, Clarisse, professores debochados – todos os imbecis que a chamaram de nerd ou princesa na escola ou riram dela quando era expulsa.

Annabeth olhou para o restaurante atrás dela, que tinha agora apenas um ou dois clientes. A garçonete que lhes servira o jantar olhava, nervosa, pela janela, como se tivesse medo de que Ares os machucasse. Ela arrastou o cozinheiro de dentro da cozinha para ver. Disse algo a ele. Ele assentiu, ergueu uma pequena câmera descartável e tirou uma foto deles.

Boa, pensou. Amanhã Thalia vai estar de novo nos jornais.

Imaginou a manchete: MENINA DESAPARECIDA ESPANCA MOTOCICLISTA INDEFESO.

– Você me deve mais uma coisa. – Thalia disse a Ares, tirando Annabeth de seus pensamentos. – Você me prometeu informações sobre meu irmão.

– Tem certeza de que é capaz de suportar a notícia? – Ele deu a partida no pedal da moto. – Ele não está morto.

Annabeth viu os joelhos de Thalia tremerem.

– De quem você está falando? – Sua voz não era muito mais que um sussurro.

– De quem mais eu poderia estar falando? Jason Grace, desaparecido aos dois anos de idade em Sonoma Valleym, São Francisco. Presumido morto. Mas ele está vivo.

Os olhos de Thalia estavam arregalados e seu rosto pálido,

– Isso... isso não é possível. – Disse. – Não depois de todo esse tempo.

Ele riu.

– Ah, não? A gente se vê por aí, garota.

Annabeth cerrou os punhos, decidindo que Thalia precisava de ajuda.

– Você é bem convencido, Senhor Ares, para um cara que foge de estátuas de Cupido. – Ela mandou para ele.

Atrás dos óculos escuros, o fogo brilhou. Annabeth sentiu um vento quente nos cabelos.

– Nós nos encontraremos novamente, Annabeth Chase. Na próxima vez em que estiver numa briga, cuide de sua retaguarda.

– Isso não foi muito inteligente, Annabeth.

– Não estou nem aí.

– Você não quer um deus como inimigo. Especialmente esse deus.

– Ei, gente. – Disse Thalia, desviando seu olhar do chão. – Detesto interromper, mas...

Ela apontou na direção do restaurante. No caixa, os dois últimos clientes estavam pagando suas contas, dois homens de macacões pretos idênticos, com uma logomarca branca nas costas que combinava com a do caminhão da CARIDADE INTERNACIONAL.

– Se vamos pegar o expresso do zoológico – disse Thalia – precisamos nos apressar.

Annabeth não tinha gostado daquilo, mas não havia opção melhor. Além disso, já tinha visto o suficiente de Denver.

Eles atravessaram a rua correndo e subimos na traseira do veículo enorme, fechando as portas atrás deles.

A primeira coisa que Annabeth percebeu foi o cheiro. Era como a maior caixa de areia para cocô de gato do mundo. O interior da carreta estava escuro até Thalia tirar sua faca do casaco. A lâmina lançou uma leve luz de bronze sobre uma cena muito triste. Em uma fileira de jaulas metálicas imundas havia três dos mais patéticos animais de zoológico que Annabeth já vira: uma zebra, um leão albino e um tipo estranho de antílope.

Alguém jogara para o leão um saco de nabos que ele obviamente não queria comer. A zebra e o antílope tinham ganhado uma bandeja de isopor de carne de hambúrguer cada um. A crina da zebra estava toda emaranhada em goma de mascar, como se alguém ficasse cuspindo nela nas horas vagas. O antílope tinha um estúpido balão de aniversário amarrado em um dos seus chifres que dizia PASSEI DA IDADE!

Tudo indicava que ninguém quisera chegar perto o bastante do leão para mexer com ele, mas o pobre andava de um lado para outro em cima de cobertores sujos, em um espaço que era mais do que muito pequeno para ele, arfando com o ar abafado da carreta.

Moscas zumbiam em volta de seus olhos cor-de-rosa, e as costelas apareciam no pelo branco.

– Isso é caridade? – Gritou Grover. – Transporte humanitário de zoológico?

Ele provavelmente teria saído de volta para bater nos caminhoneiros com suas flautas de bambu, e Annabeth o teria ajudado, mas bem naquele momento o motor roncou, a carreta começou a chacoalhar e eles foram forçados a se sentar ou cair.

Eles se amontoaram no canto em cima de alguns sacos de ração embolorados, tentando ignorar o cheiro, o calor e as moscas. Grover falou com os animais em uma série de balidos de bode, mas eles apenas olharam tristemente para ele. Thalia era a favor de arrombar as jaulas e soltá-los ali mesmo, mas Annabeth argumentou que isso não ia adiantar muito até que o caminhão parasse de se mover. Além disso, ela tinha a sensação de que, para o leão, os três poderiam parecer bem mais apetitosos do que aqueles nabos.

Annabeth achou um jarro de água e reabasteceu as tigelas deles, e depois Thalia usou sua lança para puxar os alimentos trocados para fora das jaulas. Deu a carne ao leão e os nabos para a zebra e o antílope.

Grover acalmou o antílope enquanto Thalia usava a faca para tirar o balão preso ao chifre. Pensou também em cortar a goma de mascar da crina da zebra, mas eles concluíram que seria muito arriscado com o caminhão aos solavancos. Annabeth e Thalia pediram a Grover para prometer aos animais que eles os ajudariam mais pela manhã, e então se acomodaram para a noite.

Grover se enrodilhou sobre um saco de nabos; Thalia abriu um pacote de Oreos que havia dentro da bolsa que Ares dera e mordiscou um deles sem muito entusiasmo; Annabeth tentou ficar animada com a ideia de que estavam a meio caminho de Los Angeles. Ainda era 14 de junho. O solstício só aconteceria no dia 21. Eles tinham tempo de sobra.

Por outro lado, Annabeth não tinha ideia do que os esperava. Os deuses estavam brincando com eles. Pelo menos Hefesto teve a decência de ser honesto quanto a isso – instalou câmeras e os anunciou como entretenimento. Mas até quando não havia câmeras filmando Annabeth tinha a sensação de que a sua missão estava sendo observada. Eles era uma fonte de diversão para os deuses.

– Ei. – Disse para Thalia depois de um tempo. – Sinto muito por ter me apavorado lá no parque aquático, Thalia.

– Tudo bem. - Thalia resmungou.

– É só que... – Annabeth estremeceu. – Aranhas.

– Por causa da história de Aracne. – Disse Thalia, sem levantar os olhos dos Oreos. – Ela foi transformada em aranha por desafiar sua mãe para uma competição de tecelagem. Os filhos de Aracne têm se vingado nos filhos de Atena desde então.

Annabeth assentiu.

– Eu odeio aquelas coisinhas rastejantes. – Disse, torcendo o nariz. – De qualquer jeito, lhe devo uma.

– Somos uma equipe, está lembrada? – Thalia respondeu, embora a parte da "equipe" tenha soado meio forçada. - Além disso, Grover fez aquele voo fantástico.

Annabeth pensou que estivesse dormindo, mas ele murmurou do seu canto:

– Fui o máximo, não fui?

Annabeth e Thalia deram risada.

Thalia separou as duas partes do biscoito recheado e deu uma para Annabeth.

– Na mensagem de Íris... – Começou Annabeth. – Luke realmente não disse nada?

Annabeth mastigou seu biscoito enquanto Thalia não dizia nada. Podia ver que a outra garota estava pensando em responder.

– Luke disse que Grover não iria fracassar dessa vez. – Foi o que respondeu. – Ninguém seria transformado em pinheiro.

Grover soltou um balido lamentoso, mas não disse nada.

Thalia pôs seu biscoito de lado, intocado.

– Na noite em que fugi, um dos animais sagrados do meu pai, a cabra Amalteia, me levou para fora da cidade. Ela me guiou até Luke. Eu tinha nove anos; ele, onze. Nos esbarramos na caverna de um dragão perto de Charleston e nos unimos para continuarmos vivos. Ele havia fugido de casa, como eu. Éramos bons combatendo monstros juntos, mesmo sem treino. Um ano se passou. Fomos para a Virgínia e conhecemos um cara chamado Halcyon Green. Ele... nos ajudou; na verdade, morreu por nós. Depois disso... encontramos Percy. Ele tinha oito anos, mas você pensaria que ele tinha seis. Ele era tão pequeno... Outro fugitivo, que ficamos felizes em acolher. Viajamos da Virgínia para o norte sem nenhum plano de verdade, nos defendemos dos monstros por cerca de duas semanas antes de Grover nos encontrar.

– Eu devia escoltar Thalia até o acampamento – disse Grover, fungando –, somente Thalia. Tinha ordens estritas de Quíron: não faça nada que atrase o resgate. Sabíamos que Hades estava atrás dela, entende, mas eu não podia simplesmente abandonar Luke e Percy. Achei... achei que conseguiria levar todos os três até um lugar seguro. Foi minha culpa as Benevolentes nos alcançarem. Fiquei apavorado no caminho de volta ao acampamento e peguei alguns desvios errados. Se tivesse sido um pouco mais rápido...

– Pare com isso. – Disse Thalia. – Ninguém culpa você. Percy também não o culpou.

– Ele se sacrificou para nos salvar. – Disse ele, desconsolado. – Sou culpado pela morte dele, e quase causei a de Thalia também. O Conselho dos Anciãos de Casco Fendido disse isso.

– Porque você não deixou outros dois meios-sangues para trás? – Disse Annabeth. – Isso não é justo.

– Annabeth tem razão. – Disse Thalia. – Eu não estaria aqui hoje se não fosse por você, Grover. Nem Luke. Não estamos nem aí para o que diz o conselho.

Grover continuou fungando no escuro.

– É a minha sina. Sou o mais fraco dos sátiros, e encontro a meio-sangue mais poderosa do século, Thalia. Percy... nós nem sabíamos quem era o pai dele.

– Você não é fraco. – Insistiu Annabeth. – Tem mais coragem do que qualquer sátiro que já conheci. Cite outro que se atreveria a ir para o Mundo Inferior. Aposto que Percy está muito contente por você estar aqui agora.

Ela olhou para Thalia.

– Sim. – Thalia falou. – Ele está dizendo agora mesmo que não o culpa. Não foi por sina que você me encontrou, Grover. Você tem o maior coração entre todos os sátiros. Você é um buscador natural. E você é quem vai achar Pan.

Annabeth ouviu um suspiro profundo e satisfeito. Esperou que Grover dissesse algo, mas sua respiração só ficou mais pesada. Quando o som se transformou em ronco, Annabeth percebeu que ele tinha caído no sono.

– Como ele faz isso? – Thalia maravilhou-se.

– Não sei. – Respondeu Annabeth sinceramente. – Mas foi realmente legal o que você disse a ele.

– Eu fui sincera.

Viajaram em silêncio por alguns quilômetros, sacudindo acima dos sacos de ração. A zebra mascou um nabo. O leão lambeu o que restara da carne de hambúrguer dos lábios e olhou para Annabeth esperançoso.

Thalia esfregou seu colar enquanto olhava para o nada, e Annabeth adivinhou que estivesse falando com Percy, e sua mão coçou para pegar a faca na mão dela.

– Essa conta do pinheiro. — Disse, ao invés disso. — É do seu primeiro ano?

Thalia olhou. Não havia percebido o que estava fazendo.

– É. – Falou. – Todo mês de agosto os conselheiro escolhem o evento mais importante do verão, e o pintam nas contas daquele ano. Eu fiquei com o pinheiro de Percy, uma trirreme grega em chamas, um centauro vestido para um baile... bem, aquele foi um verão estranho...

– E o que é esse anel? – Annabeth perguntou apontando para o anel prateado, sem deixar de notar o tridente esculpido num tom verde metálico.

– Isso não é da sua... – Thalia se interrompeu, e baixou os olhos para o colo. – Percy me deu esse anel. Era da mãe dele, sua maior recordação dela.

– Você não precisa me contar.

– Não... tudo bem. – Ela respirou fundo, vacilante. – Ele disse que havia sido um presente do homem que amava sua mãe, e que ela tinha dado a Percy dizendo “Para que as duas pessoas que eu mais amo fiquem perto uma da outra”. Depois de fugir, Percy me deu o anel porque... – Ela parou.

– Por quê...?

Thalia respirou fundo.

– Percy estava triste no dia em que me deu o anel. – Disse ela. – Ele estava dizendo que era o mais fraco do nosso grupo, e que não duraria muito e que só nos atrasaria. Eu disse a ele para não ser bobo e que ele era importante para nós, mas ele não acreditou em mim. Ele me deu o anel, dizendo que, se alguma coisa acontecesse com ele, eu deveria guardar o anel que tinha sido o objeto de mais valor de sua mãe. – Thalia engoliu em seco. – Ele morreu na noite do dia seguinte.

A garganta de Annabeth se apertou e seus olhos queimaram com as lágrimas. Parecia que cada informação nova que ganhava sobre Percy era algo ruim que acontecera com ele, e não conseguia afugentar a onda de tristeza que se derrubava sobre ela a cada vez que isso acontecia. Percy era seu amigo, e ela não podia aceitar que ele estivesse sofrendo, mesmo que o momento do qual Thalia estava falando tivesse acontecido anos atrás.

Pensou no que Thalia havia dito antes. Ela, Luke e Percy haviam fugido de casa. Annabeth já sabia das razões de Percy, mas quais seriam as de Thalia e Luke? Depois de saber que Thalia tinha um irmão de dois anos desaparecido, Annabeth poderia imaginar por que ela havia fugido. Mas e quanto a Luke? Ele sempre lhe parecera tão alegre e simpático, e era mesmo seu amigo, mas será mesmo?

Você será traída por aquele que a chama de amiga.

Annabeth mentalmente mandou o Oráculo ir se danar.

Ela quase saltou três metros de altura quando sentiu um algo frio encostar-se a sua mão e olhou para baixo, vendo a faca de Percy sendo colocada em sua mão. Annabeth olhou para Thalia, e viu os olhos da outra garota brilharem nos escuro enquanto a observava em silêncio, antes de serem cobertos por suas pálpebras.

Annabeth apertou a mão em volta do couro gasto do punho da adaga, sentindo a onda de bem-estar que sempre se seguia quando ela tocava sua adaga. Sorriu, sentindo a presença de Percy em sua mente e percebendo que ele não estava mais com raiva dela; na verdade, tinha uma sensação reconfortante, como se, num mundo em que Percy era uma pessoa e tinha braços, ele estivesse segurando a mão dela.

Com isso em mente, Annabeth fechou os olhos e adormeceu.

~~~~~~~PJO~~~~~~~

Annabeth abriu os olhos e espirrou quando ar sujo entrou por suas narinas. Olhou em volta e arregalou os olhos. Ao redor dela, o lugar parecia uma caverna ampla. Nuvens vermelhas pairavam no ar como se fossem vapor de sangue. A paisagem era composta por uma planície negra rochosa, pontuada por montanhas íngremes e abismos causticantes. À esquerda de Annabeth, o chão se abria numa série de penhascos semelhantes a degraus colossais que levavam para ainda mais fundo do abismo. Toda a ilha de Manhattan caberia no interior daquela caverna.

Annabeth percebeu então algo incomum: alguém a estava segurando, como se ela fosse um bebê. Essa percepção a ajudou a perceber que ela realmente não estava em seu tamanho normal, e sim no tamanho de uma criança recém-nascida. A parte do “recém-nascida” vinha com a nudez e... oh, deuses, ela era um menino! Uh... ela decidiu olhar para cima para ver quem a estava segurando. Um homem, com cabelos pretos amarrados para trás, óculos escuros redondos escondendo seus olhos. Annabeth podia ver as horríveis cicatrizes de arranhões que marcavam sua face.

O homem estava lá, parado no meio do nada. Sua cabeça estava inclinada para o lado, como se ele estivesse ouvindo alguma coisa. Annabeth piscou, e de repente podia ouvir também.

Leve-o para longe, disse a voz fria e profunda que já havia se tornado familiar em seus sonhos. Para algum lugar onde ele vai sofrer.

– Meu senhor – Disse o homem calmamente. – Posso perguntar quais são seus planos para esta criança?

Não, não pode, respondeu a voz. Logo verá. Esse menino vai ser a ruína dos deuses. Isso é tudo o que você precisa saber, por enquanto. Agora vá. Leve-o. Faça-o rezar para qualquer um que possa ouvi-lo.

Annabeth sentiu seu pequeno coração de bebê se apertar com medo ao entender tudo o que a voz dizia, fechou os olhos apertado e começou a chorar.

Annabeth!, ela ouviu alguém chamar.

Quando abriu os olhos, estava em um lugar diferente.

Annabeth era ela mesma de novo, e estava sendo forçada a fazer um teste usando uma camisa de força. Todas as outras crianças estavam saindo para o recreio, e o professor dizendo: Vamos, Annabeth. Você não é burra, não é? Pegue seu lápis.

Annabeth olhou para a carteira ao lado e vi uma menina sentada, que também usava uma camisa de força. Annabeth logo a reconheceu como sua "frienemy": Thalia, filha de Zeus.

Ela se debateu na camisa de força, olhou para Annabeth com raiva e frustração, e disparou: E então, princesa? Uma de nós precisa sair daqui.

Ela tem razão, Annabeth pensou no sonho. Vou voltar para aquela caverna. Vou dizer o que penso na cara de Hades.

A camisa de força se dissolveu e Annabeth ficou livre. Caiu através do piso da sala de aula. A voz do professor mudou até ficar fria e maligna, ecoando das profundezas de um grande abismo.

Annabeth Chase, disse. Sim, a troca foi bem, estou vendo.

Annabeth estava novamente na caverna escura, dessa vez com os espíritos dos mortos flutuando à sua volta. De dentro do poço, sem ser vista, a voz monstruosa do outro sonho falava, mas não se dirigia a Annabeth. O poder entorpecedor de sua voz parecia dirigir-se a outro lugar.

E ela não suspeita de nada? perguntou.

Outra voz, uma que Annabeth quase reconheceu, respondeu junto ao seu ombro:

Nada, meu senhor. Ela é tão ignorante quanto o resto.

Annabeth olhou, mas não havia ninguém lá. Quem falara estava invisível.

Mentira em cima de mentira, refletiu em voz alta a coisa no poço. Excelente.

Na verdade, meu senhor, disse a voz ao lado de Annabeth, o nome O Trapaceiro lhe foi muito bem aplicado, mas aquilo foi de fato necessário? Eu poderia ter trazido o que roubei diretamente para o senhor...

Você?, escarneceu o monstro. Você já mostrou seus limites. Teria falhado completamente sem minha intervenção, mesmo com toda aquela ajuda da sua namoradinha.

Mas, meu senhor...

Por favor, pequeno servo. Nossos seis meses nos renderam muito. A ira de Zeus cresceu. Logo você terá a recompensa que deseja, e sua vingança. E assim que ambos os itens forem entregues em minhas mãos... mas espere. Ela está aqui.

O quê?

O servo invisível de repente pareceu tenso.

Acaso a convocou, meu senhor?

Não.

Toda a força da atenção do monstro agora se despejava sobre Annabeth, paralisando-a.

Maldito seja Perseus — ele é inconstante demais, imprevisível demais. Ele trouxe a menina para cá.

Impossível!, exclamou o servo.

Para alguém fraco como você, talvez, rosnou a voz. Depois sua força gélida se voltou de novo para Annabeth. Então... você quer mesmo fazer isso, Perseus? Dois podem jogar esse jogo.

O cenário mudou.

Annabeth se encontrava em um salão escuro e silencioso. O piso brilhava como um piano de mogno, completamente negro e, ainda assim, coberto de luz. Estátuas de mármore negro alinhavam-se ao longo das paredes. Annabeth não reconhecia os rostos, mas, de alguma forma louca, sabia que estava olhando imagens dos titãs que haviam governado antes dos deuses. Na extremidade do salão, entre dois braseiros de bronze, erguia-se um tablado. E sobre ele, um caixão dourado de três metros de comprimento, entalhado com cenas de morte destruição, imagens dos deuses sendo esmagados sob carruagens, templos e marcos famosos do mundo todo sendo estraçalhados e queimados. Annabeth podia sentir um frio intenso emanando do caixão, como se estivesse num freezer.

Annabeth, uma voz de menino veio do caixão, e Annabeth, hipnotizada, começou a se aproximar. Annabeth...

Annabeth, sentindo-se em câmera lenta, empurrou a tampa do caixão para o lado, os olhos fixos no que logo veria no interior. Mas, antes que pudesse fazê-lo, uma mão fria agarrou seu rosto, e, liberta do transe, Annabeth gritou.

Annabeth!, alguém a chamou lá longe, como no outro sonho.

E Annabeth abriu os olhos pela segunda vez.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ia ficar maior, mas eu decidi não sair dos padrões (hehe, sorry) e, ao invés disso, dar muita coisa no que vocês pensarem. Como é que se diz... Ah, sim: MUAHAHAHAHAHAHA!

Fora isso, espero que tenham gostado do capítulo. Comentários, recomendações e favoritos bem vindos! XD

Seven kisses for you!