Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 16
We are a bloody action movie for you?!


Notas iniciais do capítulo

NOTAS FINAIS!



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Annabeth, Grover e Thalia ficaram esperando o ônibus pacientemente e em silêncio. A chuva continuava a cair. O clima entre Annabeth e Thalia era tão tenso que podia ser cortado com uma faca. O TDAH de Annabeth vagamente sentiu pena de Grover, que estava novamente sentado entre ela e Thalia. Ela desconfiava que era porque ele sabia que elas se matariam se ficassem perto uma da outra.

E, então, finalmente o ônibus chegou. Enquanto estavam na fila para embarcar, Grover começou a olhar em volta, farejando o ar do jeito como farejava seu lanche favorito na cantina da escola: enchiladas.

– O que foi? – Annabeth perguntou.

– Não sei. – Respondeu ele, tenso. – Talvez não seja nada.

Mas Annabeth podia perceber que era alguma coisa. Também começou a olhar para trás por cima do ombro.

Ela ficou aliviada quando afinal embarcaram e encontraram lugar juntos na parte de trás do ônibus. Guardaram suas mochilas. Thalia mexia em seu bracelete nervosamente, mas sua expressão era arrogante como sempre.

Annabeth resistiu ao desejo de bufar.

Quando os últimos passageiros entravam no ônibus, Annabeth franziu a testa.

Uma senhora acabava de embarcar no ônibus. Usava vestido de veludo amarrotado, luvas de renda e chapéu laranja, tricotado e disforme, que encobria seu rosto, e carregava uma grande bolsa de lã estampada. Quando ergueu a cabeça seus olhos pretos faiscaram, e o coração de Annabeth deu um pulo.

Era a Sra. Dodds. Mais velha, mas enrugada, mas sem dúvida a mesma cara maligna. Annabeth se encolheu no assento.

Atrás dela subiram mais duas senhoras: uma de chapéu verde, outra de chapéu roxo. A não ser por isso, eram parecidíssimas com a Sra. Dodds: as mesmas mãos encarquilhadas, as mesmas bolsas de lã, os mesmo vestidos de veludo enrugados. Um trio de avós demoníacas.

Elas se sentaram na fileira da frente, logo atrás do motorista. As duas no corredor cruzaram as pernas bem na passagem, formando um X. Aquilo era bastante normal, mas enviava uma mensagem clara: ninguém sai.

O ônibus partiu da estação e seguimos pelas ruas escorregadias de Manhattan.

– Ela não ficou morta muito tempo. – Disse Annabeth, tentando impedir a voz de tremer. – Achei que você tivesse dito que eles podem ser afastados por toda uma vida.

– Eu disse, se você tiver sorte. – Thalia resmungou de volta. – Você, obviamente, não tem.

– Está tudo bem. – Disse Annabeth, tentando fazer as engrenagens de seu cérebro de mexerem. – As Fúrias. Os três piores monstros do Mundo Inferior. Sem problemas. Sem problemas. Vamos simplesmente saltar pelas janelas.

– Não abrem. – Gemeu Grover.

– Uma saída nos fundos? – Sugeriu Thalia.

Não havia nenhuma. E, mesmo que houvesse, não teria ajudado. Àquela altura, estávamos na Nona Avenida, em direção ao Túnel Lincoln.

– Elas não vão nos atacar com testemunhas em volta. – Annabeth engoliu em seco. – Ou vão?

– Os mortais não têm bons olhos. – Lembrou-lhe Thalia. – Às vezes, duvido que tenham olhos. Seus cérebros só podem processar o que eles veem através da Névoa. Bando de retardados.

– Eles vão ver três velhas nos matando, não vão? – Perguntou Grover, com os olhos arregalados.

Thalia pensou a respeito.

– Difícil dizer. Mas não podemos contar com a ajuda de mortais.

– Talvez uma saída de emergência no teto...? – Tentou Annabeth.

Eles chegaram ao Túnel Lincoln, e o ônibus ficou às escuras, a não ser pelas luzes do corredor. Estava assustadoramente silencioso sem o ruído da chuva.

A Sra. Dodds se levantou. Com uma voz inexpressiva, como se tivesse ensaiado aquilo, ela anunciou para o ônibus inteiro:

– Preciso usar o toalete.

– Eu também. – Disse a segunda irmã.

– Eu também. – Disse a terceira irmã.

Todas elas começaram a se aproximar pelo corredor.

Dê o seu chapéu para Thalia, ordenou Percy.

O quê?, ela franziu o cenho, perplexa.

É Thalia que elas querem, Percy explicou impacientemente, então ela deve sair do ônibus. Se Thalia ficar invisível, elas não verão quando ela passar por elas.

– Já sei – Disse Annabeth. – Thalia, pegue meu chapéu.

– O quê? – Thalia arregalou os olhos para ela.

– É você que elas querem. Fique invisível e siga pelo corredor. Deixe que elas passem por você. Talvez você possa chegar até a frente e escapar.

– Mas vocês...

– Há uma pequena possibilidade de que elas não reparem em nós. – Disse Annabeth. – Você é filha de um dos Três Grandes. Seu cheiro deve encobrir o nosso.

– Não posso abandonar vocês. – Retrucou Thalia, e, sinceramente, Annabeth ficou surpresa pelo uso do plural, considerando que Thalia a detestava.

– Não se preocupe conosco. – Disse Grover. – Vá!

Com muito má vontade óbvia, Thalia agarrou o boné na mãe de Annabeth e colocou-o na cabeça. No momento seguinte, ela não estava mais ali.

Alguns segundos depois, a Sra. Dodds parou, farejando, e olhou para o lado. Annabeth engoliu em seco, rezando para que não fosse Thalia ali. Seu coração estava disparado... Mas a Sra. Dodds parecia não ter visto nada. Ela e as irmãs continuaram andando.

As Benevolentes finalmente chegaram em Annabeth e Grover. Com gemidos lamentáveis, elas se transformaram: os rostos ainda eram os mesmos (provavelmente era impossível que ficassem mais feios), mas os corpos haviam murchado e tinham o aspecto de um couro marrom sobre formas de bruxas, com asas de morcego e mãos e pés como garras de gárgulas. As bolsas viraram chicotes chamejantes.

– Onde está? Onde? – Sibilavam elas.

As outras pessoas no ônibus estavam gritando, escondendo-se em seus bancos. Certo, elas viram alguma coisa.

– Ela não está aqui! – Gritou Annabeth. – Saiu!

As Benevolentes ergueram os chicotes.

Annabeth sacou a faca de bronze. Grover agarrou uma lata da sua sacola de lanches e se preparou para jogá-la.

De repente, o ônibus deu uma trancada para esquerda. Todos gritaram, inclusive Grover e Annabeth, e foram jogados para a direita. As três Benevolentes foram esmagadas contra as janelas.

– Ei! – Gritou o motorista. – Ei! Oaaa!

Ele parecia estar lutando para segurar o volante.

Thalia, disse Percy, e Annabeth teve certeza de que ele estava sorrindo.

O ônibus chocou-se com a lateral do túnel, o metal arrastado pela parede lançando fagulhas um quilômetro atrás dele. Ele saiu de lado do túnel, de volta à tempestade, com pessoas e monstros arremessados de um canto a outro do ônibus e carros jogados de lado como se fossem pinos de boliche.

De algum modo, o motorista achou uma saída. O ônibus foi arremessado para fora da auto-estrada, passou meia dúzia de semáforos e acabou disparando por uma daquelas estradas rurais de New Jersey, nas quais não dá para acreditar que exista tanto nada do outro lado do rio quando se deixa Nova York. Havia bosques à esquerda e o rio Hudson à direita, e o motorista parecia se desviar na direção do rio.

E então o ônibus gemeu, traçou um círculo completo sobre o asfalto molhado e se chocou contra as árvores. As luzes de emergência se acenderam. A porta se abriu. O motorista foi o primeiro a sair, com os passageiros gritando enquanto fugiam em pânico atrás dele.

As Benevolentes retomaram o equilíbrio. Estalaram os chicotes para Annabeth enquanto ela brandia a faca e gritava em grego antigo que recuassem. Grover atirava latas.

E então, do nada, Thalia se materializou ao lado do banco abandonado do motorista. Ela segurava a lança crepitante que Annabeth havia visto na noite da Captura da Bandeira na mão direita. Na esquerda, ela carregava um enorme escudo redondo. Moldada no bronze, estava a cabeça da Medusa, e era tão horrível que quase fez Annabeth entrar em pânico e sair correndo.

– Hey! – Gritou ela.

As Benevolentes se viraram, mostrando as presas amareladas para Thalia. A Sra. Dodds avançou de modo arrogante pelo corredor, como costumava fazer em classe, detestando entregar o A de Annabeth na prova de matemática. Cada vez que ela estalava o chicote, chamas vermelhas dançavam pelo couro farpado.

Suas duas irmãs horrorosas pularam para cima dos assentos de ambos os lados e se arrastaram na direção de Thalia como dois lagartos enormes e asquerosos.

Ataque, Percy sussurrou. Ataque agora que estão distraídas.

Annabeth avançou por trás, sua faca erguida.

– Thalia Grace. – Disse a Sra. Dodds com um sotaque que vinha de algum lugar mais distante do que o sul da Geórgia. – Você ofendeu os deuses. Você deve morrer.

– Eu gostava mais de você como professora de matemática. – Disse Annabeth, de onde estava atrás da Sra. Dodds, antes de esfaquear-lhe as costas.

A Benevolente gritou de dor e fúria:

– Eu odeio essa faca!

E então explodiu em pó de ouro, como quando na primeira vez que Annabeth a havia matado.

Há!, exclamou Percy, parecendo satisfeito. 3 à 0 para mim!

Cala a boca, respondeu Annabeth.

As irmãs da Sra. Dodds hesitaram, sibilando, antes de se virar novamente para Thalia.

– Renda-se agora. – Rosnou uma. – E não sofrerá o tormento eterno.

– Boa tentativa. – Thalia disse a ela.

– Thalia, cuidado! – Gritou Annabeth.

A Benevolente lançou seu chicote em volta da mão com a qual Thalia segurava a lança, enquanto sua irmã pulou em cima da filha de Zeus.

Thalia audivelmente rangeu os dentes, mas não soltou a lança. Ela atingiu a Benevolente saltadora com o escudo e a mandou cambaleando de costas para a poltrona. Ela virou e fez um corte na outra Benevolente. Assim que a ponta da lança entrou em contato com o pescoço dela, ela gritou e explodiu em pó. Annabeth agarrou a Benevolente restante e a atirou para trás, enquanto Grover arrancava o chicote de suas mãos.

– Ai! – Gritou ele. – Ai! Quente! Quente!

– Zeus a destruirá! – Prometeu a Benevolente. – Hades terá sua alma!

Braccas meas vescimini! – Annabeth gritou, e ergueu a faca acima da cabeça, antes de descê-la com toda a força na direção da Benevolente. A lâmina perfurou o peito do monstro, que gritou de dor e explodiu em pó dourado.

O que foi isso que eu gritei?, pensou Annabeth, ofegante.

Significa: “Coma as minhas calças!”, Respondeu Percy.

Annabeth riu, e o alívio de ter sobrevivido se espalhou por ela, fazendo-a rir ainda mais, chegando ao ponto de ser histérico.

Grover e Thalia riram também. Annabeth não podia acreditar que estava rindo junto com Thalia, mas não se importou.

Até que ouviu o bip.

Seu riso parou imediatamente, e ela arregalou os olhos, gritando para Grover e Thalia:

– Fora! Agora!

Eles correram para fora e encontraram os outros passageiros andando de um lado para outro, atordoados, discutindo com o motorista ou correndo em círculos e gritando: “Nós vamos morrer!”

– Nossas malas! – Grover se deu conta. – Nós deixamos nossas...

BUUUUUUM!

O ônibus explodiu em um espetáculo de vermelho e laranja, pedaços de vidro e metal indo para todos os lados. Annabeth empurrou Grover e Thalia para o chão, jogando-se ao lado deles e tentando proteger a cabeça. Os outros passageiros correram para se abrigar, alguns sendo jogados no chão pelo enorme impacto da explosão.

Depois que a explosão passou, Annabeth tirou os braços de cima da cabeça, ofegando e olhando ao redor, perplexa.

– Que... Que diabos aconteceu? – Berrou Thalia. – Uma bomba? Sério? Agora nós viramos um maldito filme de ação?!

Annabeth se levantou numa posição sentada, virando a cabeça a cabeça para encarar Thalia, que estava na mesma posição, com perplexidade.

– Bem, você conhece alguém que nos odeia e tem acesso a armamento militar? – Perguntou sarcasticamente. – Se sim, pode me dizer, sou toda ouvidos para sugestões!

Os olhos de Thalia se arregalaram antes de ela desviá-los.

– Eu conheço alguém que tem esse tipo de acesso. – Ela falou baixinho. – Mas eu duvido que ela faria isso. – Ela se levantou. – Bem, parece que perdemos as nossas coisas...

Você sabe de quem Thalia falou?, Annabeth perguntou a Percy, sem ouvir o que Thalia estava dizendo naquele momento.

Ele hesitou antes de responder:

Sim, eu sei. Você vai acabar conhecendo-a. Ela é uma boa pessoa, você vai gostar dela.

Ele não disse mais nada. Parecia pensativo.

Aquilo era injusto. Por que Percy podia ouvir os pensamentos de Annabeth e ela não podia ouvir os dele? Se suas mentes estavam conectadas, ela não deveria ser capaz de fazer isso?

– Vamos logo. – Thalia acenou a mão na frente do rosto de Annabeth. – Não vai demorar muito para que venham mais monstros se ficarmos aqui.

Annabeth assentiu, levantando-se. Grover já estava de pé, logo atrás de Thalia. Simultaneamente, eles suspiraram de exaustão e até um pouco de alívio, antes de mergulhar para dentro dos bosques enquanto a chuva despencava torrencialmente, com o ônibus em chamas atrás deles e nada à frente a não ser trevas.

Ora, não seja tão sombria, Percy disse.

Annabeth sabia que ele estava tentando animá-la, mas ela não estava no clima para isso.

Percy?

Hum?

Cale a boca.

Ele bufou, e, apesar de tudo que havia acontecido, Annabeth sorriu. Na Colina Meio-Sangue, quando Annabeth estava pensando que não tinha nada, Percy havia dito que ela o tinha. Ela estava feliz por ele ter dito aquilo. Ela estava feliz em saber que, pelo menos uma pessoa, jamais a deixaria. Não importava se essa pessoa tinha a forma física de uma árvore. Essa pessoa estava lá. Essa pessoa era seu amigo, que a entendia mais do que ninguém.

Essa pessoa era Percy.

E Annabeth não poderia estar mais grata por tê-lo.

Obrigado, disse Percy. Eu sei que eu sou incrível.

Eu pensei ter dito para você calar a boca.

Percy bufou novamente. Ele fazia muito isso.

Um dia, eu vou me calar, disse ele, como se fosse uma profecia. Você vai me implorar para falar. Mas eu não vou te escutar.

Annabeth teve a impressão de ele tinha razão.

E, pela primeira vez, rezou para estar errada.


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Notas finais do capítulo

MINHA INTERNET VOLTOU! VIVAAAAAAAAAAAAA!
E aquele outro capítulo eu postei na casa da minha avó, porque lá tem wi-fi.
Wow, quem será que colocou a bomba lá? Alguém sabe quem é??? SPOILER/DICA: a) é a mesma pessoa que estava falando com o Luke na Colina Meio-Sangue; b) a resposta está no capítulo 14 (mais ou menos).
COMENTEM, PLEASE! EU TENHO MORROSEMCOMENTARIOSIA! ESTÁGIO 4!
OBRIGADA, STORMPHOENIX, PELA RECOMENDAÇÃO!
Seven kisses for you!