Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 14
The Thoughts of a Dead Boy


Notas iniciais do capítulo

NOTAS FINAIS!



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Ele já havia se acostumado com uma vida tecnicamente dependente. Olhar pelos olhos de outra pessoa, ouvir por seus ouvidos, cheirar por seus narizes e sentir por seus dedos. Mas ele nunca podia olhar para o lado porque ele queria, apenas se a outra pessoa olhasse. Tudo o que ele podia fazer era falar sem voz, e esperar que a pessoa ouvisse e entendesse que ele tinha razão antes de fazer algo estúpido.

No começo, ele não tinha que passar por isso. Era apenas ficar lá, sentado, observando o sol nascer e se pôr, e a luz do luar iluminando os campos de morango enquanto o vento balançava a grama. Ele nunca estava sozinho no início. Luke e Thalia sempre vinham para visitá-lo. Eles vinham todos os dias, sentando-se ao seu lado e contando-lhe como foi o dia. Ele queria dizer a eles que ele estava lá, ouvindo tudo, queria poder falar com eles mais do que tudo, principalmente quando eles começavam a chorar e se culpar pelo que tinha acontecido com ele. Ele queria abraçá-los e dizer-lhes que ele havia feito sua escolha, mas eles simplesmente não podiam ouvi-lo, droga!

Os dias se tornaram semanas. As semanas se tornaram meses. Os meses se tornaram anos. As visitas diárias de Luke e Thalia se tornaram semanais, mensais e então anuais. Ele se sentia cada vez mais solitário, apenas ali na colina, sozinho a por 364 dias, e, uma vez, até mesmo 365 (um ano bissexto entre aqueles cinco anos).

Ás vezes, Alex também vinha. Ela vinha para encontrar Luke, e eles conversavam sobre o que ele chamava de “Nova Teoria da Conspiração”. Depois de tanto tempo ouvindo, ele começava a ver que Luke tinha um ponto. Os deuses não eram tão divinos quanto alguns gostavam de pensar.

Mas, às vezes, Alex ficava mais tempo depois que Luke voltava para o Chalé 11. Ela ficava e conversava com ele, contando-lhe sobre suas aventuras. Ela lhe contou que morava na Escócia, há muito tempo atrás, e que havia fugido num navio em direção às Américas quando sua mãe tentou fazê-la se casar. Contou sobre como venceu a Guerra da Independência, e a Civil, e as Mundiais, e por último a Guerra do Vietnam. Contou-lhe sobre o que acontecera com ela quando fora capturada pelos russos, e ele estava sempre lá ouvindo, tentando confortá-la quando tudo descia sobre ela como uma onda enorme. Ele chegou à conclusão de que Alex era a pessoa mais forte que ele já havia conhecido.

As visitas de Alex eram mais frequentes do que as de Luke e Thalia juntos, mas ela não podia ir lá todos os dias. Ele se tornou tão solitário, apenas lá. Era ainda pior quando os semideuses chegavam. Quase sempre havia monstros em seu encalço, e a oportunidade para se livrar deles era lá, na colina, com ele assistindo. Às vezes, ele levantava uma raiz para fazer os monstros tropeçarem, mas todos pensavam que a criatura simplesmente era muito burra e tinha tropeçado nos próprios pés.

Logo, se tornou muito mais divertido fazer os semideuses tropeçarem, e não os monstros. Na maioria das vezes eles sobreviviam, mas é claro que havia exceções. Apesar disso, ele nuca havia sentido qualquer peso na consciência. E alguns dos semideuses, eles meio que mereciam. Era realmente angustiante quando eles faziam os monstros esbarrarem nele. Quem disse que árvores não sentem dor? É claro que sentem! Pobres ninfas e pobre ele...

E então ele percebeu o quanto ele era ligado à sua faca. A faca que ainda estava com Grover, e os únicos que sabiam disso, além do menino-bode, eram ele e Luke, que parecia não se importar o suficiente para pegar de volta o que, no início, fora dele. Ele realmente queria falar com Luke, mas, por enquanto, Grover era tudo o que ele tinha.

Depois de alguns meses, ele finalmente conseguiu aperfeiçoar sua técnica de comunicação por meio de sua faca, e falara com Grover, que, na época, quase tivera um ataque cardíaco. E aquele chifrudo idiota simplesmente guardou a faca no Chalé 12 a não a pegou durantes dias, pensando que estava ficando louco!

E então ele chegara. A voz em sua própria cabeça, dizendo-lhe o que fazer, falando sobre um plano equivocado sobre derrubar os deuses. Ele se perguntou se era isso, essa sensação de invasão e estrangeirismo, que Grover sentiu quando ele falou em sua mente pela primeira vez. Ele nunca havia se sentindo tão vulnerável, e até mesmo submisso, do que quando aquela voz fria e antiga surgira e o manipulara. Ele se sentia obrigado a fazer o que ela mandava.

E alguns dias depois, Grover finalmente pegou a faca de volta, e até falara com ele, pensando que, se estava louco, podia ser louco direito. Mas ele lhe assegurava que não estava enlouquecendo, disse-lhe que ainda era ele ali, e só estava lá para ajudá-lo.

E de fato ajudou. Ele ajudou Grover a achar um semideus para proteger, porque, honestamente, o nariz de Grover era horrível. Eles foram juntos para a Academia Yancy, e, juntos, eles se tornaram o melhor amigo de Annabeth Chase, a muito obviamente filha de Atena. Mas, quando Grover ia fazer uma prova, ele se desligava, rindo para as repreensões de Grover quando ele se recusava a ajudá-lo com as respostas, enquanto ele só dizia que não daria “cola” a Grover.

Talvez ele tenha, sem querer, desenvolvido sentimentos por Annabeth, mas ela não precisava saber disso, nem Grover. Seus sentimentos não eram da conta deles. Principalmente quando Annabeth nem sequer sabia que ele existia, não sabia nem o que ela era. E quem gostaria de uma vozinha na cabeça? Se eles um dia falassem um com o outro, ela no mínimo pensaria que estava ficando louca, ou que ele era a voz de sua consciência.

Ele estava mais do que satisfeito quando Grover deu a ela a faca pela primeira vez, mesmo que fossem em circunstâncias aterradoras, e ela estivesse em grave perigo nas mãos de Alectó, aquela que ele havia matado alguns anos antes. Ele não falou com Annabeth, mas deu-lhe confiança e força quando ela não tinha. Ele sabia que, depois que Grover pegou a faca de volta, Annabeth ansiava para tê-la, por ter sentido bem, imponente e poderosa ao segurá-la na mão direita e esfaquear Alectó como se a Fúria fosse feita de manteiga. E ele estava tão orgulhoso dela, mais do que deixou transparecer para Grover.

Quando o Minotauro atacou, foi ele que falou a localização da faca para Annabeth, porque Grover estava muito aturdido com comida e a pancada que havia sofrido para responder a garota. Ele a ajudou a lutar, falando com ela pela primeira vez, e ficando surpreso quando ela havia confiado plenamente nele, sem protestar e fazendo o que ele dizia.

Ele havia se permitido ser atingido pelos chifres do Minotauro, para que Annabeth não fosse ferida. Depois disso, a dor tinha sido grande demais para que ele falasse com Annabeth novamente, mas ela não precisou. Ele viu quando ela o orgulhou mais uma vez, matando o monstro impiedosamente como se fosse feita para fazer isso. Para matar monstros e salvar o mundo.

Annabeth segurara firmemente a faca durante um dos dois dias em que ficara inconsciente. Não foi intenção dele dar-lhe pesadelos, mas suas memórias, memórias antigas de quando era uma criança pequena, escaparam-lhe e invadiram os sonhos de Annabeth. Somente quando Grover acordou e levou a faca foi que esses sonhos incômodos acabaram, e ele se sentiu estranhamente sozinho longe de Annabeth.

Ele se detestava quando descobriu que estava lentamente se apaixonando por aquela garota. Ele sabia que eles não poderiam ficar juntos, porque ele era uma árvore e sempre seria, enquanto ela era uma semideusa forte e bonita, que com certeza teria vários garotos atrás dela, e haveria um deles que ela não iria negar.

Mesmo assim, ele pediu para que Grover desse a faca para Annabeth, permanentemente. Ele mentiu sobre isso quando ela perguntou, dizendo-lhe que fora ideia de Grover, e não do próprio egoísmo. Ele foi o mais grosseiro que podia ser, com a intenção de se afastar dela, com a intenção de não cair para aquela atitude orgulhosa e arrogante, mas ainda assim boa e honesta.

Ele não podia deixar que Annabeth percebesse o que ele sentia por ela, então usou o máximo de ignorância que podia, mesmo que isso lhe doesse. Ele não era assim. Não era mal-humorado ou grosseiro, mas teria de ser, se quisesse que, um dia, Annabeth não acabasse gostando dele.

Talvez ele tenha deixado escapar o quanto acreditava nela na noite da captura da bandeira, mas ele esperava que Annabeth não tivesse percebido. E, quando ele vira Thalia ali, sua quase irmã mais velha, enfrentando sua paixão secreta, ele simplesmente não podia deixar nenhuma das duas se machucar. Então ele disse à Annabeth que ela deveria distrair Thalia, pelo menos até que o jogo acabasse. Ele escolheu suas palavras com cuidado, sabendo que Thalia ficaria com raiva, mas sua raiva nublaria todos os outros pensamentos, e ela ficaria distraída demais para perceber até o momento em que o jogo acabara.

E quando o cão infernal atacou, ele nem se importou com o que iria parecer, ou no perigo em que estaria metendo Annabeth. Ele usou Annabeth, como usara Grover, novamente por seus próprios motivos egoístas. Ele só não conseguiria perdoar a si mesmo se ele deixasse que Thalia se machucasse, sabendo que poderia ter feito alguma coisa para evitar.

E então Annabeth foi reclamada, e seu maior, e ao mesmo tempo pior, desejo se cumpriu: Annabeth praticamente se esqueceu dele. Quando ela ia treinar, ela deixava a faca no chalé, e ele ficava sozinho de novo. Ele entedia, é claro. Annabeth não podia ficar dependendo dele, ela precisava aprender a lutar sozinha, e ele sabia que ela era perfeitamente capaz de fazê-lo.

Só que era nesses momentos de solidão que a voz atacava, enchendo sua própria cabeça com ideias de destronar os deuses. Ele tentava resistir ao máximo, sabendo que, se uma guerra começasse, ele seria obrigado a lutar contra Annabeth. Mas por que ele sequer pensaria isso? Ele não ia lutar. Ele era uma árvore, pelos deuses! O máximo que podia fazer era levantar uma raiz. Seus galhos nem eram longos o suficiente para que ele pudesse fingir que eram braços.

No entanto, ele podia temer por Annabeth. Mesmo que ele não lutasse, havia outros que lutariam. Ele teme pela segurança de Annabeth, segurança que tantas vezes ele tentou garantir, mas não tem como. Ela é uma semideusa, que se arrisca, luta com monstros e salva o mundo. E ele... O que ele é? Ele nem se quer foi feito de uma relação entre duas vidas! Ele não tinha nem um parente biológico. Nem mesmo sua mãe (e só o pensamento de vê-la de novo fazia seu estômago revirar, e não por que era ela, mas sim porque havia Gabe).

Dane-se! Quantos anos ele tinha? Oito? Não, não mais. Se ele havia contado corretamente, ele já tinha treze anos de idade. Um ano a mais que Annabeth. Já havia passado o tempo que ele tinha estado com Gabe pela última vez. Por que ainda tinha medo dele? Ele era um fantasma do passado, que ele nunca iria ver de novo.

Se ele tivesse uma garganta, ele engoliria em seco. Gabe havia feito dos primeiros anos de sua vida um verdadeiro inferno. Gabe havia batido nele com os punhos, as botas, o cinto, o taco de beisebol e suas palavras. Tantas vezes ele lhe chamara de bastardo, inútil, desperdício de espaço, e coisas mais desagradáveis e um tanto obscenas. Era ainda pior quando seus amigos do pôquer o ajudavam a torturá-lo. Ele havia sentindo mais dor do que o normal naquelas noites.

E havia Eddie. Um dos amigos de Gabe. Aquele que costumava agarrar-lhe o pulso e sussurrar em seu ouvido e puxá-lo para os quarto de hóspedes, parando apenas quando ele gritava muito em seu desespero e Gabe mandava Eddie soltá-lo para não acordar a vizinhança. Naquela época, ele era muito jovem e ingênuo para reconhecer as intenções de Eddie. Mas agora ele sabia. Eddie era um pervertido e pedófilo. Ele escapara por pouco, e, surpreendentemente, foi Gabe que o salvou, mesmo que sem querer.

A verdade é que ele fugiu de casa mais pelo medo que sentia por Eddie do que pela dor que Gabe lhe infligia.

Ele tentou afastar esses pensamentos de sua mente. Annabeth voltaria logo, e lhe atualizaria sobre o que estava acontecendo no momento em que pegasse a faca. E ele poderia fazer o que tinha a intenção de fazer desde que Grover pusera os olhos castanhos sobre ela: protegê-la disfarçadamente, sem que ela percebesse, escondendo-se atrás de palavras amargas e zombarias grosseiras.

Quando ela enfim voltou, e ele soube que ela tinha recebido uma missão, que na verdade era de Thalia, ele sabia que era culpa dele. Se ele não tivesse atirado a faca com uma habilidade que Annabeth não tinha, Quíron não teria notado, e Annabeth não seria obrigada a se arriscar numa missão suicida para o Mundo Inferior. Mas ele não se arrependia de nada. Ele salvaria Thalia um milhão de vezes.

Ele protegeria sua família, independentemente de seus lados na guerra.

E, acima de tudo, ele protegeria Annabeth.

Nem que, para isso, ele tivesse de desaparecer para sempre.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi solicitado por LyssahCullen. Quer dizer, não exatamente o capítulo, mas ela deu a ideia de um capítulo narrado por outro personagem. E eu tenho certeza que vocês sabem quem está narrando, né?
Eu até me sentiria mal por ele, mas, acreditem, eu fiz coisas piores com ele em outras fics que eu escrevi e nunca postei. Isso aí não é nada.
PRESTEM ATENÇÃO AQUI: Sabem a Leila Edna Mattza? Ela sou eu. Somos a mesma pessoa, é só que eu uso os dois e-mails. Sabe, ela (eu) tem umas histórias que talvez vocês gostassem. Eu recomendaria: Cold Heart, Son of Fear e Carry On, My Devil Son. Leiam elas, por favor.
E COMENTEM, PLEASE! Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo. Não era planejado, mas eu gostei da ideia da Lissah.
EU TAMBÉM ACEITO RECOMENDAÇÕES!
Seven Kisses for You!