Essence of Time escrita por Seraphina Morgenstern


Capítulo 13
Intensifying the tense atmosphere.


Notas iniciais do capítulo

NOTAS FINAIS!



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Na manhã seguinte, Quíron mudou Annabeth para o chalé 6.

O Chalé de Atena era um lugar simples, mas grandioso. O lugar era uma oficina para crianças geniais. Os beliches eram todos agrupados em uma parede. Todos os dias, logo após acordar, eles deveriam ser perfeitamente arrumados. A maior parte do quarto estava ocupada por bancadas de trabalho, mesas, estojos de ferramentas e armas. Os fundos eram uma imensa biblioteca entulhada com antigos pergaminhos, livros encadernados em couro e brochuras. Havia uma mesa de arquiteto com um jogo de réguas e transferidores e com algumas maquetas de prédios em 3-D. Mapas de guerra enormes e antigos cobriam as paredes até o teto. Armaduras pendiam sob as janelas, as placas de bronze cintilando ao sol.

Annabeth adorava o lugar.

Nos primeiros dias, ela iria passar a noite inteira na mesa de arquitetura, calculando ângulos e retas interminavelmente, enquanto sua irmã Sophia a acertaria com um travesseiro e diria para ela ir dormir. Annabeth acordava mais cedo que os outros, quase antes do sol nascer, e iria remexer pela biblioteca, animada com a quantidade de informação contida ali. E então Malcolm acordaria, iria passar a mão na cabeça de Annabeth e bagunçar o rabo de cavalo, antes de entrar no banheiro, que Annabeth teria se esquecido de usar quando acordara. Depois, seria a vez de Robert, Owen e Maxwell de acordar, quase ao mesmo tempo, e Rob e Max (como todos os chamavam) iriam polir as armaduras de todos no chalé, simplesmente por gostarem disso, e Owen iria pegar um espanador de penas e passaria em cada livro da biblioteca, como um maníaco por limpeza. Laureen ficaria deitada por alguns minutos lendo um dos livros que ficavam na estante sobre a cabeceira de sua cama. Sophia seria a última a acordar, por ter um sono difícil e ficar praticamente a noite inteira acordada por causa de Annabeth, mas sem ressentimentos. Depois que Sophia finalmente estava de pé, todos arrumavam as camas e limpavam o chalé por seu senso de organização, e depois saiam para suas aulas no acampamento, e Annabeth deixava sua faca no chalé. Ela queria aprender sozinha a lutar, sem depender de Percy.

Porque algo lhe dizia que, um dia, ele não estaria mais lá.

Não demorou para que Annabeth se sentisse como se fizesse parte de uma família unida. Na estante sobre sua cama (todas as camas tinham uma estante sobre elas), ela tinha fotos de todos os seus irmãos, sorrindo para a câmera que Luke havia segurado na época, com Annabeth no meio deles, mais feliz do que nunca se sentira. No final do dia, Annabeth às vezes se sentiria culpada por ter esquecido de seu pai tão rapidamente, mas seus irmãos eram como uma família que ela nunca tivera, e ela pegaria sua faca para o conforto. Depois de meses afastada de seu pai, madrasta e irmãozinhos, Annabeth simplesmente sentia como se eles não fossem sua família.

Você é uma ingrata, isso sim, Percy resmungaria em sua cabeça, e Annabeth nunca entenderia por que ele parecia tão chateado. Ela colocaria a faca na estante sobre sua cama, se enrolaria nas cobertas e adormeceria, sabendo que, mesmo que dissesse boa noite a Percy, ele nunca responderia.

Annabeth suspeitava que era por que Percy não tinha boas noites.

Uma noite, Annabeth se perguntou se desejar boa noite a Percy ou dormir com a faca na mão lhe defenderia dos pesadelos.

Annabeth corria pela praia no meio de uma tempestade. Havia uma cidade atrás de dela. Não Nova York. O panorama era diferente: os edifícios eram mais afastados uns dos outros, havia palmeiras e colinas baixas a distância.

Cem metros adiante, na arrebentação, três homens estavam brigando. Pareciam lutadores de tevê, musculosos, com barbas e cabelos compridos. Ambos usavam túnicas gregas esvoaçantes, uma guarnecida de azul, outra de verde e a outra de preto. Atracavam-se, lutavam, chutavam e davam cabeçadas, e a cada vez que tocavam, caíam raios, o céu escurecia e ventos sopravam.

Annabeth precisava detê-los. Não sabia por quê. Mas, quanto mais ela corria, mais o vento a empurrava de volta, até ela correr sem sair do lugar, os calcanhares se enterrando inutilmente na areia.

Por cima do rugido da tempestade, Annabeth pôde ouvir o de túnica azul gritando para os de túnica verde e preta: Devolvam! Devolvam! Era como se uma criança do jardim-de-infância estivesse brigando por causa de um brinquedo.

O chão rachou, e a areia da praia caía pelas fendas. As ondas ficaram maiores, arrebentando na praia e borrifando Annabeth com sal.

Ela gritou: Parem com isso! Parem de brigar!

O chão estremeceu. Risadas vieram de algum lugar embaixo da terra, e uma voz profunda e maligna lhe gelou o sangue.

Venha para baixo, pequena heroína, a voz sussurrou. Venha para baixo!

A areia se abriu embaixo de Annabeth numa fenda que ia direto ao centro da Terra. Os pés de Annabeth escorregaram, e ela estava prestes a cair quando sentiu uma mão agarrando a sua, puxando-a de volta. Mas as trevas eram fortes demais, e a engoliram.

Annabeth acordou, certa de que estava caindo.

Levantando-se e olhando da janela, Annabeth viu que já era de manhã, mas estava escuro lá fora e o trovão ribombava pelas colinas. Uma tempestade estava se formando. Isso Annabeth não havia sonhado. Malcolm estava lendo alguma coisa na biblioteca, Laureen fazendo a mesma coisa em sua cama, Max e Rob polindo as armaduras e Owen espanando poeira invisível dos livros, enquanto Malcolm lhe dirigia uma careta.

Annabeth viu pelo canto do olho quando Sophia bocejou e se espreguiçou em sua cama.

– Esse é o mais tarde que você já acordou, Annabeth. – Ela murmurou, e Annabeth se permitiu dar uma risada nervosa, não totalmente à vontade, sentindo que alguma coisa estava errada.

Como resposta a seus pensamentos, Annabeth ouviu um som oco à porta, o som de um casco batendo na soleira, e foi abrir a porta, sem nem perceber que ainda estava de camisola.

Annabeth abriu a porta para revelar Luke, parecendo preocupado. Mas a preocupação foi embora no instante em ele viu Annabeth, e ficou vermelho, desviando o olhar. Foi só então que ela percebeu que ainda estava com sua roupa de dormir, e corou também.

– O Sr. D quer, ahn, vê-la. – Gaguejou Luke.

Annabeth franziu a testa.

– Por quê?

– Ele quer matar... Quer dizer, é melhor deixar que ele conte.

Annabeth se vestiu, agitada, e foi, certa de que estava em uma grande encrenca. Ela não se lembrava de ter feito algo errado. Sempre seguia as ordens do acampamento (isso excluindo o toque de recolher) e não arrumava briga que não fosse na arena de combates. Por que estava sendo chamada para a Casa Grande?

Acima do estreito de Long Island, o céu parecia uma sopa de tinta em ponto de fervura.

Uma cortina brumosa de chuva vinha em sua direção. Annabeth perguntou a Luke se eles precisariam de um guarda-chuva.

– Não. – Disse ele. – Aqui nunca chove, a não ser que queiramos.

Annabeth apontou para a tempestade.

– Então o que diabo é aquilo?

Ele olhou, parecendo preocupado, para o céu.

– Vai passar em volta de nós. O mau tempo sempre faz isso.

Annabeth percebeu que ele estava certo. Fazia uma semana que estava ali e nunca vira o tempo fechado. As poucas nuvens de chuva que tinha notado contornavam os limites do vale.

Mas aquela tempestade... Aquela era imensa.

Na arena de vôlei as crianças do chalé de Apolo jogavam uma partida matinal contra os sátiros. Os gêmeos de Dionísio caminhavam em volta dos campos de morangos fazendo as plantas crescerem. Todos estavam cuidando de suas tarefas normais, mas pareciam tensos. Estavam de olho na tempestade.

Luke acompanhou Annabeth até chegarem a alguns metros da Casa Grande, e então ele disse para ela seguir em frente, antes de se virar e ir embora. Aparentemente a presença de Luke não era requerida, e isso apenas deixou Annabeth mais nervosa. De repente, ela sentiu muita falta do conforto de sua faca.

Annabeth caminhou até a varanda da frente da Casa Grande. Dionísio estava sentado à mesa de pinochle com sua Diet Coke, usando a camisa havaiana com listras de tigre, exatamente como no primeiro dia. Quíron estava do outro lado da mesa em sua falsa cadeira de rodas. Jogavam contra Thalia e Grover, que, embora parecessem até concentrados no jogo, pareciam tensos.

– Bem, bem. – Disse o Sr. D sem erguer os olhos. – Nossa pequena corujinha.

Annabeth aguardou.

– Chegue mais perto. – Disse o Sr. D. – Não pense que vou ser todo respeitoso só porque a velha Cara de Coruja é sua mãe.

Uma rede de raios brilhou através das nuvens. Um trovão fez tremerem as janelas da casa.

– Blablablá. – Desdenhou Dionísio.

Quíron fingiu interesse em suas cartas de pinochle. Grover se encolheu em sua cadeira, os cascos batendo para a frente e para trás, e Thalia apertou a mandíbula.

Dionísio levantou-se, e Grover, Thalia e Quíron baixaram as cartas.

– Estou indo ao Olimpo para uma reunião de emergência. Se esses pirralhos ainda estiverem aqui quando eu voltar, vou transformá-los em narizes-de-garrafa do Atlântico. Entendeu? E Thalia Grace, se você for mesmo esperta, verá que se trata de uma escolha muito mais sensata do que aquela que Quíron imagina.

Os punhos de Thalia se apertaram sobre a mesa, e ela desviou os olhos para eles, como se fossem muito interessantes de se ver. Dionísio pegou uma carta, torceu-a e ela se transformou em um retângulo de plástico. Cartão de crédito? Não. Um passe de segurança.

Ele estalou os dedos.

O ar pareceu se dobrar e se curvar em volta dele. Ele transformou-se em um holograma, depois em um vento e depois desapareceu, deixando para trás apenas o cheiro de uvas recém-prensadas.

Quíron sorriu para Annabeth, mas parecia cansado e tenso.

– Sente-se, Annabeth, por favor.

Ela obedeceu, sentando-se onde o Sr. D estava sentado antes.

Quíron pôs suas cartas na mesa. A mão vencedora que ele não chegara a usar.

– Diga-me, Annabeth. – Disse ele. – O que você sentiu com o cão infernal?

Só de ouvir o nome, Annabeth estremeceu.

Quíron provavelmente queria que ela dissesse: Ora, aquilo não foi nada. Costumo comer cães infernais no café da manhã. Mas Annabeth não estava com vontade de mentir.

– Ele me apavorou. – Ela falou.

– E, no entanto, você foi impressionantemente rápida em matá-lo e salvar Thalia. - Quíron respondeu. Ele suspirou. – E, por essa razão, eu recomendei a sua participação neste momento. Thalia vai precisar da sua ajuda.

Annabeth arregalou os olhos e os virou para Thalia, mas a garota lhe devolveu o olhar com uma careta.

– Não me olhe assim, Chase. – Ela resmungou. – Foi Quíron que quis a sua presença aqui. Não foi ideia minha. Eu preferia que Luke estivesse aqui.

– Thalia! – Repreendeu Quíron, franzindo o cenho. – Não seja assim. Annabeth é uma boa garota e salvou a sua vida.

– É isso mesmo. – Thalia falou tão baixo que Annabeth quase não a ouviu, e abaixou a cabeça. – Esfregue na minha cara.

Quíron suspirou, voltando-se novamente para Annabeth.

– Annabeth, antes de chamá-la, eu conversei com Thalia e Grover. – Disse ele. – O pai de Thalia, Zeus, mandou-nos uma mensagem ontem à noite.

– Que mensagem? – Perguntou Annabeth, curiosa, antes de seus pensamentos clarearem. – Os Três Grandes... Estão lutando por algo valioso... Algo que foi roubado, não é?

Quíron e Grover trocaram olhares surpresos, e Thalia continuava de cabeça baixa.

– Como você sabe disso?

Annabeth sentiu o rosto quente. Desejou não ter aberto sua bocona.

– Desde o Natal, o tempo está esquisito, como se o mar e o céu estivessem brigando. E... Também andei sonhando umas coisas.

A cabeça de Thalia se levantou tão rápido que Annabeth pensou que ele fosse cair, e ela olhou para Annabeth com os olhos azul-elétricos questionadores.

Quíron alisou a barba eriçada.

– Você está correta, Annabeth. Zeus, Poseidon e Hades estão tendo sua pior disputa em séculos. Estão lutando por uma coisa valiosa que foi roubada. Para ser preciso: um relâmpago.

Annabeth riu nervosamente

– Um o quê?

– Não brinque com isso. – Advertiu Quíron. – Não estou falando de um ziguezague coberto de papel-alumínio como você vê em peças da escola. Estou falando de um cilindro de bronze celestial de alto grau, com sessenta centímetros de comprimento, arrematado em ambos os lados com explosivos de nível deífico.

– Ah.

– O raio-mestre de Zeus. – Disse Quíron, agora ficando emocionado. – O símbolo de seu poder, conforme o qual todos os outros raios são moldados. A primeira arma feita pelos Ciclopes para a guerra contra os Titãs, que decepou o cume do Monte Etna e arremessou Cronos para fora do seu trono; o raio–mestre, que acumula potência suficiente para fazer as bombas de hidrogênio dos mortais parecerem fogos de artifícios.

– E ele desapareceu.

– Roubaram – disse Quíron.

– E quem roubou?

– Ninguém sabe. - Quíron suspirou, parecendo desapontando. - Durante o solstício de inverno, na última assembléia dos deuses, Zeus, Poseidon e Hades tiveram uma discussão. As tolices de sempre: “a Mãe Reia sempre gostou mais de você”, “os desastres aéreos são mais espetaculares que os marítimos”, "eu sou o irmão mais velho, o Olimpo deveria ser meu" etc. Mais tarde, Zeus se deu conta de que seu raio-mestre havia desaparecido, levado da sala do trono bem debaixo do seu nariz. No mesmo instante culpou seus irmãos. Agora, um deus não pode usurpar diretamente o símbolo de poder de outro deus, isso é proibido pela mais antiga das leis divinas. Mas Zeus acredita que Poseidon e Hades trabalharam juntos e convenceram um herói humano a pegá-lo. Zeus tem boas razões para suspeitar. As forjas dos Ciclopes ficam embaixo do oceano, o que dá a Poseidon alguma influencia sobre os fabricantes dos raios do seu irmão. Zeus acredita que Poseidon pegou o raio-mestre e está agora mandando os Ciclopes construírem secretamente um arsenal de cópias ilegais, que poderiam ser usadas para derrubar Zeus do seu trono. E Hades guarda ressentimento, está muito obviamente infeliz com a parte que lhe coube desde que o mundo foi dividido eras atrás, e seu reinado se tornaria poderoso com a morte de milhões. Hades odeia Zeus por ter tido a ideia e de forçá-lo a um juramento de não ter mais filhos, um juramento que ele mesmo quebrou.

Annabeth instantaneamente olhou para Thalia, cujo corpo estava tão duro quanto uma estátua em sua cadeira, o cabelo, embora curto, cobrindo seus olhos baixos.

– A maioria dos observadores inteligentes concordaria que o roubo não faz o estilo de Poseidon. - Continuou Quíron. - Mas o Deus da Maré é orgulhoso demais para tentar convencer Zeus disso. Hades é diferente, o que o torna suspeito. Zeus exigiu que seus irmãos devolvessem o raio até o solstício de verão. Isso será em 21 de junho, dez dias a contar de agora. Poseidon quer um pedido de desculpas por ser chamado de ladrão até essa mesma data. Hades ficou quieto, o que o torna ainda mais suspeito. Eu tinha esperanças de que a diplomacia prevalecesse, que Hera ou Deméter ou Héstia fizessem os três irmãos verem a razão. Mas nenhum deles quer recuar. A não ser que alguém intervenha, a não ser que o raio-mestre seja encontrado e devolvido a Zeus antes do solstício, haverá guerra. E você sabe como poderia ser uma guerra total, Annabeth?

– Ruim? – Ela adivinhou.

– Imagine o mundo em caos. A natureza em guerra consigo mesma. Os olimpianos forçados a escolher lados entre Zeus, Poseidon e Hades. Destruição. Carnificina. Milhões de mortos. A civilização ocidental transformada em um campo de batalha tão grande que fará a Guerra de Tróia parecer uma luta de balões d’água.

– Ruim. – Annabeth repetiu, encolhendo-se na cadeira.

Começou a chover. Os jogadores de vôlei interromperam o jogo e olhavam perplexos para o céu.

– Você disse que Zeus havia enviado uma mensagem. - Disse Annabeth, séria. – O que dizia?

Quíron assentiu, como se estivesse satisfeito com a pergunta.

– Zeus exigiu que uma missão seja emitida. – Disse ele. – Como sua filha, Thalia foi designada pelo Rei dos Deuses para buscar o raio roubado. – Annabeth assentiu para mostrar que entendia. – Agora, uma missão precisa de três participantes. Thalia já escolheu Grover, e teria escolhido Luke, se eu não tivesse proposto que você fosse, Annabeth.

O queixo de Annabeth caiu.

– O quê? – Ela exclamou, perplexa. – Mas... Mas eu acabei de chegar aqui, Quíron! Eu não sou tão experiente quanto Luke...

– Não. – Concordou Quíron. – Mas você tem habilidade natural. A forma como salvou Thalia na outra noite mostrou isso. Você é uma boa guerreira, Annabeth, e uma filha de Atena. Thalia e Grover vão precisar de algumas palavras sábias em tal missão importante.

Se ao menos as palavras fossem minhas, pensou Annabeth, mas decidiu ficar quieta.

Annabeth respirou fundo, tentando disfarçar sua tensão.

– Quando você estava falando das suspeitas de Zeus – ela falou lentamente –, deixou claro que desconfiava de Hades tanto quanto ele. Você acha que foi Hades?

– Pense bem. – Disse Quíron, inclinando-se para frente na cadeira de rodas. – Uma das Fúrias veio trás de você, Annabeth. Ela a observou por um tempo e então tentou matá-la. As Fúrias obedecem a um só senhor: Hades.

Annabeth franziu o cenho, confusa.

– Mas o que isso tem a ver comigo? – Perguntou ela. – Sou apenas uma filha de Atena. Por que Hades iria querer me matar?

– Atena já deixou bem claro que estava no lado de Zeus. – Respondeu Quíron. – Talvez Hades quisesse de prevenir de que você acabasse seguindo o exemplo da sua mãe. Deve ter visto o seu potencial.

Annabeth engoliu em seco.

– Certo... Mas essa é a sua única prova? – Perguntou.

– Um cão infernal conseguiu entrar na floresta. – Continuou Quíron. – Eles só podem ser convocados dos Campos da Punição, e ele tinha de ser convocado por alguém de dentro do acampamento. Hades deve ter um espião aqui. Ele devia suspeitar que Zeus tentaria usar Thalia para encontrar o raio. Hades gostaria muito de matá-la antes que ela pudesse assumir a missão, mas sua tentativa foi fracassada, graças a você, Annabeth.

“Como eu disse, Poseidon não parece ter cometido o crime. Sendo assim, ele não deve se sentir ameaçado por Thalia, por isso não fez nada para incomodá-la. Deve se sentir grata, Thalia.”

– Boa. – Disse Thalia. – Agora é menos um deus querendo me matar.

– Mas uma missão para... – Grover engoliu em seco. – Quer dizer, o raio-mestre não poderia estar em algum lugar como o Maine? O Maine é muito agradável nesta época do ano.

– Hades enviou o protegido para roubar o raio-mestre. – Insistiu Quíron. – Ele o escondeu no Mundo Inferior, sabendo muito bem que Zeus culparia Poseidon, que seria orgulhoso demais para admitir o crime. Não pretendo entender perfeitamente os motivos do Senhor dos Mortos ou por que ele escolheu esta época para começar uma guerra, mas uma coisa é certa: Thalia precisa ir ao Mundo Inferior; encontrar o raio-mestre e revelar a verdade.

“E, é claro, Thalia precisaria de uma profecia. Antes de você chegar, Annabeth, eu mandei Thalia para ver o Oráculo. Thalia, pode repetir a profecia para nós?”

Thalia respirou fundo, enquanto Annabeth se inclinada para frente na cadeira. Ela sabia que o acampamento tinha um Oráculo, mas nunca o tinha visitado ou ouvido uma de suas profecias, e estava ansiosa.

Depois, ela sinceramente não conseguiu entender por quê.

Você irá para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal. Você irá encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança. Você será traída por aquele que a chama de amiga. E, no fim, se verá em frente de outra grande intriga. – Thalia recitou lentamente, engolindo em seco no final.

Quíron dirigiu seu olhar castanho para Annabeth.

– E então? – Perguntou. – O que você acha?

As engrenagens no cérebro de Annabeth começaram a se mover enquanto ela absorvia o que havia acabado de ouvir.

– Bem. – Ela umedeceu os lábios. – O primeiro verso obviamente diz a direção a que temos que ir. Há alguma coisa no oeste?

– O Mundo Inferior. – Assentiu Quíron. – Fica em Los Angeles. Estúdios MAC.

– O que significa isso? – Thalia resmungou, fazendo uma careta. – MAC?

– Significa “Morto ao Chegar”. – Respondeu Quíron com suavidade, mas sua gentileza não impediu que os olhos de Grover quase saltassem das órbitas.

Ou os de Annabeth.

– Ainda no primeiro verso, há “um deus que se tornou desleal”. – Continuou Annabeth, respirando fundo. – Bem, espero que não encontremos muitos deuses nessa missão, e provavelmente vamos. Assim vai ser mais fácil desconfiar.

Thalia bufou uma risada leve, e Annabeth quase sorriu.

– O segundo verso praticamente garante o sucesso da missão. – Disse Annabeth. – Vamos encontrar o que foi roubado, de qualquer forma, mas isso não significa que podemos ser arrogantes. Qualquer coisa pode resultar em... Danos graves.

– E o terceiro verso? – Perguntou Thalia, franzindo a testa. – Sobre um amigo me trair?

Era desconfiança que Annabeth ouviu no tom de Thalia? Ela sabia que não deveria se ressentir; afinal, em tal situação, qualquer um desconfiaria, mas Annabeth não pôde deixar de se sentir um pouco magoada. Thalia não era exatamente sua amiga, mas era uma das primeiras pessoas que Annabeth conhecera no acampamento, e, de alguma forma tola, ela pensou que isso significava alguma coisa.

– Pode ser ou não um amigo próximo a você, Thalia. – Respondeu Annabeth, depois de um tempo. – Alguém que você confia, alguém que não, qualquer um. Deve ser importante para aparecer na profecia.

Thalia assentiu, os ombros tensos. Annabeth não era exatamente uma psicóloga que podia ler as pessoas como um livro, mas ela sabia que o assunto iria perturbar Thalia provavelmente durante toda a missão.

Grover conseguiu dissipar o clima tenso, ou intensificá-lo, Annabeth não sabia com exatidão.

– O que não me deixa nem um pouco animado é o último verso. – Disse ele. – “E, no fim, se verá em frente de outra grande intriga”. Isso quer dizer que vamos terminar a missão para ter que fazer outra? Assim, sem pausa?

– É o que parece. – Quíron concordou com um tom cuidadoso. – Mas não devemos ser precipitados.

– É mesmo? – Thalia se endireitou em sua cadeira, olhando para Quíron com os olhos azuis irritados. – Porque, aqui com a Chase, me parecia exatamente isso que estávamos fazendo, interpretando uma profecia!

– Thalia. – Quíron repreendeu, mas parecia cansado. – Já chega. Alguma coisa está errada com você. Está irritada e distraída desde a noite com o cão infernal. E por que tanta antipatia com Annabeth?

Thalia lançou seus olhos zangados para Annabeth, que naquele só queria enterrar a cabeça num buraco para se esconder. Mas o olhar de Thalia... Ela estava procurando alguma coisa em Annabeth. E, ao perceber isso, a filha de Atena percebeu rapidamente o que era. Percy.

E soube que Thalia não pararia até descobrir quem estava na cabeça de Annabeth.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me pela demora (vocês não têm do que reclamar, não é?), mas eu passei o dia na casa da minha avó, e vocês sabem como casa de avó é... Você não quer sair. E lá tem wi-fi! Eu só... Meio que esqueci de levar o computador... Hehe?
OBRIGADA A QUEM COMENTOU! E os outros... Vou dar mais algumas chances.
EI, POVO, EU TAMBÉM ACEITO RECOMENDAÇÕES!