Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 64
Final


Notas iniciais do capítulo

Vocês tem noção de que, a próxima vez que eu aparecer por aqui, será a última? Ainda não superei isso.
Espero não decepcionar.
Boa leitura!



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No meio tempo antes de Hermione conseguir levantar o olhar e o raio vermelho iluminar a pequena sala da casa dos Weasleys, a garota jurou que se passaram dias. O sentimento de impotência que a atingira fora mais dolorido do qualquer tortura que viria sofrer ainda naquela noite, e soube que sua mente nunca apagaria o olhar assustado no rosto de Rose quando Julia a puxou pelo braço. Porém antes que conseguisse superar as fortes pontadas que sentia no peito e reagir ao ataque da modelo, viu Draco colocar-se na frente da pequena, empurrando-a rapidamente até Harry, que escondeu a ruivinha com ele sob a capa da invisibilidade e aparatou, deixando-os sozinhos por breves momentos, que pareceram durar outra eternidade. 

 

A raiva no olhar de Dolohov pareceu, naquele momento, muito pior que a de Voldemort no dia de sua morte, e sabendo o perigo que corriam, mesmo com a casa cercada por aurores a postos, esperando para agir a seu sinal, Hermione temeu. Julia seria capaz de matar quantos fossem necessários para que pudesse finalmente vingar seu pai e a si mesma, e a morena sabia que era a primeira da lista. A troca de vítimas, no entanto, não fora suficiente para findar o feitiço: assim que Draco pôs-se na frente da pequena, os raios vermelhos da maldição imperdoável o atingiram, derrubando-o por conta da dor que atingira cada milímetro do seu corpo e permitindo que a modelo sorrisse ao ver que, apesar da interferência, causara o efeito que esperava. Enquanto o rapaz se contorcia no chão, Arthur e Molly ficaram sem ação, em dúvida do que fazer enquanto Hermione lutava para manter-se em pé, o peito apertando cada vez mais e sua respiração cada vez mais difícil. 

 

— Vocês e sua mania ridícula de bancar o super herói, não é mesmo? — a garota debochou, findando o feitiço que torturava Hermione e voltando-se para Draco, a varinha ainda apontada para ele. — Quando vão perceber que isso não vai dar em nada, hein?!

— Depende. — Fred se pronunciou, pela primeira vez. — Quando você vai perceber que não vai sair dessa livre? 

— Era só o que me faltava. — Julia bufou, virando-se para o ruivo de dando alguns segundos para Hermione se recompor, alcançando a varinha que havia deixado cair. Discretamente olhou para Draco e sentiu seu coração apertar. Um pequeno filete de sangue corria de sua sobrancelha, e ele tentava se mover, sem sucesso. — Até você, Fred?

— O que pensou que aconteceria, Julia? Que daria tudo certo para você? 

— Deu até agora, não é mesmo? — ela  interrompeu-o, alterando o tom de voz. Encarando Fred por alguns instantes, Júlia baixou a varinha, caminhando até o ruivo e tentando tocá-lo, a raiva voltando a seu olhar ao vê-lo se afastar. — Mas tudo bem, meu amor. Esse empecilho não vai atrapalhar meus planos, até porque, não precisamos levar a pirralha agora. Ainda temos a audiência de guarda, e a juíza já está enfeitiçada para nos dar a vitória, e você voltará ao normal, nós voltaremos ao normal. 

— Não existe um nós. Nunca existiu, você inventou tudo isso e interferiu em nossas vidas para que fosse real na sua cabecinha lunática. Cada vez que você abre a boca eu percebo porque isso sempre pareceu errado. — Fred afirmou, olhando-a nos olhos. Soube, então, que não havia escolhido certo ao enfrentá-la naquele momento. 

— Tudo bem, como quiser. Mas lembre-se, amor, você quem escolheu assim. — Júlia sorriu antes de apontar a varinha para o rapaz, uma sobrancelha arqueada. — Eu lido com você depois. Estupefaça!

Protego! — o feitiço de Hermione repeliu a ordem de Dolohov, fazendo com que a vilã voltasse seu olhar para a garota, sorrindo mais do que nunca. — Você o ouviu, Júlia. Não vai se safar dessa. 

— É o que veremos, Granger. — o próximo feitiço quase não fora repelido por Granger, que esquivou-se antes de atacar Julia com feitiços não verbais, as duas caminhando em círculos ao se enfrentarem. 

Aproveitando a distração, Fred conseguiu fazer com que os pais saíssem da sala, correndo para o jardim onde os aurores aguardavam. Sabiam que precisavam do sinal de Hermione, mas assim que Harry voltara, agora livre da capa, não aguardou a luta se intensificar dentro da casa para intervir, entrando com um pequeno grupo, as varinhas a postos e prontos para atacar quando a morena os viu entrando. Vendo, enfim, o que os aurores haviam tramado, Júlia foi tomada por um excesso de raiva, extravasando um grito ao lançar um feitiço forte o suficiente para atingir a todos na sala, nocauteando dois aurores e Fred, que foi lançado alguns metros longe, batendo as costas e a cabeça contra a lareira antes de cair desacordado. 

— Chega. você foi longe demais, sua maldita sangue ruim! Eu tentei ter piedade para com você, mas você não colabora, não é mesmo. — imobilizando os outros presentes na sala, Dolohov ergueu Draco pelo colarinho da camisa, a varinha apontada diretamente para seu peito. Ao ver a varinha de Hermione ainda em mãos, lançou breves faíscas vermelhas, fortes suficientes para fazer o loiro se contorcer, seu olhar fazendo a morena lembra-se da noite na mansão Malfoy, causando arrepios pelo corpo todo. — É por isso que vai sofrer com as consequências, pouco a pouco. E quando eu terminar, não vou mais te matar. Não, você viver com a certeza de que é inútil a seus amigos é muito mais satisfatório do que me livrar de você para sempre. O que acha que começarmos com o galã aqui? Crucio

Os pequenos espasmos que tomavam conta do corpo de Draco eram suficientes para fazer Hermione querer chorar. Cada segundo que passava era como um milênio,e a cada segundo, sentia maior dificuldade para respirar. Ao longe, ouvia Julia rir e falar alguma coisa, a qual ela não conseguia prestar atenção, sua mente gritava, lhe dizendo para dar o tão esperado sinal ao ministro: poderiam pará-la ali, mas Hermione ainda queria a confissão do que ela fizera no ministério. Mas não as custas de ninguém. Pelo canto do olho viu Harry desfazer o feitiço que o prendia ao chão, a varinha a postos e pronta para atacar a modelo, que intensificou a tortura a Draco, que caiu de joelhos novamente, não contendo um grunhido de dor. Fechando os olhos com força e levando uma mão discretamente até o diafragma para tentar controlar a respiração, Hermione soltou a varinha estrondosamente, aproximando-se alguns passos e gritando em seguida:

— Para! Para, Júlia, por favor. — a morena implorou, vendo Dolohov olhá-la com um sorriso no rosto, que apenas aumentou ao ver a mão da garota sobre a barriga. Viu pelos olhos brilhantes dela que a modelo havia entendido o que não devia, mas não negou, apesar de tudo: aquilo poderia vir a se tornar uma distração útil. 

— Não me diga que… Ah, Mérlin! — a modelo olhava de Draco para Hermione, lembrando vagamente Bellatrix e seus olhos cheios de loucura. — Isso está ainda melhor do que eu esperava. Vocês dois estão mesmo apaixonados, não é mesmo? O feitiço virou contra os feiticeiros, então. Estão até esperando um bebezinho! Ah, mas que notícia adorável! Você já sabia disso, Draquinho? Sua amada não havia lhe contado? Pelo seu olhar assustado acho que não, não é mesmo?! Mas tudo bem, porque você não vai ter tempo para assimilar tudo isso. Esse bebezinho não vai durar muito tempo aí dentro não. — chutando o estômago de Draco e deixando-o caído no chão, Julia virou-se para Hermione. — Agora nós duas vamos ter uma conversinha, e acabar com isso de uma vez por todas. 

— Como você fez aquela vez que me sequestrou? Ou quando mandou seus amiguinhos interferirem em uma missão dos aurores na Alemanha? — Hermione sentia o peito subir e descer rapidamente, e sentiu a dor voltar mais forte do que nunca fora, atravessando seu corpo todo,  mas mesmo assim não parou. Se morresse ali, pelo menos saberia que Júlia seria presa. — Ou assim como fez no ministério quando tentou explodir uma parede contra mim e acabou matando um inocente?

— Tem razão, eu fui tola em todas essas vezes, embora explodir o ministério não tenha sido tão… Perda de tempo assim. Tirei Martha do caminho e descobri coisas importantes sobre o romancezinho de vocês dois. E aquele idiota apenas morreu por acaso do destino, era velho demais para estar vivo mesmo assim. — Júlia sorriu antes de levantar a varinha  pela última vez, apontada para o peito de Hermione, que assentiu discretamente antes de fechar os olhos. — Mas estamos no limite agora, Granger. E eu não pretendo continuar com isso por muito mais tempo. Avada…

A maldição da morte de Júlia não fora ouvida por Hermione até o final. Ainda de olhos fechados, respirou fundo ao sentir um corpo abraçar-se ao seu, como se fosse uma espécie de proteção. Aninhou-se ao corpo que chocara-se com o seu, e demorou alguns minutos - ou o que podiam ter sido horas ou dias - para Granger criar coragem de voltar a abrir os olhos. Quando se deu por conta, reconheceu os braços de Draco e olhou-o, segurando seu rosto entre as mãos antes de olhar ao redor e perceber o que havia acontecido. Na sala da pequena casa, Harry desfazia o feitiço de imobilização nos outros aurores e dois medibruxos já levavam Fred para o St. Mungos, tendo em vista que o rapaz ainda estava desacordado. Conduzida pelo Ministro em pessoa, Júlia estava envolta por amarras brilhantes, conjuradas em sua boca e braços, a varinha já longe de si. 

Tudo havia, enfim, dado certo. King e Harry tinham entendido seu sinal e conseguiram agir logo após a última confissão que o ministro precisava ouvir antes de prendê-la, e uma onda de alívio atravessou Hermione, que ainda não soltara Draco. Olhando para Harry, que corria em sua direção, a única palavra que saíra de sua boca havia sido o nome da filha. Precisava saber dela. 

— Molly e Gina estão com ela, estão seguras no Largo 12. As levei pessoalmente até lá. — o moreno a encarou, a preocupação mais estampada que nunca, igualmente dirigida a Draco. — Agora precisamos cuidar de vocês dois, por favor, Mione….

— Draco. — a morena voltou seu olhar para o amigo, soltando-o levemente para olhá-lo melhor, sem saber o que pensar. A imagem que via não entrava em sua mente, não entendia como ele ainda se mantinha em pé, e demorou para entender o motivo para ainda estarem abraçados, afastando-se totalmente e desferindo tapas pelo corpo do rapaz. — O que diabos você estava pensando quando se jogou na frente daquele feitiço? Você não é idiota, poderia ter morrido, Draco! Morrido! Você tem noção disso? O que eu faria sem você? Draco Malfoy, nunca mais faça isso, entendeu! Nunca mais tente morrer por mim, eu não…Eu não valho tudo isso. — as lágrimas cobriram os olhos da garota, que não fez esforço algum para contê-las. Estavam apenas os três na sala, Harry havia dispensado os medibruxos por alguns instantes, sabia que eles precisavam daquele momento, apesar dele mesmo sentir-se um intruso. Não sentia ciúme da amizade dos dois, não mais, mas não conseguia deixar de sentir-se deslocado naquela cena: a conexão dos dois era maior que a que a amiga tinha com ele ou Rony, e ele soube que nada superaria aquilo, permitindo-se ficar feliz. Ela tinha alguém para cuidar dela quando eles não estivessem por perto. — Eu não saberia o que fazer sem você, seu idiota. — Hermione sussurrou, parando com os tapas e chorando ainda mais, as mãos agora leves sobre o corpo dele, procurando algum machucado. — Está com muita dor? Onde ela machucou? Nós precisamos ir para o hospital, cuidar de você e… 

— Hermione. — Draco sussurrou, sentindo o corpo cada vez mais pesado e uma lágrima escorrer pela face ao abraçar a amiga mais uma vez. — Estamos bem, acabou. Acabou. 

 

(...)

 

Os corredores do St. Mungos estavam calmos até demais para os parâmetros de Hermione. Estava sentada na sala de espera, observando as poucas pessoas que passavam por ali naquela madrugada, todas andando rápido ou apenas indo embora, nenhuma emergência das quais Draco costumava reclamar, nada que fosse digno de distração. Suspirou impaciente ao ver que o relógio na parede ainda marcava quatro da manhã. Não tinha certeza que há quanto tempo estava ali: Harry já havia ido e vindo mais vezes que ela pudera contar, e Rony já havia desistido de qualquer conversa com a amiga, que ainda estava em estado de choque, aguardando o médico responsável por Fred liberá-lo para visitas. 

Graças a Mérlin havia sido apenas uma concussão, mas o ruivo ainda dormia devido as poções ministradas para a dor, causada pelo impacto, e por um lado a garota agradecia por ainda ter esse tempo para pensar. Não fazia ideia do que dizer, apenas sabia que precisava vê-lo. Draco, por outro lado, estava ainda sendo tratado por um dos colegas mais experientes, a quantidade de vezes que a Maldição Cruciatus havia sido usava não colaboraria com sua recuperação imediata, mas eles tinham certeza de que aquela noite de sono seria de grande ajuda. Claramente, nada daquilo a deixava tranquila. 

— Rose dormiu, finalmente. — Harry sussurrou, sentando-se ao lado da amiga e colocando um casaco grosso sobre seus ombros, abraçando-a logo em seguida. — Está muito mais calma, e Molly conseguiu fazer com que comesse algo. Ela estava perguntando por vocês, mas as duas conseguiram fazer com que ela finalmente descansasse um pouco. 

— Obrigada. — Hermione deitou a cabeça no ombro de Harry, sentindo-se mais cansada do que nunca. 

— Você sabe que já pode fazer o mesmo, não é? Acabou, Mione. Kingsley vai julgá-la pessoalmente, então… 

— Estamos livres. — a morena completou, interrompendo o discurso do amigo. Sabia que estava certo, mas não queria escutá-lo, não naquele momento. 

— Srta. Granger? — um medibruxo um pouco mais alto que eles apareceu na sala de espera, olhando-a firmemente ao avisar que Fred estava acordando, conduzindo-a até o quarto onde o rapaz descansava. Agradeceu a Harry antes de sair, pedindo para que fosse para casa descansar, todos eles haviam feito muito em uma noite, o suficiente para uma vida, e olhar cansado que ambos carregavam apenas confirmavam isso. 

Quando chegaram ao quarto, não trocaram muitas palavras antes da garota ficar sozinha com Fred, que já observava o quarto branco onde se encontrava. Com meio sorriso no rosto, Hermione aproximou a poltrona azul clara da cama dele, sentando-se perto do ruivo e entrelaçando suas mãos, os dois olhando-se em silêncio total. Não um silêncio incômodo, bem pelo contrário: era confortável, era seguro. Eles sabiam que tinham muito o que conversar, e também muita coisa para resolver, mas a partir de agora teriam tempo: todo o tempo do mundo, que finalmente, se quisessem, poderiam passar um com o outro. 

— Hermione...— o rapaz chamou, sussurrando. A garota porém apenas sorriu, seus dedos acariciando as mãos de Fred.

— Eu sei, Fred. Eu sei. — com a afirmação da morena, os dois apenas sorriram um para o outro, não demorando muito para as poções voltarem a fazer efeito em Fred e logo o rapaz dormiu, sendo observado pela garota até os primeiros raios de sol aparecerem pela janela. Junto com o sol, o gêmeo do rapaz apareceu no quarto, abraçando Hermione ao chegar e assumindo seu lugar, afirmando que ela precisava ir para casa, e dessa vez a garota não se negou. Despediu-se de George brevemente, e caminhou sem pressa até o quarto de Draco, que dormia serenamente. Ainda haviam alguns arranhões pelo seu rosto, mas a palidez já não era tão nítida, e isso aliviou Hermione. Voltaria ali mais tarde, sabia que não aguentaria muito mais tempo longe dos dois rapazes, e logo aparatou para casa, estranhando a escuridão e o silêncio pesado instalado no local. 

Suspirou e caminhou com passos pesados até o quarto, pegando apenas uma toalha e dirigindo-se ao banheiro, abrindo a torneira da banheira e observando a água enchê-la lentamente. Sem ao menos tirar a roupa que vestia, mergulhou o corpo na água morna, respirando pesadamente ao sentir as lágrimas voltarem, e não havia nada que pudessem impedi-las de cair. Mas não era como se Hermione quisesse pará-las, estavam acumuladas há tempo demais. 

— Eu sei que não quer companhia agora, mas eu não consegui te deixar sozinha. — Gina estava parada na porta do cômodo, observando a amiga com o coração apertado, e não demorou a aproximar-se quando a viu fechar os olhos outra vez, chorando ainda mais. Hermione logo sentiu as mãos de Gina passeando sobre seus cabelos e deixou-se aproveitar a companhia da amiga, chorando as lágrimas que havia guardado pelos últimos quatro anos. As duas sabiam que, naqueles poucos instantes ali, não precisariam de muitas palavras, apenas da companhia uma da outra. 

Quando Hermione finalmente pareceu se acalmar um pouco, Gina lhe ajudou a chegar até o chuveiro, levando as roupas molhadas para a lavanderia a fim de dar um pouco de privacidade para a amiga, e não demorou muito para as duas estarem sentada à mesa da cozinha, uma xícara de chá fumegante na mão de cada uma e um clima extremamente mais leve, os raios de sol já entrando pela janela e mostrando o domingo iluminado que teriam. 

— Tem certeza de que não quer dormir pelo menos alguns minutos antes de voltar para o hospital? — Gina questionou outra vez, observando as olheiras profundas da amiga. 

— Eu não conseguiria mesmo que tentasse. — a morena suspirou, dando um gole no chá. — Além disso, preciso ver Rose, e preciso ver Draco… Não consegui falar com ele desde que os médicos o levaram para o quarto, e… 

— Harry me contou o que ele fez. — a Potter segurou a mão da amiga, acariciando-a. Com um sorriso maior no rosto, tentou relaxá-la um pouco: — Isso quer dizer que estão mesmo juntos? 

— Apesar de seus inúmeros esforços, não estamos Gina. — Hermione sorriu, sentindo-se agradecida. A imagem do amigo machucado ainda não saia de sua mente. — Quer dizer, esse namoro falso foi um tanto… esclarecedor em certos pontos. Mas não acho que fosse dar certo de qualquer maneira. 

— Como não? — a ruiva questionou, abrindo a boca. — Vocês são tão sincronizados, e se importam tanto um com o outro. Além do mais, esses últimos dias pareciam mesmo um casal. 

— Eu sei. Mas percebemos que apesar de sermos bons juntos, não é suficiente entende? Draco e Astória tem uma história quase tão enrolada quando eu e Fred, e acho que vale a pena dar uma chance para isso se desenvolver, entende? 

— Não. — Gina admitiu, sorrindo junto da amiga. 

— Nós vamos continuar melhores amigos, mas o namoro falso acabou. Nós estamos livres para tentar fazer dar certo com outras pessoas. — Hermione simplificou, por fim, dando de ombros. 

— E se não der? 

— Ainda teremos um ao outro, não é mesmo? — as duas riram antes de levantarem, a bagunça flutuando até a pia enquanto elas aparatavam até o Largo Grimmauld, vendo Rose correr ao encontro da mãe assim que tocaram o solo. 

— Mamãe! — a pequena chamou, agarrando-se a Hermione como se sua vida dependesse disso e não disfarçando as lágrimas que escorriam pelo rosto, ainda mais vendo que elas também estavam na face da mãe. Nenhuma das duas sabia quanto tempo haviam ficado ali, mas aquilo não importava no momento: Hermione queria ter certeza de que a pequena estava sã e salva. 

— Ah, meu bebê. Você me perdoa? — a morena abraçou a filha mais forte, beijando-lhe o topo da cabeça ainda sem conter as lágrimas. — Eu sei que tenho sido uma péssima mãe para você, mas eu te amo tanto. Eu sinto muito, meu amor. Eu tinha prometido que ela não ia te fazer mal, mas… Me desculpe. 

— Você não é uma péssima mamãe. — Rose a repreendeu, afastando-se o suficiente para olhar Hermione nos olhos. — Você é a melhor de todo o mundo, e não tem que pedir desculpas, porque eu sei que você está tão assustada quanto eu, mas a vovó disse que você foi muito muito muito corajosa lá, mamãe. E que você e o papai Draco salvaram todo mundo, e que o tio Harry conseguiu prender a bruxa má, então agora vai ficar tudo bem. Então está tudo bem, mamãe. E eu também amo você. 

— Como é que eu consegui ser tão sortuda de ter você como filha, hein meu amor? — Hermione riu entre as lágrimas, abraçando a pequena mais uma vez antes de ir para a cozinha da casa, onde Arthur e Molly preparavam o café da manhã.

Largando a filha brevemente, Hermione caminhou até o casal e antes que Molly pudesse chorar de verdade e se desculpar, a garota a abraçou. 

— Obrigada, e me desculpem. Eu nunca imaginei que ela fosse para lá. — abraçou Arthur em seguida, e permaneceu segurando a mão dos dois. — Nós tínhamos tudo preparado para pegá-la por lá, mas Julia era mais esperta que nós, e… Eu nunca quis colocar vocês em perigo, então por favor, me perdoem. 

— Se alguém aqui tem que pedir perdão somos nós, filha. — Molly começou, vendo a morena negar com um aceno. — Você nos salvou daquela maluca, nós vamos voltar a ter uma vida normal agora. 

— A gente pode ir ver meus papais agora, mamãe? — Rose pediu colo mais uma vez, arrancando um sorriso de Hermione, que concordou. 

— Nós podemos ir ver seus papais, meu bem. 

 

(...)

 

Fred saíra do hospital no dia seguinte, completamente recuperado das consequências da noite de sábado. Embora soubesse que ele e a família passariam por um longo processo de análise nas próximas semanas para tentar separar o que havia sido realidade do que Júlia havia inventado, estava mais aliviado do que nunca. Por ter se livrado da vilã, por ter voltado a ter controle de si mesmo e por ter uma chance de ter Hermione e Rose de volta em sua vida. Ele não era burro, claro, sabia que a garota e Draco tinham alguma coisa, mesmo que fosse amizade, e não queria se precipitar e colocá-a contra a parede tão logo, mas algo dentro de si lhe dizia que, se tentasse conversar com ela, poderiam chegar a algum lugar. 

O julgamento de Júlia seria no final da semana, e tanto ele quanto George e Gina iriam depor contra a modelo. Alguns membros da corte queriam que as lembranças de Rose fossem utilizadas como prova, mas Hermione se negou de cara e ele não precisou pensar duas vezes para fazer o mesmo: a pequena não precisava passar por mais aquela tortura. Quando o dia finalmente chegou, estar no Ministério não ajudava em absolutamente nada para a ansiedade dos Weasleys, que sabiam o veredito de Kingsley, mas que precisavam ouvir a martelada final para finalmente sentirem-se livres: a dura verdade de que haviam sido manipulados pelos últimos quatro anos não lhe deixavam dormir direito a noite. Apenas quando Kingsley condenou Julia Dolohov e partiu sua varinha antes de mandá-la para a prisão bruxa foi que eles conseguiram finalmente, respirar. 

Hermione também havia participado do julgamento, afinal ainda estava no comando da missão juntamente com o amigo, e as provas dos dois, juntamente com as lembranças da garota, que continham verdades com as quais os outros sequer imaginavam, foi que conseguiram convencer totalmente a corte bruxa, que não demorou cinco dos trinta minutos que tinham para tomar sua decisão final. Era definitivamente o fim. 

— Feliz por finalmente colocarmos um ponto final nisso? — Draco questionou, sentando-se no sofá ao voltar do quarto de Rose, que finalmente dormira depois de um dia inteiro de brincadeiras com Fred. 

— Aliviada, na verdade. — a morena deu de ombros, levando os pratos até a cozinha e voltando com a xícara de café em mãos, sentando-se de frente para o loiro. — Apesar de tudo, não consigo ficar feliz ao imaginá-la naquele lugar. 

— Você é boa demais, sabia disso? — Draco debochou, o sorriso fechando lentamente ao perceber que estavam sozinhos pela primeira vez desde que ele havia saído do hospital. — Hermione, eu preciso perguntar….

— Eu não estou grávida. — Hermione interrompeu-o, sorrindo sem graça. — Eu sei que foi o que pareceu, e por um momento achei que fosse melhor que ela pensasse assim durante aquela noite, tanto por voltar a atenção dela para mim quanto para causar uma distração maior. Mas não tem bebezinho nenhum. 

— Não me leve a mal, eu adoraria ser pai. — Draco desculpou-se, respirando fundo. — Mas você consegue imaginar mais uma Rose correndo por aí? Nós iríamos a loucura antes mesmo do bebê nascer. 

A dupla gargalhou por longos minutos antes do rapaz se despedir, vestindo o casaco grosso antes de aparatar no pub onde combinara de encontrar Astoria Greengrass. Estava cumprindo sua parte no trato com Hermione, e fizera um pequeno esforço para que ela também cumprisse com a sua. Na casa morena, ainda quente graças aos feitiços aquecedores que usava para poder deixar Rose mais a vontade, Hermione recolhia a bagunça que a filha e Bichento haviam feito, guardando os brinquedos na caixa e assustando-se com uma leve batida na porta. Com a varinha na mão, Granger foi até a porta e abriu rapidamente, deixando a brisa fria de novembro adentrar, arrepiando-a da cabeça aos pés. O mais surpreendente, no entanto, foi o que encontrou do lado de fora. 

— Eu sei que é meio tarde, mas….

— Se precisava falar comigo, era só ter dito. — Hermione sorriu, observando Fred de pijamas e pantufa, abraçando a si mesmo para fugir do frio. 

— Eu precisava te ver, na verdade. — o ruivo lembrou-se do mesmo diálogo que tiveram, tantos anos atrás, quando a guerra findara. Parecia outra vida, outras pessoas. 

— Acho que temos tempo para isso. Temos todo o tempo do mundo. 

— Se permitir, pretendo passá-lo com você. — Fred sorriu, aproximando-se de Hermione e abraçando-a, deixando que ela os conduzisse para o calor da casa aconchegante, onde poderiam resolver tudo o que ainda tinham pendente. Naquele momento, nada poderia interferir a conversa dos dois, não quando ainda havia tanto a ser dito e uma declaração de amor a ser correspondida.


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Notas finais do capítulo

Nos lemos em breve!
Comentem, enquanto isso! Contem o que acharam. ♥