Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 63
Explicações




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Draco não sabia quanto tempo havia se passado desde que Hermione havia corrido para fora do salão, mas sabia que nada bom poderia ter acontecido já que Julia se fez presente na mesa deles não muito depois. A morena tinha o mesmo sorriso sarcástico de sempre no rosto quando se aproximou, beijando Fred sem pudor algum, como se estivessem sozinhos. Trajava um longo vestido vitoriano em cor vinho, segurando nas mãos um leque da mesma cor, e não esperou muito para sentar-se com eles, mesmo não sendo convidada, deixando os Potter e Claire um tanto desconfortáveis. Fingindo comentar alguma besteira qualquer com Harry, Gina olhou diretamente para Draco por breves segundos, indicando o irmão discretamente, e dando meio sorriso quando o loiro assentiu, entendendo o que ela  estava insinuando: fora só a morena chegar que até mesmo a postura de Fred havia mudado, além do pouco brilho que lhe restara no olhar ter desaparecido completamente, como se ele tivesse saído do próprio corpo, e o que havia ficado ali era só a casca

— Se não se importarem, — Draco levantou-se, o copo em mãos, e dirigindo-se aos Potter — vou dar uma volta. 

— Claro. — Gina concordou, sabendo que ele iria atrás de Hermione. — Se importa de me trazer mais um daqueles sucos quando voltar?

— O de morango? — o loiro riu-se, revirando os olhos ao ver a expressão pidona da ruiva. 

— O de morango. — com um sorriso no rosto, Draco deu as costas aos amigos, cumprimentando um dos aurores disfarçados ao passar por ele em uma das saídas, não demorando para encontrar quem realmente procurava. 

Observou a amiga por alguns minutos antes de se aproximar, parando ao seu lado sem olhá-la. Acompanhando a direção de seus olhos, encarou a noite estrelada, e quis sorrir por um momento: aquela visão transmitia paz, e sabia que se continuasse ali por mais alguns momentos, seria capaz de esquecer o verdadeiro motivo de estarem ali naquela noite. Mas nada era fácil assim, e soube disso ao sentir a mão fria e trêmula de Hermione entrelaçar-se a sua. Ouviu-a suspirar e virou-se para a morena, dando um breve sorriso. 

— Por favor não me diga que está fugindo. — ele brincou, arrancando um olhar divertido da amiga. 

— Não vou dizer. — ela respondeu, a voz mais controlada do que ele realmente esperava. — Mas me arrisco a pensar que você está fazendo o mesmo. 

— O que quer dizer com isso? — o loiro fez-se de desentendido, seu polegar brincando com a mão da garota. 

— Astoria Greengrass está aqui. — Hermione sorriu, repousando sua cabeça no ombro do loiro ao sentir o peso do olhar de Júlia em si: mesmo a distância que estavam, sabia que sua mesa dava diretamente para o jardim, e sabia que a bruxa os observava. 

— Certo. E o que isso significa? — Draco questionou, sorrindo mais do que deveria. 

— Malfoy. — Hermione repreendeu. 

— Granger. 

— Estou falando sério. — a garota levantou a cabeça, afastando-se pouco o suficiente para olhá-lo melhor. — O que você está esperando?

— O momento certo. — o loiro confessou, dando de ombros. — E, se você não se lembra, estamos comprometidos. — os dois riram, Draco passando o braço sobre os ombros da amiga. 

— Que não seja por isso. — Hermione decretou, sem conter um sorriso. — Draco Malfoy, você agora é um homem livre deste maravilhoso relacionamento falso. 

— Está me dando um fora, Granger? — o loiro afetou a voz de propósito, não contendo um sorriso. 

— Se isso é o que precisa para deixar de bobagem e ir atrás dela, então sim. E lhe darei quantos foras forem necessários. — a morena ficou de frente para o amigo, fechando um pouco a expressão sorridente. — Mas falando sério, Draco, a oportunidade está na sua frente. O que custa fazer um esforço e correr atrás? 

— Você é um péssimo exemplo em relação a isso, e sabe disso. —  o loiro apontou. 

—  Sim, mas não estamos falando de mim. Vocês dois já enrolaram tanto, Draco. Merecem ser felizes. — a garota retrucou, ainda encarando-o. — E nós dois sabemos que essa história de momento certo não existe, Astoria esperou por você durante esses três anos, tudo o que precisa fazer é deixar seu orgulho de lado e ir atrás dela. 

— Hermione…

— Draco, eu tenho absoluta certeza de que nós dois seríamos ótimos juntos. — a morena suspirou, e recebeu um abraço do rapaz. — Para falarmos a verdade, já somos ótimos juntos, até demais. Mas é confortável, é estável, e você sabe disso, e eu não acho que é isso que você quer para si mesmo. E desde que você não nos esqueça por completo, vou sempre ser a primeira pessoa a lhe apoiar a correr atrás da sua própria felicidade. 

— Então faremos um trato: — o loiro começou, com um sorriso enorme no rosto. — eu vou deixar meu orgulho de lado se você fizer o mesmo, Mione. Sei que ele deve ter dito algo que mexeu com você enquanto dançavam, porque esse brilho nos olhos… Eu não o via tem anos, e nada mais justo do que você também se permitir ser feliz. O que me diz?

— Draco… 

— Não existe essa história de momento certo, lembra? — Malfoy interrompeu-a, arrancando-lhe um sorriso. — Toda essa besteira acaba hoje, depois disso vocês dois vão saber o que fazer. 

— O que eu faria sem você? — os dois gargalharam, abraçando-se em seguida e ficando assim por alguns minutos, aproveitando os momentos de paz sob a noite estrelada. O peso do olhar de Julia já não a incomodava mais, e por um momento se deixou acreditar nas palavras de Draco: assim que aquilo tudo terminasse, saberiam o que fazer. 

Por mais que não quisesse admitir, as palavras de Fred haviam pego Hermione de surpresa: os últimos dias haviam sido como um teste para o autocontrole de ambos, já que, desde a noite que Rose implorara pela companhia do papai ruivo, Fred e Hermione haviam voltado a conversar como se os últimos meses não tivessem acontecido, como se tivessem acabado de fazer as pazes quando contaram para Rose a verdade sobre o pai, e aqueles poucos momentos que tiveram entre os três dias da quarta-feira até a noite do baile haviam sido suficientes para mexer com a estrutura emocional de ambos que um jeito que a garota achara ser impossível naquele ponto da vida, ainda mais sabendo que, pela primeira vez desde o casamento de Gina e Harry, Fred estava acordado

— Provavelmente morreria de fome. — o loiro retrucou, dando um passo para trás, sua mão ainda entrelaçada a de Hermione. — Agora vamos, ainda preciso pegar um suco de morango para Gina antes do show de verdade começar. 

De mãos dadas, os dois voltaram para dentro do salão, sentando-se junto dos amigos por alguns minutos antes de Kingsley chamar a atenção com o discurso de boas vindas, fazendo com que todos se sentissem acolhidos, logo voltando a festejar. Trocando um breve olhar com Gina, Hermione e Claire levantaram-se minutos depois de Julia arrastar Fred para a pista de dança, dirigindo-se ao banheiro, que encontrava-se vazio. Trancando a porta com um feitiço, as duas garotas ajudaram Hermione a trocar o vestido enorme por roupas mais confortáveis e mais discretas, o que facilitaria seus movimentos caso os planos de abordarem Julia de maneira certeira não funcionassem. 

— Será que você pode me lembrar porque nós não podemos ajudar? — Claire questionou pela milésima vez, suspirando. 

— Porque Gina está grávida, e alguém precisa ficar com ela. — Hermione respondeu, prendendo a varinha na cintura, camuflada entre as vestes. — E porque precisamos de um pouco de discrição, e se todos sumirem vai chamar muita atenção. Agora vamos, temos trabalho a fazer. 

O trio voltou para a mesa, agora vazia. Sentaram por algum tempo antes de Hermione sentir o bolso esquentar com o aviso de Harry, o que a fez suspirar. Despediu-se das meninas com um breve aceno e foi ao encontro do amigo, encontrando-o mais sério do que o esperado, e isso fez com que Hermione se preocupasse, ainda mais quando o ministro em pessoa se fez presente ali, reunindo os aurores que estavam na festa. 

— Mudança de planos, meus caros, — King começou, olhando-os um por um e parando em Hermione tempos suficiente para a garota perceber que havia algo muito errado ali, e principalmente, havia alguém faltando. — As coisas se complicaram um pouco. 

— Espere um segundo, — Hermione interrompeu, passando os olhos pelo salão e encontrando Astoria sozinha do outro lado, sentindo seu coração errar uma batida. — King, por favor, não me diga que…

— Temo que sim, senhorita Granger. — o Ministro respondeu, o olhar firme. — Tem alguma ideia de onde os três possam estar?

Demorou apenas alguns segundos para reunir todos os aurores que estavam no caso, e todos agora se encontravam no jardim, discutindo o que fariam a seguir. Ignorando tudo ao seu redor, Hermione colocava a mente para trabalhar a mil por hora: Julia havia agido bem debaixo do nariz de todos, conseguindo fugir com Fred e levar Draco como refém, sem deixar rastro algum, embora todos soubessem que coisa boa não viria a seguir. Pelo canto do olho, conseguia ver Harry e Kingsley, agora com as vestes normais, conversando baixo sobre algo Hermione não se deu o trabalho de prestar atenção. Simplesmente não entendia as ações de Julia, e onde a modelo queria chegar com esse sequestro repentino, ou quais seriam as consequências dela ter descoberto os planos de Hermione, que apesar de querer pôr um fim nisso tudo, sempre soube que Julia daria um jeito de se vingar por isso. Levantando-se de onde estava, a morena começou a andar em círculos, os olhos vagando distraidamente até encontrarem um objeto que lhe chamara atenção: a varinha de Draco. Suspirando, foi até ela e a pegou entre os dedos, sentindo um forte arrepio ao tocar na madeira, suja com algumas gotas de sangue. Ao mesmo tempo, sentiu as costumeiras facas lhe cortarem por dentro, mais fortes do que nunca, e não conseguiu controlar o corpo, que curvou-se para frente. 

Sentindo o peito apertar e a respiração falhar, Hermione logo reconheceu as mãos de Harry lhe amparando e sorriu amarga quando a dor passou, acrescentando a dor à sua lista mental de consequências, e foi ali que sua mente acendeu, clareando a dúvida da localização de Júlia, e pela primeira vez em muito tempo, Hermione temeu:

— Harry. —  a garota sussurrou, sentindo todo o corpo tremer. —  Ela foi para a Toca. 

—  Por que acha isso, mione? —  o moreno respondeu, ajudando a amiga se equilibrar e sentindo o próprio chão sumir quando a ouviu explicar:

— Porque ela disse que haveriam consequências, não é mesmo? —  Hermione suspirou e olhou para o ministro, que observava a conversa com atenção. —  Ela foi para a Toca porque é lá que Rose está essa noite. Fred me disse que era para ele ter tirado Rose de mim semanas atrás e ter fugido com ela para Nova York, é provavelmente isso que ela vai fazer.

—  E Draco? —  Ron questionou, observando a varinha na mão que tremia tanto quando Hermione. 

— É uma vingança. Ela acha que estamos juntos, Julia quer tirar tudo que importa para mim: Fred ela já conseguiu, e agora Rose. Draco é a peça que faltava para ela acabar comigo de vez.

 

(...)

 

As luzes d’ A Toca estavam acesas quando Hermione aparatou nos jardins, a varinha em mãos e o olhar atento, estranhando o silêncio do lugar. Respirando fundo, deu alguns passos a frente, parando meio segundo antes de abrir a porta com um feitiço silencioso e seguindo seu caminho para a cozinha, igualmente vazia. A morena suspirou ao dar as costas ao cômodo, empunhando a varinha mais firme ao mover-se até a sala, encontrando Molly, Arthur e Draco no sofá, sentados sem se mover, os olhos assustados e, no caso da senhora, marejados. Porém antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa, a voz de Júlia preencheu o lugar, fazendo o coração de Hermione errar uma batida, ainda mais quando viu quem a acompanhava:

— Para quem tinha tudo planejado nos mínimos detalhes, você demorou para me encontrar, não é mesmo, Granger?

— Para quem tinha tudo planejado nos mínimos detalhes, muita coisa deu errado para você, não é mesmo? — a garota retrucou, apertando a varinha ainda mais entre os dedos e encarando Júlia com mais firmeza. 

— Acho que temos perspectivas diferentes sobre este assunto, princesinha. — a morena riu-se, movimentando a varinha e observando Fred aparecer na sala, trazendo consigo uma Rose chorosa, que lutava para se livrar dos braços do pai, que não era capaz de expressar sentimento algum. — Até porque, não vejo o que está errado por aqui. 

— Você esqueceu sua barriga. — Hermione sorriu sarcasticamente, vendo o casal Weasley baixar o olhar para a futura nora, como se não houvessem reparado no detalhe quando a garota chegou. 

— Ah, mas isso não é um problema. Assim que eu acabar com você, sujeitinha de sangue ruim, faço o feitiço novamente e tudo volta ao normal, só que melhor. — Júlia retrucou, o sorriso ainda no rosto. 

— Imagino o que deve estar lhe prendendo, então, já que ainda não me atacou. — Hermione sentiu algo mover-se atrás de si, e por uma fração de segundo sentiu-se aliviada por saber que Harry e os outros aurores já cercavam a casa. — Ou será que está apenas esperando a oportunidade de fazer seu discurso detalhando seus planos, como uma boa vilã?

— Brinque enquanto pode, Granger, não estará tão presunçosa quando terminarmos aqui. Até porque nós duas sabemos que eu não sou a vilã dessa história. — Dolohov prosseguiu, apontando a varinha para Fred e fazendo-o sentar-se com Rose no sofá mais próximo, ainda segurando a filha no colo com mais força do que deveria, enquanto secretamente, buscava quebrar o feitiço. Em seu íntimo, o rapaz sabia que só precisava que Hermione se dirigisse a ele, mas a garota tinha preocupações maiores no momento: podia ver em seu olhar as engrenagens do cérebro trabalhando a mil por hora, absorvendo cada informação que a noiva revelava e pensando em uma maneira de terminar com tudo isso. Naquele momento, se estivesse em total controle de si, apesar da situação, teria sorrido: Fred sabia que nunca havia deixado de amar Hermione, mas não achava que era possível se apaixonar ainda mais por ela na situação crítica na qual se encontravam. — Não fui eu quem começou tudo isso. 

— Imagino que não vá me contar quem foi. — Granger tentava, com toda a força que tinha, não olhar na direção de Rose. A filha ainda chorava silenciosamente, tentando se soltar dos braços de Fred, que a segurava como se o mundo dependesse disso. Tentava, portanto, focar seu olhar em Júlia, ou em Draco, que, atrás da modelo, soltava-se das amarras nas quais estava enrolado e ajudava os Weasleys a saírem do feitiço de imobilização, mas sabia que nada daquilo era útil, não quando sua filha corria mais perigo do que nunca. 

— Você, como se não fosse óbvio. Você e essa sua mania de super heroína, de querer carregar o mundo nas costas. — a modelo agora aproximava-se, dando passos firmes e calmos, o olhar sombrio tomando conta de sua face. — Se você não tivesse se metido nessa historinha de salvar o mundo ao lado do idiota do Potter, não estaríamos tendo essa conversinha. 

— Então realmente, tudo isso foi por vingança? — Hermione questionou, respirando com mais força. — Não foi minha culpa seu pai ter lutado do lado perdedor, Julia, assim como não tenho culpa por vocês dois terem sido tolos a ponto de confiar que Voldemort pudesse conseguir algo além da própria derrota. — o deboche não havia passado despercebido, e quase se arrependeu ao ver a varinha de Dolohov subir até a altura de seu peito, porém sabia que estava encaminhando-as para o caminho certo: precisava de pouco tempo mais até a bruxa revelar toda sua trama, e tinha todas as testemunhas que precisava embaixo de seu nariz. Harry estava na sala, oculto pela capa da invisibilidade, enquanto King e outros três aurores se dividiam em cantos opostos, ocultos por feitiços de desilusão dos quais Hermione nunca sequer ouvira falar, mas as palavras do ministro haviam sido certeiras: colocariam um fim naquilo tudo, custe o que custasse. 

— Ele teria triunfado se vocês, pirralhos de merda, não tivessem se intrometido. — Júlia levantou o tom de voz, a mão que segurava a varinha tornando-se trêmula. — Mas é claro que nem tudo ocorre como planejamos, e graças a você, meu pai teve que passar seus últimos dias em Azkaban, como se fosse lixo, esquecido por todos. É claro que ele não morreu na guerra, sua tola. — a morena riu da expressão surpresa de Hermione, prosseguindo: — Eu o salvei, como sempre. Mas ele já não era o mesmo, o que você fez com meu pai o destruiu: Voldemort não gostou de saber que você havia mexido com as memórias de um de seus melhores seguidores, e isso fez com que meu pai sofresse consequências inimagináveis por ter se deixado atingir. 

“Eu não liguei para isso no começo, para ser sincera, até porque ele nunca havia sido um bom pai, e eu estava longe demais para me preocupar com as merdas que ele fazia por aqui. Não, tudo estava muito bem até você resolver se intrometer. Minha carreira despencou depois disso, porque ninguém além de mim poderia cuidar dele, e eu não tinha tempo suficiente para me dedicar. Claro que, depois de um tempo, as coisas ao lado de meu pai começaram a se tornar interessantes: ele tinha muito a me ensinar, muita magia que Hogwarts era medrosa demais para mostrar aos alunos, e isso me fez mais forte. Mas você decidiram invadir o castelo, não é mesmo? — Júlia caminhava em círculos pela sala, em frente a Hermione que tentava apenas controlar a respiração, sem acreditar no que ouvia. — E é claro que ele sentiu o chamado, todos nós sentimos. Seu amiguinho loiro é capaz de confirmar isso, se quiser. E é claro que Antony se juntou ao Lorde, como todo bom seguidor o fez, mas a sorte nunca mais esteve a seu favor. Depois que ele foi condenado, eu sabia que precisava recuperar todo o tempo perdido com minha carreira, e que maneira melhor do que me tornando amiga de um herói da guerra? Namorando um, é claro. 

“No começo eu pensei em Potter, é claro, mas a tola da sua amiga já tinha marcado território bem demais para qualquer interferência, e Ronald nunca foi opção, como você bem sabe. Mas então a oportunidade perfeita surgiu: seu breve namoro com Fred havia sido anunciado nos jornais, ao mesmo tempo que vocês dois brigaram por causa do seu estágio de medibruxa na Argentina, e ele não precisou de muito mais que uma bebida para aceitar que seus pensamentos íntimos estavam certos, que você não devia ir, que seria egoísmo de sua parte deixá-lo depois de tudo que ele havia feito por você durante a guerra. E você caiu como um patinho na lagoa: voou para longe e deixou Fred a minha disposição, pronto para ser consolado, pronto para ter tudo aquilo que você havia privado dele. 

“ E foi tão fácil, Granger. Uma bebida aqui, um jantar ali, e logo ele estava em minhas mãos. No começo, os feitiços não precisaram ser tão fortes, a poção do amor mixuruca que eles vendem naquela loja era suficiente, Fred estava machucado demais para lembrar que ainda te amava. —  morena foi até o noivo, acariciando-lhe o rosto enquanto falava, o tom de voz suavizando gradativamente, embora seu olhar sombrio ainda não havia desaparecido por completo. — Mas o tempo foi passando, e é claro que ele voltou a lembrar de você, mas nada disso foi um problema. Nesse meio tempo em que esteve fora de nossas vidas, minha querida, nós fomos vistos tantas vezes juntos que nem Rita Skeeter lembra quem você é, e meu plano obviamente estava dando certo. Até, é claro, você e essa pirralha aparecerem. 

“ Eu podia lidar com tudo, Granger, com tudo, menos com você e uma filha. Por que diabos uma filha? As coisas foram piorando desde que você voltou, e isso pediu por medidas drásticas, as quais você bem conhece. Mérlin, eu quis tanto que aquela primeira vez tivesse dado certo. Você mal tinham se adaptado aqui, era um bom motivo para você, a pirralha e o covarde ali voltassem para onde nunca deviam ter saído. Mas minha sorte não estava a meu favor, e cada vez que eu tinha que voltar a Nova York, eu via você e Fred cada vez mais próximos, agindo como se fosse real aquele romancezinho besta de vocês, como se vocês fossem uma família. E eu te avisei. — os olhos escuros de Júlia fitaram Hermione e naquele momento, o coração da garota errou uma batida. Apertou a varinha contra os dedos e preparou-se para defender-se, sentindo todo o ar fugir de seus pulmões ao ser atingida pela costumeira luz roxa. Encarando a modelo nos olhos, lembrou-se da fatídica noite no Ministério da Magia, onde outro Dolohov a havia acertado com a mesma maldição, porém com maior intensidade. Quis rir com a vaga lembrança, mas a única coisa que seu corpo conseguia fazer era sentir dor. Ao longe, ouviu Júlia prosseguir: — Mas você não foi uma boa menina, não é mesmo, Granger? E você não vai escapar das consequências de ter sido uma menina má, até porque, é por isso que eu te trouxe aqui. ”

Com o maior esforço que já havia feito na vida, Hermione levantou o olhar, vendo Julia voltar para perto de Fred e Rose, puxando a pequena para mais perto de si, fazendo que mais lágrimas silenciosas escapassem dos olhos claros da ruivinha. Sem conseguir reagir, escutou a voz de Dolohov como um sussurro antes de um clarão vermelho preencher a sala, juntamente com um grito de Rose:

— Você me tirou tudo, e eu consegui tirar tudo de você. E agora, minha querida, você vai morrer sabendo que fracassou, e que tudo o que você mais amou no mundo, está em minhas mãos, começando por essa pirralha. Crucio.


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