Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 50
Conversas




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Embora se concentrasse ao máximo, os olhos de Fred eram a única coisa para a qual Hermione não conseguia olhar. Há longos metros da casa dos Weasleys, a dupla caminhava em silêncio, Fred pensando em como começar a tal conversa enquanto a garota permanecia absorta nos próprios pensamentos: Júlia e suas ameaças, Draco que estava cada vez mais perto de descobrir a verdade, ainda mais com Harry em seu lado, além de como Rose deveria estar lidando com a situação de ter um irmãozinho de outra mamãe.  Depois de caminharem por alguns minutos, os dois pararam no topo do morro, observando a vista ainda em silêncio. Criando coragem, Hermione virou-se para o ruivo, forçando um sorriso e felicitando:

— Parabéns! Eu sei que não disse nada antes, mas parabéns! Tenho certeza de que vocês três vão ser muito felizes juntos.

— Obrigado. — o ruivo sussurrou, um tanto cético. — É sobre isso que precisamos conversar, Hermione. Eu realmente espero que isso já esteja claro para você, mas eu preciso dizer mesmo assim: isso não vai me afastar de vocês. Talvez as coisas fiquem bastante complicadas daqui para frente, mas não significa que eu vou parar de visitar Rose, de sair com ela ou...

— Está tudo bem, Fred. — a garota interrompeu, ainda tentando sorrir. — Rose sabe disso tão bem quanto qualquer outra pessoa e é apenas uma questão de adaptação. Sua filha te ama muito, e você pode ter certeza que ela vai entender tudo isso com o tempo. E sobre o que ela disse...

— Sei que foi invenção da cabeça dela. — Fred sorriu. — É provavelmente algo que eu diria se estivesse no lugar dela, não se preocupe. Além do mais, não é apenas sobre ela. —percebendo a expressão confusa de Hermione, o ruivo prosseguiu, respirando fundo. — Eu não quero que as coisas piorem entre nós, entende? Elas estão complicadas demais, e acho que tudo isso é uma maneira de Mérlin nos dizer que está na hora de seguirmos em frente do que tivemos. Nós já tivemos essa conversa mil e uma vezes, e apesar disso, nunca conseguimos nos acertar ou colocar um ponto final nisso, mas acho que esse é o momento. Você seguiu em frente com Malfoy e eu vou seguir em frente com Júlia, e as coisas vão indo para o lugar conforme o tempo passar. — o ruivo não olhava Hermione nos olhos enquanto falava, sabia que se o fizesse não teria coragem para dizer tudo aquilo, coisas nas quais ele não acreditava.

— Fico feliz por pensar assim, Fred. E fico feliz que possamos terminar tudo isso sem ressentimentos, nem comentários infantis sobre o outro. — a garota comentou um tanto sarcástica, sorrindo em seguida. — Eu desejo toda a felicidade do mundo para você e Júlia, e claro, para esse bebê. Vocês merecem um ao outro, e você merece ser feliz com sua família.

— Obrigado, eu acho. — Fred respondeu, rindo em seguida para quebrar o gelo da situação. Conhecia Hermione melhor que a si mesmo, então sabia que o olhar dela era tudo menos verdadeiro, mas não a repreendia. Suas palavras não chegaram nem perto daquilo que ele próprio queria. — Será que eu poderia roubar um abraço? — Hermione sorriu ao se aproximar, deixando que o abraço durasse mais tempo que deveria e aproveitando aquilo que ela sabia ser o último contato dos dois. Agora não tinham mais como voltar atrás e o que restava era arcar com as consequências das escolhas impulsivas que haviam feito, deixando que elas os levassem para onde quer que o destino quisesse.

Assim que se separaram, Hermione sorriu como despedida e voltou para a Toca, respirando fundo e se forçando a não pensar nisso. Apesar de não parecer, tinha uma conversa ainda mais tensa lhe esperando quando voltasse para casa, e sabia que não conseguiria mentir para Draco tão bem quanto mentira para Fred. Sorrindo ao entrar na cozinha, logo foi entrosada na conversa de Claire e Gina, que comiam os pedaços de bolo que sobraram. Passaram mais alguns minutos ali, falando sobre bobagens e amenidades até Rose aparecer com Teddy, os dois com cara de sono e o pequeno arrastando o padrinho consigo. Rindo, Hermione foi até o andar de cima para pegar a bolsa da filha, despedindo-se de todos em seguida e aparatando para casa.

Depois de um banho e de colocar a ruivinha na cama, Hermione foi até a cozinha preparar um café e arrumar toda a bagunça que havia ficado dos últimos dias. Sem muita pressa e depois de encher a tigela de Bichento com ração, Granger se jogou no sofá, a televisão ligada em um canal qualquer enquanto ela lia alguns artigos para a pesquisa que fazia para o trabalho, onde ficou até pegar no sono, sendo acordada por Draco horas depois.

— Ei. — ela sorriu para o amigo, levantando-se e levando a xícara de volta para a cozinha, sendo seguida pelo loiro. — Como foi lá?

— Como sempre. — o loiro deu de ombros, sentando-se na bancada e tirando o casaco que ainda usava. — Pessoas doentes, emergências estranhas ... Nada anormal. Ao contrário das coisas por aqui.

— Direto ao ponto, então? — Hermione acendeu o fogão, colocando a chaleira de água no fogo mais alto e virando-se para o amigo outra vez. A expressão de Draco era séria, e dessa vez ela sabia que não teriam meias verdades a serem ditas.

— Me diga você, Hermione. O que está acontecendo? — Malfoy a encarava com seriedade, mas seu tom de voz era calmo, o que piorava a situação da garota. — Fazem meses desde que não conversa direito com seus amigos ou que não passa um tempo com sua família, e não fale sobre os almoços em que você fica apenas tempo o suficiente para Rose cumprimentar a todos e comer. Eu conheço você e sei que você está escondendo alguma coisa muito séria, e como respeitar seu tempo não funcionou, desembuche.

— Tudo bem. — a morena suspirou, sabendo que as coisas poderiam piorar a partir daquilo. Mas honestamente, ela não tinha muito mais o que perder. — Mas você tem que me prometer que não vai contar para ninguém e que vai deixar que eu resolva essa situação do meu jeito, entendeu?

— Você está grávida, Hermione? — o loiro questionou, deixando a amiga confusa.

— O quê? Não, Draco. — Mione riu, fazendo com que o loiro suspirasse aliviado. —Eu não estou grávida. Por Mérlin.

— Tudo bem, então me conte.

— Prometa antes. — a garota pediu, separando as xícaras na pia. — Eu não pediria se não fosse extremamente importante, por favor.

— Tudo bem, prometo fazer o possível para te deixar resolver tudo isso do seu jeito.

(...)

— Draco, Hermione! O que fazem aqui tão tarde, queridos? — a Sra. Weasley entrava na sala, respirando aliviada depois do susto causado pelo barulho vindo da sala. Mais calma, a ruiva reparou que a situação não parecia muito agradável, já que Draco parecia querer matar qualquer um que atravessasse seu caminho enquanto Hermione tentava contê-lo.

— Desculpe o incômodo, Sra. Weasley. — a morena sorriu, tentando disfarçar a tensão do amigo que mantinha os punhos fechados. — Mas Draco acha que esqueceu a pasta dele por aqui e resolveu passar perguntar.

— Ah. Não acho que tenha ficado aqui, mas posso dar uma olhada. Por que não sentam enquanto isso? — a senhora voltou para a cozinha, deixando os dois por alguns momentos.

— Você prometeu, Malfoy. — Hermione sussurrou, ainda segurando o ombro do rapaz. — Será que dá para voltarmos para casa e terminar a conversa?

— Você só pode estar de brincadeira se acha que vou deixar isso passar em branco, Granger. — o loiro bufou, olhando para os ruivos que apareciam na sala e sentindo o resto do autocontrole se esvair do corpo.

— Mione, Draco. Quanto tempo! — Jorge cumprimentou sorrindo enquanto Fred diminuía o sorriso.

— Olá, rapazes. — a morena cumprimentou, entrelaçando sua mão na de Draco para tentar controlá-lo.

— Não encontrei nada, Draco. — Molly voltou à sala, analisando a situação e fingindo não perceber o olhar do filho para os “invasores”. — Tem certeza de que deixou a pasta por aqui, querido?

— Na verdade, Molly, — Hermione respondeu antes de Malfoy pudesse fazer alguma besteira maior ainda. — eu tenho a impressão de que ele esqueceu no hospital. Nós vamos até lá dar uma olhada, não é? — olhando para o amigo e forçando-o a concordar, a garota caminhou até Molly, abraçando-a. — Nos desculpe por isso, não queríamos incomodar numa hora dessas. Além do mais, Rose está dormindo, então...

— Imagina, querida. Vocês sabem que são sempre muito bem-vindos aqui. — a sra. Weasley sorriu, olhando atenciosamente para dos dois, que logo aparataram de volta para a casa da garota.

— Você prometeu, Draco Malfoy! — ralhou Hermione, afastando-se do amigo assim que abriu os olhos. — Caramba, qual a dificuldade de deixar que eu resolva isso?

— Porque isso deu muito certo até agora, não é mesmo? — o loiro bufou, bagunçando os cabelos ainda indignado com as informações que havia recebido. Era óbvio que havia algo de muito errado com Júlia e Hermione, mas ele não achava que era tão sério assim, e que envolvia Rose. — Por que não falou nada mais cedo, Hermione? Poderíamos ter dado um jeito, poderíamos...

— Não poderíamos não, Draco. As coisas com Júlia não funcionam assim, e além do mais o que você poderia ter feito? — Hermione suspirou, jogando-se no sofá e massageando as têmporas. — Você quis saber e eu lhe contei, mesmo sabendo que não deveria, mas cabe a mim e somente a mim resolver tudo isso, Draco, e você sabe disso. Esqueça esse assunto, e se pensar em contar a alguém, principalmente Harry ou Gina, eu arranco sua língua sem pensar duas vezes.

— Você só pode estar brincando, Hermione.

— Estou falando seríssimo, Malfoy. — a garota levantou do sofá, recolhendo a varinha e caminhando decidida em direção as escadas. — E você sabe disso. Desligue as luzes quando foi dormir.

(...)

— Sabe Fredoca, para uma pessoa que está prestes a ser pai mais uma vez você não parece muito feliz. — Jorge comentou, apoiando-se no balcão da cozinha da Gemialidades e saboreando uma das tortinhas de limão que Molly havia mandado para os filhos.

— Eu acho que a ficha ainda não caiu. — o ruivo respondeu, jogado no sofá e largando o jornal que ele fingia ler, ignorando a foto de Harry, Rony e Hermione exposta na manchete sobre os presos na Alemanha. — Quer dizer, é maravilhoso e eu estou mesmo muito feliz, mas ainda não consigo acreditar nisso. Na verdade, eu nem ao menos lembro qual foi a última vez que Júlia e eu dormimos juntos, então foi meio inesperado.

— Tem certeza que é só isso? — o outro rapaz questionou o irmão, olhando de relance para a foto no Profeta Diário.

— Jorge. — Fred repreendeu, suspirando ao ver o irmão erguer os braços e dar de ombros, mordendo mais uma tortinha.

— Foi só uma pergunta. Além do mais que motivos você teria para não ficar super feliz com isso, não é mesmo, mano? Você e Júlia estão super bem, de casamento marcado, sem assuntos do passado pendentes a serem resolvidos...

— Jorge.

— Desculpe. — o ruivo riu, debochando do irmão antes de sair do cômodo. — É só que, para quem está casando e formando uma família com o amor da sua vida, você parece bem infeliz.

Sem responder o irmão, Fred apenas encarou a foto da primeira página mais uma vez antes de atirar o jornal para longe, bufando ao perceber que, apesar de todos os pesares, Jorge estava certo e as coisas estavam cada vez mais claras em sua cabeça: ele não estava nada feliz, e isso se tornaria em um problema enorme que não poderia ser resolvido.


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