Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 51
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O outono havia chegado com tudo naquele ano, e em determinados dias, era quase impossível sair de casa sem casacos mais grossos – para a felicidade de Hermione e infelicidade de Rose. Os dias pareciam cada vez mais curtos e tudo o que a morena queria era um pouco a mais de tempo em tudo o que fazia, mas parecia que Mérlin, mais do que nunca, não estava ao seu lado.  Havia conversado com Kingsley sobre deixar o departamento dos aurores e focar em seu trabalho no Departamento de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, afinal o FALE ainda estava como suas prioridades dentro do Ministério, e isso estava deixando Hermione maluca: quanto mais ela se dedicava para terminar casos antigos, seus e de Harry, mais casos quase impossíveis pareciam aparecer, fazendo com que todos os aurores largassem tudo o que tinham pela metade para tentar resolvê-los. Além disso, Júlia lhe tirava cada vez mais o sono com suas ameaças – agora – silenciosas à Rose, que se recusava de toda e qualquer maneira a ver o pai, que claramente culpava Hermione.

Revirando os olhos ao perceber que estava pensando nisso outra vez, a morena suspirou e assinou o relatório que escrevia, levitando-o até a mesa de Harry em seguida. Olhando para o relógio na parede, guardou suas coisas e esperou Harry, saindo com o melhor amigo pelos corredores do Ministério da Magia, conversando sobre o jogo daquela noite e sobre a ansiedade de Gina, que se despediria do quadribol temporariamente – até o menino James Sirius nascer ou Molly Weasley não proibir a filha de chegar perto de uma vassoura novamente.

Despedindo-se de Potter e de mais alguns colegas de trabalho, Hermione usou a rede de flu para chegar até a Toca, encontrando a filha na cozinha. Em cima de uma banqueta, Rose ajudava Molly com o que parecia ser massa de biscoitos, o rosto sujo de farinha e um enorme sorriso no rosto, que só aumentou quando percebeu a presença de Hermione ali, vários minutos depois. Depois de cumprimentar a segunda mãe, Granger aceitou o chá sentou-se com as outras duas meninas na cozinha, conversando enquanto elas terminavam a receita supersecreta que a vovó Weasley fez, já que Rose queria levar alguns daqueles biscoitos para casa – e para Bichento, o que não demorou muito. Cerca de meia hora depois, as duas já estavam em casa: a pequena de banho tomado e vestida da cabeça aos pés com o uniforme do Harpias de Holyhead, uma bandeira verde em uma das mãos, arrancando um suspiro e uma gargalhada da mãe.

— Quando eu crescer vou fazer igualzinho a tia Gina, mamãe. — Rose corria pela casa com uma das bolas de Bichento, jogando-a de um lado para outro e indo atrás antes que ela caísse no chão, imaginando-se numa vassoura. — Você acha que eu consigo?

— É claro que consegue, Rose. — Hermione sorriu para a filha. — E se quiser, pode até pedir para Gina lhe ensinar, ou para qualquer pessoa que você conhece, na verdade. Todos eles são ótimos jogadores, inclusive seu pai.

— Sério? — o olhar da ruivinha brilhou com a possibilidade, fazendo com que o coração de Hermione acelerasse ao perceber que ela realmente o faria.

— Sim. Quando tiver idade para isso, tenho certeza que ele vai lhe ensinar tudo o que sabe. — a morena gargalhou com a reação de Rose ao ouvir sobre a idade e voltou a vestir o casaco, aparatando com a pequena para o estádio logo depois.

(...)

— Tem certeza de que não querem jantar conosco? — Gina questionava pela terceira vez, os cabelos ruivos ainda amarrados e ainda sujos com a tinta verde que haviam lhe jogado no final do jogo que havia ganhado. — Temos camas sobrando em casa para colocar Rose dormir.

— Obrigada, Gina. — Hermione sorriu, abraçando a amiga e sorrindo orgulhosa da ruiva. — Mas ela está com essa péssima mania de só dormir na própria cama ou na cama de Draco, e sei que isso só vai causar problemas e drama da parte dela, e hoje é um dia de comemoração.

— Você sabe que não tem problema nenhum com isso, Mione. — Harry comentou, tentando convencer a amiga. — E não vamos comemorar. É apenas um jantar normal, como sempre, para matar a saudade dos velhos tempos.

— Eu sei, mas...

— Mas? — Gina questionou, arqueando as sobrancelhas ao desarmar a amiga.

— Filha, por que não vai se despedir da vovó e do vovô? — Hermione ficou na altura de Rose, que sorriu ao concordar. Ela não estava com sono e a morena sabia disso, assim como sabia que pelo menos Harry e Gina teriam que saber dos verdadeiros motivos da pequena querer ir para casa. Assim que a ruivinha chegou nos avós, Hermione suspirou e encarou os amigos: — Ela quer ir para casa porque tem esperança de que Fred vá aparecer.

— Como assim aparecer? — a ruiva fechou a expressão, um tanto confusa.

— Fazem três semanas desde que ele saiu com ela pela última vez. E para ser sincera, estou quase sem desculpas. — a morena suspirou, olhando para Rose há alguns metros de distância. — Rose passa a semana inteira perguntando sobre Fred e quando ele vem visitar ou levá-la ao parque ou algo do tipo, e não sei como dizer para ela que eu não sei mais se ele vem ou não.

— Então não é só comigo que ele anda falhando. — a ruiva pareceu pensativa, olhando para o marido por alguns segundos antes de se virar para Hermione. — Ele me disse que não poderia vir hoje à noite porque tinham muito trabalho a fazer na loja, mas quando falei com Jorge, ele me disse que estava tudo até tranquilo demais e como todos podem ver, ele está aqui hoje. Tem algo de errado nessa história, e vou descobrir o que é.

— Gina.

— Nada disso, Hermione. — a ruiva voltou a sorrir, uma sobrancelha arqueada para a desconfiança da amiga. — Você disse que ela só dorme com Draco, não é mesmo?

(...)

— Como foi o jogo? — Malfoy sorriu ao aceitar a taça de vinho que Harry servia, sentado na poltrona em frente ao tabuleiro de xadrez.

— Maravilhoso. Ganhamos de 190 a 120, e foi mais fácil do que eu esperava. — Gina sentou-se no sofá, deixando os dois rapazes com o jogo que tanto ela quanto Hermione não eram tão fãs.

— Sinto muito por não poder estar lá, Gina. — o loiro desculpou-se mais uma vez, revirando os olhos ao lembrar do plantão médico. Depois de ouvir mais uma vez que estava tudo bem, Draco se concentrou no jogo permitindo que as duas garotas saíssem da sala sem serem notadas.

Conversando sobre amenidades em voz baixa pelos corredores, Hermione foi guiada pela amiga até o último quarto do corredor do segundo andar, porta pela qual ela ainda não havia passado. Dando uma rápida olhada na filha que dormia no quarto de hóspedes, a morena sentiu o coração acelerar quando a amiga voltou a falar, a mão segurando a maçaneta da porta com firmeza.

— Nós sabemos que ainda é bem cedo, mas você conhece o Harry e vou ter que admitir ter ajudado em muita coisa até agora. Ainda não está pronto, temos muito o que fazer e Harry está procurando alguns objetos e bichos de pelúcia que só vendem em lojas trouxas, então vamos demorar para acertar todos os detalhes, mas já quero sua opinião. — Gina sorriu ao abrir a porta, revelando o quarto de James quase todo decorado.

O berço cheio de presentes que o bebê não parava de receber, o armário de um dos cantos já organizado com algumas roupas e um suéter que Hermione reconheceu ser feitio de Molly. Uma coruja de pelúcia, tão branca como a neve, pendia ao lado da janela fechada com cortinas azul claras e Hermione sorriu com a lembrança de Edwiges. O quarto era aconchegante e já tinha cheiro de bebê, e a morena não pode deixar de abraçar a amiga, que acariciava a barriga já grande, inconscientemente.

— Está tão lindo, Gina! Vocês vão ser pais maravilhosos, tenho certeza disso.

— Vindo de você, isso é muito, Mione. — a Potter sorriu, ainda abraçada na amiga.

— Isso me faz sentir falta de Rose pequenininha. — a morena comentou, lembrando da filha. — Eu me preocupava menos, agora nunca sei se ela não explodiu um vaso sanitário!

— E eu não duvido que ela o faça! Além do mai... — antes que Gina pudesse terminar a frase, a porta do quarto fora aberta abruptamente, o barulho dela batendo contra a parede assustando as mulheres no recinto. Meio segundo depois e as varinhas em mãos, Hermione e Gina reconheceram Fred um tanto alterado, que não parecia muito feliz ao gritar com a ex-namorada.

— Você acha que eu tenho cara de idiota, Hermione?

 — Nesse momento eu estou achando muitas coisas, Fred. — a garota retrucou, sem entender a raiva do ruivo.

— Não tantas quanto eu, imagino. Uma delas é que você é realmente bem pior do que eu imaginei.

— Desculpe, o quê? — Hermione tentava manter a calma, o tom de voz ainda normal embora sentisse seu corpo todo tremer com aquela situação. — E você poderia explicar o motivo para isso, Fred Weasley?!

— Como se não soubesse! Eu juro que acreditei em você, e deixei passar a primeira vez, mas é a terceira vez que você inventa alguma coisa para sair de casa com Rose e me priva de ficar com ela durante o único tempo que, teoricamente, temos. — o ruivo quase berrava, se aproximando da morena, que o olhou incrédula.

— Você só pode estar de brincadeira. E quer fazer o favor de parar de gritar? Hogwarts deve ter escutado você a essa altura!

— Que escute! — o Weasley revirou os olhos, indignado. — Você vai mesmo fingir que não sabe do que estou falando? É a merda da terceira vez que eu passo na sua casa e você não está, Hermione. Terceira vez, fora antes disso em que você quis deixa-la com seus pais para fazer Mérlin sabe o que, não é mesmo? Não se preocupe que Gina não vai deixar de aturar você depois de saber que você não é tão princesinha quanto todos pensam, pode falar o que anda fazendo.

— Você está bêbado, ou pior, está drogado. — Hermione respondeu, ainda chocada com as acusações. — Faz um mês que eu fico em casa com Rose todos os finais de semana, contando as horas com ela, porque ela fica esperando o papai dela aparecer em algum momento e leva-la para algum lugar, ou somente ficar lá com ela. Perguntar como foi o dia dela, a semana dela ou só assistir o maldito filme que ela quer que você assista porque tem um personagem ruivo. A porta fica aberta até tarde da noite faz um mês, porque ela espera que você apareça mesmo em dia que ela sabe que você trabalha, porque sua filha tem esperanças de que você fosse aparecer normalmente como fazia antes. Mais de uma vez eu a encontrei chorando, Fred Weasley, porque o papai dela não estava ali naquele momento. O herói dela estava ocupado demais com Mérlin sabe o que para passar dar um oi, não é mesmo? — a garota sentiu a voz tremer e percebeu que Harry e Draco estavam parados na porta, o loiro com a varinha em mãos e expressão assassina no rosto. — Eu não sei que merda você anda fazendo da sua vida, Fred, mas se alguém errou nesse último mês, esse alguém foi você.

— Você realmente acha que eu vou cair nesse papinho, Hermione? — o ruivo a olhou ressentido e com ainda mais raiva. — Você sempre foi ótima para inventar histórias mas nunca conseguiu fazer isso comigo. Ou acha que eu gosto de dar com a cara em portas fechadas o tempo todo?!

— E o que diabos eu ganho mentindo sobre isso? — Hermione berrou, largando a varinha num canto qualquer. — Ou você acha que eu gosto de ver minha filha sofrer?

Nossa filha, você quis dizer.

— Tem certeza que tem agido como pai ultimamente? — Granger retrucou, arrancando meio sorriso de Draco e fazendo os dois Potter se olharem.

— Provavelmente não, e isso graças a você. — Fred perdeu o controle da situação, ignorando a irmã de vez. — Eu não ia levar tão a sério assim, Hermione, porque você nunca foi assim, mas acho que a convivência com pessoas erradas influencia diariamente na sua personalidade. Eu pesquisei e isso existe, e você não tem deixado outra alternativa a não ser isso.

— Do que está falando?

— Eu quero a guarda de Rose. — o ruivo falou sério, chocando todos no pequeno quarto e arrancando uma gargalhada histérica de Hermione.

— Você não vai fazer isso. — a morena retrucou, focando nos olhos verdes que tanto admirava e ainda rindo. — Eu tenho que admitir, Fred, foi uma das suas melhores brincadeiras até hoje. Mas já está na hora de colocar um fim nisso, está tarde e você já fez escândalo demais em um lugar onde você nem deveria estar. — Hermione sorriu ao explicar a situação como se falasse como uma criança e sentindo a raiva transbordar ao ver a expressão firme no rosto de Fred.

— Você realmente não é mais a mesma, mas não tem problema. Vamos ver o quão longe vai com isso quando a maldita intimação aparecer na sua casa. — Fred passou a mão pelos cabelos ruivos e bufou, passando por Harry e Draco e esbarrando nos dois ao entrar no quarto ao lado, onde Rose se escondia. Forçando um sorriso, ele tentou suavizar a voz ao falar com ela. — Oi, princesa. O que acha de dormir com o papai essa noite?

— E-eu não sei, papai... — a ruivinha estava assustada, nunca ouvira seus pais gritarem desse jeito, muito menos um com o outro e não sabia direito o que fazer naquele momento. Ficara tentada com o convite, mas sabia que precisaria da permissão da mãe para isso e não conseguia vê-la dali.

— Sua mãe não se importa, meu bem. — Fred comentou, fazendo com que Hermione aparecesse na porta, se colocando em frente a Draco e puxando a varinha dele para o próprio bolso. — Podemos matar a saudade, o que acha?

— Pode ser. — Rose confirmou depois de olhar para Hermione, que forçou um pequeno sorriso. Voltando para a cama onde estava, a ruivinha procurou pela coruja e calçou os próprios sapatos, dando tempo para mais um comentário de Fred.

— É melhor se acostumar com isso, Hermione, porque foi você quem pediu por isso. — o ruivo sussurrou antes de se afastar e pegar a filha no colo, aparatando com ela no final do corredor. — E não pense que eu não sei das baboseiras que você fala para Rose sobre Júlia, isso também não vai ficar assim.

— Mas o que....

— Que merda toda foi essa? — Gina interrompeu Harry, questionando indignada a cena que havia presenciado. — Quem diabos abduziu meu irmão por aquilo?

— Acho que sabemos muito bem de quem foi a influência para isso, não é mesmo? — Draco bufou, recebendo olhares de Harry e Gina, que deixaram claro, naquele momento, que não sairiam dali sem explicações. — Por que deixou que ele a levasse?

— E-eu não... Eu não sei. — Hermione sussurrou, sentando-se no chão e sentindo o impacto das palavras de Fred, deixando, pela primeira vez em meses, as lágrimas jorrarem pelo rosto.


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