Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 48
Magia




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A pena de Harry seria capaz de hipnotizar Hermione com sua velocidade se a garota não estivesse tão absorta em seus próprios relatórios naquela tarde. Os dois não ouviam nada além do arranhar das penas nos pergaminhos, focados em terminar as inúmeras pilhas que – magicamente – acumularam em suas mesas nas últimas semanas, pensando em inúmeras maneiras de, além de resolver os próprios problemas, terminar a pilha antes que o outro, tornando aquele silêncio quase suportável. O rapaz, que havia recém chegado da lua de mel, trabalhava em um caso de prisão de um dos últimos comensais ainda soltos, e praticamente não piscava enquanto lia os relatórios dos aurores alemães que, até então eram responsáveis pelo caso, enquanto Hermione trabalhava em seu último caso para o Departamento de Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, o último dos casos nos quais trabalhava desde Buenos Aires e o único que lhe separava de uma conversa com o Ministro da Magia, como haviam combinado. Conversa essa que determinaria seu futuro dentro do Ministério, e o departamento em que atuaria.

— Eu realmente não entendo o que leva uma pessoa a tudo isso. — Harry suspirou, o que pareceram horas depois, fechando e encerrando mais um relatório. — Esse comensal vem deixando rastros e mais rastros durante as fugas, como se quisesse ser encontrado, sabe?! O problema é que esse... Monstro não deixa rastros através de mensagens ou, não sei, uma casa destruída. Ele simplesmente mata elfos domésticos, e o pior, sem usar magia. Tortura, Hermione. Em que ano estamos, Idade Média? É frustrante.

A garota parou por alguns segundos, analisando as palavras de Harry. Crueldade não era o suficiente para a situação, e precisavam de uma solução para aquilo e, principalmente, prender o maldito comensal. Porém antes que ela pudesse concordar ou responder o amigo, sua mente fez um click, ligando todos os pontos que ela analisava aquele tempo todo: os sumiços de elfos nos mais diversos lugares do globo, as mortes inexplicáveis e todo o resto que ela estudava desde que chegara a Buenos Aires, e tudo isso se conectava ao mais novo caso de Harry, para o qual ela já tinha mil e uma teorias e planos articulados.

— Conheço esse olhar. Você teve uma ideia, não teve? — o moreno suspirou, sorrindo mesmo que sem querer.

— Vai ter que me desculpar, Harry. Eu sei que você fez o ministro em pessoa me proibir de atuar em campo de batalha, mas acho que esse caso agora é nosso e eu tenho o que você precisa para pegarmos esse cara.



(...)

— Eu não acredito!

— Como se alguém tivesse dúvidas de que Hermione é brilhante. — Harry sorriu, largando o copo na mesa e sorrindo para a amiga. Era sábado à noite e, como sempre, eles estavam reunidos na casa dos Weasleys, a pedido de Molly.  

— É claro que ninguém tem dúvidas disso, Harry. Mas você tem noção de quantos aurores estavam nisso antes?! Quer dizer, eles precisaram de ajuda para resolver algo que Hermione fez em o quê?! Cinco minutos. — Rony sorriu, enfiando mais uma garfada na boca antes de continuar. — E eles ainda têm coragem de dizer que são os melhores.

O trio comemorava a resolução do caso, enquanto Hermione tentava não se distrair tanto. Sabia que agora teria que decidir o que vinha adiando por quatro anos, mas ainda não se sentia pronta para uma troca de departamentos. Ou apenas não estava segura sobre isso. Ignorando os deboches de Rony, serviu a filha mais uma vez e voltou sua atenção para o próprio prato, quase vazio: depois de quase três semanas, podia voltar a saborear as delícias da Sra. Weasley sem se preocupar com olhares ameaçadores ou com ter que cuidar com quem conversava.

Assim que terminaram de comer, Gina e Hermione expulsaram Molly da cozinha, alegando que podiam cuidar da louça enquanto eles poderiam ir conversar na sala, e que, de preferência, fizessem Harry e Rony parar de comentar sobre a tarde no campo de batalha que o trio tivera. Depois que conseguiram liberar o ambiente e enfeitiçar a louça para que se limpasse sozinha, tudo o que Gina e Hermione fizeram foi sentar à mesa e colocar os papos em dia, falando sobre tudo e nada enquanto riam bastante, parando somente quando Molly invadira a cozinha para servir a sobremesa que havia esquecido, levando a dupla para a sala com ela. Reunidos, agora com os gêmeos, desfrutaram de mais uma das delícias culinárias da matriarca.

Eram quase dez da noite quando Rose, mesmo entretida na brincadeira com o pai, começou a bocejar e piscar mais lentamente, fazendo Hermione sorrir por um momento observando os dois. A ruivinha estava cada vez maior e a garota quase não conseguia acompanhar o crescimento da filha, que agora passava a maior parte dos dias longe dela. Tinham as noites e os finais de semana – exceto os que a pequena passava com o pai – para tirarem o tempo atrasado, mas para Hermione não era a mesma coisa: ela se acostumara a ter a filha perto dela o tempo todo e, embora quase fizesse um ano que estavam de volta a Londres, não se acostumara muito bem com a nova rotina.

Quando viu que a pequena não aguentaria muito mais tempo, encontrou o olhar de Fred em sua direção e acenou antes de desviar dos olhos dele. Chamou o nome da filha e sorriu, indicando as escadas e o andar de cima, onde sempre deixavam suas coisas e para onde Rose seguiu, correndo, depois de olhar de Hermione para o pai e sentir o coraçãozinho bater mais forte. O mais rápido que pode, Rose subiu as escadas até o quarto do pai e repetiu os gestos que vira Hermione fazer inúmeras vezes: respirava fundo várias vezes seguidas, tentando se acalmar. Havia tanto tempo que não podia brincar com o pai, sem a amiga dele para atrapalhar, que Rose havia esquecido que não podia mais fazer isso. A moça chamada Júlia havia dito que machucaria sua mãe, e que jogaria Mack e Nina pela janela se as vissem com Fred, e até apontou um pedaço de madeira para elas – o que pareceu assustar Hermione, e Rose sempre achou que nada pudesse assustá-la. Então quando ela percebeu que estava perto do pai, mesmo que depois de tanto tempo, lembrou que não podia mais fazer isso, mesmo que a deixasse com vontade de chorar – o que ela fez assim que viu Hermione parada na porta.

— Rose? — a morena chamou, um tanto preocupada com as lágrimas que corriam silenciosamente pelo rosto da filha. — Meu bem, o que houve?

— Me desculpe, mamãe. — a pequena aceitou de bom grado o colo que recebeu, enterrando o rosto no pescoço da mãe em seguida. — Eu juro que foi sem querer, eu juro de dedinho.

— Hey, está tudo bem. Mas eu preciso saber o que aconteceu para ajudar você, filha.

— Eu estava com o papai, mamãe. E eu sei que não posso fazer isso, e agora aquela moça vai apontar aquela madeira para você de novo e vai jogar a Nina e a Mack pela janela, e vai fazer você e eu chorar de novo, mamãe. Mas eu juro que foi sem querer, eu estava com tanta saudade do papai que eu não lembrei que não podia. — Hermione sentia as lágrimas da filha contra sua camiseta mas aquilo não importava no momento. Ela sentiu seu coração errar uma batida quando Rose mencionara a tal moça e se forçou a respirar fundo, abraçando Rose e colocando-a na cama de Fred em seguida.

— Rose, olha para a mamãe. — a morena passou a mão pelo rosto da filha, secando as lágrimas que ainda caiam. — Quando foi que a moça disse isso para você?

— Aquele dia que o papai me levou na praça, quando ele foi comprar pipoca. — Hermione fechou os olhos, pensativa. Três semanas atrás.

— Por isso você não quer mais sair com ele, filha? — ela sentiu vontade de chorar quando a pequena assentiu, suspirando em seguida. — Ah, meu amor. Vem aqui. — Hermione abraçou a filha mais uma vez, sentindo suas mãos tremerem. — Olha pra mim. Eu nunca vou deixar Júlia fazer nada com você, okay? Muito menos impedir você de ficar com seu pai, porque eu sei que você não quer ficar longe dele. 

—Não quero mesmo, mamãe. Eu amo meu papai e sinto falta de assistir filme de princesa com ele. — a pequena suspirou, parando de chorar. 

—  E eu sei que ele ama você, e que ele sente muita falta de assistir filme e passar um tempo com você. E eu acho que se você disser isso para ele, vai deixá-lo bem feliz. 

— Mas, mamãe, e aquela moça com a madeira? 

— Ela não vai fazer mal a  você, nem Mack e Nina. Eu prometo. 

— Obrigada, mamãe. — Rose pulou em Hermione mais uma vez, agora sorrindo e um tanto mais calma, e a abraçou por alguns minutos até lembrar da novidade: — Mamãe, Mack aprendeu a voar! 

—O... O que? 

—É. Olha, mamãe. Agora ela vem até onde eu estou, não preciso levantar e buscar ela. Quer ver?

Hermione olhou para a coruja de pelúcia na cama de Jorge e não sabia se beliscava o próprio braço, sacava a varinha para averiguar aquilo tudo ou se simplesmente chorava. Ela assistiu em silêncio enquanto Rose sorria e agarrava, no ar, o bichinho favorito da filha, que não entendia o grande e repentino sorriso no rosto da mãe.

 

— Desde quando você… Ela… Desde quando ela voa, meu bem? — Hermione perguntou, tentando não pular de alegria.

 

— Fazem alguns dias, mamãe, mas eu esqueci de contar antes. Ela faz isso quase sempre, agora. — a pequena deu de ombros, arrumando Mack no colo.

 

— Alguns dias, okay. — a morena caminhou até as escadas, chamando alto o nome de Fred, mesmo sabendo que aquilo chamaria a atenção da casa inteira. — O que acha de mostrarmos isso ao seu pai? Ele vai adorar saber que Mack aprendeu a fazer isso sozinha.

 

— Você acha, mamãe? — a ruivinha sorriu com a possibilidade de aproveitar mais alguns minutos com o pai, além de mais tempo acordada em um dia normal.

 

— Tenho certeza, meu amor. Além do mais…

 

— Hermione, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Rose… — Fred chegou à porta esbaforido, sem ar pela corrida escada acima, e se acalmou ao encontrar as duas sorrindo em seu quarto.

 

— Está tudo bem. — Hermione respondeu, sorrindo para ele. Um sorriso que ele não via há muito tempo. — É só que Rose tem algo para lhe mostrar, e eu tenho certeza que você vai amar tanto quanto eu. — o sorriso da garota aumentou diante do olhar confuso do ruivo, intercalado entre uma e outra. — Filha, você pode pedir para ela fazer outra vez?

 

— Fazer o que?

 

— Mack aprendeu a voar, papai. Olha. — Rose apontou para a coruja, que voava até o rapaz, e não demorou muito para ele entender a situação e começar a rir, os olhos brilhando com a confirmação de Hermione.

 

Fred olhou para a corujinha no ar mais alguns instantes antes de ir até a filha e tirá-la do chão em um abraço, comemorando a descoberta. Claro que suspeitavam que ela era bruxa, ainda mais por ser filha de quem era, mas nunca imaginaram que Rose demonstraria magia com apenas quatro anos de idade: devia ser uma espécie de record ou algo do gênero, e claramente era o que menos importava. O ex casal sabia que teria uma longa jornada para contar sobre o mundo da magia para a ruivinha, mas a alegria do momento era maior. 

Grande o suficiente para esquecerem de todo o resto, das ameaças, noites mal dormidas, dos arrependimentos e até mesmo da família, um tanto preocupada no andar de baixo, e apenas curtirem o momento que, querendo ou não, era apenas dos três.

(...)

 

— Magia como a fada madrinha da Cinderela? — Rose fez mais uma tentativa, concentrada em tentar entender tudo aquilo.

 

— Cinde o quê? — Fred sussurrou, fazendo uma careta e arrancando um suspiro cansado da filha.

 

— Cinderela, papai. A princesa do vestido azul e sapatinho de cristal.

 

— Ah, claro. — o ruivo respondeu, olhando para Hermione e tentando, da melhor maneira, fingir que havia entendido a referência enquanto Hermione apenas sorria.

 

Haviam explicado algumas coisas para a ruivinha sobre a magia, como as coisas funcionavam naquele mundo e o motivo de Mack voar sozinha, além da utilidade da varinha - parte que precisou de certo cuidado de Hermione.

 

— Isso mesmo, mas as coisas não funcionam exatamente iguais a Fada Madrinha. — a morena respondeu Rose, que alargou ainda mais o sorriso.

 

— Isso é tão legal! Eu preciso contar para o tio Draco! — a ruiva exclamou, fazendo Fred diminuir o sorriso no rosto e ficar um tanto tenso. — Nós podemos ir até lá contar, mamãe? Ou esperar ele chegar?

 

— Ele está trabalhando agora, filha. Além do mais, está tarde e você deveria estar dormindo. — Hermione fingiu não reparar em Fred e apenas tentou manter o sorriso no rosto antes de prosseguir. — Mas como você é uma mocinha muito comportada e sortuda, toda a sua família está lá embaixo esperando para ouvir essa novidade. O que acha de descer e contar?

 

— Eu posso? — o olhar brilhante de Rose alternava entre a mãe e o pai, se juntando num sorriso quando recebeu a confirmação. Ela abraçou Fred mais uma vez antes de descer as escadas quase correndo, a corujinha ainda no colo.

 

No quarto, Hermione se limitou a pegar a bolsa e conferir se não havia esquecido nada, o coração batendo mais forte que ela desejava, enquanto o ruivo continuava sentado, em silêncio. Havia muito a ser dito naquele momento, embora os dois soubessem que o melhor a se fazer era nem, sequer, pensar no assunto.

 

— Desculpe por ter te chamado daquela maneira, eu não quis assustar. — a garota forçou um sorriso, tentando parecer calma ao arrumar a bolsa no ombro. — Apenas achei que seria bom se você fosse o primeiro a saber, não é qualquer dia que sua filha de quatro anos faz magia sozinha, então…

 

— É claro, não se preocupe. — Fred sorriu, desviando os olhos azuis do castanho de Hermione. — Acho melhor nós descermos, antes que ela diga algo confuso para eles. — o rapaz levantou, ficando de frente para Hermione. — Além do mais, está ficando tarde e Malfoy deve estar te esperando em casa.

 

— Fred. — Hermione chamou, impedindo o ruivo de sair do quarto. — O que quis dizer com isso?

 

— Nada, só que não acho que seja legal deixar seu… deixar Malfoy te esperando, e Rose deve dormir mais cedo então…

 

— Olha, eu sei que você tem essa coisa com insinuações, e apesar de tudo eu vou lhe explicar mais isso. — a garota deu um passo à frente, suspirando. — Draco e eu não estamos juntos, somos apenas amigos e eu sei que te incomoda o fato dele e Rose serem tão ligados. Mas isso não significa que você tenha que descontar isso em mim. Você sabe muito bem que ninguém vai tirar seu lugar na vida dela.

 

— Sei disso, estou apenas comentando, Hermione. — o ruivo respondeu, o sorriso desaparecido do rosto há algum tempo. — Além do mais, não importa para mim se você está ou não com ele. Você sabe que decisões tomar na própria vida.

 

A morena ajeitou a bolsa no ombro antes de sorrir ironicamente, passando pelo ruivo um tanto ofendida, e responder:

 

— Tem razão, eu sei quais decisões são melhores para mim, das quais não vou me arrepender. Assim como você sempre soube, não é?


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