Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 46
Segredos




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Hermione tentava se concentrar apenas no almoço de Rose. Ainda sentia seu corpo tremer e seu coração bater acelerado contra o peito, mas estava dando seu máximo para disfarçar o desconforto embora soubesse que não estava tão bem-sucedida quanto gostaria: seu prato ainda estava intocado e ela estava em silêncio, apenas fingindo prestar atenção nas conversas em seu redor. Por mais que tentasse, sua mente vagava para minutos atrás, para as ameaças que tinha ouvido e no que se obrigaria a fazer, mesmo sem entender a situação em um contexto geral. Sabia que sempre estivera errada ao deixar Fred e ela se reaproximarem, sabia a gravidade da situação, mas não sabia que aquilo resultaria em uma Júlia tão perigosa e, de certa forma, insana. As duas nunca haviam tido conversas tão longa quanto aquela, portanto não se conheciam muito bem, mas não pareceu obstáculo para a modelo, que agora tinha tudo na palma das mãos.

Evitou olhar para a garota, que comia ao lado de Fred e continuava focada em ajudar Rose, que parecia mais calma enquanto aproveitava as delícias da avó. Evitava Draco também, sabia que se os olhos cor de tempestade do rapaz a encarassem por mais que alguns segundos estaria perdida: por mais que negasse, ele a conhecia melhor que ninguém – melhor até que ela mesma – e tudo isso em apenas alguns anos de convivência. Baixou o copo que Rose ajudava a segurar e lhe entregou um guardanapo, sorrindo ao deixa-la limpar a boca sozinha. As duas haviam conversado brevemente assim que Júlia deixara o quarto, enquanto tiravam o pijama da ruivinha, que ainda estava assustada com a amiga do pai. Perguntara a mãe o que havia sido aquilo, ou porque a modelo apontava um objeto estranho para elas e também por que Hermione tremia enquanto a abraçava. Eram muitas perguntas e ela não entenderia nenhuma das respostas no momento, mas não conseguia segurar a curiosidade – característica que, claramente, havia herdado da mãe.

— Meu amor, é muito cedo para você tentar entender o que acabou de acontecer aqui, até porque nem a mamãe entende. —sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto e logo a mãozinha de Rose tirou-a dali, fazendo a morena sorrir brevemente. — Mas você precisa me prometer algo. Você não pode contar para ninguém sobre o que aconteceu aqui, entende? Eu sei que não faz muito sentido, mas a mamãe precisa que você faça isso, que mantenha isso como nosso segredo. Você acha que pode fazer isso por mim?

— Posso sim, mamãe. — Rose assentiu, se jogando nos braços de morena, que a abraçou por mais tempo que o necessário. Deixou Hermione terminar de arrumá-la em silêncio, mas não conseguiu se conter quando levantaram para descer para o almoço — Não posso contar para o papai e nem para o tio Draco, não é?

— Infelizmente, não, meu amor.

— E para Mack e Nina?

Hermione se permitiu sorrir novamente ao lembrar da pergunta da filha e finalmente virou-se para seu prato, comendo lentamente e sem fome alguma, o estômago embrulhado demais para comer normalmente. Serviu o copo com água e logo esvaziava-o novamente, sorrindo ao ver Gina e Harry sussurrando, chamando a atenção da família logo em seguida. Assim que a notícia foi dada, o almoço foi esquecido por bons minutos, substituído por trocas de abraços e felicitações vindos de todos, até mesmo a pequena Rose, que não entendia muito bem tudo aquilo, mas fez questão de abraçar a tia e o tio mesmo assim. Hermione abraçou a amiga em seguida, brincando que era especial por saber da novidade antes de todos, mas sorriu quando a amiga perguntou, em sussurros, como havia sido a noite.

— Diferente de você, Senhora Potter, dormi muito bem. Agora pare com isso antes que mais alguém escute essa sua loucura.

— Irei — Gina sorriu, piscando para Hermione e olhando para Draco em seguida. — Depois que me disser onde vocês, supostamente, dormiram.

— Gina. — repreendeu a morena, rindo com a amiga e se deixando levar na brincadeira. — Na casa dele, mas realmente só dormimos. Você sabe que é apenas coisa da sua cabeça.

— Claro que sim, Mione. As caras de cansados de vocês dois confirmam muito bem que apenas dormiram. — a ruiva gargalhou ao deixar Hermione sem palavras, abraçando-a mais um vez. — Mas saiba que estou extremamente feliz por vocês dois, mesmo que continuem mantendo em segredo.

 As duas encerraram o assunto com a aproximação do loiro e logo já ajudavam Molly a recolher a mesa, vendo a sobremesa voar sobre suas cabeças enquanto conversavam sobre a novidade e assistiam a louça se limpar sozinha. Rose corria pelos jardins junto com Victorie, os Weasley’s e Harry conversavam na sala e não demoraria muito para Gina, Hermione e Claire sumirem pelas escadas – Júlia esquecida propositalmente – para conferirem as malas da recém-casada, que partiria para a lua-de-mel em minutos. Aproveitaram o clima ameno e deram boas risadas antes de se despedirem e descerem para a companhia dos outros novamente, a bagagem completamente organizada em uma bolsa enfeitiçada por Hermione, o que facilitaria a vida do casal durante a viagem de alguns dias. Assim que o casal aparatou, as conversas continuaram na mesma intensidade, os ruivos tão animados quanto poderiam com a chegada do novo membro da família e Hermione aproveitava para conversar um pouco mais com a namorada do melhor amigo: conhecia Claire há poucos dias, mas as duas haviam se dado muito bem, conseguiam conversar sobre qualquer coisa sem muito pudor e timidez.

A morena sentia Draco um tanto mais tenso ao seu lado, tentando manter uma conversa civilizada com Rony, que também parecia se esforçar, ambos sem sucesso. Hermione era extremamente grata aos dois por tentarem fazer dar certo, e compreendia a dificuldade de interação: com Harry no meio, as coisas se tornavam mais fáceis considerando que ele tentava conciliar o gênio forte dos dois, fazendo a conversa fluir, assim como Hermione. Com Harry ausente e a garota ocupada, os dois não passavam de poucas palavras, controlando as próprias bocas para não proferir nenhuma ofensa. Terminou mais uma das risadas com Claire virando-se para o rapaz e sorrindo em seguida.

— Quer ir embora? — perguntou baixinho, vendo-o controlar o próprio alivio.

— Se isso não for um problema... — o loiro respondeu, vendo a amiga sorrir e levantar, chamando Rose nos jardins. Não que ele não gostasse dos ruivos, bem pelo contrário: aprendera a adorar tudo aquilo que uma vez caçoava. A casa era humilde sim, mas tão mais cheia de vida e amor que Draco daria qualquer coisa para ter crescido ali, na família que lhe acolhera tão bem, mesmo depois de tudo. Mas sem Harry e Gina por ali, e com a presença de Júlia, as coisas ficavam um pouco mais tensas para ele, que ainda não sabia como conversar normalmente com os ruivos, por medo de algum ressentimento. Agradecia Hermione por entender, mas suspeitava que havia algo por trás do olhar dela ao perguntar, como se ela própria estivesse aliviada por poder sair dali.

Não demorou muito para a garota voltar para a casa, indo direto até a Senhora Weasley e se despedindo da segunda mãe com um abraço terno, trocando algumas palavras.  Se despediram de todos e Hermione já carregava a bolsa no ombro quando Rose apareceu, esbaforida e sorridente. Deu tchau para a família e observou o pai e a amiga se aproximarem de Hermione e Draco, conversando por breves minutos. Fred se abaixou para dar um abraço na filha e sorrir ao propor:

— O que acha de irmos dar uma volta, princesa? Podemos tomar sorvete naquela praça que você gosta e Júlia pode lhe mostrar a nova loja de brinquedos. — o sorriso da pequena vacilou ao ouvir o nome da modelo, lembrando da conversa que tiveram. Não queria passar por aquilo novamente, ainda mais sem a mãe, e sabia que seria assim: sempre que Fred as deixava sozinhas, mesmo que por breves segundos, Rose não se sentia confortável com as repreensões e xingamentos, ainda mais quando percebia a mudança da mulher na volta do pai. Deu um abraço apertado em Fred e disse baixinho, chamando a atenção do resto dos Weasleys:

— Eu quero ir para casa, papai. Só com a mamãe e o tio Draco. — deixando todos os adultos sem reação, a pequena ruiva correu para o colo da mãe, que evitava o olhar de qualquer um. Tentou argumentar com a filha, comentando que deveria passar um tempo com o pai sem se preocupar, mas soube que era uma batalha perdida quando encarou os olhos esverdeados da filha, cheios de lágrimas. — Eu só quero ir para a casa, mamãe. Por favor.

Draco conduziu a aparatação assim que se despediram novamente, suspirando ao encontrar Bichento dormindo perto da porta da cozinha. Viu Hermione e Rose caminharem até a sala, ligando a televisão em um filme qualquer e logo seguiu a morena escada acima, ainda em silêncio enquanto ela deixava as coisas de Rose no quarto, entrando no seu em seguida. Sentou-se com ela na cama, finalmente quebrando o silêncio:

— Vai me contar o que aconteceu antes do almoço ou vou ter que ler sua mente para isso?

— Não aconteceu nada, Draco. Apenas demoramos porque eu não estava achando as coisas, não lembrava onde tinha deixado. — a garota forçou um sorriso, soltando os cabelos da trança e levantando em seguida, os sapatos sendo deixados em um canto qualquer.

— E imagino que foi isso que deixou Rose abalada a ponto de chorar, não é? — o loiro comentou, bufando ao lembrar do olhar da pequena ao chegar na sala e pular em seu colo.

— Ela teve um pesadelo. Apenas isso, Drac...

— E foi tão horrível assim que mexeu com você também? Hermione, não me faça de bobo. Conheço você e conheço sua filha, sei que precisam de mais que um pesadelo para ficarem nesse estado. — o rapaz também estava em pé, e se aproximava da amiga que evitava seus olhos. — Eu não acho que tenha sido um pesadelo que fez Rose negar um pedido do pai, e muito menos que tenha sido você. Mas não pense que eu não percebi que Júlia voltou um pouco antes de vocês com um maldito sorriso no rosto, bem ao contrário de vocês. O que aconteceu lá, Hermione?

— Draco...

— Olha para mim, Mione. — o rapaz se aproximou da amiga, procurando o olhar dela. Surpreendeu-se por encontrar desespero e algumas lágrimas nos olhos de Hermione e puxou-a para um abraço que durou longos minutos. Ela parecia pensar em mil coisas diferentes e respirou fundo antes de soltá-lo, sem se afastar.— O que houve?

— Draco, por favor. — Hermione sussurrou, respirando fundo. Sabia que sentiria melhor se contasse ao rapaz, confiava nele cegamente, mas no fundo também sabia que não podia correr o risco. Ainda mais sendo tudo tão recente. 

Suspirou quando sentiu o loiro se afastar e preparou-se para um ataque de raiva ou algo do tipo, mas o silêncio dele pareceu mil vezes pior diante da situação. Draco sabia que algo estava muito errado, assim como sabia que Hermione era teimosa até demais, não contaria tão fácil mesmo que ele implorasse, e isso não facilitava em nada: a conhecia bem demais para que ela conseguisse esconder algo dele e estar fechada dessa maneira irritava o loiro, que sentia cada pedacinho do cérebro trabalhar. Hermione era mais forte que qualquer pessoa que ele conhecia, e Rose, apesar da pouca idade, seguia pelo mesmo caminho, não se descontrolariam por qualquer coisa. Além do sorriso presunçoso de Júlia ao chegar na sala, feliz como se não houvesse amanhã. 

Bufando, Draco sentou-se na cama, bagunçando os cabelos e um tanto frustrado. Era apenas questão de tempo para que ele ligasse os pontos, e Hermione sabia disso, mas não era momento para conversarem sobre aquilo. Ela precisava esquecer de Júlia e, consequentemente, de Fred. Precisava de uma maneira de afastá-lo, mas somente de si: se dependesse dela, o ruivo não perderia mais nada da vida da filha e nem a modelo poderia impedir isso, Hermione estava determinada a devolver aos dois os momentos que haviam perdido e sabia que os dois queriam o mesmo apenas pelo brilho no olhar que tinham quando passavam o dia juntos, a felicidade que emanavam. E para ela, acima de tudo, a felicidade de Rose era o que importava.  

Os dois levaram alguns minutos para se acalmar, sentados na cama em silêncio. Depois de alguns minutos, Draco suspirou e segurou a mão que Hermione estendia, caminhando com ela até as escadas. Tentou sorrir quando Hermione entrelaçou suas mãos, no topo das escadas, ela sorrindo ao ouvir o som do filme animado no andar de baixo.

— Vamos lá, Malfoy. O último que chegar na sala faz a pipoca!


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