Como Se Ainda Fosse Real escrita por Anna


Capítulo 42
Calmaria




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— Aconteceu alguma coisa lá em cima que eu deva saber, dona Hermione? Porque essa sua cara não ajuda a esconder nadinha. — Gina encarava a amiga através do espelho, vendo-a ajeitar seu vestido. Faltava cerca de uma hora para a cerimônia e as garotas já estavam praticamente prontas: Rose com os cachos ruivos quase soltos, presos apenas por uma tiara, já usava o vestido que, segundo ela, fazia com que parecesse uma princesa; Hermione estava pronta também, afinal, logo teria que descer checar os últimos detalhes e recepcionar os convidados. O vestido azul perfeitamente colocado em seu corpo, maquiagem e cabelo impecáveis e, por incrível que pareça, sentia um enorme sorriso no rosto. Mas não era para menos: era um dos dias mais felizes de dois de seus melhores amigos. A ruiva não ficava muito para trás também, o cabelo e a maquiagem já estavam prontos e ela insistira para colocar o vestido, mesmo com o tempo que teriam de sobra depois, além da ajuda de Luna, Molly e Claire, mas ali estavam elas, arrumando as saias de armação do vestido branco e bordado com prata e preto, que simplesmente ficava perfeito nela. Sorriram ao ver que Gina estava pronta, mas a ruiva não desistiu da pergunta: ainda mais sabendo que Fred estava no quarto quando Hermione subira, ainda mais sabendo que os dois estavam em uma situação complicada, ainda mais sabendo que os dois ainda se gostavam.
— Não aconteceu nada, dona Gina. — Hermione respondeu, suspirando. — Está tudo completamente normal. Agora, a senhorita vai se sentar nesse quarto, respirar fundo e relaxar, para o bem de todos nós. — as duas riram e a ruiva puxou Hermione para um abraço, respirando fundo.

— Obrigada, Mione. De verdade. — o sorriso de Gina parecia não caber no rosto, mas o que preocupava a morena eram as lágrimas que se formavam nos olhos da amiga. — Você é definitivamente a melhor madrinha de casamento de todos os tempos!

— Gina, a maquiagem! Não é a hora de chorar ainda, pare com isso. — Hermione passou os dedos no rosto da noiva, que tentava se controlar. — Você não tem que me agradecer por absolutamente nada, e você sabe disso. Você é minha melhor amiga e eu faria isso por você quantas vezes fosse necessário, mas por favor, que essa seja a única.

— Pode ter certeza que vai, Harry Potter não vai escapar de mim tão cedo! — Gina gargalhou, sentando-se na própria cama. Ficaram alguns minutos em silêncio, enquanto se acalmavam, até a ruiva falar novamente — Então isso significa que você não ficou brava comigo por não estar lá na frente? Quer dizer, oficialmente.

Hermione caminhou até a cama, deixando a varinha de lado por um momento - pensaria onde coloca-la depois – e sentou-se ao lado da amiga, segurando sua mão.

— Gina Weasley, qual parte do você é minha melhor amiga que você não entendeu? — a morena colocou uma das mechas soltas do coque atrás da orelha, sorrindo. — Eu te ajudei em cada detalhe desse casamento, literalmente, desde a decoração e convidados, até seu vestido e sua lingerie. Eu nunca me importaria por não estar lá na frente, não sabendo que você confia em mim o suficiente para te ajudar com o dia mais importante da sua vida, e ainda mais sabendo que você confia em mim o suficiente para me contar sobre o bebê Potter. Eu não mereço tanta confiança assim, mas eu nunca ficaria sentida por isso. Eu ficaria magoada se não tivesse me deixado ajudar. — as duas se abraçaram com cuidado para não tirar nenhum fio de cabelo do lugar e voltaram a sorrir. Encerraram o assunto por ali e começaram a conversar banalidades nos poucos minutos que ainda tinham até Hermione ter que descer. Conversaram sobre a gravidez de Gina, a reação de Harry e sobre como a carreira da ruiva no quadribol seria dali em diante enquanto Mione se dava por vencida e enfeitiçava a bolsa prateada para caber Mérlin e o mundo ali. Assim que terminou, colocou a varinha ali dentro – apenas até encontrar algum lugar no vestido para guarda-la – e se despediu de Gina, prometendo tomar conta de tudo se a amiga se acalmasse e ficasse ali no quarto, sozinha por apenas cinco minutos até Claire e Luna chegarem.

Saiu do quarto e, pela primeira vez naquela semana, A Toca estava quase silenciosa. Sabia que os Weasleys que ainda não estavam no jardim estavam nos quartos, terminando de se arrumar ou revendo qualquer detalhe que haviam deixado passar. Subiu até o quarto de Rony, onde o encontrou com Harry e, surpreendentemente, Draco. Cumprimentou os rapazes com um sorriso e logo começaram a conversar, o loiro sem saber muito bem como agir naquela situação. Havia aceitado o cargo de padrinho de Harry, no princípio, apenas por conta de Hermione, que era melhor amiga de Potter e, desde Buenos Aires até o momento, sua melhor amiga também, e sabia o quanto aquilo significava para ela, embora também soubesse que seu lugar era para ter sido ocupado por outro rapaz, mais velho e mais ruivo, mas para sua surpresa toda aquela situação não estava sendo tão horrível quanto ele e Harry pensaram que seria: Gina e Hermione haviam obrigado os dois a colaborarem um com o outro, trabalhando juntos e resolvendo detalhes insignificantes como verdadeiros padrinho e noivo que eram, mesmo que os dois não conseguissem manter uma conversa por mais que um minuto, e no final, para alegria de Gina e Hermione, os dois rapazes haviam organizado sua parte do casamento com êxito e zero mortes, e isso por si só já era uma grande vitória. O fato de estarem, pelo menos até ali, se dando bem, era como vencer um concurso universal sete vezes seguidas. Não que estivessem achando aquilo tudo ruim, era apenas estranho, afinal nunca na vida Harry e Draco, inimigos desde o primeiro dia em Hogwarts, poderiam imaginar que seriam quase amigos. Ah, o destino.

Ao verem o relógio marcar duas e meia da tarde, Rony e Draco – que tentavam, para o bem maior, se suportar – desceram para os jardins, como o planejado, mas não sem antes o ruivo dar a amiga um forte abraço, deixando de lado a briga e qualquer ressentimento, e sorrindo antes de ir. Quanto ao moreno, Hermione havia imaginado que Harry começaria a se arrumar poucos minutos antes da cerimônia e sabia que não o faria enquanto os amigos ainda estivessem ali: não por vergonha ou algo do tipo, mas por estar tão nervoso e ansioso que se envolveria e se distrairia com qualquer coisa a ponto de esquecer como se colocava a própria camisa.  Assim que ficaram sozinhos, a garota conseguiu observar o melhor amigo mais atentamente: apesar do enorme sorriso no rosto, pequenas gotas de suor escorriam na testa dele, e soube que ele tremia ao ver suas mãos enfiadas no fundo do bolso num dia como aquele – já estavam em meados de junho e a temperatura estava agradável, o sol raiava acompanhado de um lindo céu azul e o vento fazia as árvores e arbustos dançarem. O único motivo para as mãos de Harry estarem dentro do bolso eram o nervosismo, coisa que ela achava impossível, no fim das contas.

— E então, papai, como está se sentido? — Hermione quebrou o silêncio, procurando o terno e a capa de Harry em meio àquela bagunça que o Weasley mais novo chamava de quarto.

— Nervoso, e eu nem sabia que tanto nervosismo poderia caber em apenas uma pessoa, mas aqui esta... Papai? — o sorriso de Harry cresceu conforme ele percebia o que a amiga havia acabado de dizer, finalmente parecendo real, ainda mais real.  — Gina lhe contou?

— Ela não precisou. — Hermione se adiantou e abraçou Harry o mais forte que conseguiu. — Vocês vão ser os melhores pais desse mundo e eu estou muito feliz por vocês, Harry, de verdade. Agora senta aí, senhor Potter, porque eu preciso lhe deixar o noivo mais bonito que esse povo já viu ou sua esposa me mata!

Depois de dez minutos tentando domar os cabelos do rapaz, os dois desistiram e Hermione simplesmente umedeceu os fios, bagunçando-os de uma forma charmosa, enquanto Harry ria a expressão contrariada da amiga, por não conseguir fazer nada com seus cabelos um pouco rebeldes. Virou-se para a janela para que o moreno pudesse trocar de roupas e, de longe, viu Fred e Rose conversando, com sorrisos no rosto, enquanto ela apontava para o gnomo que espiava o lugar. Não conteve o sorriso e não percebeu a aproximação de Harry, que assustou-a num primeiro momento.

— Eles realmente se dão bem não, é?! — comentou, acompanhando o olhar distraído de Hermione.

— Desde o primeiro contato, não é irônico?! — a garota suspirou e sorriu, virando o corpo para o amigo e arrumando sua gravata. — Enfim, Harry Potter, você até parece decente! Gina Weasley que se cuide, hein!

— Fred e Malfoy que o digam, dona Mione. — o rapaz sorriu, ignorando o revirar de olhos da morena. — Tem certeza de que está bom mesmo? Quer dizer, o terno e a capa e...

— Está tudo perfeito, Harry. Tudo como planejamos, não se preocupe. — Hermione sorriu e percebeu que aquilo, naquele dia estava se tornando comum demais, como há tempos não era. Ela abraçou o amigo mais uma vez e fechou os olhos ao receber um beijo no topo da cabeça. Havia sentido falta de seus amigos naqueles quatro anos, só Mérlin sabia como, mas era gratificante saber que a conexão que tinha com Harry continuava ali. Sabia que ele havia ficado tão chocado e talvez até decepcionado quanto os outros, mas, desde que chegara de volta a Londres, ele foi o primeiro a saber de tudo, mesmo que agora não estivessem em seus melhores momentos por conta do afastamento de Hermione da missão e do cargo oficial que ocupava no Ministério. Ela tentava entender, tentava ver o lado de Harry, que apenas queria protege-la, mas ela também queria ajudar. Na prática e não com os papéis quase inúteis que analisava o dia inteiro, as correspondências irritantes que respondia ou com os problemas que tinha para resolver, que não exigiam absolutamente nada de seu cérebro. Mas sabia que aquele não era o momento, então apenas agradeceu a trégua gerada pela festa e rezou internamente para que as coisas permanecessem assim, calmas – era a única calmaria da qual realmente gostava. — Chegou sua hora de ser feliz, e não vou deixar que nada nesse mundo atrapalhe isso. Não agradeça, estou proibida de chorar antes do jantar e eu realmente não quero morrer hoje, não quero dar esse gostinho a Gina.

Os dois riram e Hermione se despediu do amigo, prometendo voltar para irem até os jardins juntos, quando fosse a hora. Até o momento havia disfarçado o próprio nervosismo ao conversar bobagens com os amigos, mas sozinha no meio das escadas, ela percebeu que estava tão nervosa quando Harry ou Gina: queria que tudo desse certo nos mínimos detalhes e, embora soubesse que tudo estava como haviam planejado, não conseguia parar de pensar se não esquecera alguma coisa. Respirou fundo quando chegou na sala d’ A Toca e sentiu o coração acelerar ao encontrar com Fred, agora pronto, novamente. As roupas perfeitamente no lugar, o cabelo arrumado pela primeira vez em tempos e o maldito sorriso no rosto: o combo perfeito para deixar qualquer uma maluca, inclusive ela. Conteve um suspiro ao vê-lo se aproximar e forçou seu corpo a se controlar, abaixando-se em seguida para abraçar a filha e ajeitar o laço do vestido dela, que sorria tanto quanto qualquer outro membro da família. Fez menção de subir com ela para o quarto de Gina, onde a pequena ficaria até o casamento, mas o ruivo a impediu, comentando que podia fazer isso por ela e que os convidados começariam a chegar a qualquer momento, convencendo a garota que fugiu para a cozinha assim que ele sumiu nas escadas. Tomou um copo d’ água para se acalmar, mas sentiu seu esforço ir por água abaixo ao encontra-lo ali, olhando intensamente para ela. Forçou-se a sorrir e passar reto, querendo correr até a porta, e se amaldiçoou ao sentir o perfume dele ao sair da cozinha. Não podiam continuar com aquilo, ainda mais ali, no meio de todos e no dia do casamento que também era para ser dele.

Hermione suspirou e caminhou até Draco, que já estava posicionado em frente a tenda onde os convidados se acomodariam. Cumprimentou o amigo novamente e voltou a respirar, tirando Fred da cabeça assim que começou a conversar com o loiro, que sabia exatamente do que ela precisava. Logo que as pessoas começaram a chegar, a distração passou de farsa para realidade e Hermione só se deu conta do horário quando viu que Molly e Arthur já estavam na sala da casa. Despediu-se de Draco rapidamente e foi até os ruivos, sorrindo. Finalmente estava na hora da cerimônia mais esperada do século.


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