Pov.Tris

Assim que entramos na sala da mãe do Tobias, cada se senta. É um lugar amplo, com paredes brancas e várias cadeiras ao redor de uma mesa de madeira escura. Têm fotos por todos os cantos. Tanto de eventos que já ocorreram no local, quanto de família e amigos de Evelyn. As que estão em maior numero são as de Quatro. Desde quando era menor, até matérias de jornal em que ele está como destaque ao lado de Marcus. A mais recente é a do anuncio de nosso casamento.

Sei que Tobias ainda está em choque com a noticia de sua mãe viva, então para tentar acalma-lo, eu pego sua mão com firmeza e faço carinho. Mas admito que não estou muito melhor. Ele retribui o gesto e se vira para Evelyn novamente, respira fundo e começa a falar.

– Saiba que eu estou muito feliz em saber que a senhora está viva- ele começa- Não há como dimensionar a minha alegria. Mas esse sentimento não chega nem perto da frustração e da raiva que eu estou sentindo nesse momento-uma lágrima escorre de seus olhos- O que realmente aconteceu?- ele pergunta.

– Bem- ela começa- Uma semana antes da minha "morte", eu e seu pai brigamos feio, pelos mesmos motivos que você já está cansado de ouvir. - ela faz uma pausa- Você. Provavelmente não se lembrará, mas ele o tinha te colocado no armário depois de te bater naquele dia.- ela diz- Assim que eu vi, tentei te tirar de lá, mas ele viu e começou a me bater dizendo que eu não era um bom exemplo de mãe e que não sabia educar o meu filho. Que uma criança só aprendia na base da pancada e que pelo jeito, uma mulher só saberia respeitar a marido se o mesmo a batesse. Eu fiquei transtornada. Não aguentava mais ficar de baixo do mesmo teto que ele. Então eu decidi que iria fugir para longe das garras de seu pai.- ela diz calmamente- Conversei com Edward e o convenci a me ajudar. Eu forjei a minha própria morte. Fiquei em casa naquele dia e dei um jeito de arranjar briga com Marcus. Não foi muito difícil, eu só tive que falar que ele não era homem e que eu nunca o respeitaria. Inclusive dei um tapa em seu rosto.- ela sorri como se lembrasse de algo- Ele não demorou para me bater. Me batia com as mãos pesadas, com o sapato, o cinto e com o resto dos móveis da casa. Eu resisti até o ultimo segundo.- eu me viro para Tobias. Ele está com uma cara de espanto e lágrimas nos olhos.- Quando ele saiu de casa, eu fiz um grande esforço para ligar para o Edward me buscar, não queria que você me visse daquela maneira.- ela diz se dirigindo a um Tobias perturbado- Assim que ele chegou, me colocou no carro e deixou tudo preparado para o momento em que Marcus chegasse em casa. Nós havíamos procurado por vários cantos alguém que se parecesse comigo dentre os cadáveres no necrotério.- eu fico surpresa a coloco as mãos na boca- Não destruiria uma família desse jeito. Eu me assegurei de que a moça não tinha ninguém. E por mais que eu me sinta péssima por isso até hoje, não teria feito diferente. Faria qualquer coisa para ficar longe de Marcus e manter Tobias a salvo.

– Me manter salvo?- pergunta Quatro nervoso- E COMO PRETENDIA FAZER ISSO ESTANDO LONGE DE MIM?- ele se levanta e bate na mesa.

– Eu posso ter errado em muitas coisas. Mas continuo sendo a sua mãe. Abaixe o tom para falar comigo Tobias Eaton.- Evelyn fala com a maior naturalidade e Quatro se senta novamente com medo da mãe. Até eu fiquei com medo.- Continuando... Edward tinha uma amiga, Molly, ela é maquiadora, e nos ajudou a deixar o cadáver irreconhecível. Devo admitir que, se aquele corpo fosse alguém conhecido por mim, eu não reconheceria nem em um milhão de anos. Mas precisava ser feito. Tudo o que eu queria era que Marcus chegasse, visse a mulher jogada no chão pensando ser eu, escondesse o corpo, fugisse e eu pegaria o Tobias para junto de mim- ela fala triste- Porém, você chegou mais cedo em casa e encontrou tudo daquela maneira horrenda. Perturbador demais para uma criança.- ela diz olhando para Quatro.

– Mas o que aconteceu depois?- eu perguntei curiosa.

– Bom, eu queria ter pego o Tobias, mas vários vizinhos apareceram logo em seguida, e não tinha como eu aparecer. Então eu fiz uma promessa a mim mesma que voltaria para pega-lo. Mas não naquela época, eu queria esperar ele ficar mais velho.- ela diz triste- Marcus ia descobrir que eu estaria viva. Por mais que ele não gostasse de Tobias, eu sei que ele o procuraria por todos os cantos até acha- lo. Aquele imprestável estava concorrendo à prefeitura, e a morte da mulher e o sumiço do filho poderiam conturbar sua propaganda, seria muito suspeito. Marcus precisava de Tobias, e se ele sumisse, contrataria os melhores detetives para procurá-lo. Já a mulher morta, geraria uma comoção, o que ajudaria em frente a multidão. Ele compraria a história do pai viúvo. E foi exatamente o que aconteceu. Não queria ter feito o que fiz e deixar meu único filho sozinho com aquele monstro, mas eu fiz isso para protege-lo. Teria que esperar ele ficar mais velho para contar-lhe toda a história. E eu achei que os seus 18 anos seria a época ideal. Por que ele já seria independente.- ela diz calmamente e se vira para Quatro- Mas então você foi atrás do Edward para que ele o ajudasse a investigar a minha morte, então nós enrolamos você para que não descobrisse tudo. Eu mesma queria te contar, porém teria que ser em Nova York. Se Marcus o visse viajando para Chicago para me ver o tempo todo depois de lhe contar, atrairia muita atenção. Seria perigoso se ele descobrisse.- ela fala olhando para Tobias, este que está em choque- Quando soube que estava de volta à Chicago, eu fiquei muito feliz. Te procurei em todos os lugares, mas não consegui te encontrar. E então teve o acidente da Tris.- eu estremeço só de me lembrar- Eu fui até o hospital na esperança de pelo menos te ver, sem ser vista. Eu precisava te ver. Mas o Marcus saiu machucado e xingando meio mundo na hora em que eu cheguei. Só tive tempo de me esconder e depois fugir antes de ser descoberta. Acompanhei as notícias pelos jornais e revistas. Quando descobri que vocês iriam se casar.- ela sorri sonhadora- Eu ia atrás de alguma coisa essa noite, mas então vocês apareceram. E aqui estamos nós.- uma lágrima escorre de seus olhos- Eu só quero saber se tem como você me perdoar...- ela diz para Quatro.

Assim que ela para de falar, meu mundo para. Eu, quer dizer, nós, sempre acreditamos em sua morte. E do nada, a encontramos. Como pode alguém fazer algo assim? Pegar um cadáver do necrotério, maquia-lo e fazer todo um teatro. Isso é no mínimo, loucura. Mas por outro lado, ela fez tudo por amor. Tudo para proteger o filho das mãos de um monstro inescrupuloso. Eu sinto medo de Evelyn nesse momento, porém a admiração supera tudo. Pode ser loucura, mas foi tudo muito bem pensado.

Eu olho para Tobias e vejo que ele encara o chão fixamente enquanto treme dos pés a cabeça. Lágrimas escorrem de seus olhos e seus dedos apertam o braço da cadeira de tal força, que os nódulos de seus dedos ficam da cor da parede. Brancos. Vejo que ele está em choque, sem saber o que fazer depois de toda essa revelação. Pego uma de suas mãos para acalma-lo e volto o olhar para Evelyn.

– Eu acho melhor nós...

– Não- fala ele me cortando e eu o olho confusa.

– Amor, você está aca...

– Tris- ele faz de novo e me olha com carinho- Eu estou bem. Só... um tanto chocado.- ele acaricia minhas mãos- E eu já sei o que vou fazer.

Ele se levanta, dá a volta na mesa e se ajoelha em frente a Evelyn. Ele pega uma de suas mãos e a beija delicadamente, para depois olhar para ela e sorrir docemente. Vejo que ela não consegue controlar o choro.

– Mãe. Eu não tenho que te perdoar de nada. Eu tenho que agradecer.- ele diz- Você pode ter me deixado, mas foi para me proteger, e eu sou eternamente grato. Além do fato de que, se você estivesse viva, eu poderia nunca ter conhecido a Tris.- ele me olha e sorri. Eu apenas tento controlar o choro e sorrio de volta- Ela é a mulher da minha vida.- ele se volta para Evelyn- E você é a minha mãe. Não importa o que aconteceu no passado. Eu sempre te amei, e sempre vou te amar.

E então ela pula em cima dele e o abraça com muita força. Um abraço que mostra o quão felizes estão com o reencontro e com o amor que os cerca. Eu não para de chorar. O que raios está acontecendo comigo? Eu tenho chorado muito ultimamente, quer dizer, mais do que o meu normal. Deve ser a emoção de ver os dois juntos, nada demais.

– Eu te amo meu filho- ela diz simplesmente, se levanta e limpa as lágrimas- Agora, vamos ao que interessa. O casamento de vocês.

– Isso parece tão pequeno diante de tudo isso- eu digo sorrindo.

– Nem pensar- ela diz- Vai ser o evento do ano. Vocês verão. Vamos conhecer o lugar!

Tobias se levanta e eu pulo em seus braços para lhe dar um abraço. Sinto sua respiração e vejo que ele já está um pouco mais calmo. Me separo um pouco e tasco-lhe um beijo apaixonado nos lábios.

– Eu te amo.- eu digo.

– Eu também te amo- ele repete e me dá um selhinho- Vamos?

– Vamos- eu digo.

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Depois de fechar negócio com a mãe de Tobias e almoçar, eu o deixo em frente ao nosso prédio e vou direto para a casa da Christina. Acabei me atrasando meia hora. E mesmo tendo acabado de comer, eu estou varada de fome. Eu seria capaz de comer um boi inteiro.

Paro em frente a casa dela e passo pelos portões rumo a entrada. Toco a campainha e logo em seguida, a porta é aberta e uma Christina raivosa aparece na minha frente. Até já sei o motivo. Eu estou atrasada.

– Me desculpe- eu digo antes dela- Surgiu um imprevisto. Eu e Tobias fomos ver o local para a festa e perdemos a noção do tempo. Ai fomos almoçar e eu me atrasei um pouco.- vou poupar os detalhes sobre a mãe de Tobias estar viva. Coisa pouca.

– Tudo bem- ela diz me abraçando- Mas nem pense em entrar, nós já vamos. MENINAS...- ela grita e todas aparecem prontas.

– Existe telefone sabia?- fala Lynn me abraçando.

– Desculpa.- eu digo e minha barriga ronca- Eu estou com fome.

– Mas não disse que acabou de almoçar?- pergunta Christina.

– E eu almocei.

– Estranho...- ela diz pensativa e depois balança a cabeça- Mas enfim... vamos logo que eu não tenho o dia todo.

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Já era a segunda vez que eu vomitava hoje. Devo ter comido alguma coisa estragada. Estou no banheiro de uma loja de vestidos de noiva vomitando bile a pelo menos dez minutos. Sabia que não deveria ter comido aquele maldito pedaço de carne de porco. Eu sempre fico assim quando como. Ouço batidas na porta.

– Tris?- é Christina- Posso entrar?- eu destranco a porta e ela entra- Você está bem?- ela segura meus cabelos.

– Sim- eu digo- Mas eu estou com enjôo, vomitando. Até desmaiei hoje mais cedo quando estava com o Tobias.

– Tris, eu não quero te assustar, mas...- ela me olha preocupada- Você não acha que pode estar grávida?

O que? Eu, Beatrice Prior grávida? Muito difícil. Mas pensando bem... Eu desmaiei, passei mal, vomitei duas vezes e comi mais que uma porca hoje. Pode até ser coincidência, mas eu estou assustada. Será que estou grávida?

– Será?- eu pergunto assustada para Christina, está que me olha fixamente.

– Só tem um jeito de descobrir.- ela diz- Teste de gravidez.

– Ok- eu digo meio atordoada- Me ajuda aqui.

Saímos do banheiro e explicamos tudo para as garotas. Ela me olham em expectativa e nós vamos direto para a farmácia mais próxima.

Chegando lá, eu deixo as meninas na entrada e me dirijo para o balcão de atendimento que tem ali. Procuro por testes de gravidez por todas as prateleiras. Desisto e peço para um rapaz que trabalha no local. Ele rapidamente me entrega três caixinhas e eu pago.

Pergunto onde é o banheiro e me dirijo ao cubículo o mais rápido possível. Abro uma das caixas e leio as instruções. Basicamente, tenho que fazer xixi no palito e ver os pauzinhos depois.

Faço o que as instruções mandam em todos os "palitos" e espero o tempo de 5 minutos. São agonizantes, mas assim que eu vejo o resultado, quase caio.

Saio do estabelecimento e vou em direção às garotas. Elas me olham em expectativa e eu fico apreensiva.

– Eu estou grávida- eu digo.

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Eu vou ser mãe. Não consigo acreditar nisso. Eu nem me casei ainda. Como eu vou cuidar de uma criança se nem de mim eu consigo direito? Que Deus me ajude.

Eu saio do meu carro e subo ate meu apartamento. Fico parada encarando a porta de entrada durante um tempo, tentando criar coragem para abri-la. Assim que o faço, gelo na hora. Eu tenho que falar com o Tobias... Mas antes eu vou tomar um banho.

– Oi amor- eu vejo Tobias se aproximar- O que foi? Está com uma cara...

– Eu estou bem- eu o abraço- Só vou tomar um banho e ai eu te explico tudo. Tudo bem?

– Claro- ele diz preocupado- Qualquer coisa me chama.

– Pode deixar.

Eu me solto dele e vou para o banheiro. Deixo a agua cair em meu corpo durante tanto tempo, que minhas mãos estão enrugadas. Saio do banho e vou colocar um pijama fresco. Uma blusinha, um shorts de cetim pretos, uma pantufa felpuda vermelha e meu óculos de grau. Saio do quarto e vou direto para os braços de Quatro no sofá.

– Eu preciso te contar uma coisa.- eu digo o encarando.

– O que aconteceu meu amor?- ele acaricia meu rosto.

– Me promete que não vai surtar e nem gritar- eu digo apreensiva.

– Tris, eu descobri que minha mãe está viva. Nada me deixaria mais surtado do que isso.- ele diz brincalhão.

– Duvido- eu digo- Me promete.

– Ok. Eu prometo. Agora me diz logo.- eu respiro fundo e o encaro nos olhos.

– Eu estou grávida.