One More Day escrita por majestyas


Capítulo 3
Capitulo 3.




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–Eu não sei como aconteceu!- insisto.
–Tem certeza, Sa?- pergunta Chris.
Suspiro. Eu estava a algum tempo conversando com meu melhor amigo desde dos 10 anos idade. Ele morava com uns amigos no Brooklyn, há 3 anos. Não nos vemos desde então.
–Absoluta, Chris.- confirmo, me sentando no jardim -eu simplesmente não sei como a peça queimou.
–E todos esses nomes gregos? Você reparou, não?
–Reparei, claro. É tão estranho! Deméter, Afrodite, Apolo... se Zeus aparecer na minha frente eu surto!
–É, eu também surtaria.- ele concorda, rindo um pouco.
–Coisas estranhas estão acontecendo, Chris.- disse, baixo- eu... estou com medo. Queria que você estivesse aqui.- confesso.
–Eu queria estar ai, Sa...- ele afirma- queria muito... mas ainda não é a hora.
–Eu... entendo.- não, eu não entendia.
–Sempre estarei ao seu lado, morena.- era uma promessa... que ele não estava cumprindo.
–Aham.- falo, cabisbaixa.
Ouço ele suspirar.
–E esse cara... o tal do Apolo?- ele pergunta, mudando de assunto.
Mudo o celular de ouvido.
–Que que tem ele?
–O que que tem ele?! Você não acha estranho ele aparecer bem na hora em que uma peça do seu carro derrete, do nada, e te propôr uma carona? Esse Apolo não me parece confiável.
–Chris, deixa disso. Apolo parece ser...
–Falando de mim?- Apolo surge na minha frente, com seu sorriso ofuscante e suas roupas de marca.
Santo Poseidon!- exclamo, pondo a mão no coração e corando de vergonha em ser pega no flagra falando dele.
–Acredite, de santo ele não tem nada.-brinca Apolo. Bom, pelo manos eu acho que ele estava brincando.
–O quê? Como assim Poseidon?- fala Chris.
–Não é nada! Chris?- falo.
–Quem é Chris?- pergunta Apolo.
–Um amigo.- respondo Apolo.
–Como assim um amigo?- pergunta Chris.
–Não estou falando com você, C.- falo.
–Como?- pergunta Apolo.
–Oi?- pergunta Chris, provavelmente ouvindo a voz de Apolo.
–Não estou falando com você! Argh, calem a boca!- quase grito.
Ok.- eles dizem, juntos.
–C. Tenho que desligar, baby. Nos falamos depois, tudo bem?- falo pro Chris.
–Tudo. Diga ao Tio Mike que eu vou sentir falta dele. E de jogar xadrez.- avisa o moreno.
–Pode deixar, C. Beijos.- falo.
–Tchau.- se despede ele.
Bufo e coloco o celular no bolso da calça de moletom que estou vestindo.
–Oi, Apolo.- cumprimento o loiro.
–Olá, Safira.- ele sorri calorosamente.
–Como vai?
–Bem e a senhorita?- ele brinca.
–Bem... a que devo a visita?- rio um pouco.
–Seria idiota demais de eu dissesse que eu só vim pelo casaco?
–Nah.- balanço a cabeça- Seria um pouco estúpido... mas eu aguento.- rio.
–Ótimo. Ainda bem que eu não vim só por isso.
–Ainda bem.- concordo.
–Então... pode devolver meu casaco?
–Ah, acho que não. Gostei dele, sabe? Me deixa mais sexy.- falo, me levantando e indo entrar em casa.
–Concordo. Mas acho que ele fica melhor em mim, sabe? Me deixa sexy também.- ele me segue.
–Justo. Vou lá pegar... quer entrar?
–Adoraria.- ele me acompanha para dentro de casa.
–O que você faz da vida Apolo?- pergunto, enquanto vou até o sofá, onde a jaqueta estava dobrada.
–Conduzo o Sol.- ele diz.
Franzo as sobrancelhas para o tom de voz dele. Sério.
Acho que ele notou que eu notei seu tom de voz, porque deu um sorriso brincalhão.
–Ah, claro. Por um minuto eu esqueci que estava falando com o grande e charmoso Lord Apolo.- brinquei.
–Você esqueceu o lindo e extremamente sexy.- lembra ele.
–E interessante. Descolado.- completo.
Totalmente.
–Loiro natural?- provoco.
–Como ousas me insultar de tal maneira, mortal?-ele faz uma pose heroica e me olha com superioridade misturada com diversão.
–Oh, sinto muito, Lord Apolo. Esqueci que seu ego é extremamente sensível.- falo, reprimindo o riso.
–Tão sensível quanto você. O que aconteceu com sua pele?- não tinha percebido, mas quando vi, ele estava perto de mim, segurando com ambas as mãos as minhas, tão delicadamente que eu fiquei impressionada. Tirei as mãos rapidamente das dele.
Ele não precisava saber das minhas loucuras.
–Eu... eu...- mordi o lábio e desviei o olhar para o relógio que tinha na parede- puxa! Olha a hora. Tenho que me arrumar!- joguei a jaqueta para Apolo e fui até a porta.
–Um encontro? Festa? Reunião de família?- ele pergunta, curioso.
–Velório.- ri.
–Ah. - ele faz uma careta - que triste. Sinto muito.
–Não sinta, loiro.- suspiro - tio Mike detestava que sentissem pena dele. Ou triste por ele. Enfim, tchau, Apolo.
–Quando eu posso voltar?- cara de pau.
–Quando o sol e a lua se colidirem.- falo.
–Sério?- ele parace meio chocado, meio decepcionado e um pouco ofendido.
–Não.- ri - olha, pode aparecer quando quiser, ok?
–Pra começar... tudo bem.
–Claro. Tchau, Apolo.- empurro ele gentilmente pela porta.
–Até breve, Safira.- ele sorri.
Sorrio também e bato a porta na cara dele. Er... acho que essa não é a melhor maneira de conquistar um cara.
...
–Mãe! Mãe, cheguei!- praticamente grito, correndo com aqueles saltos pelo lado oeste do cemitério.
–Safira! Não grite no cemitério!- ela parece brava, mas logo sorri travessa- os mortos podem escutar!
–Ah, claro.- reviro os olhos, mas sei que era verdade.
Os mortos podiam escutar. Pelo menos alguns.
Olho em volta. Só tinha eu e mamãe em frente a "pirâmide" da família.
Olha, eu vou explicar.
Mamãe e sua família vieram para os EUA quando ela ainda era criança. Mas eles eram do Egito, e velhos hábitos e tradições custam a morrer... bom, nem devem, aliás.
A minha família não tem túmulos ou mausoléus convencionais. Temos uma construção que lembra bastante uma pirâmide. E essa é a intenção, na verdade. Dentro da pirâmide estão o túmulo do vovô, da vovó... e agora do meu tio. Todos devidamente embalsamados, claro.
Eu sempre achei fascinante entrar lá. Além das estátuas de Osíris, Anúbis e Ísis, também tinham várias câmaras, uma para cada morto. Sem contar as armadilhas para ladrões! Eu e mamãe já tínhamos ido lá várias e várias vezes, então foi algo fácil passar pelas armadilhas. Nada potencialmente perigoso. Eu acho.
–Eu já me despedi dele.- mamãe conta, enquanto andávamos até a câmara do Tio Mike.- você pode ficar um tempo com ele... apenas ande logo, tudo bem?
–Claro, mamãe.- falo, pulando uma pedra, que eu sabia que ativava flechas.
–Foi bom te ver, amor.- ela me abraça forte- esta cada vez mais linda.
–Valeu, mãe. Você também está cada dia mais gata.- pisco pra ela.
Ela ri.
–É, eu sei. Os clientes vivem dando em cima de mim.
–Ah, claro...- concordo.
–Tem usado o travesseiro?
–Nem se pode chamar aquilo de travesseiro, né mãe. No máximo apoio de cabeça.
–Você tem usado, Safira?- ela pergunta, séria.
–Não... não tenho tido pesadelos recentemente...- falo.
–Ufa.- ela suspira de alívio.
–... mas em compensação coisas estranhas tem acontecido.- completo.
–O que desta vez, filha?- ela parecia cansada. Isso me deixou mal. Minha mãe não merecia aquele fardo horrível que era ser minha mãe.
–Nada. Nada demais, por hora. Depois conversamos sobre isso. Agora preciso me despedir do Tio Mike.- falo, depressa - acha que ele já partiu?
–Não, acho que não. Ele não iria sem se despedir de sua sobrinha preferida.- ela diz, revirando os olhos.
–Tomara.- torço - até, mamãe.
Abraço ela mais uma vez.
–Tome cuidado, Safira... e, na hora do aperto...- ela respira fundo, tomando coragem para falar- reze para Hades.
–O deus grego?- me assusto.
–S-sim. Peça proteção a ele... e a Ísis, claro.- ela diz.
Assinto.
–Terei isso em mente.- afirmo.
–Bom mesmo.- ela me da um beijo na testa e sai.
Respiro fundo e entro na câmara onde está meu tio.
–Tio Mike?- chamo.
Sasa! Você veio!- a voz do meu tio me fez sorrir. Fui até onde ele estava.
Ele parecia, bem, morto. Seu espírito já estava desbotado e sua aparência era cansada. Usava roupas de linho... como de costume. Sua expressão era inquieta e preocupada.
–Claro que vim! Tinha que dizer adeus, não é mesmo?- falo.
–Claro, claro.- ele concorda - vou sentir saudaudes, pequena Safira.
Faço uma careta.
–Eu já sou crescida, tio.
–Ah... aham. Tinha me esquecido.- ele ri.
–Chris pediu pra dizer que vai sentir sua falta e de jogar xadrez.- aviso.
–Diga para ele que ele é um ótimo garoto e que tem um futuro brilhante na Casa da Vida.- ele diz.
–Casa da Vida?- pergunto, confusa. Nunca tinha ouvido falar.
–É. Apenas diga. Ele sabe o que é. E sua mãe também.
–Minha mãe?
–Pergunte a ela. Ela sabe as respostas. Diga a ela que está na hora... logo a maldição se cumprirá. E você precisa estar preparada.- ele diz rapidamente, olhando para os lados, com urgência.
–Mas... tio, o que...
–Não a tempo para explicações detalhadas, Safira! Tudo que tem que saber agora é que: a maldição irá se cumprir de qualquer jeito e que você não deve temer. A males que vem para o bem, querida.
Assinto, meio perdida.
–Saiba que alguns deuses entraram no seu caminho apenas para te testar. Outros entraram porque realmente gostam de você e querem o seu bem. Entretanto, minha querida, terá alguns que irão apenas querer seu poder. Não caía nas armadilhas, Safira.- ele continua -seja esperta. Confie desconfiando.
–Tá... mas por quê? Por que tudo isso?
–Seu pai irá te explicar.- ele fez uma careta ao falar isso.
–Mas... ele morreu.- sussurro.
–Não, não morreu. Ele é imortal, Safira. Ele...- meu tio ia dizer mais alguma coisa, mas ele começou a desaparecer- cuide-se. Lembre-se sempre de procurar a verdade, seja ela qual for. A verdade é cruel, querida. Eu te amo, sobrinha.
–E-eu também te amo, tio.- me despeço.
Ele desaparece.
Que sua alma seja julgada com sabedoria, justiça e honestidade, Michael Radamés Stewart, que Osíris tenha compaixão de você.– murmuro, com olhos fechados, apertando levemente meu colar com o pingente de tyet.
–Ele geralmente tem.- uma voz masculina me tira a concentração.
Me viro rapidamente para a entrada da câmara. Ele tinha a pele pálida, cabelos pretos e rebeldes e olhos castanhos que lembravam chocolate. Vestia jeans preto, coturnos, camiseta preta e uma jaqueta de couro preto que ficava perfeita nele (opa! Da onde eu tirei esse 'perfeita'?). Era alto e esguio como um chacal. Suas orelhas, como as de um chacal, eram um pouco salientes, e ele usava uma corrente de ouro no pescoço.
–Quem é você?! Como conseguiu entrar aqui?- pergunto, alarmada.
Ninguém ousava entrar ali. Todos sabiam da existência das armadilhas, então nenhum ladrão ou até mesmo curioso ousava pisar ali dentro.
–Você consegue me ver?-ele me pergunta surpreso.
–Não sou cega.- retruco, meio brava.
Saio andando, um pouco receosa. Quem era aquele louco?
–Espere, garota. Quem é você?- ele segura meio braço, causando arrepios pelo meu corpo.
–Eu perguntei primeiro.- falo.
–Primeiro as damas.
–Primeiro os mais velhos.-tá, ele parecia apenas um ou dois anos mais velho, eu acho.
–Você...- ele vacilou por uns instantes -meu nome é Anúbis.
Pisquei perplexa por alguns segundos.
Sério isso?! Eu estava em um cemitério e um cara chamado Anúbis -o mesmo nome do deus egípcio dos funerais- aparece misteriosamente.
–Que... bizarro.- comento -eu sou Safira Stewart.
–Safira... ah. Então você é a famosa Safira.- ele diz, soltando meu braço.
–Devo ser.- falo e continuo andando apressadamente até a saida da "pirâmide".
–Como vai a maldição?- ele pergunta, como quem não quer nada.
–Que maldição?!- pergunto, com raiva - é incrível. Acho que só eu que não sei dessa tal maldição. Já não basta falar com mortos!
–Isso é culpa do seu pai. Sendo filha de quem é, é óbvio que teria alguma relação com os mortos.- ele diz, ainda me seguindo.
Paro bruscamente e me viro, fazendo Anúbis se chocar contra mim e quase cair.
–O que quer dizer com isso? Conheceu meu pai?
Ele fez uma careta.
–Não pessoalmente, claro. Gregos e egípcios não se misturam. Nossa rixa é tão forte e antiga quanto a dos gregos e romanos.- ele explica.
–As respostas que me dão só geram mais perguntas. Isso é normal?- sussurro, meio aérea.
–Para pessoas curiosas... sim.- ele sorri um pouco -só cuidado... talvez descubra algo com que não possa lidar.
–É um risco que estou correndo.- falo, me afastando dele.
–Nos vemos por ai, Safira Stewart. Quando quiser conversar... venha no meu território.- ele diz, sentando em um túmulo.
–Que território?
–Qualquer lugar em que alguém morreu.- ele diz, brincando, claro.
Pelo menos eu acho.
–Minha casa é construída em cima de um antigo cemitério. Na verdade, uma boa parte do meu bairro é.- conto, piscando.- apareça lá quando puder.
Os olhos deles brilham um pouco e ele da um sorriso malicioso.
–Vou considerar o convite.- ele assente.
Rio e reviro os olhos.
Impossível, penso, quais as chances d'eu encontrar o deus egípcio dos funerais? E ser amaldiçoada? E deuses existirem? E meu pai estar vivo? E dele ser imortal?
Mínimas, espero.


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Notas finais do capítulo

beeeeeeeeeeeeeeeeeeeijos ♥



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