Done For You escrita por Aida


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a autora por favooooor! Eu sei que passei do prazo, mas tive uns problemas pessoais (muitos, todos estão resolvidos graças a Deus).
Espero que gostem e que não me abandonem ok?



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Andy Biersack era capricorniano (apesar de não acreditar nem um pouco nessa coisa toda de signos), nascido no dia vinte e seis de Dezembro de mil novecentos e noventa em Cicinnati. A cor favorita do mais alto era azul, mas sua preferência sempre recaía pelo preto, ateu e fumante assumido, torce pelos Bulls e os Yankees, tem Six desde seus nove anos e adora animais, sabe tocar muitos instrumentos musicais (mesmo não tendo nomeado nenhum deles), fã de hoquéi e considerado atleta olímpico júnior quando jovem no mesmo esporte, já ganhou mais de dezoito prêmios desde que assumiu a empresa, é o maior cabeça-dura desagradável que existe e um tanto rude quando você o conhece melhor, mas esse último fato eu mesma fiz questão de acrescentar.

Estávamos deitados sobre algumas camadas de cobertores no chão, ainda aquecidos pelo deleite da lareira e suas labaredas constantes.

Com a ajuda da lanterna de nossos celulares conseguimos ir na cozinha e pegar algumas frutas para comermos junto com manteiga de amendoim junto de garrafas de água.

–Então, Paolo sabe de tudo? - Pergunto chocada, Andy havia contado para ele muito antes de nosso encontro para me transformar de Bela sem glamour algum, para Bela namorada que vai a festas em plenas segundas-feiras - Sobre o contrato e sobre nosso namoro ser só de fachada?

Ele concordou enquanto comia mais uma uva.

Ri pensando na reação escandalosa do mesmo, deve ter achado um plano fa-bu-lo-so.

–Foi uma boa jogada, devo admitir - Deito de bruços e o observo o esplendor de um Andrew completamente relaxado, sem linhas tensas marcando seu rosto jovial.

Hoje posso afirmar que estou surpresa com esse Andy não ranzinza, menos desagradável do que de costume e menos grosso também. Conseguimos manter uma conversa de muito mais de uma hora sem discussões ou brigas, talvez fosse por isso que estivesse chovendo tanto e explicasse a falta de luz também.

–Ele e Maddie são ótimos amigos, brigaram comigo e disseram que você precisava aprender pelo menos uma valsa simples - Disse com um sorriso de lado, colocando uma das mãos atrás da cabeça - Mesmo sabendo que era pouco provável que houvesse alguma dança desse tipo na festa, são uns chatos.

Empurrei de leve o ombro de Andy, o repreendendo.

–Não fale assim deles! - Exclamei, unindo as sobrancelhas - Estão certos, eu ficaria completamente perdida se você não tivesse me ensinado.

–Nem tanto - Ele deu de ombros - Você só pisaria mais no meu pé, mas já estou me acostumando.

Um lampejo nos percorreu e o insulto fora bem humorado demais para eu conter minha gargalhada, ri de minha barriga doer pois era a pura verdade, meus pés de jogadora e desastre natural de qualquer coisa gracioso eram provas disso.

Quando voltei a mirar o rosto do mais velho vi uma coisa lendária e que achava que nunca apareceria assim de bom grado.

Um sorriso 'marca registrada' de Andy Biersack.

Deveria ser crime esconder algo tão bonito, tão puro e com tamanha naturalidade. Me perguntava como Shakespeare encaixaria em palavras esse sorriso: esplendor? Deslumbramento? Magnificência? Deveria haver alguma palavra no mundo que obtivesse um significado especial para ele, para essa simpatia que se espalhava quando o moreno sorria, ainda descobriria.

–Sua risada é irritantemente engraçada - Ele continuou e fiquei feliz por ver que o sorriso não desaparecera, estava bem ali para eu observá-lo por mais tempo - Paolo me deu um cronograma sobre quais eventos públicos deveríamos ir e outro apenas para saídas ocasionais e dedicadas para lazer e entretenimento do público.

Entretenimento do público?

–Como assim? - Me sentei virada para o mesmo.

–Não acha que vai ficar estranho se só nos virem em festas e bailes? - Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha e o sorriso reduzido para uma linha que se curvava no canto da boca junto do piercing reluzente.

–E essas pessoas vão notar isso? Se nós não saímos de casa ou não? - Digo e cruzo as pernas, tento amansar meus cabelos emaranhados passando os dedos entre eles, ficariam uma loucura amanhã.

–Vou explicar - Ele se sentou e ereto Andy me fazia parecer minúscula - Eu sou o dono da maior empresa de Ohio e isso faz as pessoas acharem que minha vida é uma festa, e eu devo sustentar essa suposição. Então nós temos que sair e fingir que nos divertimos, seja indo ao mercado ou em uma cafeteria qualquer.

–Por que fingir? Não podemos nos divertir de verdade?

Andy arrumou minha franja, seus dedos tocando minha bochecha enquanto ele a colocava atrás da orelha, tenho que me acostumar com esse tipo de toque.

–Vamos pensar nisso depois, está tarde e você tem aula amanhã - Levantou-se e retirou os pratos, Six dormia na banco do piano de cauda, parecia confortável.

O homem esguio e com sorriso de menino arrumou os travesseiros na cama e fui em direção a porta, pronta para ir pro meu quarto escuro e frio (isso me soava familiar, algumas vezes o Petesburgo era assim).

–Ei, onde pensa que vai? - Exclamou e segurou meu cotovelo, sem aperto ou puxão.

–Vou pro quarto - Aponto para o corredor escuro que me causa calafrios - Dormir.

–Vai congelar sem o aquecedor - Sua expressão se retrai, contrariado - Não prefere dormir aqui onde está mais quente? Comigo?

Respiro profundamente, ele está me convidando para dormir no quarto dele? Passar uma noite inteira em seus aposentos? Aquilo era demais pra mim, apesar de não parecer tão ruim quanto soava, coragem Bela!

Aceno com a cabeça positivamente, eu posso fazer isso sem dar o braço a torcer que ficaria insegura ou envergonhada, deveria ser algo natural (ou pelo menos parecer normal) para um casal.

Andy caminha até a cama, suas calças tendem a cair de vez em quando e posso ler a marca de sua roupa de baixo, ele deita preguiçosamente e se cobre, encarando o teto.

–Não espere que vá dar tapinhas na cama e te chamar para deitar - Ele resmunga, olhando uma menina tentando não parecer assustada ainda plantada na porta - Sou um namorado íntegro, fique a vontade se quiser o tapete.

Claro, super íntegro. Rolo os olhos e lembro que sem os cobertores o chão ainda é bastante frio. Deito o mais confiante que consigo, me cubro com três camadas de cobertas e o calor que se espalha é imediatamente confortante, até dar de cara com os olhos azuis de Andy (agora a cama não me parece tão confortável).

Sua respiração parece uma carícia leve e morna contra meu rosto, as plumas negras que o outro chama de cabelo estão espalhadas pelo travesseiro de lavagem escura.

–Não se acostume - Sussurra e cobre meu ombros um pouco mais com a primeira camada de cobertor.

–Não vou - Tento dizer no mesmo tom, mas minha voz está entrecortada - Ainda quer conversar?

–Sobre o quê? - Pergunta logo após um suspiro, ele deveria estar cansado demais das minhas perguntas.

Pondero sobre alguma coisa que ainda não tivéssemos falado sobre, algo que poderiam vir a me perguntar, uma ideia estala em minha cabeça.

–Seu passado talvez - Digo um pouco mais alto, não querendo vacilar, curiosa para saber.

Os olhos de Andy se dilatam, de tão perto posso ver cada linha e como ao redor da pupila eles parecem mais acesos, mesmo a luz da lareira iluminando tão pouco aqui.

–Boa noite - Ele diz e fecha os olhos, suas sobrancelhas se flexionam e parece estar irritado.

Droga.

–Só queria saber porque - Inspiro fundo e toco seu rosto, Andy abre seus olhos como se machucasse tocar-lhe o rosto - Todas as coisas que me disse são de agora, quero saber sobre sua infância e como assumiu a empresa, o que gostava de comer quando era pequeno, seus desenhos favoritos, reuniões de família e sobre seus pa...

Andy coloca o polegar sobre os meus lábios e sinto um puxão onde o inferior está machucado.

–Eu disse boa noite - Ele me lança seu olhar mais gélido, petrificante fosse talvez a palavra, sem sorriso e sem expressão alguma.

–Boa noite - Respondo baixo, fechando os olhos e esperando ser engolida pelo barulho da chuva e da lareira em sua canção de ninar.

A noite fora tranquila, o calor da lareira fez seu trabalho em aquecer o quarto e a nós dois, eram quase três da manhã e a chuva havia dado uma pausa, a luz retornara em algum momento enquanto eu ainda deveria estar dormindo. Quando senti aquele corpo pequeno procurar refúgio se enroscando ao meu, enterrando suas mãos em meu cabelo e seu rosto no meu pescoço quase pulei com o susto, fazia tempo que não dormia junto de uma garota ou lembrava que havia mais alguém no meu mundo além de mim. Poderia muito bem me sentir sufocado (deveria até), mas me sentia bem, parecia familiar esse calor e esse aconchego, era bom isso.

Seu cílios longos superiores de uniam com os inferiores, sua respiração era controlada e ritmada mostrando que seu sono era intocável, sua consciência escapando por seus dedos para a escuridão sem fim que também era conhecida como sono.

A curva da maçã de sua bochecha, seus lábios, tudo lembravam-me de bonecas antigas que tinham corações em vez de bocas, seu cabelo que parecia sempre adornar a beleza simples, porém, impactante da mesma.

Não queria que meus lábios se curvassem em um sorriso, mas eles o fizeram mesmo assim.

Acariciei sua bochecha e fiquei assim até que eu conseguisse voltar a dormir, sentindo o cheiro de flores que emanavam do furacão adormecido.

Meu corpo estava completamente estagnado, morno de conforto e de ter dormido tão bem, meus olhos demoraram para conseguir se abrir finalmente e quando o fizeram, se surpreenderam. Andy estava dormindo como um anjo na minha frente, e quando digo que ele estava na minha frente, é exatamente o que quero dizer.

Nossas testas estavam coladas, uma das minhas mãos afundadas em seu cabelo macio e a outra em seu pescoço, as mãos do moreno estavam entrelaçadas em minha cintura e podia sentir coração bater contra o meu. Se alguma vez em meus dezessete anos eu sofrera por falta de fôlego, nenhuma dessas vezes superaria essa em especial.

Era bonito demais pra se olhar, deveria ser proibido parecer impecável assim de manhã.

Não estava corada ou com vergonha, provavelmente não fora minha culpa me refugiar no mesmo, apenas um pequeno contratempo quem sabe? O frio da noite onde procuramos o calor corporal um do outro? Ah, querendo ou não, isso não parecia certo.

Olhei adiante e para ao redor do quarto, a manhã estava clara e até podia ver o sol iluminando o piano e a lareira que deveria ter se apagado durante a noite. Olho para a mesinha de cabeceira de madeira escura e no relógio digital que marca sete e quarenta e cinco.

Sete e quarenta e cinco?!

Estava ferrada, completamente ferrada. Deveria estar na porta da escola nesse horário, me esgueiro para o banheiro de Biersack e pego uma das toalhas que estão estendidas na banheira. Tomo um banho rápido e sem lavar o cabelo o prendendo em um rabo de cavalo alto e assim saio correndo para o meu quarto e visto qualquer conjunto de lingerie debaixo do moletom, coloco a calça escura do dia anterior e tênis brancos que ainda estão no lugar que eu deixei, pego minha mochila e corro de escadas a baixo esperando que CC estivesse em algum lugar.

–CC! - Grito - CC, está aí?

–Christian está na empresa - Ouço a voz rouca e matinalmente desleixada de Andrew, ele está parado no topo da escada com um rosto fofíssimo de quem acabara de acordar, ele passa a mão no cabelo pouco desgrenhado.

–Estou atrasada pra escola, você precisa me levar - Subo alguns degraus da escada e tento engolir o desespero, não era o fim do mundo (só o fim de meu currículo perfeito de aluna não atrasada).

Andy sorri e detecto um pouco de seu sorriso sacana (que está aprontando alguma), mas tento veemente ignorar.

–Será um prazer, namorada.

Andy como meu atual guardião legal pode ligar para a diretora e avisar que houve um contra tempo e justificar meu atraso fora fácil, entrei no segundo tempo de Língua Estrangeira com olhares surpresos de Kole (fosse pelo atraso, pela roupa que eu estava vestido ou minha cara amassada), eu só queria passar o resto das aulas completamente despercebida.

Meia hora antes da segunda terceira troca de professores do dia, recebi uma mensagem (no celular que nem lembrava ter colocado na mochila).

Venha para trás das arquibancadas, rápido.

Andy S.

Andy estava na escola? Achava que ele tinha ido para casa após ter me deixado aqui. O que ele queria?

Pedi delicadamente para a professora ranzinza de geografia para ir ao banheiro e depois de me olhar demoradamente com seu rosto de peixe morto, ela concedeu.

Corri até o ginásio, observando o silêncio e os corredores vazios de alunos que ainda estavam imersos em aulas. Chegando ao ginásio, atrás das arquibancadas podia ver uma figura e eu preferia supor que fosse o moreno, encontrar um estuprador à essa hora não seria muito legal.

Quando dei a volta e finalmente o vi, estava sentado com as costas apoiadas nos metais e com dois sacos da Starbucks no chão, dois copos altos, alguns biscoitos amanteigados, maçãs e croissants.

Bato com a mão no rosto para acordar dessa alucinação, isso só pode ser brincadeira.

O que você acha que está fazendo?! - Exclamo.

–Tomando café - Ele pega um dos copos e estende pra mim, Andy estava com uma calça jeans escura e a blusa do pijama (o mesmo fizera questão de tomar banho apenas para me levar para a escola, agora sabia o porque) e óculos quadrados escuros, mesmo simples ele ainda parecia um modelo alternativo da Calvin Klein - Já que a senhorita não me deixou comer nada antes de virmos.

–Isso o que estou fazendo é considerado matar aula, sabia? - Pego o café da sua mãe e beberico, até perceber que era Frappuccino de caramelo, minha boca se enche d'água com o adocicado da bebida.

–Tudo bem, volte pra sua aula chata e morra de fome - Ele coloca um dos biscoitos na boca e mastiga audivelmente, minha barriga se aperta.

Eu estava com fome.

Me sento ao seu lado e como um pouco de cada coisa que está devidamente servida em suas sacolas, tudo estava fresco e delicioso.

–A aula não é chata, a professora é - Eu digo após terminar de mastigar - Não acredito que estou matando aula, é a primeira vez em toda minha vida acadêmica.

–Tecnicamente você não está na matando aula - Biersack guarda os sacos em um só e põe as mãos atrás da cabeça, deveria estar cansado - Para matar aula você tem que vir para a escola e depois sair dela, e eu não acredito que nunca tenha matado aula antes. Sério mesmo, nunca?

Assinto.

–Nunca - Dou de ombros - Você fala como se já tivesse feito isso antes, já matou aula?

Andy ri e ajeita os óculos no rosto.

–Achei que você tivesse dito que devolveria o quanto antes - Aponta para o moletom e lembro o calor que ele me traz, o quanto é aconchegante estar com ele.

–Devolveria ele agora se pudesse, mas não sou adepta da moda: sutiã e calça jeans - Falo irônica.

–Eu adoro as meninas adeptas a essa moda - Reviro os olhos com o comentário do moreno - Na verdade, todas as meninas deveriam ser adeptas a essa moda.

Idiota! Meu inconsciente grita.

–O que é um amistoso irregular? - Ele pergunta, mudando de assunto.

–Um jogo que acontece sem inspeção alguma, apenas dois times jogando com as regras e sem árbitro ou técnicos. Porque quer saber? - Minhas sobrancelhas se franzem automaticamente.

–Uma das meninas do vôlei estava comentando algo sobre, disse que vocês iam jogar hoje contra um tal de Helloway.

–Colégio Particular Helloway?! - Meus olhos brilham e minha voz sobe um décimo, jogaríamos contra Lauren a filha de nossa técnica e arqui-inimiga (ela tinha o péssimo hábito de nos superestimar, se gabava tanto e no final sempre perdia o jogo).

–É o que parece - Andy suspira.

Grito de satisfação e dou um beijo na bochecha de Andy, levanto-me em um ímpeto e dou pulinhos.

–Prepare-se - Digo antes de ir embora - Você vai presenciar um espetáculo.

No intervalo Kole veio comunicar sobre sua nova paquera, fingi interesse por um certo tempo mas só conseguia pensar em acertar a loira enjoada, vulgo Lauren. Não costumava ser odiosa com outras competidoras, porém a loira sabia exatamente como tirar o pior de mim.

Lauren se dizia a melhor atacante, a "muralha" no que se dizia bloqueio e se ela estivesse do mesmo jeito que o verão passado o jogo seria fácil. Quando fechavam a diagonal da loira, ela perdia os sentidos e as opções, pressão de saque e ela errava as bolas, mas quando se tratava de corta luz (uma estratégia onde o levantador coloca uma bola alta para geralmente o segundo atacante cortar, e enganar o time adversário achando que seria o meio) ela era perfeita, e eu tinha uma certa disputa pessoal com ela.

–Está me ouvindo Bela? - Kole chama e coro só de pensar que ele está sorrindo de orelha à orelha - Fiquei sabendo do irregular e é isso que deve estar roubando a atenção da minha melhor amiga, óbvio.

–Desculpe - Digo um pouco envergonhada - Lauren vai vir jogar, quero esfregar na cara dela meus saltos e como aperfeiçoei o modo de usar o bloqueio.

–Cuidado com o equilíbrio do pulo - Pisca com um de seus chocolates, digo, olhos - Quero que acerte a cara dela.

Faço uma continência improvisada e um rosto sério.

–Seu pedido é uma ordem - Caminho para fora do refeitório e sei que as meninas do time já devem estar no vestiário me esperando, esperando a hora do show.

Estamos terminando de aquecer o corpo quando o Colégio Particular Helloway chega, as meninas trajam uniformes azuis e brancos, olhares odiosos rodeiam a sala, mas a única coisa que presto atenção é na loira de olhos azuis que mede um metro e setenta, desfila entre as colegas com a camisa número um e faz questão de ter capitã escrito junto com o nome em sua camisa.

Tão previsível quanto a neve em Dezembro.

Reviro os olhos e puxo a camisa preta com bordas brancas que me pertence e tem o número seis atrás, e quando olho pra arquibancada sei que por de trás daqueles óculos escuros estão os olhos azuis que possuem aquele númer, como um adereço.

Quero me exibir para Andy e mostrar que sou forte e que acabaria com a raça do time adversário.

Lauren vem falar comigo, mesmo sabendo que não sou a capitã.

–Olha só - Ela coloca a mão sobre a boca tingida de rosa e finge surpresa - Acho que alguém está alguns milímetros mais alta!

–Não preciso de altura pra vencer seu time, nunca precisei na verdade - Dou de ombros e exibo um sorriso venenoso - Não vá chorar pra mamãe se perder.

O aquecimento de rede era puro afrontamento, todas queríamos mostrar que somos fortes e capazes, sempre querendo debochar do adversário e plantar intrigas. Todas as bolas que ataquei foram na linha dos três, atacando para baixo e com força, empenhando-me em fazer a passada corretamente e precisamente.

Quem veio para apitar o jogo que transgredia as regras de ambas as escolas foi Kole, e mesmo que as outras meninas duvidassem, eu sabia que meu amigo sempre seria honesto em todas as suas decisões, sem favorecer o time da casa.

Após o apito, começamos a guerra que alguns chamavam de jogo. Seria apenas um set de quinze, pois ambas estavam em aula e o adversário ainda voltaria para o colégio de origem, seria rápido e fatal.

O saque foi de Helloway (como convidadas a capitã achou justo que começassem), nossa líbero era excelente Karma era uma hippie presa no século vinte e um, mas quando se tratava da defesa ela era o próprio Hitler, passava por cima de todos para pegar a bola, e assim como eu acabei de dizer a bola foi perfeitamente para a mão da levantadora e o próximo movimento da bola em movimento seria o encaixe da minha mão e o chão tamborilar com o ponto que aconteceria.

Mas não aconteceu, o time de Lauren estava mais bem organizado e a bola apesar de voltar de primeira veio com a altura dos refletores do ginásio (uma jogada balão, difícil de centralizar e adivinhar onde ela iria parar).

O jogo é acirrado, as encaradas e a tensão que acontecem em quadra é palpável, ponto à ponto construímos um placar, intercalando infelizmente.

Um ponto lá, um ponto aqui, um ponto lá, um ponto aqui.

Minha boca parece ser feita de areia, não tem nada para umedecer os lábios melhor do que o gosto da vitória.

Catorze à treze nós, com os saques (a maioria no fundo de quadra e com o pensamento de nunca mirar na líbero que conseguia pegar todas as bolas) poderosos de Taníqua, conseguimos abrir um pouco de vantagem, precisamos de mais um e venceremos.

Aviso para Yun, a levantadora (que viera das filipinas com os pais ano passado e tinha treze centímetros a mais que eu) que usaria o bloqueio delas que estava constantemente focado e reforçado em mim, usaria eles, eles nos dariam esse ponto.

O saque de Taníqua não é letal o suficiente, uma das meninas pega e bola passando na mão da levantadora com uma precisão incrível, Lauren corta e torço para Karma pegar e minhas expectativas são respondidas positivamente, Yun sorri pra mim porque sabe o que vem a seguir.

A bola que acerto, ricocheteia no braço de Lauren e vai para fora.

–Você acabou de ser usada - Digo e pisco, despejo todo o veneno que guardava pelo tempo que engoli suas provocações, as coisas que ela dissera e eu deixara para lá até esse amistoso. Esse jogo mostrava que a temporada estava oficialmente aberta e aberta com o pé direito.

Comemoro com o time gritando e pulando, estou tão feliz e tão estagnada com a vitória que atrás do pequeno círculo que eu fizera com as meninas enxergo Kole, sorrindo alegremente e de braços abertos.

Um convite e tanto.

Me joguei em seu abraço e inspirei o perfume tão conhecido e bem-vindo, gostava de estar ali.

Quando abri os olhos e voltei minha atenção para arquibancada foi que percebi que não deveria estar naquele abraço, Andy batia palmas espaçadas e desgostosas, seu olhar era cortante.

Desfiz-me de Kole com um sorriso de lado, esperava não ter minha alegria sugada por aquele buraco negro de negatividade.

Caminhei devagar e quando cheguei perto o suficiente ele retirou os óculos e pude ver a nébula que os cercava, os olhos de oceano estavam turvos.

–Você até jogou bem - Ele me congratulou, mas não tinha muita emoção na sua voz.

–Obrigada - Respondi um pouco sem graça, elogios e o jeito que as pessoas jogavam eram uma combinação engraçada.

–Poderia ter jogado melhor, você me prometeu um espetáculo e eu esperei um espetáculo - Ele pegou um cigarro no seu bolso e antes de colocar o mesmo entre os lábios, completou - Não tem nada demais nisso que fez.

Poderia ter aberto a boca para responder a esse comentário nada construtivo e extremamente rude, mas sentia olhos queimando minhas costas, quando virei-me percebi que meu time e Lauren presenciavam tal show. Se antes eu estava desconfortável, agora estaria mais ainda.

–Recolha suas coisas, vamos para casa - Ele me lança um último olhar antes de sair e bater a porta do ginásio, o barulho ecoa por cada daquele lugar, mas nada é pior do que a voz dele me menosprezando.


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês segunda que vem, kissus lindos(as)!



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