Done For You escrita por Aida


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, me enrolei D:
Esse capítulo é meio caidinho, porém, o próximo terá mais agitações.
Espero que gostem, xoxo



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Bati a porta do quarto assim que eu entrei, bati forte e a chutei diversas vezes por mais criança que aquilo era. O quarto que fora me cedido era realmente lindo, confortável e tudo o que nunca tive nos meus 17 anos de vida, mas aquela não era a minha casa e nada daquilo era meu.

–Me deixa ir embora! - Esperneei socando a porta, sentia os nós das minhas mãos doerem e as lágrimas caírem, estava me odiando naquele momento.

Parei quando vi a porta um pouco manchada, queria que fosse o rosto de Andy, para esfolar minhas mãos naquele insensível de uma figa. Aquilo que ele estava fazendo não era caridade, muito menos fazia por causas nobres, era como eu havia escutado atrás da porta mais cedo, fazia tudo por si mesmo e seu império.

Sentei na imensa cama de lençóis brancos um tanto desolada, esperava que meu pai estivesse bem, pois nunca havíamos ficado separados por tanto tempo. Tinha medo dele voltar a viver de jogos de azar e apostas, entrar no submundo do dinheiro sujo e nunca ganho, dinheiro de mentira.

Um barulho no closet foi o suficiente pra encerrar minha sessão de choro, escutava o barulho de rosnados abafados e quando pensei em levantar para sair correndo, pude avistar um focinho magrelo se esgueirar pela porta e me olhar com gudes que mais pareciam safiras no sol.

O cachorrinho saiu tímido, farejando o caminho até os meus pés e com olhos pidões de carinho, sua pelagem branca com algumas manchas negras no dorso combinavam um tanto com aquele rapaz. Um cachorro alto e magro com a coleira de couro preta com um pingente escrito 'S', sua aparência fazia jus ao dono.

–Não sabia que havia invadido o território de alguém - Ri, o rabinho atrapalhado de S balançava animadamente enquanto recebia carícias - Espero que você não seja explosivo como o seu dono.

Voltei a me sentar na cama e S se juntou a mim, queria fechar os olhos e voltar ao motel fedido e cheio de traças que estávamos hoje mais cedo, só eu e meu velho. Pensar que daqui a umas horas vou ter que encarar aqueles oceanos raivosos e enfurecidos, passar seis meses ou mais, em um inferno que tinha aparência de céu.

Eu havia adorado o quarto, sim, havia mesmo. Sem falar do closet cheio de roupas, calçados, bolsas e materiais novos, mas era errado não é? Eu estava ali quase como trabalhando 24 horas por dia, e aqueles eram benefícios duvidosos. Respirei fundo, Andy fora a primeira pessoa a dar um emprego pro meu pai em quase 2 anos, ele parecia feliz e contrariado, mas ver aquele brilho nos olhos do meu velho depois de tanto tempo, me deu um pouco de felicidade também.

Batidas na porta se fizeram presentes, as orelhas de S levantaram acompanhando o som e ele latiu alto.

Não respondi para entrar, mesmo que fosse Maddie, não queria ver ninguém.

–Senhorita Stayne? - Ouvi uma voz pouco familiar.

Passei a mão sobre o pelo fino de S.

O engravatado que entrara era o estranho cabeludo que acompanhava Andy, talvez fosse um secretário ou agente pessoal, algo caro e esnobe do tipo. Assim que ele passou pela porta e pelo portal duplo branco que ligava o quarto e o closet, sorriu e alisou o terno como se tirasse poeira, mas parecia estar chamando S, que prontamente atendeu.

–Dando as boas vindas para nossa convidada? - Ele brincou um pouco com S e logo pousou os olhos em mim, o jeito que havia dito convidada me fez fechar a cara, até parecia que eu estava de férias naquele casarão. - Sou Christian, mas todos me chamam de CC.

–Sou Bela - Disse ácida - Mas pode fazer o favor de não me chamar, não vou ficar por muito tempo.

Christian riu alto como se o que eu tivesse dito fora a coisa mais engraçada do dia, se sentou ao meu lado na cama e pegou minhas mãos flageladas. Tentei tirá-las de seu aperto, mas CC fez questão de segurá-las, colocar uma mecha de meu cabelo atrás da orelha e limpar um lágrima que ainda estava em minha bochecha.

–Eu sei que não quer estar aqui - Ele suspirou - Acho que nem Andy queria estar aqui na verdade. Mas preciso que tente entendê-lo, sei que não é o melhor jeito de convidar alguém para a própria casa mas, ele fez isso para ajudá-los.

–Ele fez isso por benefício próprio - Argumentei revirando os olhos.

–A empresa Six não precisava de novos empregados até o último momento que fui informado - CC tirou um lenço e pressionou sobre minhas mãos - Não parece uma ajuda, sei disso, mas é a primeira vez em muitos anos que vejo Andrew pelo menos tentar beneficiar alguém que não seja ele mesmo. Tente dar uma chance, se não der certo você não precisa se preocupar, eu...

–Você o que? - Disparei sarcástica - Você me leva de volta para o meu pai?

CC ficou quieto por um momento, seu sorriso era triste e seu suspiro audível.

–Eu levo você de volta e prometo que nunca mais vai ouvir o nome dele, ou de algum de nós.

Prendi a respiração. Nunca mais? Tentei disfarçar minha surpresa, mas não funcionou muito.

–Não queria ser rude, desculpe - Resmunguei - Mas aqui não é o meu lugar, você e Maddie são pessoas maravilhosas mas...

–Só peço uma chance - Se ajoelhou e vi em seus olhos bondade, podia confiar nele? Podia confiar em CC? - Amigos?

–Só se me mostrar o resto desse lugar - Ri e S pareceu detectar a mudança de clima, correu por nós animado e dando pulos altos.

Ele seria minha distração de toda a tensão da casa, um amigo com quem poderia contar.

* * *

Após o choque inicial do que Christian havia me dito, o mesmo me levou para um passeio pela propriedade, pude ver a floresta densa que continha algumas trilhas escondidas e que parecia ter saído de um conto de fadas, era lindo e mágico, mas parecia me trazer tristeza de algum modo. Após a floresta, corri para o lago para enxergar a beleza daquele dia pouco nublado e as árvores altas e alaranjadas refletidas em suas águas, inebriante.

–Aqui é tão lindo - Eu disse, inspirando o ar puro e límpido. Podia ouvir a risadinha de CC ao fundo, depois de um tempo falando sobre banalidades eu descobri que Christian era um cara legal e simpático, diferente de seu patrão atual. Ele havia dito que o que tínhamos conversado era um segredo, e que manteria sua palavra caso eu não me adaptasse ao estilo de vida de Andy.

Queria saber mais coisas sobre a casa e sobre a propriedade, mas quando toquei no assunto com CC ele me dissera para perguntar ao dono da mesma, e esse se encontrava na sacada fumando um cigarro e ao berros no celular. Minha vontade de passar por cima do meu orgulho e dar o primeiro passo era nula mas para que tudo desse certo, (ou errado) do jeito que eu queria, precisaria me esforçar.

CC colocou a mão em meu ombro e sinalizou que fosse lá e confrontasse a fera.

–Peça para ele te levar para ver o estábulo mais tarde - Disse me deixando na entrada - Ele adora os cavalos.

Afirmei, CC saiu e piscou para mim. Tentei não corar, mas só tentei mesmo.

Caminhei de volta ao casarão, subi as escadas laterais que davam para a varanda e Andy terminava de fumar seu cigarro tranquilamente. Estava meio sem jeito depois do que acontecera e do jeito que havia agido, ele parecia impassível, como se fosse um anjo feito de mármore que caíra diretamente na minha frente.

Ele notou assim que terminei de subir o último degrau da escada e me estendeu um aparelho branco e fino, um celular.

–O que é isso? - Perguntei quando ele colocou o celular na minha direção, parecia evitar contato visual.

–Não sabe? - Ele bufou e riu com amargura, mas antes que pudesse dirigir mais alguma palavra com intuito de me ofender ou soltar mais de sua acidez.

–É um celular - Eu disse e coloquei em cima da bancada de pedra, cheguei bem perto de Andrew e tentei parecer amigável, sorrir e transparecer que não estava ali para brigar.

–Na verdade, agora é o seu celular - Ele disse pegando o aparelho e me estendendo novamente - Tem o meu número, o de Christian e daqui da casa.

Andrew pareceu previr que eu me manifestaria negativamente, pois apontou o dedo indicador pra mim e sua voz soava séria e gélida, eram ordens.

–Você vai usar esse telefone para emergências - O mesmo precisava olhar para baixo, para encarar-me - Não vai nem pensar em hesitar, entendeu?

Afirmei descontraída, o clima ainda permanecia tenso. Coloquei o aparelho no bolso da calça.

–CC achou que você poderia me mostrar o estábulo - Murmurei mais baixo do que eu gostaria, do jeito que havia aprendido até agora, Andy era a definição de variação de humor.

–Pena que ele achou errado - Disse apertando o cigarro contra o cinzeiro perto das cadeiras de madeira.

Tão idiota e tão desagradável.

Afinal, eu não precisava estar fazendo sala para Andy. Eu não estava em meu ''horário de trabalho'' então não precisava ser tratada dessa maneira, realmente talvez eu tivesse sido desagradável mais cedo, mas pelo menos eu estava tentando reverter a situação! E Andy? O que fizera até agora além de dizer o quão inferior eu era à ele? Além de derramar seu veneno por onde passa, é claro.

Suspirei alto, não seria hoje que Biersack me daria a devida amizade que CC proporá, levaria muito mais do que um dia para conseguir algum progresso. Comecei a descer os degraus largos da varanda suspensa, mas algo prendeu meu pulso e senti arrepios que cresceram da minha nuca até a penugem de meu braço, me virei assustada com tal sensação.

Era um aperto forte porém carinhoso, seus olhos azuis estavam nebulosos e me encaravam como alguém que dava as costas para um tigre faminto. Mas sua expressão não era de maldade e sim de incompreensão, o que era quase impossível, porque Andy seria incompreendido sendo tão bem sucedido? Algo que eu não entendia. Não era o mesmo tipo de aperto que acontecera mais cedo, transbordava raiva e fúria, agora era como se ele quisesse segurar minha mão.

–Eu mostro pra você o estábulo - Falou em um sussurro quase inaudível, se não estivéssemos próximos o suficiente talvez não teria o escutado. Eu provavelmente deveria ter dito alguma coisa, mas as palavras estavam engasgadas na minha garganta, Andy desceu na minha frente, com passos firmes e decididos, toquei meu braço onde ele segurara - Você vem ou não?

Me apressei para acompanhá-lo, passamos pela margem do lago que parecia esverdeado com a luz solar que irradiava por entre as nuvens, pude ver o estábulo bem no final do campo, quando a grama começara a ficar um pouco mais rebelde e não milimetricamente cortada como no resto da propriedade.

–Aqui é muito bonito - Tentei puxar conversa, mas Andy fez questão de me olhar de soslaio e continuar andando.

Andy estava começando a me irritar profundamente, já estava na hora de mostrá-lo quem era Bela Marie Jones. Dei passadas mais rápidas e fui para sua frente.

–Quantos anos você tem? - Perguntei andando de costas, ele franziu o cenho e bufou. - Qual seu signo? Gosta de música? E de livros?

–Preferia quando você era muda - Bufou e rolou os olhos. - Ande direito, vai acabar caindo.

–Mora aqui desde que era pequeno? - Andy ficou tenso, como se eu tivesse tocado em um assunto delicado, seu olhar era quase um iceberg, me dava calafrios.

–Você não deveria fazer suposições sobre os outros, é contra os modos de uma dama - Resmungou, o que eu anotara mentalmente que seria um hábito constante do mais alto.

–Muitas coisas são contra os modos de uma dama, e eu sinceramente não ligo para nenhuma delas - Sorri desafiadora, a grama havia ficado mais alta e passava fazendo cócegas na calça de moletom.

–Bom saber, sua ficha escolar deve ser exemplar - Disse e parecia esconder um sorriso, mas muito bem escondido mesmo pois a ironia tomou conta da frase no final.

–Tirando alguns maus entendidos, eu nunca tirei nada menos do que 'A' - Gabei-me orgulhosa, não estava mentindo.

Minhas notas na Cincinnati High School eram altas desde que entrara na 4° série, estudar nunca fora difícil ou chato, só necessário pra conseguir a vaga que eu queria na faculdade certa. Sem falar dos livros que eu ganhava no final de cada ano por boas notas, ganhava uma cesta com clássicos e atuais novinhos em folha.

–O jardineiro deve os ter colocado para fora, lá estão eles - Andy apontou e me virei para onde o mesmo apontava e lá estavam, 3 grandes cavalos fortes e de raça pura. Meus olhos podiam saltar de felicidade, como eram lindos e graciosos.

Corri até o cercado me pendurando, uma círculo perfeito de ripas de madeira que ficavam em frente ao estábulo/celeiro, eles pastavam tranquilamente aqui e ali. Estiquei a mão para tocar a crina do cavalo negro de focinho branco, ele brincou e a respiração alta e pesada fez cócegas em minha palma. Minhas bochechas doíam de tanto que sorria ao ver aquela criatura adorável, porém, Andy os olhava como se aqueles corcéis fortes e elegantes, fossem só pôneis desengonçados.

–Quais são os nomes deles? - Perguntei acariciando o focinho macio e correndo a mão pela crina sedosa.

–Nomes? - Os olhos azuis e gelados, estavam distantes além das árvores altas e da floresta densa que começaria em dez ou doze passos dali, mordia o piercing que tinha no canto de sua boca, distraído - São só cavalos, não precisam de nomes.

Se isso era gostar dos próprios cavalos, eu imagino o que seria amá-los.

–Você é só um humano, também não precisaria necessariamente de um nome - Retruquei, parece que ele apenas via vários objetos e coisas que poderia usar. - Certo?

–Sua arrogância...

–Eu sei, minha arrogância é sem tamanha e eu não sou uma menina modelo - Interrompi - Mas podemos começar isso de um jeito melhor, não fazer a terceira guerra mundial e destruir toda a cidade.

E pela primeira vez, vi um esboço de um sorriso em Andy. Tentei não parecer pasma ou surpresa, mas fora um esboço bem rápido que me perguntara como seria um sorriso completo, aquele de fazer os olhos brilharem e as bochechas doerem. Um sorriso ''marca registrada'' de Biersack.

Um sorriso ''marca registrada'', fora algo que eu e meu pai tínhamos inventado para descrever certas pessoas, um sorriso ''marca registrada'' não poderia ser encontrado em nenhum outro lugar a não ser nessa tal pessoa.

–É um bom começo - Andy chamou o cavalo com o estalo de uma mão e um assovio, fiquei um pouco desapontada com tamanha obediência do equino.

–Infiel - Bufei.

Ouvi um timbre e Andy prontamente pegou seu celular e viu algo na tela que acendia e vibrava, depois o colocou de volta na calça e deu tapinhas no pescoço do cavalo.

–Vamos entrar, Maddie já colocou a mesa do almoço e ela odeia esperar.

Desci do cercado de madeira e antes que voltássemos para o casarão branco, bloqueei a passagem do mesmo que olhou para baixo, minha coragem foi desarmada quando ele ergueu uma sobrancelha e seu rosto sério me deu mais uma vez calafrios, do mesmo jeito que acontecera quando o tinha visto em seu escritório pomposo, era um olhar de superioridade, daqueles que sabia que era maior e melhor do que qualquer um.

Estendi a mão, tentando deixar a voz o mais firme possível e evitando contato direto com o mar traiçoeiro que eram seus olhos. Nem pense, nem ouse em corar!

–Sou Bela, é um prazer conhecer você.

Primeiramente achei que Andy fosse sair andando ou passar por cima de mim, mas ele apenas abaixou e ficou perto, muito perto, muito perto mesmo. Me fez encarar suas pupilas encolhidas e o ártico que se projetava em seus olhos, sua respiração banhava meu rosto e tive de fincar as unhas nas palmas das mãos, ele era esquisito. Seu tom de voz foi cortante de tão sério e cruel.

–Sou Andrew Biersack, mas vou deixar você me chamar de Andy. Não espere que eu responda de maneira agradável ao seu cumprimento, enquanto estiver morando nessa casa você é propriedade minha, filha de Stayne. Vai seguir as minhas regras, você trabalha pra mim - Ouch, essa havia doído - E acho bom se preparar, amanhã temos nosso primeiro evento como o mais novo casal da rede empresarial e se você não se sair bem, pode pegar seu velho e voltar para ralé.

Minha mão ficou lá estendida para o nada, quando fiz menção de quebrar o contato visual, Andy já havia começado a voltar para sua casa, para a casa dele.

Olhei para os poucos raios solares que faziam a grama brilhar, um dos cavalos relinchou. Ele devia estar dizendo: ''Se acalme menina, pelo menos, quando você morrer irá direto para o céu! Pois, você já terá passado tempo demais nesse inferno.''

–Achei que tivéssemos começado da maneira certa, pelo menos agora - Respondi, mas não era bem uma resposta. Apenas um pensamento no vazio deste lugar, desse novo lugar que se quer posso chamar de meu.


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