Eu Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã escrita por Vlk Moura


Capítulo 4
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Yeva
Yara



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– Meus parabéns, você conseguiu - Carla falou assim que eu cheguei e terminava de vestir o uniforme.

– O que eu consegui?

– Ele está comendo e... - ela fez sons imitando tambores para um suspense inexistente a nossa conversa - ... ele saiu do quarto.

– Bom. - falei desanimada.

– Qual é? Você não é assim tão morta, Yeva, ele saiu do quarto, se misturou com alguns de nós isso é ótimo.

– Pode ser. - bufei - Mas ainda não sei como lidar com ele, muitas lembranças chegam até mim.

– Mas Richard não tem nada haver com o cara, e você sabe disso. - confirmei e então saímos ao jardim, uma roda em torno do astro que tocava violão, mas não cantava.

– Eu preciso vomitar.

Falei correndo para o banheiro, tranquei a porta e me debrucei no vaso sanitário, ali a limpeza era muito boa e eu agradecia por isso, de joelhos ao chão vomitei, eu tremia, dei descarga, lavei mãos e boca, destranquei a porta e me deparei justo com o astro que passava por ali, bati a porta e me virei novamente para o vaso. Depois de vomitar escorei na parede e comecei a chorar, vê-lo fazia com que uma enxurrada de lembranças corressem por minha mente, eu sentia a bile subir a garganta, a engoli com desgosto, a porta se abriu.

– Você está bem, Magrela? - eu o olhei e a bile voltou.

– Eu nem sabia que tinha comido tanto - falei depois de mais uma onde de vômitos.

– O que está acontecendo? - eu já estava de pé limpando minha sujeira, depois de secar minha mão o olhei.

– Nada que seja do seu interesse - falei sentindo que algo ainda restava em meu estomago - Mas... é bom ver que resolveu se socializar.

– E você acha que eu deixaria uma magrela me humilhar novamente? - ele sorriu, era um belo sorriso, lembrei da ceno de vê-lo apenas de cueca, arrumei os óculos desajeitada.

Me distanciei sem respondê-lo, sai no jardim novamente, não encontrei minha supervisora, mas eu não precisava dela nem de ninguém dos quatro pacientes que me perguntaram se eu estava bem ou por que eu estava tão pálida, eu sentia o gelo de minha mão e a cor desbotada de minha pele era visível, eu não conseguiria ficar lado a lado do astro novamente. Senti algo crescer em meu peito, lembranças, por que elas corriam tão rápido, por que me dominavam tão facilmente.

Paloma estava sentada com um violão em mãos e tentava tocá-lo, algumas notas saiam e eu reconheci a música, por que aquela droga de música? Minhas pernas falharam e eu cai sentada, a menina me olhou assustada, não pela queda, mas pelo choro que se seguiu aquilo, eu estava me acabando de tanto chorar, meu corpo não me sustentava.

– Ye, você está bem? - ela olhava em volta -Alguém chame a Carla, a Ye precisa de ajuda.

Ouvi os passos e logo duas mãos tocaram meus ombros, olhei para a pessoa, minha supervisora parecia assustada. Ela me forçou a levantar e andar sozinha, apena só me apoiava e o choro não parava, eu me sentia uma idiota, uma idiota completa. Trancou a porta de seu escritório, me entregou um copo com água, sal e açúcar, eu o tomei com um só folego e respirei fundo.

– Melhor? - ela perguntou agachada a minha frente - O que houve? Todos ficaram preocupados.

– As cenas, elas voltaram, Carla. Tudo voltou, a música, a cena, o esquecimento, tudo, tudo, tudo.

– Por quê?

– Pela música.

– Que música?

– A que ele tocava quando cheguei, era a música que tocava no rádio, é uma das razões de eu não suportá-lo.

– Achei que você só não suportava o pai dele.

– Antes fosse, mas era a voz dele, foi ela que continuou soando e não a dos meus pais, eu não consigo ficar aqui, eu não posso ficar mais aqui.

– Yeva! - ela me sacudiu - Você vai ficar! - ela brigou comigo.

– Não! - eu gritei e tirei meus óculos - Se eu ficar tudo volta e trava, não posso...

– Você tem de superar a perda.

– Eu sei, mas... - apertei meus olhos - eu sei...

– Então fique.

– Amanhã eu volto, mais cedo se você quiser, mas por hoje não posso ficar.

Ela confirmou percebendo meu estado e me liberou. Peguei minhas coisas e sem trocar de roupa saí, Richard estava escorado na escada, nos escutara, mas se tinha entendido era outra história. Paloma correra me chamando, mas apenas me viu fechando a porta. Peguei o primeiro ônibus e ainda de pé peguei meu caderno de anotação, eu terminava uma história, faltava pouco e eu tinha já tudo formulado, mas não conseguira fazer nada, tudo sumiu de minha mente. Eu não queria preocupar Yara, ela logo chegaria em casa, isso se já não estivesse lá, explicar a ela o que tinha acontecido, por que estava de volta mais cedo não era algo que eu quisesse, então resolvi que desviaria minha rota, desci em uma livraria, tinha um novo livro que eu queria há muito tempo comprar e esse seria o melhor momento para isso. Olhei as horas, dali duas horas poderia sair e seguir para casa mais uma vez.

Sentei em uma das várias cadeiras almofadadas da livraria, comecei a folhear o exemplar, um filme sem áudio e legenda começava a rodar, provavelmente, pela décima vez naquele dia. Peguei meu celular, liguei em uma música antiga, meu pai cantava, minha mãe tocava violão e minha irmã guitarra, era uma gravação caseira então até o grito do meu irmão mais velho soava no meio da canção, sim tenho um irmão mais velho, mas eu não o vejo há anos, da última vez ficou comigo e Yara durante dois dias e voltou a sumir no mundo, sei que está casado e parece ter filhos, mas nada além disso eu sei.

Meus pensamentos e minha leitura foram cortados quando meu celular começou a tocar, atendi meio cansada.

– Que desanimo - era Yara - Ainda está na ONG?

– Estou sim e você, onde está?

– Na nossa livraria - ela riu com alguém, era bom saber que ela estava acompanhada - quer algo daqui?

Nossa livraria? Olhei em volta desesperada, peguei minha mochila e o livro, corri para o caixa, ela estava ali onde eu estava, ela acabaria me achando, como fui idiota, se queria enganar minha irmã deveria ter ido para outra livraria não a única próxima da faculdade e da nossa casa.

– Ye, está ai ainda?

– Estou - falei meio agitada, corri para o caixa - Não quero nada daqui, digo, daí, na volta compro o que quero.

– Certo, então te vejo em casa.

– Claro.

Peguei a sacola com o livro, agradeci a caixa que já me conhecia, e olhei para trás para ter a certeza de que não encontraria minha irmã ali ou ela a mim e foi quando a encontrei, ela ria, estava acompanhada de alguém, realmente, eu teria gostado, mas não era qualquer pessoa que a acompanhava...

– Vlad... - saí da livraria.

–.-.

Durante a ula minha irmã não parecia prestar atenção, verificava as horas de segundo em segundo como se com a mente fosse fazer a hora voar. Quando a última aula finalmente acabou ela correu, nem mesmo almoçou, provavelmente comeria no caminho como fazia quando não comia na faculdade. Fui até o refeitório, servi e me sentei.

– Olá - olhei, Vladimir estava se sentando sem ao menos me pedir licença ou algo do gênero.

– Oi. - falei voltando para meu almoço, não gosto que me vejam comendo, normalmente não sou das mais formais.

– Tudo bem?

– O que faz sentado aqui? Acho que qualquer outra das suas fãs, que por sinal estão quase cortando minha cabeça só com o olhar, iriam apreciar mais sua companhia do que eu.

– Eu sei, provavelmente elas só iriam querer que eu falasse dos meus planos para próximos livros - ele sorriu - E sinceramente - ele se aproximou - Não gosto disso, prefiro alguém com quem eu possa conversar.

– E você acha que conseguirá conversar comigo?

– Talvez - ele deu de ombros - Se não, será uma bela companhia par ao almoço.

Eu o olhei, o escritor estava comendo calmamente e não parecia se importar com quem o olhava ou nos encarava. Quando terminei me levantei pedindo licença e ele fez o mesmo.

Andei até o ponto de ônibus e ele me seguiu.

– Vai se tornar meu guarda-costas agora?

– Quem sabe? - ele sorriu - Queria sua companhia, mas você me recusou - revirei os olhos.

– Acho que você está acostumado a ter tudo o que deseja, não é? - ele confirmou - Certo, terá minha companhia, onde quer ir?

– Sorveteria.

Ele falou com uma alegria infantil, então seguimos até a sorveteria, fazia tempo que eu não ia a uma, desde o acidente, sentei ao lado do escritor que pediu uma bola de pistache, uma de passas ao rum e outra de flocos, pedi duas de pistache e outra de limão com cobertura de chocolate cremoso, ele se sujava como uma criança enquanto comia o que me fazia rir.

– Essa vinda aqui serviu só pelo seu riso. - ele falou.

– Dramático. - falei apontando para ele com minha colher - Agora, com qual real razão você me chamou aqui?

– Fugir das menininhas que correm atrás de mim, com você consigo conversar tranquilamente, como fizemos ontem - eu ri - Sério, isso é ótimo, faz tempo que eu não consigo sair assim e ter uma boa conversa.

– Isso é uma boa conversa? - eu me perdi com o sorvete derretido que carregava o chocolate.

– Eu não estou falando do trabalho, já é ótimo. - sorri para ele.

Conversamos sobre filmes, sobre comida e terminamos o sorvete falando de sorvetes.

– Minha irmã teve alguns problemas desde o acidente - contei a ele - não consegue entrar em uma sorveteria ou até mesmo ouvir as músicas do Richard.

– Richard Compoeur? - ele perguntou.

– Sim, adoro as músicas dele. Sou uma grande fã, acho que sou fã dele como minha irmã é sua e isso quer dizer muito, mas em casa tenho de me conter porque Yeva ainda está sensível.

– Quanto tempo faz?

– Acho que três anos ou quatro, mas ela passou tanto tempo se culpando que parece que passaram-se apenas dias. - dei de ombros - É difícil lembrar do passado envolvendo meus pais quando estou com ela.

– Deve ser. - ele falou e deu a última colherada.

– Ela passou mais de um ano sem escrever, o que para ela é muito, todo dia ela escreve um pouco, em nossas estantes temos alguns exemplares que ela terminou, mas nuca teve coragem de publicar.

– Gostaria de conhecer sua irmã, parece ser alguém interessante.

– Você não faz ideia do quanto - eu ri - Preciso ir a livraria, aceita me acompanhar?

– Com todo o prazer.

Fomos até a livraria, eu tinha um livro que a professora indicara na aula, precisava dele para me ajudar com a matéria, o peguei e lembrei que minha irmã queria algo, liguei para ela, Yeva parecia nervosa, mas logo desligou, provavelmente estava ocupada.

– Olha, sou eu! - Vladimir apontou para um poster. - Melhor em poster ou ao vivo?

– Poster - ele fez cara de chora que me fez rir - Photoshop para te deixar bonitão.

– Chata - ele me fez rir - Já achou o que queria?

– Já sim, vamos? - virei para os caixas e vi alguém que parecia ser minha irmã, mas seria impossível que a fosse, ela não teria saído cedo da ONG e acabara me dizer que anda estava lá. - Obrigada pela companhia e pelo sorvete - falei rindo.

– Não foi nada - ele sorriu de volta.

– Até mais, então.

– Até.


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