Eu Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã escrita por Vlk Moura


Capítulo 30
Não se vá


Notas iniciais do capítulo

Yeva



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Levantei ao meio da noite, meus ombros doiam, não era a toa, eu estava deitada com a cabeça na cabeceira, o notebook entre minhas pernas e no meu colo vários papéis. Eu me assustei com meu próprio acordar o que me rendeu uma pesada no teclado e papéis por todo o chão. Os recolhi, fechei o notebook e cocei os olhos, estava com aquela preguiça pós cochilo. Deixei tudo de lado e desci a escada para a sala, a luz de lá ainda estava acesa, pensei em encontrar Vladimir, esqueci a Vovó.

– Ainda acordada? - eu a olhei tentando absorver seus detalhes com meu olhar cansado, arrumei os óculos que não estavam tortos.

– Na verdade, acabei de acordar - sorri desajeitada.

– Ótimo, sua jovem mente deve estar a mil.

– Nã... Não - me sentei ao lado dela - Eu acabei de acordar, o que está acontecendo em minha cabeça é completamente o contrário. - ela riu e me esticou algo, era um de meus rascunhos, na verdade, era o rascunho que eu perdi depois da ida da empresária a minha casa, olhei a senhora.

– Ela me enviou isso, disse que você tinha o dom, duvidei dela e agradeço por tê-lo feito - ela sorria - Eu li seu livro e, caramba - a olhei pela expressão - eu queria ter podido lê-lo antes, é fantástico, queria eu que meu neto tivesse esse seu dom.

– Ahm... Vovó - ela me olhou empolgada - Agradeço que a senhora tenha gostado da minha história, mas, por fão me compare ao neto da senhora - ela parou de sorrir e recolheu o rascunho para junto de si.

– Não vejo desa forma - eu a encarei, o neto era um dos autores que mais vendiam, suas histórias eram envolventes e agradavam ao público, como ela não concorda que ele é fantástico? - Ele é muito simplista, uma cortina é azul e pronto, ela não tem rendas, não é de seda, não é comida por traças, sabe, falta nele um pouco de vida.

Eu me levantei, ela me analisou por alguns instantes.

– Não sei se você terá outra oportunidade como essa - eu a encarei - Outras pessoas podem não entender a profundidade do que você escreveu e irão avaliar isso como uma obra infantil e despreparada e...

– Obrigada por essa sua aula de inspiração, mas ainda assim, eu não sinto que esteja na hora de lançar um livro, não agora com os últimos acontecimentos.

– Se refere a biografia em que meu neto irá vender ou se refere ao seu enrosco com Richard?

– Enrosco? - eu a olhei, ela me analisava. - Desculpa, senhora, mas eu preciso ir dormir, amanhã conversamos mais, tudo bem?

– Não terá outra oportunidade, é agora ou nunca, você escolhe. - ela me via afastar, subi par ao quarto.

Negar aquilo me doia, arrancava um enorme pedaço do meu coração, mas eu não podia fazer, não nesse momento em que minha irmã precisaria de mim, principalmente quando souber que iremos perder tudo, quando descobrir que voltará par ao Brasil e não terá um teto para morar, porque agora, com a certidão de Richard e toda a documentação que fora liberada e minha ti ame mandara estava óbvio quem ganharia e não seremos nós.

Acordei com o som de cavalgadas de fora, coloquei a roupa que eu usava no dia anterior, a Vovó me cumprimentou como se nada tivesse acontecido, a senhora Francisca parecia calma em ter o neto ao seu lado, os dois montados em cavalos, eu os assistia correr, tirei uma foto e a guardei para enviar para minha irmã assim que tivesse sinal.

– Suba - Vladimir falou - Ele não vai te machucar.

– Não - eu me afastei - Estou bem aqui.

– Ela está com medo - olhei a senhora que voltava trotando - Dá para ver nos olhos, não demonstre a ele essa sua insegurança ou... - ela não terminou e Vladimir tinha me feito montar logo atrás dele, eu o agarrei amedrontada, nunca gostei de cavalos, trauma de infancia.

Eu e Yara tinhamos montado cada uma em um ponei e eles empinaram nós rolamos e desde então não conseguimos nos aproximar de equinos.

Vladimir corria, e eu me segurava ainda mais em sua cintura, meu rosto enterrado em suas costas, ele parou, o olhei, estavamos distantes da casa, sua avó nos permitira ficar longe. Ele desceu e me ajudou a fazer o mesmo, guiou o cavalo pelas rédeas, o amarrou a cerca, me forçou sentar ao seu lado e próximo demais do cavalo que comia a grama despreocupado com nossa presença.

– Eu ouvi a conversa de ontem - não nos olhavamos - Por que não aceitou?

– Porque eu não podia.

– Por quê?

– Porque estou ocupada, minha irmã vai precisar de mim, estamos com essa biografia, minha tia querendo tirar tudo de nós, eu não poderia me distrair com outra coisa, seria demais para mim. - eu suspirei - Vladimir - le me olhou - eu acho que vou surtar - ele pareceu se assustar - Se eu perder o apartamento onde irei morar? O que ganho no bar é minimo, ajuda com algumas contas, mas caso eu perca meu teto não terei para onde ir, onde enfiar minhas coisas e as da minha irmã... Minha irmã... Ela nem sabe que corre o risco de voltar e ser uma sem-teto, as vezes me pego pensando que tudo poderia dar errado, Richard poderia demorar a voltar a ter a voz dele, assim ela ficaria lá, salva, com um lugar par amorar, mas as vezes gostaria que ela estivesse aqui ao meu lado, me ajudando. Eu preciso tanto dela, mas não a quero comigo, não quero que ela sofra. Eu acho que...

Ele me abraçou, eu abracei seus braços, ele apertou meus ombros, eu estava chorando, chorei tanto que molhei a manga de sua camisa, ele apoiou o queixo em minha cabeça e ficou me balançando como se eu fosse uma criança.

– Vladimir - ele me olhou - Eu sinto muito.

– Sh... - ele beijou o alto da minha cabeça - Sei que tudo parece querer te afogar agora, mas saiba, quero que você saiba, me olhe - o olhei - quero que saiba que estarei ao seu lado, não importa o que aconteça.

Eu o abracei ainda mais.

– Vladimir - ele me olhou - Obrigada.

Ele sorriu, seu sorriso, ele mexia comigo, agora não era uma atração de fã, era algo a mais, um toque que eu não tinha sentido antes.

Voltamos para a casa, ele me forçou a ir guiando o cavalo enquanto ele ficava montado atrás me ajudando a como guiar.

Francisca estava sentada de fora, ela nos olhou e sorriu com seu olhar maternal, era assim que eu imaginava que minha avó me olharia caso visse como eu e Yara estavamos bem, ou quase bem.

– Você deveria aceitar - Vladimir falou quando acertavamos alguns pontos dos escritos - A oferta que ela te fez, sinceramente, seria bom para você.

– Você acha? - ele confirmou.

– Já li seu rascunho - eu corei - e ela tem razão quando diz que é bom, na verdade, é muito bom, eu li aquilo em um dia e fiz isso - ele me mandou um arquivo - Imaginei que a capa poderia ser assim, tem alguns traços do Richard e da sua irmã, é claro, eu precisava consultar alguém.

– Já te disseram que você é maluco? - eu falei rindo.

– O tempo todo durante coletivas, ouço tanto isso que estou pensando em colocar como meu nome artistico Vladimir Maluco, claro que iria implementar com um duplo L ou duplo C, ainda estou vendo o melhor.

– Sério... - eu ri - Mas você realmente achou bom? - ele confirmou.

– Crianças, vamos almoçar, vê-los trabalhando tanto está me deixando faminta e ainda tenho três livros para terminar de revisar.

O tempo com a Francisca foi curto, no dia seguinte voltavamos para a cidade, minha tia me notificava que logo teria o apartamento em suas mãos e ela tinha razão, já era dela. Empacotei minhas coisas e com a ajuda de Vladimir as levei para a casa dele, o escritor disse que poderia ficar lá até conseguir um lugar para morar.

– Alô? - Vladimir se afastou, eu o observava, sua pele ficou palida, seus olhos se encheram com lágrimas que escorreram.

– Vladimir? - eu tentei me aproximar.

Ele se afastou e trancou no quarto. Recebi a ligação, era a empresária, ela pedia minha ajuda para tentar tranquilizar o escritor, me contou que Francisca havia falecido dormindo, pelo que diziam, contou ainda que ela tinha sobre o peito um escrito do neto e sobre a cabeceira meu rascunho. No dia seguinte fomos até o sítio, uma carta destinada a Vladimir fez com que ele se trancasse no banheiro, os empresários me entregaram outra, sentei no sofá da sala.

"Se você está lendo isso, então eu devo estar morta ou louca, Yeva, eu estou muito doente e você já deve saber disso a essa altura. Eu não ia contar para o meu neto sobre isso, mas percebi que meu tempo em Terra estava prestes a acabar e eu precisava vê-lo uma última vez.

Aproveito este momento para te agradecer por estar fazendo mudanças tão grandes nele, anteriormente ele não teria vindo até mim ou nem mesmo ligaria para o que está acontecendo, mas vejo que você está sendo o melhor para ele nos últimos anos, principalmente após a morte dos pais dele.

Vladimir nunca teve algo que pudesse chamar de família e eu me culpo por isso, eu não soube como cuidar dos meus filhos, nenhum deles e por isso que na primeira oportunidade fugiram daqui, eu não teria feito diferente, a alma de pássaros permeia nossa família a gerações. E com meu netinho não seria diferente.

Quando eu te disse que tinha o dom, quero que saiba, que falei a verdade, nunca fui tão honesta com alguém em minha vida. Depois de ler seus rabiscos cheguei a conclusão que era hora de parar, que o mundo precisava de uma nova literatura e a descobri em você. Caso ainda esteja na dúvida então pense bem no que está passando agora, pense no que pode melhorar com esse lançamento,não irei iludi-la em dizer que será tudo fácil, porque não será, você terá aquilo que hoje vocês jovens chamam de haters, mas terá fãs, alguém sempre gosta do que escrevemos e isso tem de nos motivar.

Sinto muito por não poder te ajudar mais, meu tempo, como eu já disse, já deve ter acabado e se essa carta não mudou é porque não tivemos outras oportunidades de conversar e nos conhecermos. Espero que você possa sempre cuidar do meu menino.

Com carinho,

Francisca.

P.S.: tenho dois livros para você na minha estante."


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