Fiquei uns minutos lá, parada que nem boba, apenas pensando. Quando estava indo novamente atrás de Percy o sinal tocou anunciando que o intervalo, para almoço, havia terminado. Infelizmente eu teria que falar com Percy depois.

—Se eu fosse você eu matava essa garota.

Segui o som da voz e encontrei uma menina encostada na parede, ela tinha cabelo castanho claro liso, olhos da mesma cor, e me parecia ter uns treze anos.

—Sério, uma morte bem lenta e dolorosa — ela continuou —Ah, e aliás, meu nome é Sarah Gabrielle, fazemos todas as aulas juntas — ela mostrou duas pulseiras pretas em seu braço, que indicavam que ela era um camaleão.

—Annabeh Chase — eu disse.

—Eu sei, então se precisar de alguma ajuda para matar a ruivinha ali, pode ter certeza que eu irei arquitetar uns dos melhores planos de morte. Precisaremos de um alicate — ela disse colocando o dedo no queijo, viajando em pensamento maláficos —, um martelo, uma foice...

Eu ri baixinho.

—Obrigada, tenha certeza de que se um dia eu fizer isso falarei com você.

—Ótimo — ela disse dando pulinhos, estranho saber que essa garotinha saltitante a segundos atrás estava planejando um assassinato — Agora vamos para aula porque se não o professor de microbiologia vai nos comer vivos.

Eu ri baixinho novamente e a segui pelo corredor.

Meu último tempo era treinamento dos guardiões. Sarah e Leo, que já tinham feito essas aulas mais vezes que eu, me ensinaram como ficar de frente ao meu protegido, tornando-me assim um escudo humano. A regra dos guardiões é clara, sua vida não importa tanto quanto a do seu protegido. Morrer para salvar aquele a quem você foi designado é uma regra, se a pessoa não está disposta a morrer por alguém, não pode se tornar um guardião. Quíron que nos treina hoje, mas descobri, por Sarah, que normalmente isso quem faz é Percy. Quíron quase não tem tempo, mas quando Percy teve que sair em missão para ser meu guardião ele não pode mais ajudar com os treinamentos, e Quíron teve que reorganizar seus horários até que Percy voltasse. Hoje era para Percy está aqui, mas “ele não está se sentindo muito bem”, palavras de Quíron.

Eu queria realmente sair correndo dessa sala e ver como Percy está. Mas não saberia onde encontra-lo e mesmo que encontrasse, não saberia o que dizer. Sei que teremos que conversar em algum momento, e estou com medo de que ele simplesmente não queira nem olhar na minha cara. E se ele me culpa pelo que aconteceu? Por que foi culpa minha, certo? Eu causei isso tudo. Eu só apenas queria ter certeza de que nenhum dos dois tiveram problemas. É claro que Luke agiu como um completo idiota que ele é. Mas eu ainda sou amiga dele. Ainda quero que ele esteja bem. Ainda quero que ele fale comigo.

Eu só queria que minha vida voltasse ao normal. Eu só queria que minha vida voltasse a ser como era antes. Eu só queria ver meu pai mais uma vez. Queria poder toca-lo, rir de suas piadas, sentir seu desodorante muito forte que chegava a me dar vontade de espirrar. Queria ao menos ter tido a oportunidade de me despedir dele, de dizer uma última vez o quanto eu o amava. Mas não posso mais, perdi meu pai para um bando de bandidos, e essa realidade me atinge como um tapa da cara. Eu deveria te-lo salvado, eu deveria estar ao lado dele, deveria ter sido esperata o suficiente para saber que eles tentariam me pegar de qualquer jeito, que eles iriam seguestrar alguém que amo, que eles não teriam a menor compaixão com meus parentes nem amigos. Eles não se importaram com Silena quando quiseram sequestra-la. Eles não se importam com nada nem ninguém, eles apenas se importam consigo mesmos, seu próprios propósitos, e não querem saber o que está na frente deles. Seja o que estiver atrapalhando suas descobertas e seus avanços, eles o tiram, eles matam, eles torturam, e no fim, conseguem o que querem.

—Você está bem? — pergunta-me Sarah quando o treino havia acabado.

—Só estou pensando se ainda terei treino com Percy, já que ele não está se sentindo bem — não é uma completa mentira, eu realmente estava me perguntando se Percy havia cancelado nosso treinamento de hoje.

—Eu acho que se você não tiver treino sua helper irá avisa-la — ela diz — mas acho que o guardião Jackson camparecerá — notei que era assim que todos o chamavam, ninguém o chama de Percy, até mesmo Quíron quando fala dele se refere como “guardião Jackson” — Ei espere — ela para subtamente nossa caminho até a porta desta grande sala — é verdade que vocês estão namorando?

Meus olhos se arregalam, olho de um lado para o outro só para ter certeza de que não tem ninguém nos ouvindo. De onde estou, consigo ver Leo falando com alguns garotos sobre armas e tal, ele concerteza não estava ouvindo nossa conversa. Por mais que as pessoas não parem de me encarar, não estão perto o suficiente para ouvir nossa conversa.

—Não — eu digo finalmente — eu e Percy não estamos namorando.

Ela me estuda, estuda o jeito que eu tento olhar para qualquer coisa menos para os olhos dela, estuda o jeito que limpo o suor das minhas mãos com certo nervosismo, e como respiro e inspriro tentando, sem sussesso, controlar minha respiração acelerada. Não estou assim por causa da sua pergunta, estou assim por que ela me trouxe toda a lembrança da noite anterior, aquela de quando os braços de Percy estavam em minha cintura, e como nosso corpo se encaixava perfeitamente juntos, em como apenas com um beijo ele estava fazendo com que meus hormônios se sobressaltassem...

Sarah aperta os olhos acusatóriamente para mim.

—Por que eu não acredito em você? — ela perguntou fingindo estar pensativa e logo em seguida levanta o dedo indicador como se estivesse se lembrando de algo — Ah, talvez seja porque todos ouvimos ele dizer no refeitório que vocês estão juntos.

—Não estamos juntos, e ele disse “chame do que quiser” — eu digo — Na verdade eu não sei bem que está acontecendo entre nós.

—Por quê? — ela pergunta parecendo um pouco confusa com isso tudo.

—É que apenas nos beijamos — eu digo com um suspiro — só isso, mais nada. Ele não me pediu em namoro ou coisa do tipo. Ele apenas me beijou.

—APENAS? — ela grita — Quem dera ele apenas me beijasse.

Eu tenho certeza de que estou corando.

—Senhorita Chase?

Eu olho por sima do ombro de Sarah e vejo Samanta me chamando.

—Desculpa atrapalhar — ela diz se aproximando — mas você precisa econtrar com o guardião Jackson em dois minutos.

Sarah sorri para mim.

—O que eu disse em? Eu não estava certa? Agora você está me devendo — ela pensa por alguns segundos — , quero um saco de dorittos.

—Mas não apostamos nada — eu protesto.

—Mesmo assim. Eu acho que tenho direito de ganhar algo — ela me vê abrindo a boca e me interrompe — acho melhor você não discutir comigo — ela diz me empurrando para a saída — você está atrasada para o encontro com o guardião gato. Acho melhor não o deixar esperando.

É o que eu faço, eu corro junto com Samanta até seja-lá-onde-for essa sala em que vamos treinar.

Eu estou parada a porta de onde Samanta disse que eu iria treinar com Percy, e logo em seguida saiu dizendo que tinha alguns compromissos. Estou nervosa, mais nervosa do que nunca, estou com medo, minhas mãos estão suando enquanto toco a maçaneta da porta, meu coração está acelerado e eu não consigo entender o motivo te tanto nervosismo. Passo a minha mão livre sobre a roupa como se para ajeita-la, mas fiz isto tantas vezes a caminho desta sala que eu praticamente acabei amassando a minha blusa. Respiro fundo. Uma. Duas. Três vezes. E abro a porta.

Parece que ele está atrasado. A sala parece completamente abandonada, ela é toda forrada com colchonetes pretos e não tem nada mais que isso, eu dou um passo para frente, depois outro, fechando a porta atrás de mim, no meu terceiro passo sinto algo bater contra meu corpo me atirar direto para o chão. E o braço de alguém agora estava precionado contra meu pescoço.