A casa que meu pai alugou não era grande nem nada, mas era aconchegante e não precisava ser grande, pois era apenas eu e ele e não éramos muito espaçosos.

Como nós só íamos ficar dois dias lá, nós não desfizemos as malas.

Como era sexta à noite, meu pai e eu pai fizemos a janta juntos, meu pai resolveu se deitar por que ele estava cansado.

Olhei a hora, era umas nove horas da noite, decidi sair pra dar uma caminhada já que estava sem sono nenhum.

A praia era totalmente linda a noite, e como estávamos afastados da cidade aqui dava pra ver as estrelas. A maioria das constelações. Eu coloquei o lençol, que eu tinha pegado antes de sair de casa, estendi-o na areia e deitei em cima dele. Era lindo de se ver, e muito fácil de confundir onde o mar terminava e onde o céu começava a noite, se não fosse pelas estrelas isso seria quase impossível.

Pensei em Luke, ele que gostava deitar e ficar apenas admirando as estrelas. Ele me falou que em Nova York quase não se vê as estrelas. Em Long Island sempre conseguimos enxerga-las, é claro que não tanto quanto aqui. Isso me fez lembrar de quando eu ouvi a conversa do Percy com Luke. Que morar em Long Island era um castigo do Luke. Mas o que Percy quis dizer com isso? Tanta coisa me aconteceu em menos de uma semana. Eu quase fui atacada, descobri que minha melhor amiga tem um segredo que ela não pode me contar, que meu melhor amigo esconde alguma coisa também e briguei com ele, fui quase expulsa de uma lanchonete por fazer guerra de sorvete, e conheci um garoto estranho, que de uma forma estranha parece estar envolvido em cada uma dessas coisas que me aconteceram. O pensamento nele me fez lembrar o dia em que nós nos conhecemos, quando ele disse meu nome, parecia que ele estava fazendo uma piada interna, uma que só ele conhece e entende. “Prazer em te conhecer Annabeth Chase” ele havia dito.

Não sei se foi o sorriso que ele deu em seguida o tom da sua voz quando disse meu nome, mas algo me fez acreditar que ele mentiu quando disse que tinha visto meu nome no site. Pra mim aí tem coisa.

—Oh, você por aqui? — perguntou-me uma voz.

Sentei-me num sobressalto. Olhei pra trás pra ver quem era. Percy.

—O que você está fazendo aqui? — eu disse colocando em palavras meus pensamentos.

—Não, não — ele disse sentando-se ao meu lado — A pergunta é o que a você está fazendo aqui. Tudo bem eu sei que sou gostoso e tudo mais, mas eu acho que você ficar me seguindo é um exagero.

Olhei pra ele pasma.

—Eu te seguir? E porque que eu iria querer fazer isso?

—Olha eu posso te dar vários motivos. Por que sou lindo, sou encantador, viciante, tenho um cabelo maneiro, uso roupas melhores que seu amigo Luke, por que eu sou irresistível...

Eu fiz um sinal de desdém com a mão.

—Tá, tá, chega. Não estou nem um pouco afim de ouvir você se auto vangloriar.

Ele sorriu.

—Que fazer isso por mim? Por que você deve ter melhores explicações pra isso do que eu.

—Não, eu queria mesmo saber o que você está fazendo aqui.

Ele suspirou e encolheu os ombros em um falso sinal de cansaço.

—Tá bom, se quer continuar fingindo que me seguiu até aqui tudo bem. Eu costumo vir à praia todo fim de semana, ela me acalma. E eu gosto de olhar as estrelas. Como meu pai tem um bando de casa aqui alugando eu sempre pego uma pra ficar no fim de semana.

—Você veio sozinho? — eu perguntei.

Ele me olhou com um sorriso brincalhão.

—Você quer saber se eu trouxe alguma garota?

Eu bufei.

—Claro que não — eu disse — tenho certeza que uma garota não aguentaria ficar com você por duas noites. Acho que uma até vai, mas duas é praticamente impossível.

Ele riu.

—Verdade, acho que é por isso que nenhumas das que eu convidei quis vir comigo — ele disse. Pelo seu tom de voz dava pra perceber que ele estava sendo sarcástico — Mas respondendo sua pergunta, sim. Eu costumo vir apenas pra pensar e garotas normalmente falam de mais. Não dá pra pensar assim.

—Então acho que quando você me viu em vez de se aproximar você deveria ter saído de fininho, tenho certeza de que eu não ia notar.

Ele virou pra me olhar.

—Ah, não. Você é diferente.

—Diferente? O que você quer dizer com isso.

—Quero dizer que se eu não falar com você, você não fala comigo. Simples assim. Tenho certeza que se eu parar de falar agora você também para. Não é como as outras garotas, elas me importunariam até que eu falasse algo.

Eu ri.

—É por que eu gosto quando você fica calado — brinquei.

Ele riu. Eu gostava quando ele ria, o rosto dele ficava mais angelical do que já era. Ele ficava muito mais fofo assim.

—Ah, para — ele disse — eu sei que você gosta de ouvir minha voz.

Era verdade. Toda vez que ele falava a voz dele parecia me chamar pra ele.

—Eu acho que não em...

—Tá tudo bem. Mas se não gosta de mim, não gosta da minha voz, não gosta de me ouvir falar. Então por que me seguiu até aqui?

—Eu acho que já disse que eu não te segui até aqui.

—Tudo bem, continue mentindo e eu continuo fingindo que acredito.

Eu ri.

—Eu acho que você deveria saber que nem tudo no mundo é sobre você Percy Jackson — eu disse já me levantando pra ir embora.

—Ei, — ele disse — Vai deixar o pano aqui?

—Acho que você pode me entregar depois, aproveita que hoje o céu está lindo.

Eu me afastei tentando ao máximo esconder meu sorriso.

A campainha da casa tocou, e isso foi o que me acordou. Eu esfreguei minhas mãos nos olhos pra ver se clareava minha visão, e foi aí que eu vi em cima da mesa de cabeceira um papel com algo escrito. Era do meu pai.

“Annie, tive que sair para fazer algumas compras, para o almoço. Volto Logo... Tem pão e queijo na mesa pra você tomar café da manhã. Bjs com amor... Frederick.”

Enquanto eu lia esse pequeno recado minha campainha deve ter tocado umas cinco vezes. Seja lá quem fosse parecia estar muito em paciente.

—Já vou — eu disse.

E me levantei e coloquei meu cabelo em um coque para que parecesse ao mínimo que eles estavam um pouco arrumados, no meio do caminho eu achei uma bala, que logo coloquei na boca. Já que não tive tempo para escovar os dentes pelo menos uma bala eu deveria colocar na boca para disfarçar caso ela estivesse com algum mau cheiro. Eu tinha quase certeza de que era Percy. Primeiro porque ele era o único que eu conhecia por aqui, e eu tinha certeza de que meu pai não teve muito tempo para fazer amigos. E segundo porque ele tinha que me dar meu pano de qualquer modo.

A campainha ainda tocava impacientemente, sinceramente eu já estava pensando em mil modos de matar o Percy caso eu ficasse com dor de cabeça por causa disso.

—Calma, eu disse que já estou indo.

Abri a porta. Lá estava um cara vestido totalmente de preto, a cor de sua pele era escura e tinha uma cicatriz que cortava a maior parte de seu rosto, principalmente o olho esquerdo, era assustador, o olho estava praticamente fechado e a única parte que se via de seu olho esquerdo era totalmente branco. O rosto dele continha uma expressão séria e assustadora ao mesmo tempo. Mas não foram suas roupas, seu rosto, seus olhos ou sua cicatriz que me assustou. O que me assustou, foi a arma que ele tinha em sua mão, diretamente apontada para minha cabeça.