Sorri suavemente. Luna parecia ter recebido um balde de água fria na cabeça e isso provavelmente não era um bom sinal, pensei enquanto colocava as mãos nos bolsos.

–Tudo bem, podemos conversar mais tarde, talvez? –O sorriso frágil que estampava seus lábios pareceu derreter e seus enormes olhos procuraram os meus e rapidamente desviaram.

–Seria ótimo. Bem, na verdade seria bom resolver isso logo. –Sua voz calma e paciente cortou o silêncio. Ela olhava para os pés, os cabelos loiros e longos balançando de um lado para o outro conforme os pequenos movimentos que ela fazia.

–Era exatamente o que eu queria ouvir. –Disse, afrouxando um pouco a gravata que parecia enforcar meu pescoço. Mesmo frouxa, a sensação de sufoco não me deixou.

–Draco. –Ela ergueu a cabeça e seus olhos azuis como o céu em um dia de verão de repente me fitavam, cansados. –A resposta... –Uma sensação esquisita de pânico se apropriava aos poucos de mim.

–Não precisa responder. –A dei um sorriso constrangido. –Eu sei qual é a resposta. Só quero uma chance de a fazer mudar de ideia.

Luna sorriu graciosamente.

–Acho que não tem nada que possa fazer para mudar minha mente. –Disse.

–Pensei que fosse uma pessoa de fé.

Ao contrário de se mostrar irritada com minha afirmação, Luna expandiu o sorriso. Ela ficava bonita assim, como se todo o seu rosto se iluminasse. “Malfoy, lembre-se. É uma brincadeira. Ela ainda é a di-Lua, a esquisitona...”

–O que quer fazer? –Perguntou, interrompendo meus pensamentos. As sobrancelhas loiras dela haviam se erguido. Observei, atrás de Luna, um quadro onde um senhora meio gorda espiava. Seu olhar era admirado e a expressão apaixonada. Eu quase a podia ouvir falando “Ah, jovens” quando Luna chamou minha atenção, olhando ao redor para acompanhar meu olhar.

–Ah. –Falei, recuperando a postura. –Saia comigo. –Pedi e, quando Luna voltou a me olhar, seu rosto estava corado.

–Ah, Malfoy...

–Sem “Malfoy”. Esqueça minha família. Esqueça os seus amigos e nossos propósitos divergentes... Seremos apenas “Draco e Luna”. Ou vamos tentar dar uma chance, ao menos. Certo? –E, sem deixar tempo para que ela respondesse, continuei: -Me encontre na borda Sul do lago amanhã, às cinco da tarde. Por favor. –Acrescentei, o rosto de Luna que parecia torturado esboçando então um sorriso realmente suave. Ela acenou rapidamente com a cabeça, algo que eu não interpretei nem como um “sim” ou como um “não”, antes de sair andando. A mulher gorda então direcionou um olhar rígido para mim.

–Não se atreva a machucar essa garota. –Ela falou, o coque bagunçado em sua cabeça se soltando aos poucos.

–Não, senhora. –Falei o mais rápido que pude.

–Bom. Ela não merece isso. –E então saiu da moldura dourada. Talvez para espalhar a notícia, pensei um pouco desconfortável.

Pansy saiu de um armário de limpeza, as vestes cheias de teias de aranha e com uma carranca. Seus cabelos lisos e sem-graça estavam agora molhados e o cheiro que se desprendia dela era de detergente. Tive de segurar uma risada.

–O que aconteceu com você?

–Eu esbarrei em algo e um balde de detergente... –Sua voz ia ficando mais baixa e ela parecia tremer. Eu não sabia dizer se era por causa do líquido frio que havia caído nela ou raiva. –Caiu de uma prateleira. Em cima de mim.

Contraí os lábios para baixo para segurar o riso, mas sem querer uma nota de gargalhada escapou e Pansy agora me encarava com profundo desgosto.

–Ah. Você acha engraçado, hein? Pois não parecia muito feliz quando Luna Lovegood estava prestes a te dispensar...

–Ela não me dispensou. –Interrompi, subitamente recuperando o aspecto sério.

–Ainda não. E, francamente, se rebaixou tanto, Malfoy. –Ela estreitou os olhos por baixo da franja agora molhada. Sua voz tremia de fúria.

–Está com ciúmes, Parkinson? –Ela corou repentinamente.

Pansy me lançou um olhar fulminante antes de sair andando, deixando uma enorme poça rosa no chão.