Eu me olhava no espelho de moldura prata. Gina havia se sentado na borda da cama e parecia um pouco entediada.

–Como ele reagiu? –Ela perguntou enquanto eu trançava o cabelo. Meus dedos pararam por um segundo antes de prosseguir.

–O que?

Gina respirou profundamente.

–Está difícil conversar com você. Como o Draco reagiu quando você o rejeitou? –E então pregou os olhos claros em mim, usando o espelho para fazê-lo.

Engoli em seco, continuando a trança. Ainda havia muito cabelo pela frente...

–Ele... Fez a pior cara de nojo que alguém poderia fazer. –Franzi o cenho, tentando inventar mais alguma coisa, mas Gina já ria.

–Viu como ele é? –Ela falou olhando para o teto –Ele só é legal quando quer alguma coisa, Luna! Você fez a coisa certa. –E então sorriu.

Senti um aperto mínimo no peito, mas eu podia aguentar isso.

–É. Talvez seja.

Gina ergueu o rosto para mim.

–Não duvide disso. Mas você sabe tomar decisões próprias. –E então abriu um sorriso generoso para mim no momento em que eu terminei a trança.

“É, com certeza eu sei tomar decisões próprias.”

Eu e Gina saímos do banheiro e andamos pelo corredor monumental. Nos separamos para entrar em salas diferentes. Em alguns minutos, eu estava com quatro dúzias de alunos da Corvinal e da Sonserina. Ah, meu Deus, Sonserina. Fiz questão de sentar no último lugar e, em algum tempo, Padma Patil se sentou ao meu lado.

–Ei, Luna. –Ela cumprimentou educadamente e desviei meus olhos da janela para encará-la.

–Ei, Padma. Como vai? –Pergunto.

Ela sorri, colocando os cabelos lisos para trás.

–Muito ocupada, naturalmente, estudando para os exames e tudo mais... –O barulho de McGonagall abrindo a porta a interrompeu.

–Bom dia, alunos. –Disse, parando pomposamente. Um grupo de sonserinos na minha frente parou de rir imediatamente e eu logo identifiquei uma cabeça dourada que se virava para frente. “Concentre-se, Luna”. Desviei o olhar para encarar a professora.

–Bom dia, professora. –Falamos em coro.

Passei o resto da aula tentando não olhar na direção dos sonserinos e, quando finalmente chegou a hora de fazer com que uma almofada criasse pernas, eu apenas fiz com que ela adquirisse um tom de platinado estranho. “Oh, Deus”. Olhei rapidamente para a cabeça loira de Draco e de volta para a almofada. Era a exata cor dos cabelos dele, que ultimamente estavam bem mais bagunçados do que de costume. Balancei rapidamente a varinha antes que Padma a visse, e fiz com que voltasse a sua cor inicial. Quando ela se virou, franziu as sobrancelhas.

–O que você fez, afinal?

–Ah, criei um braço nela. Mas queremos pernas, não é? Então eu as fiz desaparecer. –Eu falava muito rápido.

–Ah, sim.

Voltei minha atenção para a almofada e, cruzando os dedos, mexi a ponta da varinha anunciando o feitiço.

Finalmente, a almofada criou duas pernas muitíssimo finas e ergueu-se com dificuldade.

Foi quando o sinal tocou. Passei todas as aulas restantes tentando me concentrar, mas eventualmente me pegava olhando para a janela ou para os sapatos dos professores, em algum universo muito distante.

Quando a última aula chegou, saí meio eufórica da sala. Eu ainda não havia decidido se iria ou não até o lago com Malfoy, mas tinha a leve impressão de que minhas pernas já estavam me carregando para lá, mesmo que as aulas do dia já estivessem acabado com dois horários livres pela frente.

–Controle-se. –Sussurrei para mim mesma enquanto mudava de direção para a sala comunal da Corvinal.

Eu e uma massa considerável seguíamos até a torre oeste. Algumas pessoas à frente já entravam na sala, respondendo à pergunta do dia da aldrava.

Quando chegou na minha vez, ouvi a voz baixa e familiar:

–Qual é o animal africano, cinzento, de grande porte e que possuí muita força, podendo ser confundido com um rinoceronte?

Fico um pouco em dúvida por um segundo antes de arriscar:

–Um erumpente?

A porta se escancarou e eu passei correndo pela sala comunal para subir até o dormitório das meninas. Chegando lá, fui tomar uma longa ducha e então me vestir. Revirei o malão em busca de alguma roupa legal, o olho pregado no relógio: Ainda faltava uma hora para as cinco. Acabei desistindo e pegando qualquer coisa em cima da cama. Em cinco minutos, estava com um vestido amarelo-gema e um grande cardigan rosa por cima. Desfiz a trança e coloquei os cabelos dispostos nos ombros e nas costas, me olhando no espelho.

–Ei, Luna. –Alguém chamou. Cho estava atrás de mim, colocando os longos cabelos escuros para trás. –Está bem bonita. Está planejando algo para hoje? –Um sorriso sugestivo se espalhou por seu rosto. Senti o rosto esquentar.

–Sim. Tenho algo com Harry, Rony e Hermione hoje. –Falei, simplesmente. Eu não acreditava no quanto estivera mentindo ultimamente.

Cho se calou imediatamente e se despediu dizendo que tinha algo para fazer. Sorrindo, sai do dormitório e fui andando rápido até a saída do castelo. No caminho, Pansy Parkinson passou por mim e fez uma expressão de desgosto misturada com um risinho. “Claro que ela sabe” –Pensei enquanto me distanciava. Olhei no relógio antes de passar pelo portão do castelo: Cinco em ponto.

Respirei profundamente antes de sair para o dia frio e ensolarado, o que era uma combinação nada típica.

Eu mal havia dado dois passos para fora da propriedade quando ouvi uma voz bastante próxima:

–E aí, Luna? –Sua voz arrastada fez com que meu estômago revirasse antes mesmo de o encarar.

–E aí? –Respondi, minha voz bem mais baixa do que o habitual. Draco usava uma camiseta branca e calças pretas. Seus cabelos estavam bagunçados em um estilo descontraído e os olhos cinzentos me acompanhavam atentamente, fazendo com que eu me sentisse tanto bem quanto preocupada.

–Está linda. –Ele falou, me olhando de cima a baixo rapidamente e fazendo com que meu rosto ardesse.

–Você também não está nada mal. –Sorri suavemente. –Então, o que você planejou para hoje? –Falei, quando já estávamos a alguns metros da outra borda do lago, onde havia um banco escuro de madeira.

–É uma surpresa. –Respondeu sorrindo.

–Não sou muito fã de surpresas. –Falo erguendo as sobrancelhas.

–O que é uma pena. –Ele tombou a cabeça.

Franzi o cenho sorrindo.

–Então o que fazemos enquanto isso?

Draco me encara por um breve segundo e eu quase me arrependo de ter falado algo. Ele me fitou como se tentasse entender um feitiço difícil ou consertar algo que provavelmente não tem conserto, mas então sua expressão se iluminou repentinamente.

–Podemos tentar nos conhecer.

Desvio o olhar para o lago.

–Certo. –Então sorri olhando para ele. –Luna Lovegood, prazer.

Ele riu, divertido.

–Draco Malfoy. Será que já te vi em algum lugar?

–Ah –Franzi o cenho teatralmente. –Eu realmente acho que não. Eu não saio muito para lugares onde muitas pessoas vão. Isso é “normal demais para mim”. –Falei erguendo uma sobrancelha e o citando. Ele parece um pouco desconfortável.

–Eu fui muito babaca falando isso, não é?

–Incrivelmente.

Ele procura rapidamente meu olhar, como que para ter certeza que eu estou sorrindo.

–Perdão, mas todo mundo merece uma segunda chance, não é?

–Acho que é o que dizem por aí.