P.O.V. Clara

Meus olhos estavam pesados, sentia dores por todo o meu corpo e eu lembrava vagamente do que havia acontecido.

Ao abrir meus olhos minha visão estava embaçada, mas quando ela voltou ao normal percebi que não estava em um lugar familiar. Era uma sala branca, as janelas estavam fachadas com persianas que faziam com que eu não enxergasse o que estava o que havia no exterior; eu estava deitada em uma cama simples de estrutura de ferro branca e a julgar os aparelhos que estavam ligados a mim propus que estava em um hospital.

Quando a minha ficha sobre o local que eu estava caiu comecei a me lembrar do acidente.

Flashback on:

Enquanto refletia ouvi um estrondo , olhei para trás e vi um caminhão que havia batido em um carro o qual ficou completamente amassado, no inicio achei que ele tinha parado mas quando prestei a atenção, não tinha e estava vindo descontroladamente em nossa direção derrapando na pista molhada por causa da chuva fina que caia.

Eu entrei em pânico avisei o motorista que não prestou atenção e riu da minha cara, e ao voltar para checar para ver onde o caminhão estava bati o olhar no lugar onde deveria estar o motorista, entretanto não havia nenhum motorista, apenas um corpo coberto de sangue que escorria pelo vidro que estava quebrado; no lugar onde estava o passageiro estava uma mulher ou o que deveria ser uma mas lá estava apenas seu corpo decapitado espirrando sangue.

Ao ver aquilo comecei a gritar sem controle e foi ai que o caminhão atravessou o canteiro, mas antes que sua carga pudesse atravessar, as rodas traseiras derraparam fazendo com que a parte de trás caísse sobre o nosso carro.

E então escuridão... nada mais.

Flashback off.

Não queria acreditar que aquilo havia acontecido. Me sentei na cama com os olhos marejados esperando que meu corpo me obedecesse; onde estariam meus pais? O que teria causado aquela atrocidade com as pessoas dentro do caminhão?

Quando estava quase pronta para puxar aqueles fios e me levantar para procura-los a porta se abriu e uma mulher baixa de cabelos avermelhados entrou e direcionou o olhar para mim.

– olha só quem acordou!

– onde estou? Cadê meus pais?

– Bom! Você esta no hospital central em Jolliete, e... e seus pais eles – ela deu um suspiro e abaixou a cabeça – eu acho melhor eu chamar o médico ele queria falar com você quando acordasse.

Naquela hora ela saiu do quarto me deixando sozinha. Eu não sabia o que pensar minha respiração começou a acelerar, eu sentia meu coração bater rápido como nunca tinha batido e sentia uma dor no peito que era como se alguém tivesse me esfaqueado, meus olhos ardiam e eu não conseguia segurar as lágrimas que agora rolavam pelo meu rosto como uma chuva interminável que carregava a dor que eu estava sentindo.

Sem que eu percebesse o medico já estava dentro do quarto, ele me chamava mas sua voz simplesmente não chamava minha atenção eu simplesmente estava lá chorando e olhando para qualquer canto da sala. Fiquei assim até que ele segurou uma de minhas mãos atraindo finalmente minha atenção para seus olhos azuis que passavam uma certa calma, tranquilidade e de certa forma compreensão.

– Meu nome é Mickel, você deve ser Clara.

Assenti com a cabeça e perguntei – o que aconteceu com meus pais – de certo modo eu já sabia a resposta mas queria ter certeza de que eles não tenham sofrido algo igual aos passageiros do caminhão.

– É difícil falar isso mas seus pais não aguentaram muito, seu pai faleceu minutos antes da chegada dos bombeiros e paramédicos, já sua mãe aguentou e falava que apenas deixaria esse mundo quando você estivesse acordada e sã e salva; e foi o que aconteceu, exatamente a uma hora atrás ela estava falando comigo e do nada deu um sorriso e disse que você acordaria e que ela te amava muito, então fechou os olhos e...- ele fez uma cara de que eu provavelmente já sabia o que tinha acontecido.

– Eu também os amava – falei com uma voz chorosa fazendo com que ele ficasse com os olhos marejados – a quanto tempo estou aqui?

– Há mais ou menos uma semana e meia.

– Vocês sabem o que aconteceu com os passageiros do caminhão?

– Sinto muito por ter visto aquilo, mas ainda não sabemos, tudo o que houve foi que os encontramos daquele jeito e não havia nenhuma evidencia de outra pessoa lá ou de uma arma do crime.

– Hmm.

– pelo visto você esta bem em questões físicas, não?!

– É acho que sim... quando vou poder sair daqui?

– De acordo com nossas informações você tem um irmão, e ele já será avisado; já você , a ultima informação que tive é que ira para um acampamento e quando completar 18 anos voltara para casa, e vai poder sair daqui amanhã.

– As minhas coisas que estavam no carro... sobrou alguma?

– Sua bolsa de mão apenas o resto acabou destruído com a batida. Acho que vou deixa-la sozinha, venho te ver amanhã.

Dei um falso sorriso que desapareceu logo que a porta se fechou. Minha cabeça estava a milhões, e a final eu estava certa, essa seriam as piores férias da minha vida.

.oo0oo.

Dream on: ( antes de ler coloquem essa musica fica mais bonitinho: https://www.youtube.com/watch?v=4OjiOn5s8s8&index=7&list=AL94UKMTqg-9BOrxAgak4da4KtPfqNRUXF )

Eu estava no sitio de minha tia-avó, meu irmão estava todo suado jogando bola com meus primos. Minha mãe estava sentada em uma mesa fofocando com minhas tias ela ria, fazia cara de indignada e sorria como se o mundo nunca tivesse fim. Meu pai estava correndo atrás de mim com seu sorriso encantador e seus olhos brilhando de felicidade, ele me fazia cócegas, me fazia rir descontroladamente.

O mundo parecia não ter fim, todos sorrindo, se divertindo e esquecendo do tempo.

De repente tudo ao redor começou a ficar embaçado e apareci em um jardim, ele era muito bonito, a copa das arvores dançavam conforme o vento, as flores traziam consigo um perfume estonteante que passava calma e conforto; no meio do jardim estavam duas enormes macieiras com seus frutos suculentos prontos para serem colhidos; entre elas existia um balanço onde duas pessoas estavam sentadas rindo, aquele riso me era familiar.

Caminhei até eles e vi que não somente o riso me era familiar, as pessoas também me eram familiares. Eram meus pais.

Quando perceberam minha presença se levantaram e vieram me abraçar. Mas nesse momento tudo começou a se apagar e a única coisa que pude ouvir foi: “ Nunca se esqueça sempre estaremos com você não importa o que aconteça”.

Dream off.

.oo0oo.

Quando acordei percebi que estava chorando enquanto dormia e pela primeira vez desde que acordei mesmo sendo a pouco tempo me senti confortável e por incrível que pareça feliz.

Respirei fundo e caminhei até o banheiro, tomei um banho e coloquei roupas que estavam em uma cadeira ao lado da cama, era uma calça jeans escura uma blusa de moletom cinza e um coturno preto, prendi o cabelo e fiquei esperando o Dr. Mickel.

Meia hora depois ele apareceu na sala.

– E ai se sentindo melhor? Conseguiu dormir?

– Por incrível que pareça sim, e sim eu dormi até tive um bom sonho com meus pais que disseram algo que me reconfortou.

– Posso saber o que eles disseram?

– Eles disseram que sempre estarão comigo não importa o que aconteça.

Ele deu um sorriso ao qual eu retribui e algo que não tinha prestado atenção ontem é que ele é muito bonito. Ele é alto, de cabelos pretos, corpo definido e parece bobo mas me apaixonei pelas suas covinhas.

– Esta pronta para ir?

– Estou sim.

Levantamos e fomos em direção à saída e mais uma vez estava rumo ao acampamento.