Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

.

Capítulo 27: Para onde eles foram

.

Draco não seguiu à enfermaria. Ele adentrou ao seu quarto na sede da Casa da Sonserina e deitou-se na sua cama, sem se dar o trabalho de tomar banho e trocar de roupas.

Estaria mentindo se dissesse que não se importava com as visões que tinha, porque o fazia a ponto de passar noites revirando-se na cama com as lembranças que ainda não lhe pertenciam.

Hermione tinha razão: Era só uma questão de tempo para que os pesadelos se tornassem realidade, se, de fato, eles fossem visões do seu futuro. Um futuro estranho que ele compartilhava com ela.

Esse pensamento o fez abrir os olhos e erguer-se, passando a mão no rosto, enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Não acreditava no que tinha acabado de acontecer – ele havia a chamado, em seus devaneios, pelo nome, não por Granger ou por sangue-ruim.

Definitivamente, estava enlouquecendo.

Jogou-se contra o colchão e fechou os olhos, tentando fingir para si mesmo que não estivera fascinado por ela minutos antes, quando se encontraram no caminho a Hogwarts.

Eles tiveram uma conversa silenciosa, enquanto se derramavam um no olhar do outro. E, por um breve instante, ele deixara transparecer seus verdadeiros sentimentos – a desolação que sentia ao saber que haveria sangue em suas mãos, o medo de perder algo importante, a curiosidade de descobrir como poderia existir amor compartilhado entre eles, duas pessoas completamente diferentes. Se não fosse pelas visões, jamais compartilhariam qualquer coisa em comum, jamais teriam um motivo para sequer pensarem um sobre ou outro.

Ela vira tudo e respondera com seus próprios receios. Dissera que também tinha medo e que não o culparia por tê-la matado numa visão, porque ela pedira por isso, não tinha como negar. Outra vez, ela perguntara por que ele a salvara quando caíra, na noite do Baile.

Pela primeira vez, ele disse a verdade.

Não queria ver pessoas morrendo.

Este é o seu maior segredo. Agora, também era o dela.

.

Estavam a meio caminho da enfermaria, quando Hermione conseguiu convencer os garotos que a escoltavam de que não precisava de assistência especializada, poderia muito bem se virar sozinha. Além disso, conseguiu fazê-los prometer que não iriam falar sobre o que aconteceu. Muito contrariados, eles concordaram, mas com a condição de que iriam ajudá-la a descobrir o que as visões significavam.

Hermione aceitou. Era isso ou ter que explicar para Dumbledore e todos os demais professores que estava tendo alucinações com Draco Malfoy. Não havia realmente uma escolha a ser feita.

Depois disso, eles decidiram esperar que os outros retornassem da final do Torneiro.

Rony sentia-se desconfortável por estar tão próximo de um sonserino, mas logo percebeu que Blaise não era como os demais, ele não se esforçava para ser idiota e preconceituoso. Ademais, ele era atencioso com Hermione.

Blaise explicou o que realmente aconteceu na noite do Baile entre ele e Draco e como Hermione estava envolvida nisso. Ele também reclamou sobre o castigo da Minerva e sobre a criatividade de Snape para ser desprezível.

O ruivo acabou descobrindo que sonserinos podiam ser divertidos, quando queriam.

A conversa morreu quando Snape em carne e osso apareceu correndo a escadaria em frente aos degraus em que estavam sentados. Não muito atrás, seguiam Dumbledore e Minerva. De tão apressados e nervosos, não notaram os três jovens.

Estes três entreolharam-se e pularam para colocarem-se de pé.

– Harry! – falaram Hermione e Rony ao mesmo tempo. Eles não pensaram muito sobre isso, apenas foram cuidadosos para que os professores não percebessem que estavam sendo seguidos. Blaise demorou um minuto a mais para decidir segui-los também.

O limite do avanço dos três foi uma porta. Os professores entraram por ela, fechando-a com força. E os jovens sabiam que não poderiam se atrever a fazer o mesmo, o que quer que estivesse acontecendo, não tinha nada a ver com eles.

Por isso, esperaram escondidos num corredor lateral.

Não foi uma surpresa para Hermione nem para Rony, quando, minutos depois, Harry saiu de lá acompanhado por Dumbledore. Eles prenderam a respiração e não resistiram ao impulso de correr até o amigo.

Blaise também não ficou surpreso, apesar de aparentar. Ele aprofundou-se nas sombras do corredor e desapareceu.

Hermione e Rony estavam tão preocupados, que não notaram a sua falta.

– Harry, o que aconteceu? – perguntou Hermione, segurando o braço do amigo e analisando a ferida ensanguentada.

Dumbledore também não ficou surpreso pela aparição dos dois.

– Essa é uma longa e desagradável história – sussurrou Harry, abatido. – Ele retornou.

Não havia nada mais para ser dito.

Voldemort renascera.

A vida deles jamais seria a mesma.