Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 27
III - Capítulo 25: A coisa terrível que Draco não fez




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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 25: A coisa terrível que Draco (não) fez

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O último desafio do Torneio Tribruxo seria o Labirinto. Os competidores entrariam num denso e sombrio Labirinto em busca da Taça Tribuxo; aquele que a encontrasse primeiro, seria o definitivo campeão. Ninguém esperava, contudo, que magia negra tivesse o corrompido e transformado a Taça na chave de um portal.

Contudo, de seus lugares nas arquibancadas, ninguém viu quando os ramos espinhosos das plantas que montavam o labirinto ganharam vida e jogaram-se contra os competidores, arranhando suas faces e seus braços, tentando retalhá-los.

Aqueles que assistiam estavam pouco entretidos com a pouca visão que tinham e bastante ansiosos pelo resultado das altas apostas que rolavam entre os estudantes das academias de bruxaria. Nesse clima de dúbia animosidade, bebidas e doces eram vendidos e trocados entre amigos. Quando um copo cheio de líquido da cor de âmbar veio misteriosamente parar na mão de Draco, ninguém estranhou. Talvez, o tivessem feito se soubessem que, minutos depois, ele também fora parar nas mãos de Hermione.

Mesmo que soubesse e estranhassem o fato, isso não se compararia ao momento em que a primeira participante fora retirada do último desafio, com a pele cortada em diferentes lugares, a bochecha sangrando, os cabelos sujos pregados ao rosto. Isso também não se compararia a surpresa que veio minutos depois – uma luz branca se expandiu do centro do labirinto, parecendo que englobaria o mundo, antes de desaparecer junto com dois alunos de Hogwarts para um lugar onde ninguém poderia segui-los.

Os adultos, sobretudo os professores, ficaram imediatamente nervosos; os mais jovens ficaram confusos. Exceto Hermione e Rony, que se ergueram de seus acentos, nervosos, criando as mais horríveis situações na sua cabeça. Eles sabiam que algo estava errado e que esse algo estava relacionado àquele-que-não-deve-ser-nomeado.

O Lorde retornou, enfim. E veio atrás de Harry para concluir o que começara anos atrás.

Hermione começou a seguir Rony, descendo as escadas, porém parou, segurando-se no suporte de metal para não cair. Uma dor aguda começou a se forma no seu estômago, expandindo-se por todo o corpo, fazendo os seus músculos se contraírem de forma dolorosa. Suou frio e tossiu freneticamente, tentando colocar para fora a papa que fechava a sua faringe, dificultando a passagem do ar.

Ao sentir a falta da amiga, Rony virou-se e procurou os cabelos rebeldes de Hermione, que nunca passariam despercebidos na multidão. Foi assim que ele a encontrou, dobrando-se, tossindo forte, pálida e com aspecto doente que não estivera em sua feição minutos antes. Ele a ajudou a se erguer e perguntou o que estava acontecendo. Hermione respondeu, ou mais ou menos.

– Ajude-me a encontrar um banheiro – foi o que Hermione pensou ter falado.

O que Rony escutou foi – “Aje...ma...”, ruídos, “Ont... rar... ema”, mais uma longa crise de tosse, “Baniro”.

– O quê? – gritou ele acima do barulho ao redor.

– Baniro... – murmurou Hermione em meio a repetidas lamúrias de dor.

– Banheiro? – chutou Rony, esforçando-se para compreender o que a amiga queria dizer.

Ela assentiu lentamente. Estava começando a se sentir tonta.

Rony a ajudou a descer as escadas, segurando na cintura para sustentá-la, já que ela não estava fazendo um bom trabalho se mantendo em pé sozinha.

Se alguém reparou na cena dos dois, não achou que deveria desconfiar do que estava acontecendo. Afinal, o que o Trio Maravilha fazia melhor era se machucar o bastante para precisar ser carregado para a enfermaria. Acontecia tantas vezes que ninguém mais se dignava a ficar surpreso ou preocupado.

Além disso, as apostas subiram quando o corpo desacordado de Viktor Krum foi retirado da prova.

Rony e Hermione dobraram ao chegar no final da segunda arquibanca e infiltraram-se entre esta e a terceira, seguindo em meio à estrutura de madeira e metal que as sustentavam. No final, encontraram três pequenos compartimentos: um deles dava acesso às escadas, o segundo ao banheiro masculino e o terceiro, ao feminino.

O ruivo ficou relutante a atravessar a zona proibida, mas Hermione não parecia estar apta a conseguir dar dois passos sem despencar. Então, engoliu o seu orgulho másculo e entrou, certificando-se de trancar a porta atrás de si. Pensa só se o pegassem no banheiro feminino segurando Hermione pela cintura! Gina o daria de presente um belo de um nariz sangrento!

Hermione sentou-se no chão de frente ao aparelho sanitário e escancarou a boca, esperando para que a coisa ruim jorrasse para fora de si. Nada aconteceu por vários minutos.

Então, subitamente, a garota desmaiou.

Rony a segurou, para que não batesse a cabeça na privada. Ele olhou para todos os lados, esperando que um milagre aparecesse. Não tinha a menor ideia do que faria com Hermione. Queria chamar por ajuda, mas não queria deixá-la sozinha desacordada num banheiro atrás de arquibancas, de frente ao lugar em que Harry acabara de ser abduzido para ser torturado por uma criatura malévola.

Por fim, ele suspirou, enxugou o suor da face de Hermione e esperou e esperou e esperou.

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O que Rony não sabia era que, não muito longe dali, Draco contorcia-se na escuridão. Ele tentara chegar até o banheiro, mas estava se sentido tão fraco, que caíra no espaço deserto entre duas arquibancadas, retorcendo-se de dor. Quando a consciência desvaneceu, ele adentrou ao mundo dos sonhos.

As sombras evanesceram, sendo substituídas pela luz pálida emitida pela varinha de Draco. Novamente, como nos sonhos, ele sabia que estava anos mais velho e mais infeliz. Como todas as demais vezes, Hermione estava presente. Ela o encarava, séria, suas roupas estavam manchadas de terra e havia um longo corte sangrento em sua bochecha direita.

Por algum motivo que o Draco real nunca entenderia, o outro Draco ergueu um lenço para limpar o corte no rosto da mulher. Antes que pudesse tocá-la, ela o repeliu, batendo sua mão na dele.

– Você precisa me matar – disse ela, firme.

– Não me peça isso, Hermione. Eu não posso... Não você... – Abaixou a cabeça e fechou os olhos. Sabia o que precisava fazer, mas era incapaz de machucá-la. Hermione fora a única fonte de luz em sua existência nas trevas, ele não poderia destruí-la, porque isso significava destruir o resquício de bondade que existia em seu âmago.

– Nós fizemos um Juramento Inquebrável. Você prometeu que me mataria, se eu viesse a ser capturada. E, se você o fosse, seria eu quem carregaria tal sina.

– Eu posso ajudá-la a fugir... – a voz morreu.

Ambos sabiam que era impossível. Harry estava morto e a Ordem da Fênix fora aniquilada pelos Comensais da Morte. Não havia mais para onde fugir.

– Eu não conseguiria ir longe. Além disso, eles o matariam por traição – falou ela, sendo, como sempre fora, a voz da razão. Encostou-se na parede, massageando o ombro machucado, e suspirou. – Eu prefiro morrer a ser torturada até confessar o nome de todos os rebeldes vivos e onde eles se escondem.

– Eu não posso fazer isso, por favor...

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro e passou a mão pela face, tentando esconder as lágrimas que se formavam.

Delicadamente, a mulher retirou a mão que escondia o rosto dele e afagou a sua bochecha, deslizando os dedos pelo traçado do seu maxilar, tocando, suave, os seus lábios trêmulos.

Então, como se lembrasse de que eram, supostamente, inimigos, deu um passo longo para trás, chocando-se contra a parede. Ela deixou um resmungo de dor escapar de seus lábios e retornou a massagear o seu ombro.

– Você precisa viver, Draco, e cuidar de Scorpius, de Rony e dos outros, por mim.

– Eles me odeiam e me odiaram ainda mais depois que souberem o que fiz.

– Scorpius sabe que fizemos o Juramento Inquebrável. – Draco ergueu as sobrancelhas, surpreso. – Eu não contei, ele conseguiu deduzir sozinho. Rony e Gina também. Eles não o culparão, pois sabem que você não teve uma escolha.

– Eu posso me negar a matá-la e quebrar o Juramento.

– Não! – Hermione gritou. – Você não morrerá por minha causa!

– O que você acha que acontecerá comigo depois de a matar, Hermione? Como você sugere que eu continue a viver sabendo que matei a mulher que amo? Não negue, você faria o mesmo no meu lugar, você quebraria o Juramento.

– Nós já discutimos sobre isso – suspirou, cansada. Sabia que iria morrer antes do fim do dia, por isso não queria consumir as suas últimas horas brigando com Draco. – Você ficará profundamente machucado, mas, se não o fizer, sofrerá ainda mais. Eu não sairei viva desta casa, Draco. Eles irão me torturar e me humilhar e servir a minha cabeça numa bandeja par o novo bichinho de estimação dele comer. E você será obrigado a assistir cada instante, sem mover um dedo para me ajudar. Quando começar a se arrepender de não ter me poupado, será tarde demais, eu já estarei completamente louca.

– Eu poderia ajudá-la a sair daqui – retornou ao antigo pensamento, com a esperança de que, dessa vez, Hermione o considerasse.

Ela poupou-se da briga que se seguiria. Estava cansada, dolorida e nostálgica. Queria ter tempo para se despedir do seu filho e dos seus amigos, mas a única pessoa que escutaria as suas palavras seria Draco Malfoy. E isso, para ela, não era o suficiente, mas era justo. O homem que roubara o seu coração deveria ser o único a ter o poder de silenciar as batidas dele para sempre.

Aproximou-se de Draco, segurou o seu rosto nas duas mãos, beijou-lhe lentamente uma última vez e colocou-se nas pontas dos pés para sussurrar um pedido em seu ouvido.

– Diga a Scorpius que eu o amarei sempre e que nem a morte é capaz de mudar isto. Diga a ele que pedi para que o desculpe e para que o aceite como pai. Ele mente quando diz que não sente a sua falta. Ele o ama. Eu não pude mudá-lo nem redimir a sua alma, mas Scorpius será capaz de fazê-lo.

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Hermione despertou gritando, chutando Rony para longe de si, lágrimas despejando como torrentes de seus olhos. Ela chorava alto de forma arrasada, como se tivesse acabado de perder todas as pessoas que amou em sua vida. Rony a abraçou forte, murmurando contra seus cabelos que ela precisava parar de chorar e contá-lo o que aconteceu, para que ele pudesse ajudá-la.

Ela fechou a boca e tentou engolir o choro para dentro, respirando fundo, apertando os braços de Rony. Estava fazendo algum progresso, até que se afastou do amigo e dobrou-se na privada, vomitando um líquido pastoso marrom.

O choro retornou mais forte. Parava apenas para vomitar. Rony resguardou distância da amiga, não por nojo, mas porque não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Era Hermione quem sempre cuidava dele e de Harry, não o contrário.

Quando finalmente conseguiu encontrar a voz, Hermione sussurrou.

– Ele me matou – soluçou alto.

A testa de Rony enrugou-se e os lábios do garoto foram espremidos. Não entendeu o que a amiga quis dizer. Ela falou que alguém havia a matado, mas ele podia vê-la e tocá-la, ela tinha formas densas e exatas.

– Do que você está falando, Mione?

Outra vez, ela perdeu a voz. E vomitou.

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Draco foi erguido da terra fofa por um par de braços que não eram o suficientemente fortes para sustentá-lo sem a sua colaboração, por isso Draco apoiou uma mão na estrutura de madeira que sustentava as arquibancadas. Quando ergueu o rosto, estreitando os olhos para focalizar as formas que tremeluziam na sua visão, encontrou um familiar sorriso debaixo de uma luz pálida que era exatamente igual à do delírio em forma de pesadelo. Pensando nisso, a lembrança dele retornou, chocando-se contra o seu âmago como ondas poderosas e destrutivas.

Por um momento, o seu corpo vacilou. As pernas tornaram-se algo feito de gelatina e as mãos tornaram-se geladas como as dos mortos, a garganta seca fechou-se e os pulmões arderam.

Blaise, o garoto que havia, acidentalmente, encontrado o corpo de Draco jogado no chão, perdeu o enlace que tinha nele e permitiu que ele caísse. Blaise xingou-se e abaixou-se para ajudá-lo.

A boca de Draco escancarou-se. Ele tossiu três vezes, enquanto repelia o aperto de Blaise. Na quarta vez, vomitou nas suas caras calças feitas por um estilista bruxo italiano.

– Que merda você está fazendo consigo mesmo, Malfoy? – falou Blaise.

Para Draco, contudo, parecia que o garoto havia gritado em seu ouvido.

Ele apertou os ouvidos, escutando um zumbido irritante propagando-se pelo ar.

Blaise retirou a varinha do bolso e sussurrou um feitiço que fez as roupas de Draco ficarem intactas novamente. Ser bruxo, no fim, tinha suas muitas vantagens.

No entanto, a ajuda fora em vão, pois Draco logo retornou a vomitar um líquido pastoso de cor marrom.

Exatamente como Hermione.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado desse capítulo ^^
Deixem um comentário dizendo o que estão achando, o que precisa ser melhorado; críticas, elogios, tudo é válido :D
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A história está parecendo um pouco corrida? Pois é, preferi cortar algumas partes porque não teria tanta importância e só aumentaria o total de capítulos, mas irei divulgar essas cenas extras no meu tumblr a partir da próxima semana, aí coloco os links aqui, ok?!
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Beijos!



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