Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 14
II - Capítulo 12: Perdido e não encontrado


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me por ainda não ter respondido aos comentários, eu estava viajando com os meus amigos, nem me lembrei de internet. Espero que me perdoem! Assim que eu tiver tempo, responderei a todos. Mas, desde já, muito obrigado seus lindos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/523437/chapter/14

Parte Dois

{Os olhos azuis sobre os castanhos}

.

Capítulo 12: Perdido e não encontrado

.

Naquele dia, Hermione entrou no Salão Comunal da Grifinória determinada a enfrentar o seu medo – um simplório livro, aparentemente inofensivo, que lhe mostrara o pior de seus pesadelos. Não seria exagero dizer que suas mãos suavam e que seu coração disparava no peito, ameaçando se jogar para fora do corpo, para evitar o transtorno emocional que o livro, novamente, poderia lhe causar.

Era bobagem sua, ter tanto medo de algo inanimado. Mas, não era exatamente isso que fazia os seus pulmões se apertarem, sem ar. O que temia, de verdade, era a realidade que ele lhe mostrara. Um mundo esquisito e sem lógica, em que o seu maior inimigo era também a pessoa para quem declarava o seu amor. Era um absurdo! Era ridículo! Aquilo só poderia ser uma brincadeira com os seus sentimentos, era a única explicação. Aquilo jamais poderia ser o seu destino. Ela não poderia amá-lo. Ela não queria amá-lo!

Respirando fundo, caminhou em direção à escada em espiral que a levaria aos dormitórios. Seria rápida e metódica; encontraria a caixa vermelha, sussurraria o feitiço certo, abri-la-ia, retiraria o livro e, com muito cuidado para não ser presa em mais um de seus feitiços malignos, analisá-lo-ia.

– Hermione! – disse uma voz vinda de algum lugar acima de si.

Subitamente, foi arrancada de seus pensamentos. A brutalidade com a qual despertou para a realidade a abateu. Sentiu-se tonta e confusa, incerta de onde estaria ou de como chegara ali. Quando conseguiu se situar no espaço, ergueu os olhos para encontrar a grande cabeleira ruiva de Gina.

Ela não sorria, tinha os olhos semicerrados e a boca apertada numa linha imparcial. Parecia vagamente surpresa e incrivelmente desconfortável. Havia gotículas de suor em sua testa e um tremor involuntário na mão esquerda, a qual tomava cuidado para escondê-la da vista da outra garota.

– Oi, Gina! – disse Hermione por educação. Estava nervosa demais para se dar ao trabalho de se inserir numa conversa. – Eu estou cansada, estou indo dar um cochilo antes da próxima aula...

– Tudo bem – deu de ombros. A ruiva parecia ainda menos interessada em começar um assunto. Sem outra palavra de despedida, passou por Hermione, rapidamente. A bolsa que segurava ao lado direito do corpo bateu na cintura da amiga, quem soltou uma exclamação de dor. – Desculpe-me!

Hermione virou-se para vê-la partir, massageando a região machucada. Algo denso se chocara contra o seu corpo de forma dolorosa. Provavelmente, deixaria uma marca avermelhada na pele.

Enquanto a via se afastar, Hermione considerava o motivo que a levara até aquele local. Não fora por vontade, esta era a única verdade. Ela viera porque o Malfoy a coagira a fazê-lo. Não se sentia preparada para enfrentar seu pesadelo, precisava de mais tempo para reunir forças.

Olhou para o alto da escada e voltou o olhar para a moldura da Mulher Gorda.

Não deveria se sentir ameaçada pelo Malfoy nem deveria permitir que ele a convencesse a fazer algo que não queria. Era uma garota forte e decidida, precisava se lembrar disso. Ela não poderia deixar que ele surgisse e desestabilizasse a sua vida, a sua mente e as suas certezas daquela forma.

Seguindo essa linha de raciocínio, decidiu que não abriria a caixa nesse dia. Mas, no seguinte. Ou talvez na semana posterior, no dia em que estivesse segura que não vacilaria, como estava fazendo nesse exato momento.

.

Demorou pouco mais de uma semana para que Hermione se sentisse preparada para enfrentá-lo.

Ela era corajosa, o que não significava que era incapaz de sentir medo. Durante essa semana, descobriu que temia, mais que qualquer outra coisa, a suposição de que poderia estar de alguma forma relacionada a Draco Malfoy. Não compreendia por que temia isso. Afinal, não seria algo bom se as intrigas entre eles acabassem e se pudessem conviver como dois seres humanos iguais?

Não sabia responder.

A ideia a incomodava, não parecia ser algo natural nem certo uma realidade em que um Malfoy e uma Granger pudessem cumprimentar um ao outro numa estação de trem. Porém, aquela seria uma realidade melhor.

Então, por que ela estava tão assustada?

Suspirou, esfregando as mãos. Lá fora, o mundo foi pintado de branco, a neve recobria o chão, as varandas e os telhados, amontoava-se nos parapeitos das janelas e entre os galhos nus das árvores. Na sede da Grifinória, especificadamente, no quarto compartilhado pelas garotas do terceiro ano, o fogo ardia numa lareira cilíndrica no centro do cômodo. Apesar disso, Hermione sentia uma mão fria apertando suas vértebras, tentando perfurar-lhe os pulmões.

O quarto estava deserto, pois, nesse horário, a maioria dos alunos e dos professores estava jantando. Certamente, a sua ausência seria notada, mas poderia sempre contar com a desculpa de que perdeu a hora estudando. Ninguém ficaria particularmente impressionado.

Abaixou-se e esticou a mão para pegar a caixa em que guardara o livro, encontrando somente o vazio. Pegou a varinha e iluminou a região debaixo da cama, havia, de fato, nada ali. Num salto, estava de pé, revirando o dormitório em busca de uma pequena caixa de metal avermelhada com a figura do Bambi empertigando-se, sorridente.

Procurou-a debaixo das camas, dentro dos baús que não deveria mexer, entre as estantes, debaixo das pias, debaixo das almofadas, debaixo dos colchões.

Quando se deu por vencida, jogou-se de braços abertos na cama, fitando o teto, sentindo um profundo terror crescer a partir do centro do seu ser.

.

Ela precisava contar o que acontecera ao Malfoy, porém não existia uma oportunidade propícia. O loiro estava sempre acompanhado por sonserinos tão detestáveis quanto ele. Afinal, era importante manter as aparências!

Uma oportunidade singular surgiu na semana seguinte, quando os alunos foram visitar Hogsmade.

Hermione e Rony caminhavam pela ladeira que levava ao vilarejo, distante da aglutinação de estudantes alegres, que já moldavam suas primeiras bolas de neve. Harry ficara para trás, outra vez, porque era correto demais para falsificar a assinatura de um dos seus tios.

Os dois estavam na beira da cerca que isolava o resto do mundo da Casa dos Gritos, quando Draco decidiu que não perderia a oportunidade de causar discórdia entre eles, mesmo com a alegação de que, enquanto tivessem interesses em comum, estaria em estado de paz com Hermione.

– Rapazes, que tal ensinarmos como um Weasley deve tratar os seus superiores? – disse Draco, sendo acompanhado de perto pelos seus capachos.

Hermione deu um passo para frente, explodindo numa gargalhada.

– Não deve estar se referindo a você!

– Como ousa falar comigo?! Sua fedelha de sangue-ruim!

De repente, bolas de neve voaram na direção dos três sonserinos. Ainda mais de repente, Dracou caiu e foi arrastado por uma mão invisível, aos gritos e às lágrimas, em direção à temia casa no topo do morro.

Ao ser solto, Draco não perdeu tempo e disparou numa corrida com os amigos, que ainda se recobravam do susto, gritando para quem quisessem – e para quem não quisesse também – ouvir que o seu pai saberia disso.

Hermione dobrou-se de rir. Rony ria nervoso, também assustado.

– Harry! – disse Hermione, entre os risos.

– Harry! – arfou Rony, admirado, ao encontrar o amigo ao seu lado, segurando a capa da invisibilidade. – Não teve a menor graça!

Enquanto andavam de volta ao centro de Hogsmade, Harry explicava como conseguiu sair, furtivamente, do castelo.

Eles estavam entrando num restaurante para comprar cerveja amanteigada, quando Hermione encontrou o que procurava. Ela disse aos amigos que voltaria logo, sem outra explicação, desapareceu no mar de corpos. Harry e Rony entreolharam-se, confusos, e deram de ombros.

.

Draco saiu de uma loja com duas gordas sacolas de doces.

Goyle e Grabbe ainda estavam dentro da loja, mas Draco queria permitir-se um tempo para encolerizar-se sozinho pelo que acontecera mais cedo naquele dia. Ele admitia somente a si mesmo que havia agido como um babaca mimado, ao gritar e espernear pela neve, com as lágrimas brilhando em seus olhos. Ele era fraco e ridículo!

Precisava aprender a como ser mais forte, para derrotar o Potter e a irritante Granger, para se tornar digno de usar o seu grandioso sobrenome.

Não importava o que ele fazia, o Trio Maravilha sempre saía vitorioso.

Chutou a neve, o pé encontrou uma barreira sólida. Gritou, derramou os doces no chão e massageou os dedos machucados por cima do calçado, amaldiçoando o Santo Potter.

Uma risada vinda de trás de si fê-lo virar-se, carrancudo.

– Suponho que está sendo um dia muito divertido para você, Granger.

– De fato, Malfoy – disse Hermione, abaixando-se para guardar os doces na sacola e entregá-la ao garoto, que a arrancou da sua mão, sem se dignar a agradecer. – Mas não vim falar sobre isso. O livro sumiu.

– Não seja tola, Granger, livros não saem andando por aí. Você deve ter colocado em algum lugar, e não se lembra onde.

– Eu procurei por todo o dormitório, mesmo dentro dos baús das outras meninas – sussurrou essa última parte, com as bochechas coradas, envergonhada do que havia feito. – Estava dentro de uma caixa selada com um feitiço que somente eu saberia desfazer. Acho que a pessoa não soube como abri-la, apesar de saber o que estava dentro dela, e, por isso, levou-a.

– Então, o palhaço que fez aquilo é da sua casa? – riu-se sem humor. – Isso explica como alguém pode ser tão baixo e...

– Não é isso o que me espanta, mas o fato de ele ou ela saber onde eu havia guardado o livro.

– Não é de se admirar, Granger, você colocou um feitiço para lacrar a caixa, até mesmo uma formiga perceberia que ela guarda algo muito importante.

– Mas poderia ser qualquer coisa ou nada!

– Melhor se arriscar, é o que sempre digo a Goyle – disse, sorrindo largamente.

Hermione suspirou, exasperada.

– Eu não sei o que dei em mim para vir aqui. Continue a se divertir chutando pedras, Malfoy.

– Espere, Granger! – Ele a segurou pelo braço e a fez virar-se, em seguida, passou a mão nas vestes, como se para limpá-la. – Nós precisamos descobrir quem fez aquilo e nos vingarmos!

– Nós precisamos contar a Minerva ou a Dumbledore sobre o que aconteceu.

– Você realmente quer explicar para alguém o que viu?

– Eu vi nada, Malfoy, e esta é a verdade!

– Porém, nós dois escutamos algo que não queremos jamais repetir. Estou errado?

Hermione murmurou “Não” tão baixo, que Draco não foi capaz de escutar, mesmo assim ele sorriu, apenas para irritá-la.

– E o que você sugere fazer?

– Observar, Granger – disse ele, apontando para os olhos dela. – Durante os próximos dias, tire esse nariz das páginas dos livros e passe a observar melhor quem tem um ligeiro interesse em você, quem se comporta de forma suspeita à sua volta.

– E?

– Faça uma lista de possíveis culpados.

– E depois? Você ameaçará cada um para fazê-los confessar um crime que não cometeram?

– Eu os farei falar a verdade, Granger. Não é isso o que você quer?

– Violência não resolverá nada, Malfoy.

– O que você sugere, então?

– Quando nós o encontrarmos, iremos levá-lo a Dumbledore. Ele receberá a punição que merece.

Draco a fitou por um longo tempo, estável, sem sarcasmo em forma de lua crescente em seus lábios; deu um passo para frente e sustentou o peso dos olhos dela nos seus. Continuava a achá-los interessantes, até mesmo instigantes, mas isso era tudo de bom que poderia pensar sobre a sangue-ruim amiga do Potter.

– A única justiça que existe nesse mudo é a dos mais fortes. Nesse caso, este sou eu, por isso irei puni-lo, Granger, não aquele velho caduca.

– Você realmente acredita nisso, Malfoy? – questionou, olhando-o de forma soberba.

Ele não estava certo ao que ela se referia, se era à parte em que ele se achava um bruxo poderoso ou se era à parte sobre a Lei da Justiça. Independente disso, a sua resposta poderia ser somente uma.

– Sim.

Dessa vez, foi Hermione quem se virou, deixando um garoto infeliz parado em meio à neve que despencava do céu, usando roupas que lhe cabiam perfeitamente, segurando sacolas com doces frios.

Como ele não tinha certeza se ela faria o que lhe fora aconselhado, decidiu que iria manter os dois olhos bem próximos às redondezas dela, procurando um suspeito que gastasse mais tempo que o necessário observando-a.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E, aí, alguém tem alguma teoria conspiratória? kkk
Espero que tenham gostado. Deixem um comentário e façam uma moça feliz num domingo que não tem horas o suficiente para que ela faça todas as coisas que deveria :X
Beijão!