Duas semanas antes de Rose completar as quarenta semanas, tudo já estava pronto e programado. Eu ainda teria de ir para o treino durante a parte da manhã – isso porque meu pai desconhecia as férias que eu havia tirado no trabalho, para passar os dias junto com Rose. Minha mãe ajudava bastante pela parte da manhã, até a hora do almoço, e depois ficava mais por minha conta. Principalmente porque três dias antes Rose havia tido um pequeno sangramento, algo por sua placenta estar mais baixa, e agora tinha de ficar o maior tempo possível descansando.

            Victor é que estava adorando isso, ele passava o dia brincando em nosso quarto ou abraçado a Rose na cama, e quando estava entardecendo eu a levava para a banheira, e ele ficava na água junto com ela, dizendo que tinha que cuidar da sua mamãe e do bebê, e realmente o carinho que ele tinha com Rose era lindo de ver.

            Agora ali estávamos, ela recostada na banheira com as mãos dedilhando sobre seu ventre, enquanto Victor empurrava um brinquedo de borracha de um lado para o outro. Até que o barquinho ficou chato de mais e ele passou a dar banho no bebê, passando a esponja pela barriga de Rose diversas vezes. Ela ria vendo, e quando Victor soltou a esponja, ela o agarrou e abraçou, enchendo seu rosto de beijos, enquanto ouvíamos o gargalhar dele.

            - Vou tomar banho – disse me levantando do lado da banheira, para jogar minhas roupas no cesto e entrar debaixo do chuveiro.

            O barulho da água caindo atraiu Victor, que ficou olhando para mim e batendo as mãos na água, pedindo para sair. Rindo Rose o pôs, com cuidado, para fora da banheira e ele veio até mim no Box, agarrando minhas pernas depois de eu ter ensaboado meu corpo, e riu com a água caindo sobre seu cabelo claro.

            - Ele está com a corda toda – Rose respondeu sentando na banheira, e se virou para ficar olhando para nós através do Box transparente. – Dormiu aquela hora, e agora vai ser difícil fazê-lo sossegar.

            Ri maneando a cabeça, e ergui Victor em meu colo, esfregando seu corpo já limpo com o sabonete, de modo meio desajeitado. Baguncei seu cabelo e ele sacudiu a cabeça, jogando água para todos os lados – uma mesma mania que eu tinha quando meu cabelo estava com mais cachos. Mas ultimamente eu só o mantinha curto, era muito mais prático.

            Desliguei a água e o coloquei no chão, saindo primeiro para pegar uma toalha e me secar, mesmo que só o excesso, para então enrolá-lo na toalha com temas infantis. Apoiei-o sobre o balcão da pia, e Victor sacudia as perninhas sentado ali.

            - Troca ele primeiro – Rose disse antes que eu estendesse a mão para ajudá-la a levantar. Assenti pegando Victor no colo, ouvindo a gargalhada dele enquanto eu ia erguendo-o em meus braços.

            - Já volto – murmurei e beijei seu rosto. Ela assentiu se recostando na banheira, e pude perceber que ela estava mesmo relaxada. Acho que fazia algumas noites que ela não ficava assim calma, o bebê estava sempre chutando e as costas de Rose constantemente doíam.

            Deixei Victor sobre a cama dele, que ele começou a pular, e maneei a cabeça pegando um pijama de mangas curtas. O verão estava a ponto de acabar, mas o calor permanecia.

            - Vem – ele deu a mão para mim, e saiu agarrado a um de seus bichinhos de pelúcia.      

            Nos últimos dias essa era a nossa rotina, tomávamos banho os três juntos – mesmo que eu sempre ficasse só com o chuveiro – então eu tirava Victor, secava ele e ajudava Rose a levantar. Depois, com todos prontos para dormir, Victor vinha para nossa cama e ou eu ficava com ele no colo, ninando-o, ou Rose contava uma historinha.

            Mas naquela noite eu apostava que precisaria de mais que algumas historinhas para que ele pegasse no sono. Antes de ir ajudar a Rose, fui me certificar de que a grade que havia no alto da escada estava fechada, para que Victor não pudesse descer os degraus caso não estivéssemos olhando para ele, então fui cuidar da minha mulher.

            - Está tudo bem? – perguntei entrando no banheiro e vendo-a com os olhos fechados, recostada na borda da banheira.

            - Ótimo – ela respondeu quando já estava de pé. – Fazia dias que o bebê não me dava um descanso – continuou ela se envolvendo na toalha, e fez uma careta quando a toalha roçou muito rápido sobre seus seios doloridos.

            Beijei seu rosto acompanhando-a para que ela se trocasse. Rose deitou na cama apenas de lingerie, sua camisola estava ao lado, mas antes tinha de passar um creme sobre sua barriga.

            - Vem bebê – Rose disse chamando Victor, porque nos últimos dias essa era a função dele, e ele adorava.

            Estendendo as mãos pequenas, Rose pôs um pouco de creme e ele começou a esfregá-las pela barriga dela, fazendo-nos rir enquanto passava de um lado para o outro.

            Deixávamos que ele fizesse isso principalmente pelo que a médica havia nos dito sobre ciúmes, ainda mais com Victor que era tão apegado a Rose. Ele tinha tamanha adoração por ela, que não sabíamos como seria quando o bebê estivesse conosco, até porque com Anne os momentos não eram amigáveis, ele sempre esperneava e fazia rena quando Rose ficava muito tempo brincando com a irmã, então tudo apontava que seria a mesma situação.

            Aquela noite realmente foi difícil fazer Victor dormir, foi preciso algumas historinhas, muita bola rolando de um lado para o outro e alguns minutos ninando ele nos braços, para que então ele pegasse no sono e eu pudesse deixá-lo em sua cama sem o risco dele acordar.

            Voltei para o quarto abraçando Rose, minha mão passou por baixo da camisola dela, para ficar acariciando a pele macia de seu ventre, sentindo um suave momento. Então aquela região se contraiu e eu arregalei os olhos. Como ela podia estar tão calma?

            - Rose... – murmurei, tendo certeza de que minha voz havia saído quase apavorada.

            - Não são contrações Emmett – ela disse virando-se para mim, sua mão apoiada sobre o meu rosto para me tranqüilizar. Eu não conseguia entender como era possível que mesmo sem estar em trabalho de parto ela pudesse ficar sentindo essas dores. – São aquelas falsas contrações, lembra? – maneei a cabeça ficando com a expressão fechada.

            Lembrava de quando ela estava grávida de Victor e as havia sentido, naquele dia sim eu havia ficado desesperado. Agora eu estava apenas um pouco alterado.

            O que não entrava em minha cabeça era que Rose podia ficar tão tranquila, dizendo que era apenas seu corpo se preparando para quando o momento real chegasse... Momento real. Isso fez meu coração disparar, dando-me conta que estava mais próximo que nunca.