Hope for Us escrita por Lady Anne


Capítulo 21
Capítulo Especial: Luzes de Natal


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE!
Voltei, é, vocês pensaram que eu não viria, afinal, era um especial de Natal e foi postado no primeiro dia do ano, PORQUE ANNE, PORQUE?
Porque a vida é loka gente, os dias foram corridos porque minha mamain me abandonou no Natal (mentira, foi só ver minha avó) e minha criatividade natalina estava ó: uma bosta.
Mas saiu porque vocês merecem, GENTE, FELIZ NATAL, FELIZ ANO NOVO! Eu amo todas vocês, quero agradecer por todo esse tempo maravilhoso que tivemos juntas até agora, comentários, recomendações, mensagens, todo o carinho, apoio, 2014 foi um ano incrível, e 2015 será muito melhor, Hope vai abrir o ano com tretas depois desse capítulo de Natal, espero postar logo e vê-las nos reviews! E me desculpar por tantas demoras, mas tenho as leitoras mais fodas ever, fieis e compreensivas, realmente amo vocês, sério, não tenho do que reclamar ♥
Como foi o fim de ano de vocês?
Eu irei responder todos os reviews, calma gente! Esses dias fiquei sem entrar, mas voltei!
Acho que é isso, bem, quem esta ansiosa para fevereiro?
Beijos!
Anne ♥
FELIZ 2015!



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Neve. Era tudo o que se via lá fora ao olhar pela janela do Bloco C, onde eu me encontrava debruçada, encarando a paisagem branca e o céu pálido da manha, melancólico. Dias, semanas, meses e estações se passaram desde a minha chegada na prisão, fotos foram tiradas, pessoas foram encontradas, gibis foram lidos, errantes mortos e beijos roubados.

E o inverno chegara, preocupando Rick que saiu em grupo assim que a chuva fina começou a cair, para conseguir agasalhos e mais comida para a temporada gelada que viria. Eu usava as luvas pretas e o moletom do Texas Rangers que ele havia conseguido sabe Deus aonde, já que não havia visto mais nenhuma loja esportiva por perto quando saímos pela ultimas vez. Estávamos a salvo como sempre, quentes e alimentados, graças a ele.

E graças a Hershel, porque com o frio vieram os resfriados que foram rapidamente tratados por remédios caseiros feitos por ele e tirados da horta, que foi cuidadosamente coberta para que resistisse a baixa temperatura.

Os errantes foram impressionantemente contidos pela quantidade de neve, e atingidos por chuvas de granizo, então não havia porque se preocupar ou sair do bloco, a não ser para pegar água ou cuidar das plantas.

Tudo estava bem, mas sabíamos que faltava alguma coisa. Normalmente, quando a neve chegava as crianças corriam para fora, as pessoas se alegravam e ascendiam suas lareiras, hora de pegar mantas estampadas de verde e vermelho, comprar agasalhos bregas e marshmallow para o chocolate.

Hora de tirar a caixa de decorações empoeirada do sótão, brigar com as crianças porque elas estão pisando nos pisca-piscas e decidir entre uma arvore natural ou sintética. Enfim, hora do Natal, e todos sabíamos que seria em qualquer um dos dias que se aproximavam, então as crianças estavam tristes e nostálgicas, até mesmo os adultos mais sentimentais do grupo estavam abalados.

Eu já havia me acostumado a não ver mais luzes ou ouvir a Hilary Duff cantando Jingle Bell Rock em Wallmarts, mas depois de ter tanta estabilidade e ser considerada parte de uma família de novo eu estava desapontada por não podermos fazer nada realmente familiar, ou pelo menos trazer alguma alegria para a prisão.

– Ei Texas. – me virei e sorri para o dono da voz atrás de mim – Aqui de novo? Não acho que a neve tenha mudado de lugar hoje.

Carl também estava mais quieto desde que o inverno chegara, mas eu tentava alegrá-lo, e ele fazia o mesmo quando era a mim que a melancolia atingia. Ele estava usando seu chapéu de xerife, que foi realmente útil no clima frio já que não havia tocas para todos e, além disso, o chapéu servia para cobrir o rosto dele quando estava de mau humor, o que ele costumava fazer bastante.

– A paisagem continua bonita, Cowboy. – ele ficou em pé ao meu lado, olhando para fora também.

Havia acabado de acordar, mesmo com o chapéu eu podia ver que o cabelo estava bagunçado, o rosto marcado, e o calor vindo dele já que tinha acabado de sair das cobertas.

– Só vejo branco. – ele bocejou e eu revirei os olhos – Algumas tripas ali e aqui colorindo a neve de sangue do outro lado da cerca.

Gostaria que ele estivesse errado, mas era verdade, o vermelho do sangue se destacava em alguns pontos no chão coberto, me causando repulsa.

– Não despreze a beleza da natureza. – apontei para o lago congelado e a pequena ponte de madeira ao longe, do outro lado das cercas.

– Já existe beleza aqui dentro. – me virei surpresa, e Carl apenas sorriu pra mim – Vi muito do que tem lá fora, sei que a vista aqui é melhor.

Ele tirou o chapéu e colocou em mim, então se aproximou e beijou meu rosto com preguiça, como costumava fazer quando acordava de bom humor. E só fazia isso de manha, quando estava com tanto sono que não se importava com a timidez.

– E se levarmos a beleza para fora? – ele levantou uma sobrancelha – Vamos chamar as crianças e sair um pouco, o que acha de um boneco de neve?

– E onde a gente vai conseguir uma cenoura? – dei um tapa no braço dele, fazendo-o resmungar – Tudo bem, positividade, natal, esperança, blá blá blá...

– Vai ser bom, ultimamente só vejo rostos desanimados, não combina com neve, nem com crianças. – Carl riu sem humor.

– Neve e crianças não combinam com o apocalipse. – apenas revirei os olhos, me perguntando se ele realmente havia acordado de bom humor.

– Se você não calar a boca e ir pegar as suas luvas, vou te fazer engolir neve até você ficar azul.

Ele levantou as mãos em rendição e dei meu melhor sorriso de vitoria, então devolvi o chapéu a cabeça dele e o puxei para descer a escada, vendo quando Glenn e Maggie entraram no bloco rindo, também de mãos dadas.

– Bom dia. – levantei minha mão, cumprimentando-os, Carl se limitou a apenas mexer a cabeça e sorrir fracamente.

– Dia... – Maggie encarou nossas mãos juntas – Pombinhos.

Franzi as sobrancelhas fingindo não entender, porque isso era melhor do que ficar vermelha ou soltar a mão de Carl.

– Vocês são realmente fofos. – Maggie completou, me fazendo desviar os olhos.

– Não faço idéia do que esta dizendo. – Carl disse casualmente, e passou na minha frente me levando junto pela mão, que segurava por cima do ombro como se meu braço fosse uma jaqueta.

Ele entrou na cela para pegar as luvas e eu fiquei do lado de fora, tendo que agüentar duas criaturas que me olhavam como “você sabe exatamente o que estamos dizendo”.

– Então, algo planejado para hoje? – perguntei para mudar de assunto.

Eles se entreolharam com um sorriso estranhamente animado no rosto, então voltaram a me encarar.

– Sim, vamos sair em grupo e conseguir mais agasalhos e comida, e fraudas para Judith. – levantei uma sobrancelha sem entender porque estavam tão entusiasmados com isso.

Imaginei que teriam que sair logo para conseguir mais mantimentos, afinal já havia passado metade do inverno e Judith consumia tudo bem rápido.

– E aonde vão?

– Num supermercado que Michonne viu no caminho para cá, lá tem tudo e é perto daqui. – quando “tudo” saiu da boca de Glenn, outra palavra veio a minha cabeça, e um pedido, que hesitei em fazer naquele instante.

– Tudo? – eles balançaram a cabeça, afirmando.

– Falamos com Rick e decidimos fazer uma pequena surpresa para as crianças trazendo alguns brinquedos, afinal... É Natal, certo? – sorri admirada com a sensibilidade de Maggie – Sei que parece sentimental, mas você viu como elas estão vendo toda essa neve.

– Não, isso é incrível, elas vão adorar. – estava feliz por termos alguém que ainda permite se intitular sentimental.

– Até Daryl gostou da idéia. – levantei as sobrancelhas com surpresa – Provavelmente por conta de Noah, ele definitivamente gosta daquele garotinho.

Assenti me lembrando dos meses em que Noah já estava na prisão, seguindo Daryl por todos os lados, ajudando a limpar a moto e tentando convencer o caipira a levá-lo para as buscas com ele.

– Sem duvida eles se dão bem. – até eu estava animada com a surpresa, mas o pedido não feito ainda estava na minha cabeça, não era um grande pedido ou algo arriscado, era até infantil.

Então resolvi fazê-lo, porque sem duvida aquilo me deixaria mais feliz, e deixaria quem quer que visse mais feliz também.

– Podem conseguir uma coisa pra mim, por favor? – eles balançaram a cabeça sem hesitar, o que me motivou – Mas só se puderem mesmo.

Os dois deram um passo à frente e se abaixaram como se fossem contar um segredo.

– É só falar, Texas. – sorri de orelha a orelha e por fim disse o que queria, o que deixou os dois surpresos, mas admirados e entusiasmados – Não sabia que existiam com pilhas também, mas isso é perfeito, talvez possamos colocar aqui dentro também.

– Seria perfeito mesmo, deixaria todos mais animados. – estávamos rindo um para o outro como crianças.

– Certo, vamos tentar conseguir alguns, ótima idéia. – Maggie piscou pra mim e fiz um pequeno toque de mãos com Glenn, então eles se viraram e eu os acompanhei com os olhos até saírem de vista.

Enquanto Carl procurava as luvas fiquei imaginando como a prisão ficaria aquela noite, e que infelizmente só faltaria alguma musica porque as baterias do ipod tinham acabado.

– No que esta pensando, Texas? – ele perguntou enquanto colocava as luvas.

– Que nós vamos nos divertir muito hoje. – sorri e puxei-o pela mão novamente, seguindo em direção a saída do Bloco C para chamar as crianças.

Depois que as crianças já estavam fora, eu e Carl apenas ficamos observando-as por alguns minutos, elas corriam, deitavam na neve, faziam montinhos e riam de uma forma contagiante, um som do qual eu realmente sentia falta.

Quando estava prestes a empurrar Carl e transformá-lo em uma elevação fofinha na neve, notei Noah agachado a alguns metros, olhando as outras crianças enquanto amassava um punhado de neve na mão como se fosse massinha de modelar.

Caminhei até lá e me agachei junto a ele, que me deu um sorriso fraco.

– Ei. – sorri de volta, tentando animá-lo – Então, porque esta aqui parado quando pode rolar no chão e engolir uma quantidade razoável de neve junto com os outros?

Ele abriu a mão deixando que o bolinho caísse enfaticamente, e conclui que ele definitivamente não parecia querer comer um pouco de neve como quando tinha três anos e comia até a areia da praia se mamãe não o mantivesse ao seu lado.

– É coisa de criança. – ele disse como se eu tivesse um problema mental, quase um “dã, qual o seu problema?”

Não pensei que teria um Carl Grimes em miniatura para lidar, e eu obviamente quis fazê-lo engolir uma bola de neve como faria com Carl, mas resolvi me manter calma pelo espírito natalino.

– Noah, deixe-me te contar uma coisa fantástica. – me aproximei do ouvido dele como se fosse contar um segredo, e ele parecia desconfiado, mas curioso – Você é uma criança. – sussurrei e me afastei com falsa surpresa, logo depois dando um peteleco na testa dele por cima do gorro – Seu pequeno panaca.

Noah me olhou indignado, e eu apenas o encarei com tédio.

– Você é uma irmã realmente carinhosa. – ele disse ironicamente.

– Obrigada, eu me esforço pelo natal. – dei de ombros como se estivesse fazendo muito, e ele revirou os olhos – Certo, você sabe que só consigo te convencer das coisas assim, por favor, até o Carl esta se divertindo.

Nós dois olhamos para Carl que estava fazendo um boneco de neve com Mika e Patrick, o ver tentando equilibrar o chapéu de Cowboy na cabeça de neve era sem duvida uma visão adorável, e só melhorou quando Beth apareceu carregando Judith nos braços, empacotada em agasalhos.

– Sério que você não quer participar disso? – perguntei seriamente, enquanto ele parecia analisar a questão – Só porque eu iria te vencer muito rápido numa guerra de bola de neve?

Foi quando ele me deu sorriso debochado e se levantou que eu percebi ter dito exatamente as palavras certas para convencê-lo.

– Até a vovó venceria você numa guerra de bola de neve. – dei um sorriso desafiador que ele correspondeu – É claro que eu te venceria, sou mais jovem, rápido e esperto.

– Bem... – discretamente abaixei minha mão direita até afundar meus dedos na neve – É o que vamos ver.

Rapidamente levantei o braço e joguei a bola de neve que tinha formado em minha mão, de modo que Noah não tivesse tempo de ao menos desviar quando ela atingiu seus olhos, o que me deu tempo de levantar e correr, rindo como nunca.

– Carl! – gritei, fazendo-o se virar alarmado – Corre!

– Por quê? – ele perguntou quando me aproximei, então ao invés de responder apenas peguei-o pela mão.

Meu plano era correr para trás do bloco, onde tinha um belo ajuntamento de neve que havia caído do telhado e me daria vantagem, mas Noah tinha uma mira razoavelmente boa e dois alvos correndo aos tropeços na neve, e para completar ele convenceu Mika a ficar do seu lado, então Carl rapidamente foi atingido na cabeça e eu senti uma bola de neve passar raspando no braço direito.

– Você errou! – gritei para qualquer um dois que tivesse tentado me acertar.

Beth desviava das crianças correndo e das bolas de neve, Judith ria adoravelmente em seus braços ao ver nossa criancice e Hershel se juntou a elas logo depois, usando sua muleta para fazer uma linha na neve que nos separava em times (que na verdade eram dois contra seis).

O pátio da prisão rapidamente virou um campo de guerra muito perigoso, eu e Carl atrás de barris enquanto nossos “inimigos” se limitavam a simplesmente correr quando mandávamos uma bola, e nem todos eram ágeis como Noah, então Carl mandou uma bola e acertou a menor garotinha do grupo, Carly, e ela caiu de modo trágico fazendo que ele se levantasse num salto e murmurasse um palavrão qualquer antes de correr até o lado contrario e chegar até a garota.

– Esta tudo bem? – o ouvi perguntar, mas não foi Carly quem respondeu.

– Não podia ficar melhor. – Noah disse, e assim todas as crianças jogaram bolas de neve em Carl antes que ele pudesse ao menos levantar uma sobrancelha, e Carly antes caída no chão se levantou e correu de volta ao grupo com um sorriso vitorioso.

– Isso foi sujo! – gritei para eles quando terminaram de bombardear Carl.

– Não vejo nada sujo aqui, mana. – Noah estava completamente orgulhoso de sua estratégia, enquanto Carl estava jogado no chão ainda coberto de neve.

Mostrei a língua pra ele e ia jogar neve para provocá-lo, mas a visão de Carly indo até Carl, pegando seu chapéu da neve e estendendo para ele me fez parar completamente e ter uma overdose de fofura.

– Desculpa, Cowboy. – ela disse rindo, e todos nós nos justamos a ela, até Carl.

– Eu acreditei em você! – ele a puxou para si e começou a fazer cócegas, fazendo-a rir descontroladamente.

Só Judith parecia não achar graça daquela cena, na verdade parecia enciumada e até um pouco irritada, balbuciando alguns sons como “arl” e apontando para o irmão na neve.

– Mas o que esta acontecendo aqui? – Rick perguntou, enquanto caminhava sorrindo em nossa direção.

Não percebemos quando o carro do grupo chegou, nem vimos Rick, Maggie, Glenn, Daryl (que tinha na cabeça um gorro de Papai Noel completamente ridículo) e Michonne subirem a rampa com as mochilas cheias e expressões de divertimento.

– Isso é uma zona de guerra. – Hershel brincou.

– Uma guerra vencida, aliás. – Noah concluiu com arrogância.

Fui até Carl e o ajudei a levantar, Carly já estava de pé mais saltitante que nunca.

– É, você foi derrotado soldado. – falei enquanto limpava a neve do cabelo dele, o fazendo corar ligeiramente.

– Ainda pego aquele pirralho. – devolvi o chapéu a ele rindo por sua revolta, enquanto Noah estava fazendo um toque der mãos com Daryl.

– Acho melhor você ir explicar a Judith que você é propriedade dela. – falei apontando para a garotinha emburrada no colo de Beth.

Deixei que Carl fosse acalmar Judy e me juntei a Rick, que tinha uma expressão tranqüila no rosto, algo difícil de acontecer. Devia ser o espírito do Natal, ou algo assim.

– Ei, garotinha. – ele afagou meu cabelo – Bom ver você se divertindo.

– Bom ver você rindo. – ele corou, me lembrando Carl – Então, tiveram algum problema lá fora?

– Apenas a neve, o menor problema que já tivemos. – concordei agradecendo silenciosamente a Deus – Conseguimos encontrar tudo, até o que você pediu.

Meus olhos brilharam instantaneamente e juntei as mãos como uma criança, fazendo Rick afagar meus cabelos de novo.

– Glenn me disse e temi que não encontrássemos, pois era setembro quando tudo isso começou, mas para sua sorte havia na seção de decoração. – murmurei “obrigada” algumas vezes e quase o abracei, mas me contive – E trouxe outra coisa para você.

– Outra coisa? – levantei uma sobrancelha com curiosidade.

– Sim, você vai ver. – ele piscou e só pude assentir, ainda me perguntando o que ele estava escondendo – Trouxe algo para Carl também, espero que ele goste, Michonne quem sugeriu.

Nós dois olhamos para Carl que tinha Judith nos braços, ela mantinha a cabeça em seu peito e o dedo na boca enquanto ele parecia tentar convencê-la de algo ou consolá-la.

– Provavelmente vai gostar. – sorri para Rick que ainda não havia tirado os olhos da cena adorável – Ele parece realmente uma criança agora, não é?

Michonne se ofereceu para pegar Judy e ela saiu relutante dos braços do irmão, que percebeu os olhares de admiração sobre ele e logo veio em nossa direção.

– Ei. – ele cumprimentou o pai timidamente – Tudo legal?

Rick bateu levemente no chapéu dele, como se substituísse o afago.

– Tudo legal. – Carl arrumou o chapéu e sorriu – O que a Judith tem?

– Ciúmes. – Rick riu incrédulo – Definitivamente bravinha.

– Certo, ela vai nos dar trabalho sem duvida. – concordei, imaginando uma Judy crescida e rebelde no estilo Daryl que ira fazer mais idiotices que o irmão – Andem, vamos entrar, parece estar esfriando mais a cada minuto.

Juntamos as crianças com ajuda de Beth e Hershel, e antes de entrar Maggie passou por mim e piscou e eu correspondi mexendo os lábios num agradecimento silencioso, que ela acatou sorrindo.

Quando já estávamos dentro do bloco, vi Rick saindo da minha cela segurando a mochila nos braços, e fiquei subitamente ansiosa para ver o que quer que ele tivesse deixado para mim. Notei os outros integrantes do grupo procurando as celas das outras crianças também, enquanto estávamos em volta de uma “fogueira” que Daryl tinha feito queimar dentro de uma panela.

Pedimos a Beth para cantar um pouco para nos distrair, e assim ela começou uma musica folk que nenhum de nós conhecia, mas que eu realmente quis ter no ipod. Carl se sentou ao meu lado na roda, e como estavam todos querendo chegar mais perto da panela para se aquecer nossos braços estavam colados e eu poderia deitar minha cabeça no ombro dele se quisesse, e eu o fiz.

Senti-o ficar tenso a minha aproximação, mas logo relaxou quando eu me aconcheguei e notei que ele resistiu ao impulso de me abraçar.

Todos já estavam acostumados a nos ver juntos, Mika apenas olhava e suspirava como se estivesse vendo um filme romântico, e Beth sorria e cantava olhando para mim.

Ficamos assim por o que pareceu uma hora, conversando, se aquecendo, cantando e brincando, até que me levantei porque a curiosidade havia me vencido, então beijei o rosto de Carl antes de sair e me dirigi até a cela, e a cada passo meu entusiasmo aumentava, porque fazia tanto tempo que não ganhava algo de natal – ou mesmo tinha um natal – que qualquer coisa que Rick tivesse trazido seria incrível, até um chaveiro do Texas Rangers.

Mas para minha surpresa – e felicidade explosiva – , havia uma Polaroid branca encima da cômoda, ao lado de uma caixa de luzes de natal, movidas a pilha (haviam pilhas e baterias em cima da caixa).

Meus olhos se encheram de lagrimas, então Rick apareceu na porta e eu não me contive desta vez, abracei-o como abraçaria meu pai e ele logo correspondeu.

– Achei que você queria uma câmera nova para fotografar as suas luzes.

Ele tinha razão, eu fotografaria as luzes, as crianças em volta da fogueira na panela, Carl jogando seu novo GameBoy e Daryl com aquele gorro ridículo.

Depois que Rick saiu, eu decidi como colocar as luzes, porque eu realmente havia amado a câmera, mas as luzes eram do que eu mais sentia falta e o que eu mais queria ver, nem que fosse só no meu quarto/cela.

Eu sempre levava comigo fita adesiva, porque qualquer problema se resolve com fita adesiva no meu contexto, então eu a usei para colar as luzes no beliche e na parede, e também colei fotografias junto, as melhores, e acrescentaria outras mais tarde. Olhando para elas entre as luzes eu já não sentia a tristeza de não ter mais aquelas pessoas, apenas a boa nostalgia.

No inverno o dia escurecia mais rápido, e a prisão já era escura por natureza, então logo as luzes se destacaram e minha cela era a que brilhava feliz no meio de todo aquele cinza triste.

Enquanto terminava meu trabalho de decoração, ouvi as outras crianças descobrindo seus presentes e ouvi quando Carl ligou o que eu reconheci como sendo um Gameboy pela musica, então ele veio até minha cela com um sorriso animado, mas parou bruscamente e seus olhos azuis brilharam, ele ficou imóvel como uma criança vendo um cometa. Então eu discretamente peguei a Polaroid sobre a cômoda e bati uma foto, porque os olhos dele estavam enormes e a boca levemente curvada num riso, a expressão mais inocente que eu poderia ver em tempos.

Quando a foto saiu, eu prontamente a assoprei e colei na parede, porque gostaria de olhar para ela várias vezes. Como ele ainda estava parado eu o puxei pela mão para dentro.

– Ei, gostou? – Carl balançou a cabeça, e eu apenas continuei encarando-o em seu momento infância.

– Era o que você estava pedindo para Maggie e Glenn de manha. – afirmei com a cabeça o vendo segurar uma das pequenas luzes em sua mão – Como ligou isso?

Apontei para a pequena caixa grudada aos fios da ultima luz, onde as pilhas ficavam e onde havia um botão.

– Pilhas. – ele murmurou algo como “brilhante” – E ganhei a Polaroid.

– A Pola-oque? – revirei os olhos e apontei para a câmera, então ele entendeu – Oh, isso é a Pola...

– Roid. – foi a vez de ele revirar os olhos – E você tem um belo Gameboy ai, posso te ensinar a jogar.

– É como um PSP? – balancei a cabeça, surpresa por ele se lembrar – Legal.

Me sentei na cama e dei espaço para que Carl se sentasse ao meu lado,o que ele fez todo travado com medo de bater a cabeça numa das luzes, então tirei o chapéu dele com cuidado e coloquei sobre a cama.

– Desculpe por isso. – ele encolheu os ombros com timidez.

– Esta tudo bem. – resisti ao impulso de apertar as bochechas dele como uma tia louca, porque quando Carl tenta ser adorável, ele consegue – Sabe, daqui as luzes ficam mais bonitas, e os seus olhos também.

Observei ele corar, mas não desviar o olhar porque sabia que quando eu falava dos olhos dele eu queria que continuassem olhando para mim.

Sentada ali com ele eu me senti muito pequena, como quando me sentava perto da lareira no tapete de casa, ou quando dormia agachada perto da janela porque é obvio que eu veria o Papai Noel passar. Ou não.

– Daqui não podemos ver o Papai Noel passar. – falei tristemente, o que o fez rir da minha inocência.

– Eu acho que ele não trabalha mais, ou não existe. – bati no ombro com o manual das luzes de Natal – Certo, me desculpe, ele existe, mas talvez esteja muito difícil achar as crianças agora.

– Com tanta consideração você não vai ganhar presentes quando ele voltar a trabalhar. – ele revirou os olhos, então tive uma idéia.

Eu e Carl já havíamos nos beijado algumas vezes, e fazia muito tempo desde a ultima vez simplesmente porque não encontramos um bom momento, então resolvi criar o bom momento.

– Eu sei o que você realmente quer ganhar de Natal esse ano. – me aproximei dele e suas pupilas de dilataram como se soubessem o que eu estava prestes a fazer – Mas você não esta sendo um bom menino.

– Anda cochichando com o Papai Noel? – ele disse de forma debochada, e me senti tentada a usar o manual das luzes de novo.

– É por isso que não vai ganhar o presente. – me levantei da cama bruscamente e comecei a juntar minhas fotos na cômoda, deixando- o surpreso na cama.

Enquanto colocava as fotos na ordem para prender com o elástico, ouvi quando Carl se levantou e senti quando se aproximou, ele parecia não saber o que fazer para ter minha atenção de volta até que encontrou uma forma.

Ele colocou uma mão de cada lado da pequena cômoda e ficou atrás de mim, me prendendo, e mesmo tentando chamar minha atenção eu podia sentir o rosto dele quente, ele estava corado, provavelmente envergonhado por estar tão próximo.

– Não preciso ser um bom menino para ganhar meu presente. – ele disse perto do meu ouvido, então me virei e vi que estávamos mais perto do eu imaginava.

– Não? – apoiei minhas mãos na cômoda também, estava quase pendendo.

Havia um sorriso malicioso no rosto de Carl, um sorriso que eu via raramente, e seu olhar ziguezagueava dos meus olhos para minha boca.

– Não. – ele tirou a mão de um lado da cômoda e segurou minha cintura para que eu não caísse, assim me puxando para si – Eu posso roubá-lo.

Então ele me beijou, lentamente, levando todo o frio do inverno para longe, me fazendo esquecer as luzes e o Natal, e que mais um ano vivendo as conseqüências humanas havia se passado.

Mantive minhas mãos sem luvas no rosto dele, que rapidamente as aqueceu, então depositei uma delas em seu peito e mesmo por cima dos agasalhos eu podia jurar que estava sentindo seus batimentos cardíacos.

Quando nossos lábios se separaram eu rapidamente o envolvi com meus braços, não queria perder o calor daquele momento.

– Feliz Natal, Cowboy. – falei abafadamente, com a cabeça deitada sobre o ombro dele – Desculpe por bater em você com um manual.

– Feliz Natal, Texas. – ele respondeu rindo – Tudo bem, você já me bateu até com um saco de M&M’s.

Sim, eu bati nele com um saco de M&M’s.

Quando nos separamos foi um tanto estranho, era como sair de um lugar quentinho para a nevasca do lado de fora. Vendo que eu estava sem luvas, Carl continuou segurando uma de minhas mãos.

– Porque toda vez que a gente se beija parece um clipe da Taylor Swift? – perguntei enquanto guardava as fotos na mochila.

– Quem é Taylor Swift? – revirei os olhos e dei um peteleco na testa dele.

Esquece, vamos para a fogueira/panela antes que a Michonne coma todos os marshmallows vencidos.

Nenhum de nós sabia se era natal mesmo, ou se já havia passado, se ainda iria passar, nós só queríamos poder comemorá-lo de alguma forma. Ou se sentir como uma família de alguma forma.

E no fim do dia eu estava feliz, porque havia brincado na neve, cantando com Beth, tirado fotos, beijado Carl, comido marshmellows e minha cela não parecia mais triste, porque haviam luzes de natal e um garoto de olhos azuis com um Gameboy no beliche de cima.


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Notas finais do capítulo

Não comam marshmellow vencido. Okay?