Margareth King até parecia ser uma garota legal. Só parecia. Ela tinha umas manias estranhas. Mexia muito no cabelo, cruzava e descruzava as pernas a cada vinte segundos, piscava três vezes seguidas e depois ficava um tempo sem piscar, além de já ter estralado os dedos quatro vezes nesse pouco tempo de conversa.

Nathaniel não conseguiu prestar atenção em uma palavra que ela havia falado. Ele se distraía com todas essas manias dela, e acabava perdendo o fio da conversa. Quando Silvia avisou que o tempo tinha acabado, ele não sabia se ficava aliviado por se livrar dela, ou culpado por olhar mais para as pernas da garota do que para o rosto. Não, ele com toda certeza não se sentiria culpado por isso. Nathaniel pediu que ela ficasse para conversarem depois.

A próxima selecionada era Sophie Horan. Ela se aproximou dele parecendo animada, mas ainda assim, receosa. Como se não soubesse bem o que fazer.

– Olá Sophie, por que não se senta? – Nathaniel convidou, sorrindo para a garota.

– Majestade. – ela cumprimentou, se sentando ao lado dele.

– Então, de que casta você era antes de virar uma selecionada? – ele perguntou, enquanto ela ainda sorria.

– Eu era uma sete. – ela respondeu, dando de ombros.

– Não mudou nem um pouco seu cotidiano, imagino. – ele brincou, ao que ela riu.- Então você era uma sete. Agora que é selecionada, você é uma três. Se eu te eliminasse hoje, o que você faria da vida, agora que é uma três?

A garota pareceu pensar. Nathaniel ficou orgulhoso da própria pergunta. E ainda tinham coragem de dizer que ele não sabia de nada!

– Bem, eu sempre trabalhei com flores. Eu era jardineira, e gostava muito do meu trabalho. Gostaria de continuar trabalhando com as flores, então provavelmente eu tentaria uma carreira em botânica, e estudaria plantas. – ela respondeu, parecendo ter sido sincera.

– Majestade. – Silvia não precisava mais nem terminar a frase, ele já tinha entendido a algumas selecionadas atrás.

– Você vai gostar daqui, os jardins são enormes. Se tiver tempo pra explorar o palácio, vai encontrar vários como esse daqui. – ele apontou para o jardim em que estavam, que era um pouco escondido, se não conhecesse o palácio, não encontraria ele. – Sophie, pode se juntar as outras. Foi um prazer conhecê-la.

A próxima selecionada vinha acompanhada de um cachorro. Katherine Morgenstern segurava a guia de Wiliana com firmeza, enquanto a cadela a levava até onde Nathaniel estava sentado. Wiliana parou de andar, Katherine presumiu que havia chegado.

– Olá Katherine. – Nathaniel a cumprimentou, enquanto ela tateava o sofá e se sentava.

– Majestade. – Katherine respondeu, virando-se na direção dele, e sorrindo.

– Posso fazer uma pergunta um tanto quanto pessoal? – ele perguntou, se remexendo um pouco.

– Claro.

– É estranho não enxergar? – ele perguntou, parecendo ansioso pela resposta.

– Bem, considerando que eu nunca enxerguei, para mim não é estranho. Já estou acostumada. – ela deu de ombros.

– Mas como você faz as coisas? Como... escolher suas roupas? Como você escolhe que roupa vai vestir?

– Eu sempre gostei de fazer as coisas sozinhas, não gosto muito quando ficam me ajudando, ou tem pena de mim, então minha mãe ajeita as roupas em certa ordem, então eu sei o que eu posso usar com o que.

– Isso é legal. – ele respondeu sorrindo. Ele se abaixou para fazer carinha em Wiliana – Como é o nome dessa garota aqui?

– Wiliana. – Katherine sorriu, ao notar que Wiliana balançava o rabo e batia em sua perna, sinal que tinha gostado de Nathaniel.

– Majestade. – Silvia chamou novamente.

– Foi um prazer conhecê-las, Katherine e Wiliana. – Nathaniel comentou, enquanto Katherine riu. – Podem se juntar as outras.

Joene Cabot chegou poucos segundos depois de Katherine ter saído. Ela deu a impressão de ter passado um pouco longe de Katherine, e Nathaniel estranhou a atitude.

– Olá Joene. – ele disse, enquanto ela se sentava ao lado dele- Aconteceu algo?

– Como assim, majestade? – ela perguntou, confusa.

– Você passou longe da Katherine. Por quê? – ele perguntou, enquanto ela o encarava.

– Ah, não foi da Katherine. Foi da cadela. – ela respondeu, dando de ombros- Não gosto de cães.

– Foi um prazer conhecê-la, Joene. – ele respondeu, simplesmente- se importa de ficar depois que eu conversar com todas, para podermos conversar mais?

– Ah, claro que não, majestade. – ela respondeu confusa, se levantou, juntando-se as demais.

Nathaniel ainda pensava no absurdo que era a garota não gostar de cachorros, quando a próxima selecionada já parava de frente a ele. Sim, de frente, não ao lado dele no sofá, porque ela estava em uma cadeira de rodas. Certo, aquilo era novidade.

– Majestade. – ela o cumprimentou, sorrindo. Ele se ajeitou no sofá.

– Ah, olá... Ellen. – ele sorriu também, olhando o nome da garota na plaquinha, como fez com as demais. – Eu estava distraído... Então... Isso vai parecer grosseiro da minha parte, mas sendo cadeirante e tudo mais...

– Pode falar, não me ofendo fácil. – ela o encorajou, rindo.

– Ok. Sua parte intima funcionam normalmente? – ele perguntou, direto e certeiro. Ellen começou a rir, mas logo conseguiu responder.

– Você não é nada direto, nada. – ela riu novamente, e deu de ombros- Mas sim, funciona normalmente. Eu posso até ter filhos, como qualquer outra mulher fértil.

– Sua bunda não ficou flácida? – ele perguntou, novamente, direto.

– Ai minha Illéa. – ela riu, um pouco chocada com a pergunta, mas sorrindo- Nunca parei para ficar olhando a minha bunda, mas não, ela não ficou flácida.

– Eu deveria aprender a me controlar antes de falar as coisas. – ele sacudiu a cabeça, incrédulo consigo mesmo, pelo menos foi isso que Ellen achou, já que Nathaniel apenas ria internamente, com sua ousadia.

– Majestade. – Silvia novamente, “essa mulher não cansa?” Nathaniel pensou.

– Tudo bem. Foi um prazer conhecê-la, Ellen. – Nathaniel sorriu- pode se juntar as outras.

Enquanto Ellen voltava ao seu lugar, ele olhou para o grupo de selecionadas. Já havia falado com todas das três primeiras fileiras, e com praticamente todas da quarta. Ele estava impressionado ao notar que já havia entrevistado também todas as da quarta fileira. Nathaniel percebeu que havia uma cadeira vazia na quarta fileira, e provavelmente era da selecionada que agora se aproximava dele. Ele conseguia ver os líricos da ópera italiana cantando “Aleluia” no momento que percebeu que aquela era a última selecionada.

Rosemary Mary Magnani caminhava em direção ao príncipe decidida. Quando se sentou ao lado do príncipe, seu típico sorriso malicioso já estava estampado em seu rosto.

– Olá Rosemary. Que ventos a trazem ao meu humilde sofá? – ele a cumprimentou, brincando.

– Os melhores, eu espero. – ela retrucou, e em seguida acrescentou- Majestade.

– Então, me fale sobre você. Qual era a sua casta? Qual o seu objetivo aqui dentro?

– Eu era uma oito. – ela respondeu, ao que ele concordou, para que prosseguisse. – Meu objetivo é ser rainha.

– Então se eu perguntasse, “Coroa ou príncipe?” você responderia coroa? – ele perguntou, encarando-a.

– Não, eu responderia príncipe. – ela respondeu aumentando, se é que era possível, seu sorriso malicioso. Ele achava que tinha entendido, achava, mas não.

– Ok, eu não entendi. – ele cedeu, e ela riu.

– Tenho interesse no príncipe e na coroa. – ela deu de ombros. – Na coroa, porque eu quero ser rainha. No príncipe por que... acho que você pode descobrir isso sozinho.

Uh, ele podia. Com toda certeza, ele podia. Eles se encararam por cerca de dez segundos, e então Silvia os interrompeu. Pela última vez, pelo menos.

– Foi um prazer conhecê-la, Rosemary. Pode se juntar as outras garotas.

~*~

Era isso. Finalmente tinha acabado. Bom, pelo menos a primeira conversa com as selecionadas. Quantas ele tinha eliminado mesmo? Sete? Uma quantidade tão grande deixaria seu pai feliz, não é? Melhor eliminar menos garotas. Ele encarou as sete garotas que ele havia pedido para ficarem para conversar com ele depois. Algumas tinham sorrisos maliciosos, outras pareciam já saber o porquê de ficarem depois. De todas, quem ele poderia voltar atrás na decisão?

– Holly! – ele chamou, acenando para a garota. Ela pareceu se assustar ao ser chamada enquanto sua mãe discursava para as selecionadas, mas se apressou em ir até onde o príncipe estava.

– Nathaniel, você podia ser menos discreto, não acha? – ela reclamou, parando de frente para ele.

– Eu? Discreto? Estamos falando da mesma pessoa?

– Você interrompeu um discurso da Silvia! Sabe o que ela vai fazer? Continuar falando! E eu não aguento mais ouvir ela falar! – ela reclamou novamente.

– Tudo bem, me desculpe. – ele revirou os olhos- Preciso que faça uma coisa para mim. Eu mudei de ideia. Quero que você fale para Gemma ir embora junto com as outras, não me esperar para conversar comigo depois.

– Desistiu de eliminá-la? – Holly perguntou, procurando onde Gemma estava entre as selecionadas. Ela estava na ponta, e longe do olhar de Silvia. Bingo!

– É, ela merece mais uma chance. Eu ia eliminá-la porque ela é muito ativa e você sabe, eu sou mais...

– Você. – ela deu de ombros, concordando.- Estou indo. Silvia vai dispensar as garotas agora. Então você entra em campo.

Ele apenas concordou, vendo as garotas já se levantarem. Viu as sete permanecerem sentadas, sem saber o que realmente deveriam fazer. Holly chegou até onde Gemma estava sentada, e sussurrou algo para ela. Gemma olhou para Nathaniel, parecendo ficar sentida, mas assentiu, e seguiu as outras selecionadas de volta para o palácio.

“Aposto que ela não vai ficar sentida ao saber o porque de ter voltado com as outras.” Nathaniel pensou, rindo consigo mesmo.

Seis selecionadas continuavam sentadas em seus lugares. Suas expressões de tristeza mostravam que elas já sabiam o porquê de continuarem ali. Ele se levantou, e caminhou até o lado de Silvia, encarando as garotas.

– Garotas, sinto muito, mas devo anunciar que vocês nunca mais ficarão tão próximas a mim. Ou seja, vocês serão mandadas para casa. – ele comentou, vendo algumas delas já se encolherem, tristes. – O problema não sou eu, são vocês! Não morram sem a minha presença. Espero que tenham sorte arrumando algum marido rico, ou um bom marido para vocês.

Ele saiu logo depois que terminou de falar. Se tinha uma coisa que ele não gostava de ver, era uma mulher chorando. Cara, ele nunca sabia o que fazer!

~*~

Nathaniel já não aguentava mais conversas, estava deitado em sua cama, pensando sobre as selecionadas. Havia esgotado toda sua variedade de perguntas banais hoje. Não via a hora de tomar um banho e finalmente descansar um pouco.

Tomando coragem, se levantou da cama, mas antes que pudesse seguir em direção ao banheiro à porta foi aberta. Sua irmã entrava no quarto como se aquele cômodo a pertencesse. Antes que tivesse tempo de processar a entrada da mesma, ela já estava sentada em sua cama.

Levantando uma sobrancelha, ele perguntou: - Que invasão é essa, Zoey? – voltou a se sentar, agora ao lado da irmã.

– Você invadiu meu quarto para reclamar da seleção. – ela retrucou- Agora estou fazendo o mesmo, só que para perguntar o que você achou das suas supostas futuras esposas.

– Primeiro que nenhuma delas será minha futura esposa. Ainda arrumarei um jeito de acabar com essa palhaçada. – ele respondeu, dando de ombros.

Zoey revirou os olhos. O irmão precisava crescer, urgentemente, mas sem vontade de se estressar, resolveu ignorar essa parte, e puxar a orelha dele depois.

– E segundo... Elas são diferentes do que eu esperava. – ele continuou.

– Fale-me mais sobre isso. – Zoey estimulou, tirando os sapatos e se deitando na cama.

– Você é muito espaçosa, sabia disso? – Nathaniel comentou, dando um peteleco em seu braço. Ela soltou uma exclamação de dor, e resmungou, o xingando. – Calada. Você não queria que eu continuasse? – Zoey assentiu, massageando o lugar do peteleco, que estava um pouco vermelho. – Elas não são tão mocréias quanto eu esperava, ou tão vazias intelectualmente. É claro, tem algumas que não dava para manter uma conversa de pessoas normais, mas essas já estão fora...

– Há alguma que realmente te chamou atenção? – interrompeu a princesa.

– Ainda não parei para pensar nisso. Algumas são realmente muito, mas muito bonitas. Outras parecem mais inteligentes, e algumas são uma mistura dos dois. O incrível é que tem muitas meninas tímidas!

– Só digo uma coisa, tenho pena dessas meninas, que não sabem em que roubada estão se metendo! – ela comentou, mexendo a cabeça.

– Quer outro peteleco? – perguntou o príncipe, agressivamente.

– É disso que estou falando! –brincou Zoey, se sentando de novo. – Então ainda não há nenhuma preferida?

– Não, até porque sei que todas acabarão indo embora, no final...

–E já sei. Você não casará e tudo mais. – interrompeu Zoey, de novo. – Pois bem, te aconselho a ter sim uma favorita, porque talvez seu maravilhoso plano inexistente não de certo. –ela aconselhou, e se levantou, seguindo em direção a porta, antes que ele tivesse tempo de retrucar. – Ah, tome um banho. Você esta fedendo! – saindo, então, do quarto.

Nathaniel pegou um travesseiro e jogou na irmã, mas foi tarde. A porta já estava fechada. Resmungando aos quatro ventos sobre as liberdades da princesa, foi tomar se banho, e tentar processar todo o dia.