Nathaniel entrou no salão, sua expressão, de até então raiva, agora era divertida. Atrás dele vinham Mattew e David, que pareciam com vontade de rir da atitude do amigo, mas ao ver a rainha, surpreenderam-se e se endireitaram.

– Hey, você ai com a cara verde! A sua cara é sempre assim, ou o que? – brincou Nathaniel, apontando para uma das selecionadas ruivas. America segurou-se para não xingar o filho, mas antes que tivesse tempo de expulsá-lo do salão, a selecionada retrucou a pergunta do príncipe.

– Não, é só porque eu estou te vendo, majestade.

– Parece que temos uma engraçadinha aqui, mãe. – o príncipe abriu um sorriso zombateiro.

– O que faz aqui, Nathaniel? Você sabe muito bem que não pode entrar nesse cômodo! Principalmente hoje! – America estava quase espumando de raiva.

– Ora mãe, fiquei curioso!

Zoey revirava os olhos diante do atrevimento do irmão. No fundo ela sabia que ele acabaria fazendo algo do tipo, só não esperava que ele deixasse America ficar sabendo, quanto mais que faria na frente dela.

– Sai daqui imediatamente! Matt e David, me surpreende que estejam apoiando-o nisso!

–Desculpe-nos majestade. – desculpou-se Mattew, envergonhado. David somente abaixou a cabeça.

– Só o arrastem para fora. – America pediu, colocando a mão na testa. Os dois guardas seguraram um de cada lado do príncipe, e o arrastaram para fora do salão aos risos, deles e do príncipe.

Zoey sorria discretamente vendo o comportamento do irmão, mas America estava furiosa. Algumas selecionadas riam da situação, enquanto outras estavam desesperadas. As criadas, tentando contornar a situação da família real, começaram a agilizar novamente a arrumação das selecionadas, elas agora estavam mais atrasadas do que nunca.

– Meninas, queiram me desculpar. Vou precisar sair para resolver esse assunto. – America se adiantou para a saída- Zoey, você pode continuar? Volto assim que possível.

– Claro, mãe. – a princesa concordou. America sorriu para ela e saiu bufando do Salão das Mulheres.

~*~

America entrou em seu quarto, ainda extremamente raivosa. Mary entrou logo em seguida, trazendo um copo com água e açúcar. America se sentou na cadeira mais próxima, e aceitou o copo de Mary.

– O que houve? – Mary perguntou, olhando para a rainha, preocupada.

– O mais poderia ser? Nathaniel, obviamente. – America suspirou. Mary soltou uma risada.

– O que o futuro rei aprontou desta vez?

– Entrou no salão das mulheres, sem a minha permissão. – Mary arregalou os olhos- E bem no momento que as selecionadas estavam se arrumando.

– Ele não fez isso! – Mary se surpreendeu com seu tom de voz- Desculpe-me, majestade.

– Por favor, Mary. Até parece que não te conheço a mais de vinte anos! – America riu, com a atitude da outra.

– Posso ajudar em algo?

– Sim! Peça ao Maxon para vir até aqui.

– O rei esta em reunião no momento, acho difícil ele sair de lá. – Mary comentou, encolhendo os ombros.

– Então... diga a ele que quero desistir da seleção do Nathaniel! – America sorriu, vitoriosa.

– Você quer desistir da seleção? – Mary perguntou, assustada, e falando um pouco alto. America riu novamente.

– Não, Mary, é para você falar isso para o Maxon. Ele vai vir para cá rapidinho.

– Entendi. E se ele não quiser vir mesmo assim?

– Confie em mim, ele vai vir.

Mary deu de ombros e saiu do quarto. America nem teve tempo de ir até a janela e olhar para o jardim, que já estava ouvindo a porta ser aberta e fechada bruscamente. Ela se virou calmamente para olhar a origem do barulho. Maxon a encarava de boca aberta. Ele estava esbaforido, ofegante e provavelmente havia esquecido o paletó na outra sala.

– Você, o que? – ele tentou exclamar, mas saiu num tom estranho e fino.

– Como vai, querido? – America sorriu zombateira.

– Você quer desistir da seleção? Desde quando isso?

– Desde que eu preciso achar algum assunto que assuste meu marido o suficiente para que ele venha falar comigo. – America deu de ombros.

– Da próxima vez porque não tenta algo que vai me assustar mais, tipo, um apocalipse zumbi, a Zoey estar grávida, ou você ter fugido de Illéia? – Maxon suspirou, aliviado. America riu, dando lugar para o marido se sentar no sofá.- Qual a emergência?

– Nathaniel. – America deu de ombros. Maxon bufou, já preparado para a bomba. – Ele já viu as selecionadas.

– Por favor, me diga que você esta falando que ele criou juízo e foi ler as fichas das selecionadas e não que ele...

– Ele viu as selecionadas pessoalmente.

Maxon bufou revoltado. – Já estava tudo combinado para que ele conhecesse as selecionadas amanhã! Porque ele não consegue respeitar uma única regra sequer? Como aconteceu?

– Ele entrou no salão das mulheres, sem a minha permissão, diga-se de passagem, enquanto as garotas estavam se arrumando.

Maxon bufou, ele já estava cansado de ver esse tipo de comportamento vindo do filho. Ficou imaginando como seria a vida de Nathaniel se em vez dele, fosse seu pai Clarkson criando o futuro herdeiro. Ele nunca havia contado o que o antigo rei havia feito em sua infância para o filho, achava que já estava na hora de contar, mas não agora, ele esperaria até que Nathaniel eliminasse as primeiras selecionadas. Ele queria ver como Nathaniel agiria, quem sabe poderia até surpreender a todos?

~*~

Nathaniel foi arrastado pelos dois guardas somente até o lado de fora do Salão das Mulheres, e logo em seguida saíram os três juntos rindo pelos corredores. David Leger era conhecido da família real antes mesmo de nascer. Ele é filho de Aspen Leger, que hoje é o líder da guarda real, e Lucy Leger, não mais criada e sim dama de companhia da rainha. Quando David tinha dois anos, Nathaniel nasceu, e desde então os dois viviam juntos.

– Cara, isso foi demais. – David ainda estava rindo com os outros dois.

– A cara delas foi a melhor! – Nathaniel concordou- Não sei como algumas não saíram correndo e gritando pelo palácio.

– Acho que o choque foi tanto, que elas nem sabiam o que fazer. – Mattew deu de ombros, dando de ombros, e andando ao lado dos outros dois.

Mattew Johnson também era amigo de longa data de Nathaniel. O rei Maxon e o Sr. Johnson se conheciam da época que Maxon era adolescente. Maxon era príncipe, e Sr. Johnson era o líder da guarda real. Billy nasceu primeiro, e sempre foi um reflexo do pai, igual em personalidade e disciplina. E então veio Mattew, ele era o oposto do pai e do irmão, sempre rebelde, não gostava de regras, e fazia o que bem entendia da vida.

Mattew, David e Nathaniel passaram a infância e parte da adolescência juntos, até que foram separados quando David e Mattew se alistaram para serem guardas. David permaneceu na guarda do palácio, mas Mattew foi mandado para combate direto. Linha de frente, contra os rebeldes. Naquela batalha, Mattew perdeu o pai e Billy, e foi então que ele percebeu a realidade. Mattew mudou drasticamente sua forma de ver o mundo, passou a dar mais valor ao que realmente importava, e a cuidar de sua mãe, que depois da perda do filho mais velho e do marido, entrou em uma grande depressão.

– Mas agora falando sério. – Nathaniel começou, apontando para os dois- Vocês me acompanharam dessa vez, mas nada de assanhamento para cima das selecionadas, entenderam? Amigos, amigos, mulheres a parte.

– Mulher de amigo meu, para mim, é macho. – Mattew deu de ombros.

– Um macho muito bonito, mas ainda sim macho. – David concordou, enquanto Nath ria.

Os três seguiram até o final do corredor, onde então se separaram. Nathaniel foi atrás de seu pai, ele sabia que provavelmente Maxon o estava procurando, e que ele provavelmente levaria uma bela bronca. Os dois guardas seguiram no corredor, estava na hora de começarem a ronda do dia, e mesmo sendo amigos do príncipe, eles não tinham tratamento especial.

~*~

Nathaniel já estava a mais de uma hora sentado ouvindo os pais falarem. Ontem depois de ir atrás do pai, ele acabou encontrando America, e tendo que ouvi-la falar o quando foi errado a atitude dele. Ele só a contrariou falando que selecionadas estavam ali para que ele escolhesse uma delas, então ele tinha todo o direito de vê-las quando quisesse. America apenas disse que pela manhã ela queria vê-lo no escritório do pai, e sem atrasos. E agora ele estava aqui, em pleno horário que ele julgava ser madrugada, ouvindo os pais falarem sobre a conversa que ele teria hoje com as selecionadas.

– Quantas vezes vocês vão repetir a mesma coisa? – Nathaniel perguntou, entediado- Eu já entendi! Vou conversar com todas as selecionadas, ver com quais menos me identifico e elimino no mínimo três. Já entendi.

– E onde você vai conversar com elas? – Maxon perguntou, desafiando o filho.

– Na biblioteca! – o príncipe revirou os olhos, cansado do assunto. Maxon bufou, e America ficou extremamente vermelha.

– Não! Você vai se encontrar com elas no jardim dos fundos! – ela exclamou, batendo com a mão na testa.- Quantas vezes vamos ter que repetir? A biblioteca não seria um lugar apropriado, sem falar que as selecionadas poderiam se distrair com tantas coisas que tem na biblioteca e...

– Se distrair? Por favor, mãe. Eu vou estar lá, porque elas se distrairiam com outra coisa? – Nathaniel bufou- Tudo bem. Jardim dos fundos. Conversar com as selecionadas. Eliminar ao menos três. Mais alguma coisa?

– Sim, se encontrar a sua irmã, diga que chegou outra carta do príncipe Joseph. – America respondeu, já sentando-se de cansaço.

– De novo? Ele não percebeu ainda que ela não esta interessada? – Nathaniel revirou os olhos- Era de se esperar que ele desistisse depois de todas as cartas lindamente ignoradas pela dama e jogadas no fogo. Claro que ele não sabe da última parte... será que ele acha que as cartas não estão chegando? Daqui a pouco ele vai achar que o problema esta nos correios de Illéia. Zoey deveria responder ao menos uma.

– Achei que não ia viver para ouvir meu próprio filho se importando com algo que não fosse ele mesmo. Esta preocupado com a sua irmã? E com a imagem dos correios de Illéia?

Nathaniel apenas bufou e se levanto, indo para a porta. Ouviu a mãe berrar algo como “Jardim dos fundos, não biblioteca” e fechou a porta atrás de si. Como mesmo que se chegava aos jardins dos fundos?

~*~

Quando ele viu às trinta e cinco selecionadas chegando, ele já imaginava o que estava por vir. Ele conheceria trinta e cinco garotas diferentes, com manias diferentes, sotaques diferentes, e aparecia diferente. Ele não se intimidava quando o assunto era mulheres, mas só de pensar que teria que criar algum assunto com trinta e cinco garotas diferentes, ele já começava a enlouquecer.

Silvia vinha à frente, com Holly ao seu lado. Holly era uma garota legal, e mesmo se não fosse, ele não culparia ela por ser chata, afinal, ela tinha Silvia em casa todo dia para aturar. Ter uma mãe como aquela não deveria ser fácil.

Atrás das duas seguia um mar de cores. As selecionadas usavam vestidos curtos, shorts, saias, e algumas até arriscavam usar calça. O dia estava bem quente, mais do que o normal, mas elas continuavam impecavelmente arrumadas. Nathaniel se pôs a imaginar quanto spray de cabelo elas estavam usando para mantê-los ajeitados mesmo com todo o calor.

Ele estava sentando em um sofá posicionado de frente para o jardim dos fundos. Haviam caprichado bastante ali, de forma que todos pudessem curtir os jardins e continuar em segurança, ou o máximo de segurança que fosse possível estando em uma área aberta.

As selecionadas foram sentadas em três filas de cadeiras. Todas ignoravam completamente as instruções de Silvia, e olhavam além dela, diretamente para Nathaniel. Holly cutucou a mãe, e falou algo em seu ouvido. Silvia virou-se imediatamente para trás, vendo Nathaniel sentado ali.

– Majestade! – Silvia exclamou. – Achei que só viria mais tarde.

– Resolvi começar logo hoje. Algo que eu deva saber antes de começarmos, Silvia?

– Ah, sim, majestade. – Silvia se ajeitou, ficando mais formal.- Elas ficaram aqui sentadas. Todas tem o mesmo tempo de conversa. E eu avisarei assim que o tempo de cada uma acabar.

– Ótimo, podemos começar então. – Nathaniel sorriu. – Quem é a primeira?

– Senhorita Taylor. – Silvia chamou, indicando para que a selecionada na primeira fila se adiantasse.

– Eu? – ela perguntou, assustada. – Tudo bem.

Taylor tinha cabelo ruivos e repicados. Era um ruivo bem chamativo, Nath notou, não devia ser natural. Ela era bem magra e também baixa. Tinha uma pele tão branca, que parecia que garota nunca havia tomado um pouco de sol. Quando ela se aproximou, Nathaniel não conseguia definir se ela estava alegre, nervosa, ou com raiva. Muito estranho.

– Então... Taylor. Vejo que não esta verde hoje. – Nathaniel comentou, zombateiro.

– Passei meu protetor anti-principes hoje. Por isso meu rosto ainda não ficou verde. – ela deu de ombros, enquanto ele sorriu.

– O que você faz da vida?

– Eu trabalho no circo dos meus pais.

– Jura? E o que você faz lá? – ele se surpreendeu com a resposta.

– De tudo um pouco. – ela da de ombros- faço o número que estão precisando naquele momento.

– Eu nunca fui em um circo. – ele disse, cruzando os braços. – O máximo que já fiz foi sair do pais junto com o meu pai. Mas a única coisa que vi além da visão da janela do avião, foi uma sala de reuniões. Como é o circo?

– É mágico. – ela sorriu. – Nada parece ser realmente real. Temos contorcionistas, mágicos, palhaços, acrobatas... é incrível.

– Alteza, seu tempo acabou. – Silvia informou, de seu lugar a frente das selecionadas.

– Foi um prazer conhecê-la senhorita cara verde. – Nathaniel se curvou para ela, debochando.

– O prazer foi meu, senhor “eu nunca fui a um circo”. – ela também se curvou, e voltou a seu lugar.

Nathaniel obsevou enquanto Silvia chamava a próxima selecionada. É, seria uma longa manhã.