Kella estava nervosa. Devido a isso, roia ansiosamente as unhas da mão, recém pintadas por uma das suas criadas, especialmente para aquela ocasião.

“Beatrice vai me matar” – pensou, encarando o estrago feito no trabalho meticuloso. Não havia mais salvação, então continuou roendo.

Além de nervosa, estava impaciente. Já fazia quase vinte minutos que ela esperava o príncipe, em um cômodo separado das outras, com algumas poltronas e revistas. Nele havia uma porta de vidro, que dava em direção aos jardins. Após algum tempo observando a paisagem, o tédio já a dominava.

Foi informada que Nathaniel a encontraria às 17 horas, e temendo se atrasar, ela chegou as 16h55min. Mas aparentemente o príncipe esquecera-se do compromisso. Ela usava uma roupa confortável e pratica, pois quando lhe avisaram do encontro, também falaram que o príncipe pedira para ela usar algo nesse estilo.

Mais de meia hora depois do horário previsto, foi quando o príncipe chegou, acompanhado de um guarda. – Me desculpe à demora, senhorita. Tive alguns contratempos. – ele falou, e logo após bocejou. Kella reparou que ele estava com uma cara sonolenta, mas resolveu não comentar nada.

– É claro, príncipe. Esta desculpado. – respondeu ela, educadamente, mas pensando que se soubesse que o príncipe estava dormindo, faria o mesmo.

– Vamos então? – perguntou Nathaniel, apontando para a porta de vidro. Ela se levantou, o acompanhou. Saíram do palácio e andaram um pouco em silencio.

– Príncipe, poderia me informar aonde iremos? – indagou Kella, curiosa e cansada do silêncio. Esperava fervorosamente que não fossem para um lugar muito fechado.

– Não. Quando chegarmos lá você verá. –respondeu ele sorrindo sorrateiramente. Kella suspirou. Agora sim estava realmente curiosa.

Minutos depois chegaram a uma área verde enorme, cercada e ao lado de uma construção de paredes marrons.

– Isso é o estábulo real? – Kella estava empolgada. Pelo campo havia alguns cavalos sendo montados. E nas cocheiras muito mais.

– Vi na sua ficha que você gosta de montar, e resolvi fazer as coisas um pouco diferentes. – esclareceu Nathaniel. A selecionada estava empolgada. Fazia tempo que não montava, e ali estava ela. Além do que, o dia estava perfeito em sua opinião, ensolarado com ventos leves.

Nathaniel a guiou para uma das cocheiras. Lá havia um belíssimo cavalo marrom. – Essa é a Kyla – falou ele acariciando a dita cuja. – Hoje será sua montaria.

Kella acariciava a égua. – Ela é linda. – comentou. Logo os dois estavam montados, ela em Kyla e Nathaniel em outro cavalo, dessa vez preto, nomeado de Nicky. Começaram a trotar lado a lado, conversando sobre as maravilhas da montaria. Aparentemente, era algo que tinham em comum.

De repente Kella parou, e ficou encarando o horizonte. – Aconteceu algo? – perguntou Nathaniel.

– Olha esse por do sol! É lindo! – exclamou ela, hipnotizada. – Esse momento é a minha parte favorita do dia. – comentou. Os dois ficaram mais um tempo observando o final do dia, e depois andaram mais um pouco com os cavalos, até que foram forçados pelos guardas a entrarem, devido ao fato de que já estava escuro.

– Obrigada pelo passeio, príncipe. – Kella agradeceu quando chegaram ao palácio.

–Estou aqui para isso. – respondeu, tentando esconder a pontada de amargura. A selecionada soltou um pequeno sorriso, e foi para o seu cômodo.

~*~

Nathaniel mal teve tempo de respirar e outro guarda já vinha em sua direção. – Alteza. – saudou ele, “Como era mesmo o nome dele? Carlos, Carler, algo assim”. – A Senhorita Rosemary já o aguarda. – o príncipe nem se lembrava mais quem era a tal de Rosemary. Realmente, a memória dele já fora melhor.

– Certo, logo mais a encontrarei. – falou Nathaniel e começou a andar, mas parou e se virou para o guarda. Acabara de se lembrar de algumas coisas da selecionada, e por isso tive uma ideia. – Ou melhor, leve-a ao porão, para a entrada da adega.

– Mas príncipe, a adega é restrita aos membros da família real e aos funcionários da cozinha. – relembrou o guarda. “Carter!” – exclamou Nath em pensamentos, com sua memória voltando a funcionar.

– Eu sou um membro da família real. Na verdade, eu sou o príncipe. Então... Leve-a até lá, e diga que logo chegarei. – Carter não teve escolha a não ser obedecer ao príncipe.

~*~

Rosemary já estava completamente impaciente. Não era porque Nathaniel era o príncipe, que poderia a deixar esperando. Fazia alguns minutos que fora trazida até aquela parte do palácio por um dos guardas, e o seu estomago já roncava, pois era a hora do jantar. Ela já estava acostumada com a sensação de fome, mas não queria passar por isso na sua estadia no palácio. Por isso seu humor não estava dos melhores.

Escutou passos e viu Nathaniel descendo as escadas, com uma cesta estilo piquenique. “Espero que o príncipe não tenha enlouquecido” – pensou, o observando.

– Então, eu sei que isso é meio estranho, mas pensei em fazemos algo diferente do normal. Sabe biblioteca, jardins, e esse tipo de coisa. E para falar a verdade, também estou com vontade beber algo mais forte que suco de uva. – comentou ele se aproximando dela. – Segura isso, por favor. – e empurrou a cesta para cima dela. Rose pegou instintivamente. Ele seguiu em direção ao um portal, que se encontrava fechado. Ao lado havia um painel, no qual era preciso que se colocasse uma senha, e foi isso que Nathaniel fez. – Pronto. Lady’s primeiro. – disse, fazendo sinal para que Rose passasse, quando o portão foi aberto.

Eles se encontravam em uma sala consideravelmente gelada, com enormes estantes, onde eram encontradas varias e varias garrafas dos mais diferentes tipos de bebidas. – Isso é tudo de vocês? – perguntou ela impressionada, tentando memorizar a imensidão do cômodo.

– Isso é só uma parte. Há mais adegas espalhadas pelo palácio. Mas essa é a maior. – comentou ele, sentando no chão, e se encostando à parede. – Espero que não se incomode em sentar no chão. – comentou, quando Rose o imitou.

Ela revirou os olhos. – Era uma oito. Acredite, sentar no chão limpo de um palácio, numa sala com temperatura controlada, não é nada. – a cesta agora se encontrava no meio deles. – Para que isso? – perguntou à morena.

– Eu estava com fome, então fui à cozinha. E então pensei que você também poderia ficar com fome, além de que, beber sem comer não é muito recomendado, a menos que você queira ser pego pelo rei e rainha. – disse ele, e abriu o recipiente, retirando as mais diversas comidas, e passando para a garota. – Espero que tenha algo que você goste.

– Isso é bolo? – indagou Rosemary, encarando fixamente o retângulo envolvo em papel transparente.

– Sim. – confirmou ele, e levantou-se em direção a uma das estantes, pegando uma garrafa de vinho tinto. – Hoje estou afim de beber algo mais sofisticado. – comentou, e voltou para o chão, com a garrafa na mão.

Rose já estava atacando o bolo. – Isso está muito bom! – exclamou.

– Pelo visto acertei. – sorriu o príncipe. – Quer um pouco? – ofereceu a garrafa.

A menina aceitou e tomou um longo gole. – Isso é realmente bom. – observou.

– Só vai com calma ai, não quero carregar ninguém bêbada para a cama. – brincou, pegando a garrafa de volta.

– Acho que vossa alteza gostaria de me carregar. Se aproveitaria do meu corpo. – ela retrucou a brincadeira.

– Não havia pensando por esse lado. – zombou, e bebeu mais um pouco.

O encontro se resumiu aos dois bebendo, comendo e soltando piadas com segundos, terceiros, quartos... sentidos. Até que Nathaniel notou que já era realmente tarde, e levou Rosemary para o quarto, antes que fossem pegos, e ele entrasse em mais um problema.

~*~

Miranda estava do lado de fora do palácio acompanhada por um guarda. Estava esperando o príncipe. Aparentemente era uma coisa comum ele chegar atrasado aos encontros. Eram 08h40min e nada do príncipe. Ele estava dez minutos atrasado. Ela suspirou.

Sentava-se em um banquinho que tinha perto de uma lagoa. O guarda estava ao seu lado, em pé. Não tendo nada para fazer, e após algumas tentativas frustradas de começar uma conversa com companheiro de espera (aparentemente os guardas não poderiam manter um diálogo além do básico com as selecionadas), ela agradeceu internamente por esta com o seu bloquinho, e começou a escrever.

Estava empolgada, devido ao ambiente, mas foi interrompida com a chegada do príncipe, que ajeitava a gola da camisa. – Senhorita Miranda. – cumprimentou. – Não precisa se levantar. – falou, vendo a largar o bloco para se colocar de pé.

– Alteza. – disse ela, observando-o se sentar ao seu lado.

– Espero que tenha tido uma boa noite de sono. – comentou ele, mas não tempo para que ela respondesse, pois se dirigiu ao guarda. – Será que você poderia ir um pouco mais para longe? Para que eu possa conversar a sós com a senhorita Bennet. – ordenou ele. Dimitri assentiu, e se afastou um pouco. – Assim está melhor, não é? – voltou a falar com Miranda.

– Por que escolheu esse lugar, príncipe? – indagou a selecionada, interessada.

– Sinceramente, não sei. Só não queria ficar dentro do palácio. Até pensei na biblioteca, pelo fato de você se escritora, e tudo mais. Mas estou tentando fugir dos clichês. – brincou ele, passando a mão pelos cabelos.

– Fugir dos clichês é uma coisa boa. As melhores histórias surgem assim. – concordou Miranda.

– Fale-me sobre você. Por que esta aqui na seleção? A escritora sonha em viver uma grande historia de amor com o imperfeito, mas perfeito príncipe? – zombou levemente Nathaniel.

– Na verdade, eu quero uma historia. Mas não precisa ser necessariamente uma historia vivida por mim. O que eu preciso é de inspiração para novos livros. E acredito que conseguirei aqui...

Ele a interrompeu: - Ou seja, se você fosse eliminada não se importaria, contanto que tivesse algo para que escrever?

– Não coloque palavras em minha boca, príncipe. Não desejo ser eliminada. Não que eu pense que possa ganhar, mas ainda não é minha hora de ir embora.

– Tudo bem então. Sobre o que estava escrevendo?

– Um príncipe, e sua seleção.

– E o príncipe tem uma luz no fim do túnel nessa história?

– Depende. A história ainda não tem um fim, muita coisa pode acontecer. Qualquer coisa.

– Qualquer coisa? Até o príncipe não ter que se casar?

– Acho que isso depende somente do príncipe. Ele faz o seu “Felizes para Sempre”. Por quê? O príncipe não quer se casar?

– Honestamente? Ele não quer nem ser o rei. A selecionada escritora faria o que se estivesse no lugar do príncipe?

– Ela viveria tudo isso. Viveria essa aventura que é a seleção.

– O príncipe vai pensar com muito carinho no conselho da selecionada escritora. – eles sorriram.

~*~

Zoey havia acabado de se arrumar. Há algum tempo ela havia começado a preferir se arrumar sozinha, a menos que fosse uma maquiagem mais sofisticada, ou um penteado complicado. Mas hoje ela estava com uma maquiagem bem natural, e seu cabelo estava solto em leves ondas. Ela preferiu não chamar muita atenção no primeiro jornal oficial das selecionadas, afinal essa era a noite delas. Zoey ouviu alguém batendo na porta.

– Seu noivo é um mauricinho. – ela ouviu a voz de David, e acabou rindo.

– Você acha? Ele parece ser um cara bacana. – Zoey comentou, dando de ombros.

– Ele pode ser um cara bacana, mas isso não faz diferença, porque você não gosta dele. – David comentou, dando de ombros.

– Como você sabe disso? – Zoey perguntou, surpresa, e deixando seu pincel de maquiagem cair.

– Por favor, Zoey. –ele revirou os olhos- Eu te conheço melhor que você mesma! Sou seu melhor amigo, fui seu primeiro namorado, te conheço desde que nasci. Somos praticamente gêmeos de mães e pais diferentes! – Zoey riu- Eu sou praticamente sua versão masculina, só que mais sexy, mais safada, e mais... David.

Os dois gargalharam, e ele se sentou ao lado dela na cama. Zoey abaixou a cabeça, com uma expressão triste no rosto.

– Joseph não é o meu único problema.

– O que você quer dizer?

– Eu estou gostando de alguém. – ela disse, de repente. David arregalou os olhos.

– E você não me disse nada? – ele perguntou, com uma voz estridente- Nem para o Nath?

– Como que você sabe que eu não disse nada para o Nath? – ela perguntou, desconfiada.

–Porque se você tivesse dito algo a ele, ele teria me contado! – ele respondeu, com uma expressão que demonstrava um belo “Dã”.- Quem é?

– Eu não vou contar isso a ninguém, ok? Por que eu sei que nunca vai dar certo, nem mesmo se eu tentasse. E eu estou destinada ao Joseph agora. E não conte ao Nathaniel. Tudo bem?

– Por que não contar ao Nath?

– Porque ai serão dois tentando arrancar de mim a informação. – ela respondeu, com um sorriso- você já esta de bom tamanho. E agora vamos, que já estou atrasada, e não estou afim de ouvir a mamãe reclamando.

~*~

– Olá minha cara Illéa! Como estão todos nesta linda noite? – quem falava era Alexander, o conhecido apresentador do Jornal Oficial de Illéa.- Hoje vocês conhecerão aqui no palco, as selecionadas que ainda restaram na competição. Uma delas será a nova princesa de Illéa! O quão ansiosos estamos para isso?

Alexander era uma pessoa muito animada. Estava sempre de bom humor, e muitos o adoravam em Illéa. Foi assim que ele ganhou o emprego, assim que o último apresentador se aposentou.

– Vamos receber a nossa amada família real! – Alexander exclamou, ao que a câmera focalizou os quatro integrantes da família. Ouviram-se palmas vindas das selecionadas, que estavam fora da imagem da câmera. – Boa noite, majestades.

– Boa noite Alex, hoje é uma boa noite, não é? – Maxon respondeu, sorrindo.

– Ah sim, com toda certeza. Hoje o povo de Illéa conhecerá um pouco mais sobre as selecionadas. Não só eles, como eu também. – Alex demonstrava bastante entusiasmo. – Então, príncipe Nathaniel, o que espera das selecionadas hoje? Acha que elas vão se sair bem?

– Eu já conheço as selecionadas, então acredito que sim, elas vão se sair bem. – Nathaniel respondeu, sorrindo para as garotas. Maxon pareceu ficar feliz com a resposta.

– Muito bem. Essa noite damos as boas vindas oficiais ao príncipe Joseph, futuro rei da Itália, e também, noivo de nossa amada princesa Zoey. Seja muito bem-vindo, príncipe Joseph.

– Obrigado Alexander, fico muito feliz de estar aqui, e conhecer um pouco mais o lar da minha futura esposa. –Joseph respondeu, arrancando um suspiro de algumas selecionadas, e de Alexander.

– Bom, conversaremos com as selecionadas assim que voltarmos do intervalo comercial. Estou tão animado! Não saiam dai!