Licantropia: A Reserva escrita por Paulo Carvalho


Capítulo 5
Capitulo 4: Quebra de Sigilo.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521802/chapter/5

Capitulo 4-Quebra de sigilo.

Sam acordou no dia seguinte sentindo-se como se um caminhão tivesse usado sua cabeça como estrada. A dor era a mais aguda que ela já sentira; seus olhos latejavam; a língua doía e estava inchada e a boca tinha um gosto amargo de sangue. Na sua frente, estava parado um homem que sorria e segurava uma bandeja com comida. O cheiro de café fez o estômago de Samantha se contorcer e doer. Há quanto tempo ela não comia? Sua mente dolorida não tinha resposta.

–--Bom dia! ---o homem sorriu. ---Como se sente? --- ele franziu as sobrancelhas. ---Que pergunta idiota, não? É claro que não está bem. Eu tenho comida e café? Você gosta.

A voz do homem pareceu estranhamente familiar para Sam, mas ainda assim ela não conseguia se lembrar. Quando Samantha abriu a boca para responder, sua voz saiu abafada e entrecortada. Ela limitou-se a acenar em concordância. O homem se inclinou e deixou que um pouco do café escorresse pela sua garganta. O líquido forte e adoçado a fez se sentir instantaneamente melhor.

–--Melhor, não é? ---ele pôs a bandeja sobre uma mesa de metal e só então Sam olhou o lugar ao seu redor.

Ela não estava mais no quarto do dia anterior. Ela estava cercada por carcaças e ganchos com sangue seco. As paredes brancas estavam amareladas e manchadas de vermelho; o teto era de vidro fosco e a luz do sol iluminava todos os cantos. As carnes penduradas cheiravam a sangue, fumaça e sal. Com um suspiro de alívio, Sam percebeu que eram carcaças de animais caçados e não de patrulheiros capturados.

–--Então...Soren me disse que seu nome é Samantha, certo? ---ele perguntou.

Sam o analisou antes de responder. Era baixo, mas incrivelmente musculoso, como um touro. Os cabelos castanhos estavam cortadas rentes ao couro cabeludo, em um estilo militar se os militares cortassem o cabelo com faca. Os olhos eram de um tom azul escuro que parecia sombrio e selvagem. Samantha soube naquele instante que o homem não era seu amigo.

–--Sim. ---ela respondeu apesar da língua dolorida. ---E o seu?

–--Peter. Peter Grumm. ---ele respondeu. ---Mas, deixe que eu faça as perguntas. Mas antes, você quer comer? Deve estar morrendo de fome...

Sam acenou e ele pegou uma maçã da bandeja e aproximou de seu rosto. Com os braços e pernas imobilizados e amarrados na cadeira, Samantha inclinou o rosto na direção da maçã, mas Peter parou alguns centímetros de sua boca e sorriu como um predador faria com a presa.

–--Primeira pergunta: Quantos Rasantes a Reserva tem? ---ele perguntou e esperou. Sam se calou e encarou os olhos escuros de Peter. ---Existe um esquema para quando eles passam? Qual a rota dos seus caminhões? Quando o próximo vai passar? O que eles estarão carregando? Nenhuma resposta? Se me responder uma delas...a maçã é sua. Você deve estar morrendo de fome, hein? E aí, alguma ideia? Não? Muito bem.

Os tapas se seguiram em um sequência rápida que deixaram Sam sem fôlego. Lágrimas escorreram por seu rosto, sangue escorreu dos múltiplos ferimentos em seu rosto, sua língua voltou a sangrar e sua cabeça parecia prestes a explodir. Ele fez as perguntas novamente e depois de não ter respostas, os tapas voltaram e se estenderam por todo o corpo. Seus braços se transformaram em peças mortas ao seu lado, suas pernas doíam mais que sua cabeça, seu estômago latejava devido aos socos. Ela cuspiu sangue tantas vezes que cogitou a possibilidade de uma hemorragia.

Naquele primeiro dia, ela não gritou e se sentiu bem com isso. Embora tivesse gemido, Sam não gritou e não respondeu nada; Peter não lhe deu comida naquele dia. No dia seguinte, ele repetiu a sessão de tapas, socos e chutes; quando ela não respondeu e o dia começou a escurecer, ele lhe deixou uma maçã. O terceiro e quarto dias se passaram como os outros; chutes e tapas com um copo de café e um pedaço de pão duro.

No quinto dia, Sam não sabia mais quantos anos tinha; não se lembrava direito de seu rosto e nem do de Peter; seus olhos estavam definitivamente fechados e a sensação de estar cega era angustiante. Ela não sabia se era dia ou noite, não se relembrava da última coisa que comera e nem conseguia imaginar como era não sentir dor. Todo o seu mundo se reduzira a uma escuridão dolorosa misturada a gemidos e ameaças. Foi nesse dia que Peter cortou-lhe a bochecha direita; se com garras ou faca, ela não sabia.

No sexto dia, Peter a afogou em um tonel de água fria, deixou-a inconsciente por duas vezes e voltou a afoga-la. A água fria foi um alívio a seus hematomas, mas o torturador fez surgir novos. Ela sentia sangue escorrer dos cortes na perna e nos braços. Peter tirou seu uniforme de patrulheira e deixou-a completamente molhada. No dia seguinte, o torturador a encontrou tremendo com os lábios azuis. Foi neste dia que os gritos começaram.

Os dois dias seguintes foram feitos com choques, cortes, chutes, socos e ameaças. Ele a afogou e depois queimou sua mão. Samantha agradeceu por seus nervos estarem tão sobrecarregados que a sensação de dor se tornara uniforme para todos os tipos de tortura. Sua voz acabou no oitavo dia.

Por um dia, Sam aproveitou a sensação de não ser torturada e foi quase tão ruim quanto os outros. Seus nervos voltaram a funcionar e ela sentiu seu corpo inteiro latejar, tremer e sangrar; sentiu a queimadura nos nós dos dedos; seus olhos transformaram-se em fendas que fornecia apenas sombras para Samantha. Trouxeram-lhe um pedaço de pão, pedaços rançosos de alguma verdura e um copo de água; seu estômago, acostumado com pouca comida, fez quase tudo retornar nas horas seguintes.

O décimo dia foi o pior. Ela acordou com pontapés de Peter e seus olhos permitiram que ela visse a imagem borrada de seu torturador. Ele segurava dois fios em uma das mãos e uma faca na outra. Choques e cortes são a pior parte, ela pensou. E tudo recomeçou. Sua voz havia retornado e Sam gritou o mais alto que podia, lágrimas rolaram por sua bochecha e ela implorou por piedade.

–--Então me diga, vadiazinha! ---ele gritou e fez outro corte na testa. ---Quantos Rasantes? Quando eles passam? Qual a rota dos transportadores? Quantos são? Quando vão passar? O que eles levam? Diga-me alguma coisa ou eu juro que vou arrancar um dos seus dedos!

–--Eu...eu...---ela choramingou. ---Não sei...

–--Não minta. ---ele gritou e lhe deu outro choque. O grito de Samantha feriu seus próprios ouvidos.

–--Mas que merda, Peter! ---a voz surgiu mais alta do que os gritos de Samantha. ---Ela não para de gritar, eu nem sequer consigo treinar os outros! Já faz dez dias! Como é possível, ela não ter te respondido nada?

–--A putinha é mais resistente do que parece. Vou tirar os dedos agora e ela vai falar, eu sei que vai. ---a voz de Peter era tão sádica que causou enjoos em Sam.

Samantha sentiu a faca sobre o dedo mindinho e gritou por misericórdia. A lâmina cortou primeiro a pele e o sangue escorreu quente pelos dedos de Sam; ela gritou e se contorceu, mas isso só piorou. A faca ia cada vez mais fundo, lentamente cortando o músculo do dedo e então subitamente parou. Acabou? Deveria doer mais, não?

–--O que foi, Soren? ---a voz de Peter estava carregada de ódio. --- A cena é forte demais para você? Saia e me deixe fazer o trabalho todo.

–--Não. Chega! Eu vou fazer as perguntas.

–--Você? ---Peter riu. ---Se eu não consegui, como você pretende fazer isso?

–--Eu...---a voz de Soren hesitou. ---Darei um jeito. Ela é minha, esqueceu? Serena a deu para mim. Agora, deixe-nos e me dê a chave do Abatedouro.

Samantha queria ouvir a discussão que parecia começar, mas a dor era demais para que ela pudesse suportar. Ela conhecia a sensação; todos os dias depois das sessões de tortura, Sam desmaiava. Era a escapatória do organis-mo, ela se lembrou das aulas de cuidados médicos, nervos supercarregados levavam o cérebro à exaustão, fazendo-o se desligar. Seu cérebro se desligou minutos depois de ela ouvir Soren dizendo que ia mata-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Licantropia: A Reserva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.