A ópera do Tordo escrita por Astral Plane


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

OIIIIII GALERA VOLTEII, NÃO EU NÃO MORRI , ME DESCULPE POR TER DESAPARECIDO TODO ESSE TEMPO, MAIS EU TIVE ALGUNS PROBLEMAS PESSOAIS E A ESCOLA TOMA CONTA DA MINHA VIDA, CLARO QUE ISSO NÃO É DESCULPA PARA ABANDONAR VOCÊS POR FAVOR NÃO ABANDONEM FIC, PROMETO QUE VOLTAREI A POSTAR COM MAIS FREQUÊNCIA.,....
PRA ME REDIMIR FIZ ESSE CAP ENORME... EAPERO QUE GOSTEM...
DEDICO ELE A : Nadi Monteiro por ter comentado tão rapidamente todos os outros caps, mto obrigada linda.... e a flor da Té pelo carinho de sempre....
Também agradeço pelos comentários de : Percabeth4ever, tributoD12, Panda e Ester....
Sem mais delongas com vocês o Capitulo 7



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‘’- Me desculpe Katniss você não vai gostar nada de ouvir .’

Dr. Aurelius nem precisa começar a falar sei que algo terrível está para acontecer, é quase tangível, pergunto-me se somente eu estou com dificuldades respiratórias ou se ele também esta achando o ar pesado demais e esta sufocando assim como eu.

Notando a minha pequena crise, ele me guia até a cama e senta-se na minha frente e pega minhas mãos :

– Katniss imagino o quão difícil será para você lidar com essa situação , mas uma vez que Peeta é o paciente aqui , pensei que quisesse saber do estado dele por mim.- sua tentativa de me consolar não me conforta em nada e quanto mais ele adia o assunto principal da conversa torna-se cada vez mais difícil respirar, não gosto disso , não suporto que me deem noticias picadas porque não sei lidar com coisas que não tenho o total conhecimento, se algo de ruim está havendo prefiro saber logo , assim talvez o susto posso me fazer agir rapidamente. Ao contrário do que o meu médico está fazendo, tentando introduzir o assunto aos poucos, me preparando para o pior, mau sabe ele é que na verdade está dando tempo da dor dominar meu corpo e minha mente e é bem provável que no fim dessa conversa eu esteja, como uma estátua: sem ação.

Tento encurtar a tortura: – Dr. Aurelius seja mais objetivo , por favor.- digo e tiro bruscamente minha mãos das suas, o vejo dar um profundo suspiro e dizer :

– Certo desculpe-me, como eu lhe havia dito, Peeta teve uma dor de cabeça muito forte ontem, uma dor segundo ele indescritível, por isso o primeiro exame que foi feito foi a ressonância magnética – diz balançando o envelope pardo – E bom – suspira novamente e arranca um papel grosso e escuro do envelope e ergue em direção a luz do quarto para que eu veja melhor , posso ver o formato de um crânio , o crânio de Peeta, e dentro do esboço que é sua cabeça vários pontinhos escuros, franzo as sobrancelhas pois não entendo o que pode estar de errado.

– Está vendo estes vários pontos escuros ? – Dr. Aurelius pergunta, verbalizando meus pensamentos.

Apenas assinto pois o quanto mais próximo fico da verdade, mais distante fica a minha voz de mim.

– Isto são coágulos- meu coração pula forte com a revelação- Como eu havia lhe dito não sabíamos de que forma o organismo de Peeta iria reagir assim que ele decidiu parar com os seus medicamentos, é bem provável que devido a força feita para resistir as várias crises sozinho, o cérebro dele não deve ter aguentado, a pressão feita na cabeça de alguém para se resistir a um veneno desses em níveis biológicos é muito forte Katniss, Isso fez com que vários vasos sanguíneos, felizmente os secundários, estourassem formando estes coágulos- ele umedece os lábios com a língua antes de continuar seu relato torturante, mas antes que isso aconteça já não mais acompanho seus olhos e sim minhas mãos, como se este ato pudesse me poupar do que estou prestes a ouvir- Infelizmente esse não é o maior problema, se Peeta estivesse com apenas um coágulo no cérebro poderíamos submete-lo a um procedimento cirúrgico relativamente simples, no entanto a quantidade de bolhas sanguíneas dentro da cabeça dele é muito grande e estão espalhados por vários locais de seu cérebro, muitos locais estes considerados inoperáveis por ser muito perigoso e invasivo.

– E isso quer dizer o que ?- pergunto já sentindo através da minha voz as lágrimas que meu coração e meus olhos estão lutando bravamente para prender.

Dessa vez o Doutor é bem direto: – Isso quer dizer que daqui a 12 horas Peeta estará entrando para o Bloco Cirúrgico do hospital para drenar a maior parte dos coágulos em sua cabeça. Mas.....

Sua voz morreu e não pude acreditar quando vi uma lágrima passar pelo seus óculos redondos e escorrer através de sua bochecha rechonchuda. Aquilo só poderia ser algo ruim, pois porque razão um médico acostumado a lidar com situações complicadas estaria chorando ? Olhei para a pessoa na minha frente com o olhar desesperado e dividido: por um lado queria que ele parasse de falar pois meus ouvidos queimavam juntamente com meu peito a cada palavra escorrida de sua boca, por outro sentia que devia saber de tudo para saber como agir, mesmo tendo a sensação de que não poderia fazer muita coisa.

Dr. Aurelius felizmente-ou infelizmente – retomou a voz e disse :

Mas.... as chances de Peeta sair daquela sala vivo são menos de um 1% e mesmo que saia é quase certo que ele ficará com sequelas como cegueira, perda de memória, ou até mesmo pode passar o resto da vida numa cama- dessa vez é ele quem abaixa os olhos .

Dor. É estranho como algumas pessoas a definem, a maioria dizem que as piores dores do mundo são algo físico, como tiros, queimaduras, a picada de algum animal peçonhento mas não é verdade. A pior dor do mundo é esta que sinto agora, uma dor que ultrapassa os limites do corpo físico e machuca a alma, que não pode nem sequer ser comparada com alguma coisa pois isso seria no mínimo a maior mentira de todos os tempos. Talvez seja isso, a dor da alma é uma dor incomparável, é aquela em que você está perdendo tudo o que tem e não pode fazer absolutamente nada.

Dentro de mim está tudo entrando em erupção, desmoronando, mas do lado de fora, pareço um ser inanimado: uma estatua, não ouso nem respirar pois se assim o fizer o vulcão que eu me tornei irá explodir por todos os lados e então poderei ser responsável por choros, gritos e coisas quebradas, algo que devido a minha situação clandestina não posso me dar ao luxo.

Dr. Aurelius nota meu silencio e começa a ficar desesperado:

– Katniss você pode me ouvir ? Diga-me se você esta bem .

Isso é uma pergunta idiota, como eu posso estar bem ? Não eu não estou nada bem, mas sinto que seus olhos castanhos cor de chocolate estejam orando mentalmente para eu não surtar, ou ele estará em maus lençóis.

– Estou, estou bem.– digo num verdadeiro sussurro tão baixo que Aurelius franze as sobrancelhas para poder me entender.

– Posso ficar um pouco sozinha ? – digo

– Claro, Peeta ainda vai demorar mais uma hora para acabar os outros exames até lá fique a vontade, mas por favor não faça barulho, supostamente o quarto era para estar vazio.

Assinto com a cabeça e meu psiquiatra se encaminha para a porta mas para, e diz de costas para mim, e percebo sua voz embargada como a minha:

– Katniss eu sinto muito de verdade, nem você e muito menos Peeta mereciam passar por isso, mas assim que ele voltar tente estar recomposta, ele vai precisar muito da sua ajuda.

Assim que fico sozinha a primeira lágrima de muitas que irão seguir cai e eu mordo o travesseiro de Peeta para evitar que meus gritos possam ser ouvidos por todo o hospital.

Fico alguns minutos apenas chorando e mordendo o travesseiro , até que meu estomago embrulha e eu corro rapidamente para o banheiro apenas para vomitar um liquido transparente, já que a última coisa que eu ingeri foi o chocolate quente do trem. Mesmo não tendo nada a ser colocado para fora de mim, fico com um gosto amargo na boca, então lavo o rosto e enxaguo minha boca, me encarando no espelho: os fios curtos e desgrenhados, a palidez da minha pele os olhos vermelhos e inchados o nariz escorrendo, estou me despedaçando mas isso não é o que me incomoda, e sim o fato de eu estar completamente inútil mais uma vez, não posso fazer nada por Peeta apenas assisti-lo partir para se juntar a tantos outros que me deixaram definitivamente.

No fundo eu sabia, sempre soube que nunca mais teria a chance de ser feliz novamente, não que eu almejasse tanto assim, mas em uma vã esperança pensei que se Peeta voltasse para minha vida eu poderia ter dias no mínimo suportáveis. Mas agora vendo a ultima peça que a vida está me pregando vejo que pensar assim foi muito, e que agora ela está me mostrando que não tenho mais direito a felicidade, não depois de tudo que fiz, não depois de tantas mortes que causei, não depois que eu me tornei uma assassina. E o pior de tudo isso é que não sou eu que estou pagando o preço por tirar tantas vidas mais sim o meu Garoto com Pão, a criatura mais doce e gentil que já conheci , meu porto seguro, que já passou por tantos infernos, simplesmente por ter o azar de me conhecer.

E em meio aos meus torturantes pensamentos ouço um barulho na porta e tento me recompor rapidamente, mas assim que o avisto cambaleante pelo quarto, meus olhos transbordam novamente e o pavor se apodera de meu corpo quando seus olhos tão costumeiramente azuis pousam sobre mim mais profundos do que uma noite de inverno.

Peeta percebendo o meu medo diz tranquilamente : -Fique tranquila, não vou te atacar, esse é o efeito dos remédios de ataque contra o veneno que eu tomo, estou bem.- continuo paralisada por estar tão acostumada ao azul mar em sua face e estranhando essa cor nova nele.

– Ainda sou eu Katniss, agora, ainda sou eu – ele diz se aproximando de mim.

Olhando-o tão tranquilo e sereno mesmo eu tendo a certeza de Dr. Aurelius já lhe contou seu diagnóstico, é a deixa para que eu desmorone em sua frente chorando como uma criança perdida e desesperada, que no fundo nunca deixei de ser desde que meu pai morreu.

Peeta corre para me abraçar.

– Katniss, shii, acalme-se ,estou aqui, está tudo bem, vai ficar tudo bem- Isto é tão insano, o fato de que ele esta prestes partir desta injusta vida e além do fato de ter que lidar com a essa situação e ainda me consolar quando quem devia ser consolado é ele, me faz comprovar novamente minha inutilidade.

– Katniss eu vou ficar bem por favor não chore, não vale a pena.- Peeta diz ainda me abraçando , mas essa declaração faz com que a raiva tome o lugar da tristeza e do desespero, como ele pode pensar assim ? Será mesmo que ele pense que de nada vale sua vida pra mim ? O que raios ele pensa que eu estou fazendo aqui então ?

Me afasto bruscamente e fico de costa enxugando minhas lágrimas:

– Você acha mesmo que não vale nada para mim ? – sussurro e ele demora um pouco a responder.

– Não foi isso o que quis dizer Katniss, mas realmente não vale a pena chorar, a situação toda não vai mudar. – ele diz suavemente e sinto que está se aproximando quando pousa suas fortes mãos levemente, como plumas em meus ombros- E eu estou aqui AGORA com você é isso o que importa.

Peeta me vira e me aconchega em seu peito mais uma vez e posso ouvir finalmente minha música favorita aquela que me acalma independente do estado de nervos em que eu esteja : o som do seu coração. O ritmo calmo e constante de suas batidas e o calor de seus braços faz com que eu me sinta protegida como uma borboleta em um casulo, onde nenhum mau pudesse me atingir, mas nessa situação me faz lembrar que em breve não haverá mais nada no peito de Peeta além do silencio.

– Está aqui agora mas não estará mais– digo chorosa contra seu ser. Surpreendentemente Peeta ri e sinto seu peito e seus braços tremerem.

– Quem sabe não é mesmo ? Nem em um milhão de anos pensei que eu passaria por tudo o que eu passei, mas passei, nem em meus piores pesadelos pensei em viver tudo o que vivi, mais eu vivi não é mesmo? Talvez contrariando todos os pensamentos, milagrosamente eu também passe por mais esse obstáculo.

– Milagres ? – digo me afastando um pouco para encará-lo e notando feliz que seus olhos estão voltando a tonalidade azul natural deles.– Mas o Dr. Aurelius disse.....

– Sim , milagres Katniss- ele me interrompeu- eu passei a acreditar neles quando eu passei pelo inferno e sobrevivi.

É impressionante como Peeta sabe dizer as coisas certas, nas horas certas, suas palavras me tranquilizam e por um momento me permito acreditar que ele sairá vivo e bem da cirurgia, o encaro assistindo a metamorfose de cores de seus olhos até que eles voltem ao meu tom de azul favorito, e então meus orbes caem em direção a seus lábios finos e rosados, como eu queria que ele me beijasse novamente e até quem sabe pela última vez, Peeta também está intercalando seus olhares para minha boca e o céu nublado que ocupa minha face, ele me olha como se tivesse pedindo permissão e como resposta acaricio levemente sua bochecha com meu polegar. Ele fecha os olhos sorrindo e finalmente nossos lábios encontram o caminho um do outro.

Lar. Durante anos pensei que meu lar fosse o Distrito 12 e a floresta porque era o único lugar do mundo que eu me sentia inteira, feliz que eu me sentia eu mesma, mas tudo foi destruído, pessoas foram levadas , eu fui transformada em alguém que não queria e sinceramente nem sei quem é, pensei que a noção de lar estava perdida para todo sempre, que nunca mais me sentiria inteira, mas aqui estou eu sentindo-me completa, completa e livre sinto que quase poderia voar, e pela primeira vez desde que me foram dadas as asas do Tordo eu realmente queria poder tê-las. Nesse beijo vejo que lar as vezes não é um lugar e sim uma pessoa e definitivamente Peeta é o meu lar.

O ar infelizmente se faz necessário e nos separamos ambos com sorrisos idiotas no rosto e ofegantes. Peeta pousa sua testa na minha e fecha os olhos recuperando o ar e diz:

– Obrigado.

Não tenho vontade alguma de falar então apenas o abraço novamente e ficamos um bom tempo assim até que meu estomago dar finalmente sinais de vida que são vergonhosamente audíveis no quarto. Peeta sorri e me afasta :

– A quanto tempo você não come ?

– A um bom tempo- me limito dizer.

– Vá na cantina, agora estão servindo a janta para os funcionários e não é tão ruim assim.

– Mas você vai ficar... – Peeta me interrompe.

– Eu ficar bem Katniss, cuide um pouco de você – ele acaricia minha bochecha.

– Certo mas eu volto.- digo

– Infelizmente – Peeta diz fazendo uma cena dramática que me faz sorrir- Eu serei condenado a passar a noite sozinho e abandonado nesse quarto gélido – ele faz uma careta.

– Exagerado- digo

– É sério os funcionários não podem ser acompanhantes dos pacientes, mas você pode passar aqui antes da cirurgia .

A cirurgia. Tinha me esquecido dela por um momento, meus olhos se entristecem novamente. Peeta pega meu rosto entre suas mãos:

– Ei pensei que tivéssemos encerrado esse assunto- ele diz enquanto distribui beijos suaves na ponta do meu nariz – Já disse que vai ficar tudo bem , confie em mim – ele sorri.

Como ele consegue não se abalar ? Decido confiar cegamente em suas palavras e em seu sorriso, torcendo para que eles não estejam enganados.

Dou mais um beijo rápido nele e coloco novamente a barba e o Alterador de Voz , que havia tirado em algum momento da minha crise.

– Sabia que você é um cara muito lindo ? – Peeta diz sorrindo verdadeiramente, deixo escapar um risadinha da sua tentativa de humor sobre o meu disfarce .

– Até amanha- digo

Pela primeira vez desde que voltou Peeta perde sua postura calma e serena e suspira profundamente, mas ele parece mais cansado do que triste .

– Até amanhã – diz ele .

Assim que fecho a porta do quarto olho de um lado para o outro por hábito, ainda tenho a sensação que a qualquer momento eu serei reconhecida, presa e condenada à morte acabando com a minha cabeça pendurada em algum canto da Capital.

Engulo em seco tentando me controlar , noto que minhas mãos estão tremendo, não sei se de fome ou de medo, provavelmente os dois, então as enfio nos bolsos do jaleco que eu me encontro vestida e vou caminhando a passos lentos pelos corredores frios e longos do hospital, reparando em sua tonalidade branca amarelada e em seu cheiro irritantemente familiar de remédios e álcool.

Começo a pensar que fiquei perdida quando assim que viro um corredor, leio uma placa azul com letras brancas e grandes escrita REFEITORIO, como um seta me indicando para seguir adiante.

O local é tão grande que me assusto, fiquei tanto tempo no quarto de Peeta ou no escritório do Dr. Aurellius que nem notei a imensidão desse hospital. O refeitório está lotado, ver tanta gente me estagna e eu fico olhando para todos os lados procurando alguém que possa ter me reconhecido ou me achado estranha, mas todos estão comendo silenciosamente, outros em conversas animadas ,porém ninguém nota a minha presença. Resolvo seguir para a fila e pego uma bandeja , nem olho muito o que está sendo servido , me encontro com tanta fome que seria capaz de comer sopa de pedras.

Com o meu alimento em mãos procuro um lugar afastado e uma mesa vazia de preferencia, demoro a encontrar, mas uma mesinha pequena esquecida num canto do refeitório chama a atenção e meio que corro pra lá antes que alguém tome o meu lugar. Sento e começo a comer , o sabor de batatas está delicioso e suspiro de deleite, não lembrava de estar com tanta fome.

Mal estou na minha terceira garfada quando escuto uma voz :

– Você é do Distrito 12 não é ? – Congelo, alguém me reconheceu, é o meu primeiro pensamento. Mas se tivessem me reconhecido não fariam essa pergunta besta não é verdade ?

Respiro e me forço a olhar em direção a voz. Uma moça que deve ter seus 20 anos está me observando , ela tem olhos azuis e o cabelo ruivo como fogo que desce em cascatas até a sua cintura, ela me encara com um sorriso amistoso, um sorriso que chega ser ofuscante de tão branco, ela realmente é linda, uma beleza típica do Distrito 4 imagino devido a sua pele bastante bronzeada, como a de Finnick.

– Sim- digo e agradeço pelo Alterador de Voz não só mudar a minha voz como impedir que ela fique tremula, como eu estou.

– Nós ficamos sabendo que você ia chegar hoje- ela diz- Sabe como é hospital não é ? As noticias correm.– ela ri e dou uma risadinha também apesar de não ver graça nenhuma.

– Posso me sentar com você ? Acho que não quer ficar sozinho no seu primeiro dia de trabalho não é ?

Sim, quero ficar sozinha, penso mas acho que não seria uma coisa legal de se dizer, sem contar que poderia levantar suspeitas.

– Claro, a mesa esta vazia mesmo- digo e dou um sorriso amarelo.

A ruiva se senta ao meu lado e tenta puxar assunto :

– Então- ela diz, parecendo meio encabulada como se quisesse falar de alguma coisa e não soubesse como- Prazer, meu nome é Diana , Diana Parker – ela estende a mão.

Diana ... aonde eu ouvi esse nome ?

– Thomas, Thomas Rendilian – aperto a mão dela.

– Você é o novo enfermeiro do Pee certo ? – ela me olha com grandes olhos azuis e eu arqueio as sobrancelhas. Pee ?

– Pee ?- digo

Ela sorri grandemente – Pee , o Peeta eu o apelidei assim, achei fofo , combina com ele . – ela suspira.

Como é que é ?!

– Bom, ele está bem na medida do possível- digo curta e grossa.

E então do nada ela começou a chorar.

– Eu estou tão arrasada com a noticia da cirurgia, o meu Pee não pode morrer – ela diz escondendo o rosto entre as mãos.

MEU Pee, que merda é essa que está acontecendo aqui ?

E então sinto meu rosto esquentar de raiva com a percepção do que está acontecendo. E sem pensar digo:

– Você gosta dele. – digo com a voz esganiçada.

Sim– ela enxuga as lágrimas com as costas da mão direita.- Me diga Thomas, como não se apaixonar por Peeta Mellark.

Arregalo os olhos e fico muda.

– Sabe- ela continua- Quando o Pee, foi internado aqui no hospital eu fui designada pelo Dr. Aurelius para ser a enfermeira dele, passei a conviver com o Peeta praticamente todos os dias , ele estava realmente melhorando, e nos dias em que Pee estava bem pude conhecer um pouco melhor dele– Diana fecha os olhos e sorri- Em como ele é gentil e bom com as palavras, altruísta e acima de tudo a pessoa mais doce que eu já conheci mesmo tendo sofrido tudo que sofreu, por causa dela – ela faz uma cara de nojo- e além de ser muito, mais muito gato– diz isso e começa a rir mas então para- Ai um belo dia ele se descontrola , e sai quebrando o hospital todo, eu tentei para-lo meu coração doía de vê-lo louco daquele jeito, mas Peeta estava tão fora de si que acabou me machucando- ela abaixa os olhos.

Diana... mas é claro a enfermeira que Peeta feriu no meio de sua crise, e ela é apaixonada por ele. Pensando bem isso não é tão improvável, afinal o Garoto com Pão é realmente encantador, é só que ele sempre teve olhos para mim que frequentemente me esqueço que Peeta pode despertar sentimentos como esse em outras mulheres. Sinto tanto ódio que eu poderia desfigurar a face dessa mulherzinha. Como ela ousa pensar em Peeta desse jeito ? Ele é meu . SÒ meu.

Essa opção está descartada , pelo menos por enquanto, não posso estragar tudo que Effie, Johanna e Haymitch fizeram para me ajudar, por causa de Diana. Respiro fundo e olho para ela e meus olhos se enchem de lágrima, ela é realmente linda, magra mas cheia de curvas, cabelos lisos e com pontas encaracoladas vermelho fogo ate a cintura, e incrivelmente os olhos dela tem a mesma tonalidade de azul dos olhos de Peeta. Lembro-me dos cabelos curtos, do corpo magro quase esquelético dos olhos cinza sem vida e das cicatrizes em alto relevo nas costas e nos braços, e vou me encolhendo cada vez mais. Quem você acha que ele vai escolher em Katniss ? Uma vozinha má diz em minha cabeça. Tento ignorá-la.

Ele.. ele sabe ?– digo baixo

– Não sei, eu nunca fui muito discreta sabe- ela da um meio sorriso- as vezes penso que ele fingia que não notava minhas investidas, por causa dela. – mais uma cara de nojo.

Ele sempre a amou- digo na tentativa de que se eu disser em voz alta nunca deixará de ser verdade.

Diana revira os olhos :– Sinceramente não sei o que ele vê naquela sem sal , mas isso não é nem o pior, ela o deixou- ela diz desesperada- deixou , sabe quantas vezes O Tordo ligou pra cá ? Nenhuma. Nenhum dia sequer, Katniss Everdeen não dá a mínima para Peeta Mellark.

Aquilo me atingiu como uma faca no peito.

– Isso não é verdade- digo- talvez ela também esteja doente, afinal ela perdeu muitas pessoas que amava.

– E dái ? Ele também perdeu , aliás Peeta perdeu todo mundo, os pais, os irmãos, os amigos , até aquele mentor bêbado deles o tal do Abernathy, o deixou, sinceramente se fosse ela aqui, Pee jamais a deixaria, O Tordo de Panem, não passa de uma pessoa egoísta que acha que o mundo gira em torno do umbigo dela.

Faço menção de levantar da mesa para socar a cara dela, isso já é demais.

– O que aconteceu ?– ela pergunta ainda sentada. Paro e fico encarando ela, sabendo que não posso mata-la simplesmente por que falou a verdade. Concordo com tudo o que Diana disse, mas ouvir isso de uma pessoa que eu nunca vi na vida é odioso. Respiro fundo e vejo que ela ainda está me encarando, faço a minha melhor cara de paisagem e digo :

– Não é nada é que eu já terminei de comer– pego a bandeja.

– Mas você mau tocou na comida- ela aponta

– Perdi a fome- digo dando um sorriso forçado.

– Ah, certo, bom eu tenho que ir trabalhar também foi um grande prazer conhecer você Thomas, mas antes eu queria te pedi um favor.

Suspiro longamente:– Diga.

– Eu te contei tudo isso porque pensei que você pudesse me ajudar, eu preciso ver o Pee amanha antes da cirurgia, talvez ele não volte , tenho que dizer a ele que eu o amo.

Diana diz com olhos ansiosos.

– Vou ver o que posso fazer por você- cuspo as palavras rapidamente.

Ela dá um gritinho de felicidade e me abraça:– Obrigada , obrigada mesmo você é um cara ótimo .- Ela diz sem parar em meu ouvido e endureço, pois a repulsa que sinto é tanta que eu poderia simplesmente jogá-la contra a parede.

Assim que Diana me larga cerro os dentes e os punhos dou o melhor sorriso que meu auto controle permite e digo :

– Certo, até mais.

Praticamente corro pra longe dela e nem espero para ouvir sua despedida. Deixo a bandeja para ser lavada e vou em direção ao escritório de Dr. Aurelius, demoro um pouco para chegar e quando abro a porta noto o local morbidamente escuro e sombrio. Acendo a luz e encontro um sofá cama com algumas cobertas e um travesseiro, ao lado um bilhete me aproximo para ver do que se trata e vejo que está endereçado a mim:

Katniss,

Desculpe pelas acomodações desconfortáveis , mas foi o melhor que eu pude arrumar, espero que depois do dia cansativo de hoje você possa ter uma boa noite de sono, se quiser deixei seus calmantes na gaveta da minha mesa, espero que fique bem.

Sinceramente,

Doutor Aurelius

PS: Não esqueça de trancar as portas e fechar as janelas.

Suspiro pesadamente sobre o bilhete, de meu psiquiatra e sem pensar me afundo no sofá cama, que depois de um dia como esse parece confortáveis como nuvens do céu- não que eu realmente tenha deitado em uma- sem saber ao certo em que momento , perco a consciência repentinamente.

Acordo num salto mas uma vez com a nítida impressão que minhas pálpebras fecharam por apenas alguns segundos, mas meus olhos vagam para a luz vermelha que marca as horas em cima da massa : 04:45 da manha. Corro e tranco as portas e janelas com um certo desespero por ter ficado tanto tempo com ambas abertas correndo o risco de ser descoberta depois de tudo trancado no entanto não consigo dormir mais, pensando com o coração fundo no peito que hoje possivelmente será o último dia da vida de Peeta,e por mais que isso seja piegas é bem provável que também seja o meu.

Pouco depois das 05:30 da manhã vejo o nascer do sol, por trás doa altos prédios da Capital, através da janela de vidro do escritório, bufo de tédio e resolvo dar um volta pelo consultório do meu médico, sei que isso provavelmente é uma invasão em sua privacidade e se fosse comigo eu iria chutar a pessoa porta a fora, mas imagino que possa usar a justificativa de ser definitivamente mentalmente desorientada caso ele me pegue mexendo em suas coisas.

Começo por sua mesa há alguns papeis em cima, um deles me chama a atenção é uma ficha médica de alguém bem conhecido : Peeta Mellark. Meu coração se aperta mas resolvo ler o que está escrito em seu prontuário:

Nome do paciente: Peeta Mellark

Idade: 17 anos

Pai : Benjamin Mellark ( Falecido)

Mãe: Diller Hoser Mellark ( Falecida)

Contato para emergência : Haymitch Abernathy

Estado: Instabilidade mental constante causadas por torturas físicas e mentais.

Será submetido a uma cirurgia para a tentativa de drenagem de coágulos cerebrais

Bloco Cirúrgico: 09:30

Neurocirurgião: Abbdalla Mansurini Thiers

Meus olhos se enchem de lágrimas pois bem diante de mim em poucas palavras está a prova do quanto eu fiz Peeta sofrer: ele foi maltratado, torturado, sua família e amigos foram mortos e agora ele estará entrando no bisturi, por minha causa, em um momento de tristeza e compreensão penso se realmente não seria melhor finalmente aceitar que ele deve partir, talvez assim eu pudesse parar de faze-lo sofrer.

Largo a ficha de Peeta com um baque surdo em cima da mesa e continuo olhando o local colorido em que me encontro : Meus olhos passam por fotos de lugares diferentes da Capital, animais, em sua maioria cachorros , mas noto que não há nenhuma foto de família , exceto de uma senhora que aparenta ter mais de 100 anos porém com roupas extravagantes, seu rosto é severo , mas seus olhos cor de chocolate são tranquilos, tem a mesma tonalidade dos olhos de Dr. Aurelius, imagino que seja sua mãe, e que meu psiquiatra é um homem só. É estranho como na maioria das vezes achamos que conhecemos alguém, mas na verdade só conhecemos o que nos é mostrado, que frequentemente nunca é o que somos realmente.

Resolvo pegar minha bolsa em um canto da parede, para tomar um banho, noto que Effie colocou em minha pequena mala roupas típicas dos garotos da Costura, mas não chegarei a usá-las , já que ficarei o tempo todo com o uniforme do hospital. Pego uma toalha e um sabonete e me dirijo para o banheiro de Aurelius que por sorte tem uma ducha, fico por lá até meus dedos enrugarem , e me arrumo novamente com a face de Thomas, o enfermeiro do Vitorioso do Distrito 12.

Assim que estou pronta, vejo que já são 08:30. Uma hora. Penso e um arrepio percorre minha espinha, me apresso preciso ver Peeta uma última vez . Minhas pernas estão tremulas , minhas mãos soam, meu coração está disparado, minha respiração está irregular.

O que devo dizer a ele se isso realmente for um adeus ? Que eu o amo ? Isso não ajudaria em nada, não quero dizer essas palavras nessas circunstancias, onde a vida dele está por um fio, não quero que ele pense que direi por pena, e eu também não sei se quero falar, não sei será verdade.

Caminho lentamente pelo corredor, que nunca me pareceu tão longo , respirando pesadamente ainda pensando no que dizer a Peeta. Quando estou prestes a abrir a porta ouço uma voz :

– Thomas , Thomas, espere– Diana diz e eu congelo- Ainda bem que consegui achar você- ela continua- Já posso vê-lo ?

Ainda estou de costas, pensando no que fazer, simplesmente havia esquecido da existência desse ser humano, mas não posso impedir que ela entre e fale com Peeta, qual desculpa vou usar ? Que não quero que ela o veja ? Isso provocaria muitas suspeitas. Que ELE não quer vê-la ? Diana conhece o Garoto com Pão sabe que ele é um cavalheiro e nunca ia ser tão grosso. Me viro lentamente para ela tentando disfarçar minha cara de pânico:

– Olá Diana- engulo em seco- Claro, você pode vê-lo sim , só preciso saber se Peeta já acordou para recebe-la , pode esperar um pouco aqui fora ? – pergunto

– Claro que posso Thomas, você não sabe o quanto estou agradecida por ter convencido Peeta a me receber.

Apenas assinto com a cabeça incapaz de dizer alguma coisa.

Entro no quarto silenciosamente e fecho a porta atrás de mim. Peeta esta sentado em sua cama já com as roupas da cirurgia- um avental azul e uma toca- está descalço olhando pra os pés , aproveito que ele está tão absorto em seus pensamentos para observá-lo, posso sentir a tensão e o medo que emana dele me contenho para não correr em sua direção e abraça-lo, se assim fizer é bem provável que eu não contenha minhas lágrimas, não quero que em um momento como esse Peeta tenha que me consolar, por isso faço o que sempre fiz desde que meu pai morreu : finjo ser forte.

– Peeta- digo chamando sua atenção, ele olha para cima e vejo que seus olhos estão num poço vermelho, fazendo com que o azul fique ainda mais brilhante como um lago cristalino, Peeta estava chorando. Meu coração fica ainda mais apertado, agora uso toda força pra não gritar fecho minhas mãos em punhos , não posso ver Peeta sofrer desse jeito, ele não merece, mas não posso fazer nada , sou uma inútil.

– Katniss- ele sorri fraco para mim e anda em minha direção, para me abraçar, mas me desvio dele, não posso, se eu sentir seus braços ao meu redor, não vou aguentar.

Fico de costas para ele , que provavelmente não está entendo nada.

– Tem uma pessoa que quer te ver – digo e abro a porta – Pode entrar– anuncio para fora.

Diana simplesmente entra voando pelo quarto e pula no pescoço de Peeta, chorando descontroladamente em seu peito. Peeta olha para mim e arqueia uma sobrancelha como se estivesse perguntando o que está havendo aqui, estou com tanta raiva por causa da situação toda que apenas dou de ombros.

Peeta que ainda esta com os braços caídos ao redor do corpo , sem saber ao certo como se comportar, lentamente fecha seus braços ao redor de Diana.

– A meu Deus Pee , sei que você não queria mais me ver com medo de me machucar, mas eu não ligo, eu estou aqui com você- Diana dizia em meio ao seus soluços. Peeta a afastou delicadamente e disse olhando em seus olhos:

– Diana acalme-se, eu agradeço por ter vindo me desejar boa sorte antes da cirurgia, eu senti sua falta minha amiga.

Desvio os olhos da cena, mas minha vontade era mesmo de tampar os ouvidos.

– Não Pee , eu não vim te desejar sorte, eu vim dizer que eu te amo– Olho para os dois , aguardando a reação de Peeta , que arregala os olhos surpreso- Eu te amo – Diana repete- E eu não posso mais viver sem você – ela diz e beija Peeta vorazmente como se ele fosse sumir dali, meu primeiro instinto e puxar ela pelos cabelos e enfiar uma de minhas flechas em sua cabeça, mas não posso fazer isso e no lugar da raiva, assistir essa cena me causa tanta dor no peito que me chega dar enjoos.

Peeta se afasta bruscamente e olha diretamente para mim, eu seus olhos eu vejo desespero, culpa e medo, mas simplesmente saio do quarto e fecho a porta atrás de mim, não consigo mais olhar para os dois. Penso em voltar para a sala de Dr. Aurelius mas não me contenho e resolvo escutar atrás da porta, já que ninguém está passando pelo corredor.

Peeta diga alguma coisa– Diana

– Diana você é uma mulher linda mais o quer que eu diga? Você sabe, aliás Panem inteira sabe a quem eu sempre pertenci– meu coração dispara feito um louco.

– Mas ela não está aqui – Diana grita- eu estou, será que você não vê que ela não se importa com você , seu idiota .

– Isso não é verdade, Diana.

– Ah é ? então onde está Katniss Everdeen que não está aqui do seu lado ? Sabe onde ela deve estar, nos braços daquele caçador que se dizia primo dela, eles devem estar rindo de você !!!!!!!! – Ela grita, isso foi muito cruel.

– Pare, não diga isso por favor- Peeta diz, e mesmo do outro lado da porta posso sentir a dor em sua voz.

– Digo , digo e repito, Peeta acorda eu amo você e estou aqui, sofreno com essa cirurgia. – ela continua- Mas você ainda se preocupa com aquela lá , quer saber ela e aquele Gale devem estar se comendo agora e você ai chorando feito um babaca por ela.

Quando Peeta não responde, entro em desespero e abro a porta. Meu doce Dente- de – Leão está agachado no canto do quarto com as mãos no ouvido abrindo e fechando os olhos. Diana provocou uma crise nele. Tá legal, eu tentei ser compreensiva mas isso já é demais. Olho para Diana com raiva e agarro seu braço com toda força :

– Me solta você está me machucando – ela diz tentando se livrar de mim

Jogo ela em cima da cama de Peeta como se jogo um bicho nojento na rua :

– Você ficou maluca ? Olha o que fez com ele, Peeta está tendo uma crise, por SUA causa – grito

– Ele precisa entender que eu o amo – ela tenta se justificar, cheguei ao meu limite, peguei ela novamente pelo braço.

– Chega, saia daqui agora sua doida- joguei ela no corredor e tranquei a porta.

Peeta ainda está agachado, tiro o Alterador e a barba rapidamente e me aproximo dele:

– Peeta por favor olhe para mim- digo pegando em seus pulsos. Ele me ouve mas seus olhos pretos como carvão estão desfocados como se estivessem me procurando.

–Katniss é você? Cadê você? Eu não consigo te ver - ele diz desesperado.

– Estou aqui na sua frente Peeta.

– Não , não está eu vi, você estava com o Gale, se beijando, Katniss porque você fez isso comigo, porque me deixou sozinho ? – ele diz chorando.

Presidente Snow estava certo, ver Peeta sofrer é uma das poucas coisas que me quebra.

– Não – sussurro – eu não estava com Gale , eu estou aqui com você lembra ?

– Mas o Presidente Snow disse que você me deixou, me deixou na arena para ficar com ele. - ele diz ainda chorando e desesperado.

– É mentira, não acredite nele, eu disse que nunca mais iria te deixar– digo e me aproximo lentamente de seu rosto , ele ainda não pode me ver mas pode me sentir, então o beijo lentamente como se Peeta fosse um sonho que iria desaparecer a qualquer movimento brusco, no inicio ele recusa o beijo enrijecendo o corpo inteiro para trás, mas eu insisto e depois de um tempo ele corresponde com a mesma vontade de ontem, e o desejo que me domina quando o beijo vem a tona fazendo-me parar somente quando meus pulmões gritam por ar.

Quando me afasto , Peeta está me encarando , seus olhos agora estão voltando a minha cor favorita:

– Acredita em mim agora ?– digo sorrindo um pouco

– Estou começando- ele responde e apesar de também estar sorrindo um pouco vejo dor estampada em seu rosto e seus punhos estão fechados.

– Está tudo bem ? – pergunto notando que ele também está suando.

– Sim, é só que agora minha cabeça parece que vai explodir- Peeta responde.

É assim que acontece, sempre que Peeta luta contra sua mente, a dor que o atinge é enorme , mas antes que eu possa tentar lhe dizer algo uma batida na porta nos atinge:

– Sr. Mellark, por favor abra a porta .– diz uma voz desconhecida para mim.

Coloco meu disfarce rapidamente e abro a porta. Um homem alto que deve ter seus 35 anos, adentra no quarto, ele tem um cabelo muito preto e brilhante, seus olhos são dourados quase amarelos da cor do sol, sua pele cor de azeite forma um contraste perfeito com o jaleco branco e cumprido que ele está vestindo. Mas o que mais me chama atenção além do fato de se tratar de um homem muito bonito é a sua normalidade, concluo pela falta de adornos extravagantes no corpo que este médico é oriundo de algum distrito, não da Capital.

– Está tudo bem aqui ?– o médico de olhos cor de sol pergunta para mim, mas olhando Peeta agachado no chão .

– Sim e não – respondo insegura , é a primeira vez que um médico tirando Dr. Aurelius, fala comigo- O Senhor Mellark teve um crise, que foi controlada , no entanto segundo ele, a dor de cabeça está muito forte– falo a verdade, omitindo o fato de que Diana, aquela vaca de cabelo vermelho, ter causado a crise.

O médico suspira : - Certo vamos tentar resolver isso hoje, tudo bem Peeta ? – Ele se aproxima do meu Dente- de Leão e o puxa pela mão colocando Peeta de pé.

– Obrigada Doutor.

– Não há de que, eu sou seu neurocirurgião, pode me chamar de Dr. Mansurini- Abbdalla Mansurini Thiers, lembro-me de ter visto seu nome no prontuário médico hoje cedo.

– Olha agora nós vamos colocar você em uma maca, aplicar uma anestesia geral para que você não sinta dor nenhuma. Está pronto? – Mansurini pergunta , Peeta olha diretamente em meus olhos e posso ver que ele está morrendo de medo, no entanto respira fundo e diz :

– Eu nasci pronto Doutor.- ele dá um sorriso, tão lindo que meu coração galopa dentro do peito.

– Considerando todo seu histórico , eu sei que sim- o médico diz- Bom então, Clarkissone, Burtis, podem entrar .- ele chama alguém da porta.

Dois homens, gêmeos , de cabelos verdes e olhos violeta entram empurrando uma maca.

– Certo , Senhor Mellark deite aqui, e fique em posição fetal para que eu possa aplicar a anestesia.

Peeta segue todos os procedimentos e eu tento não perder nenhum detalhe, para garantir que ninguém o esteja machucando, mesmo que minha vontade seja sair correndo. Antes de um dos gêmeos meter a agulha nas costas de Peeta , Dr. Abbdalla interrompe-os :

– Espere um minuto Burtis, Thomas- ele se vira para mim- Sei que é contratado como enfermeiro particular de Peeta então como você é o mais próximo de família que ele tem no momento, sugiro que segure a mão dele, isso vai doer um pouco.

Fico comovida com a sensibilidade deste homem, mesmo sendo um médico que provavelmente está acostumado a lidar com os lados mais cruéis e duros da humanidade, ainda teve compaixão de um garoto que teve que virar um homem cedo demais, e que está sozinho no mundo. Mesmo não o conhecendo direito decido que gosto do Dr. Mansurini e oro para que ele também possa salvar a vida do meu Peeta.

Me aproximo da maca e me abaixo até que meu olhos fiquem na altura dos seus e seguro sua mão. Pela primeira vez desde que recebeu o diagnóstico Peeta está chorando, silenciosamente, eu aperto sua mão tentando lhe dar algum consolo, ele aperta de volta, e quando a agulha entra em seu corpo faz uma careta de dor e praticamente esmaga minha mão mas não ouso nem por um segundo tirá-la dali. Ele volta a abrir os olhos com sonolência sentindo os efeitos da anestesia, sinto uma profunda tristeza ao perceber que este pode ser meu último momento e que não disse nada do que queria, em meu último ato sussurro:

– Está tudo bem, apenas fique comigo.

Ele sorri e pouco antes de se entregar a inconsciência, responde somente para mim:

– Sempre.

Sinto seus dedos se afrouxando em minha mão e me levanto. Vejo os enfermeiros gêmeos empurrando a maca para fora do quarto e o Doutor Mansurini fechando a porta atrás de si.

Fiquei ali sozinha e para todo lugar que eu olhe posso sentir as marcas de Peeta, a cama tem seu cheiro, a mesa tem seus desenhos cujas as marcas artísticas eu poderia reconhecer em qualquer lugar. Não condigo mais ficar aqui, pela primeira vez desde que cheguei a Capital não me preocupo com as pessoas a minha volta, não preocupo em ser reconhecida ou presa, simplesmente saio correndo do quarto em direção ao escritório de Dr. Aurelius, torcendo para que ele não esteja lá, quero ficar sozinha. Abro a porta do cômodo, que graças aos céus está vazio, fico girando igual barata tonta sem saber o que fazer ou para onde ir, até que noto uma porta que não tinha reparado antes, do lado da porta do banheiro, que está escrito: TERRAÇO.

Era o que eu precisava, praticamente arrombo a porta e subo as escadas. Estou livre, finalmente aqui ninguém vai ouvir meus choros ou meus gritos, sento-me no chão olhando para o céu é impossível estar aqui e não me lembrar de Peeta , começo a pensar em todos os momentos que passamos juntos, e uma lembrança me vem a mente: Uma vez quando eu era criança, lembro-me que minha mãe estava muito chateada com meu pai – não sei o motivo- e ele para fazer as pazes, utilizou de sua voz maravilhosa e cantou para ela uma musica, que na época eu não entendia direito, mas nunca esqueci, agora ela vem a minha mente e não consigo evitar de cantar e de achar que ela foi feita para mim :

Without You

I can't win, I can't wait
I will never win this game
Without you
Without you

I am lost, I am vain
I will never be the same
Without you
Without you

I won't run, I won't fly
I will never make it by
Without you
Without you

I can't rest, I can't fight
All I need is you and I
Without you
Without you

Oh, oh, oh
You, you, you
Without
You, you, you
Without you

Can't erase, so I'll take blame
But I can't accept that we're estranged
Without you
Without you

I can't quit now, this can't be right
I can't take one more sleepless night
Without you
Without you

I won't soar, I won't climb
If you're not here, I'm paralyzed
Without you
Without you

I can't look, I'm so blind
I lost my heart, I lost my mind
Without you
Without you

Oh, oh, oh
You, you, you
Without
You, you, you
Without you

I am lost, I am vain
I will never be the same
Without you
Without you

Without you

Sem Você

Eu não posso vencer, eu não posso esperar
Eu nunca vou vencer este jogo
Sem você
Sem você

Eu estou perdido, eu sou inútil
Eu nunca vou ser o mesmo
Sem você
Sem você

Eu não vou correr, eu não vou voar
Eu nunca sobreviverei
Sem você
Sem você

Eu não posso descansar, eu não posso lutar
Tudo que eu preciso é de você e eu
Sem você
Sem você

Oh, oh, oh
Você, você, você
Sem
Você, você, você
Sem você

Não posso apagar, por isso vou assumir a culpa
Mas eu não posso aceitar que estamos afastados
Sem você
Sem você

Eu não posso desistir agora, isso não pode ser o certo
Eu não posso ter mais uma noite sem dormir
Sem você
Sem você

Eu não vou voar, não vou subir
Se você não estiver aqui, estou paralisado
Sem você
Sem você

Eu não posso olhar, sou tão cego
Eu perdi meu coração, eu perdi minha mente
Sem você
Sem você

Oh, oh, oh
Você, você, você
Sem
Você, você, você
Sem você

Eu estou perdido, eu sou inútil
Eu nunca vou ser o mesmo
Sem você
Sem você

Sem você

Sei que não irei conseguir sem Peeta, é nesse momento quando canto essa música que um dia fez minha mãe chorar , que percebo o quanto fui teimosa em admitir algo que estava o tempo todo na minha frente : eu sou completamente e irremediavelmente apaixonada por Peeta Mellark. As camadas que eu criei ao meu redor , para impedir que as pessoas sentissem algo por mim e eu por elas me fizeram sobreviver durante todos esses anos. Mas Peeta me cercou aos pouquinhos ele derrubou cada camada com a sua palavras, com sua devoção, com seu carinho, enfim com seu amor, mas eu me neguei a sentir, com medo de que se eu me entregasse, Peeta iria ser tirado de mim, como fui idiota, de nada adiantou, no fim ele está sendo tirado de mim do mesmo jeito, não sei se ele saíra vivo da cirurgia, poderia ter aproveitado mais meu tempo com ele se soubesse que iriamos terminar assim, é engraçado como as vezes fazemos as coisas certas para nos proteger, mas depois vemos que o errado era o certo a ser feito.

Não pode terminar assim, agora que aceitei que o amo, não posso perde-lo. Não sei orar então fecho os olhos e inclino minha cabeça em direção ao céu canto a música repetidamente, na esperança que quem quer que esteja lá em cima possa entender que não posso viver sem Peeta, o meu Dente- de – Leão, a minha esperança.

Fico cantando sem parar, já perdi a noção do tempo, até que ouço uma voz:

– Fico feliz que o Tordo ainda não tenha perdido sua linda voz , Docinho.

Viro- me para trás num ímpeto e mau posso acreditar em meus olhos quando vejo meu mentor encostado na porta bufando :

– Meu Deus Katniss da próxima vez arrume um lugar sem escadas para se esconder- ele põe a mão no peito

Nem dou tempo para ele se recuperar e já me jogo em seus braços chorando, Haymitch sendo ele mesmo não pode deixar de soltar suas pérolas :

– Calma ai Queridinha, não vá me molhar todo essa é a única roupa que eu trouxe.– Mas ele me afasta e olha sorrindo de lado sei que esse é o jeito dele de dizer : Também estou com medo, mas não se preocupe estou aqui com você .

Tanto tempo convivendo com ele , fez com que eu aprendesse a capitar o que ele realmente quer me dizer , mesmo com toda sua ironia.

– Quando você chegou ? – pergunto tentando me recompor

– Cheguei a exatas duas horas, Dr. Aurelius me ligou e contou sobre os coágulos e a cirurgia, eu vim assim que pude.

– Obrigada por ter vindo, não sei se vou aguentar tudo isso sozinha.– digo.

– Não se preocupe o Garoto é a pessoa mais forte que eu conheço, ele vai sair dessa.

– Não sei não Haymitch, estou com muito medo de perde-lo – agarro a gola de sua camisa- Não POSSO perde ele- digo desesperada.

Meu mentor olha pra mim , e da um leve sorriso, daqueles que se dá quando seu filho descobre alguma coisa óbvia para todos , mas que para ele é novidade.

–Você finalmente se deu conta não é mesmo ?

– Se deu conta do que ?– pergunto

Que você o ama .- Haymitch responde.

Será que todo mundo sabia ? Acho que sim.

– Sim– sussurro.

– Até que enfim, achei que você fosse morrer negando o inegável- ele ri.

Olho para baixo derrotada, surpreendentemente é Haymitch quem me abraça apertado e diz :

– Ei não se preocupe, já disse aquele Garoto é um toro, sem contar que te ama demais para ficar longe de você, entre nós dois, sabemos muito bem que Peeta não vai lagar do seu pé tão cedo, Docinho.

Me afasto um pouco :– Sinceramente, espero que sim Haymitch.

– Eu vou ficar lá em baixo, na sala de espera, quando a cirurgia acabar eu venho te avisar.

– Ok- eu digo.

Fiquei no terraço o dia inteiro, até que no momento em que o sol começa se por, o momento que seria impossível não lembrar dele, aonde o céu fica colorido da sua cor favorita, o laranja, Haymitch entra novamente, me ponho de pé a todo custo, com as pernas bambas, procurando algum sinal de tristeza no rosto de meu Mentor, mais ele está impassível, não consigo ler nenhuma emoção em sua face, por fim resolvo perguntar :

– E então ?

– E então que a cirurgia acabou, na verdade acabou à uma hora.

– E... ??? – pergundo

– E que eu estava certo- nunca vi Haymitch Abernathy sorrir daquele jeito – O Garoto é um toro, sobreviveu a cirurgia, e os médicos estavam esperando ele voltar da anestesia, preparados para qualquer tipo de sequela, mas adivinhe só? Peeta está perfeitamente bem, lá embaixo estão todos acreditando em milagres agora.

Mau posso acreditar no que ouço, Peeta está bem , vou poder finalmente dizer que o amo, MEU Peeta está vivo . Sei que é errado uma pessoa com meu passado se sentir feliz , mas é uma sensação que não consigo evitar, começa pela ponta dos meus dedos dos pés e das mãos e vai subindo pelo meu corpo até se alojar em meu coração, que a essa altura está tão disparado que eu poderia ter um ataque cardíaco agora. Por fim tenho certeza que um sorriso totalmente novo e enorme esta estampado em meu rosto.

– Posso ver ele ?– pergunto ansiosa

Haymitch sorri – Não poderia, mais ele me pediu para te ver, então Dr. Aurelius e eu demos um jeito de deixar vocês sozinhos por alguns minutos, pelo menos até o neurologista dele voltar.

Nem preciso dizer que sair correndo dali , passei pelos corredores sem me importar com os olhares de reprovação que me eram lançados pelo fato de eu estar correndo em um hospital, chego em seu quarto e abro a porta num rompante nada silencioso, Peeta está deitado com a cabeça toda enfaixada , mas quando me vê ele sorri e diz :

– Venha aqui , chegue mais perto– e estende sua mão para mim, caminho dessa vez com mais calma, até entrelaçar meus dedos com os dele e me sinto mais um vez em meu lar. Começo a abrir meus lábios mas ele me interrompe:

– Katniss, eu estive mais uma vez frente a frente com a morte, e venci, por isso tenho que te perguntar isso agora ou então perderei a coragem .

Ele fita meus olhos alguns segundos e retoma a palavra:

Katniss- Peeta engole em seco como se perguntar aquilo custasse toda sua vida- Você me ama. Real ou não real ?

Não estou apavorada como pensei que estaria, nunca estive tão certa de alguma coisa e tão pronta para responder a uma pergunta.


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Notas finais do capítulo

PS: Comentem, meus amores, comentários fazem minha imaginação aflorar kkkkk
ah e os próximos capítulos terão muiiiiiiiiiiitaaaaaaa ação, e personagens queridos, ou não tão queridos assim kkkkkkkkkk
bjkass até mais, galera