Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 3
Capítulo 2: O acidente


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como vocês estão?
Mais uma vez obrigada a quem está comentando, acompanhando e gostando *-* me deixa muito feliz. Queria ter postado o capítulo antes, mas acabei ficando sem internet. Ele foi mais para dar algumas explicações e começar a contar a história do Jason, por isso ficou um pouco mais parado. De qualquer forma, espero que gostem ^^ Ah, e leiam as notas no final, por favor.
Boa leitura!



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A garota corria pela rua escura e deserta. Não havia nenhum outro som a não ser por sua respiração acelerada e ofegante. Sua pernas começavam a fraquejar por tanta corrida, o que a fez dar perigosos passos em falso. Não podia errar. Tinha que chegar em casa. Só mais alguns quarteirões, pensou. Sua bolsa chacoalhava enquanto disparava pelas ruas.

Então, o barulho de outro par de pés reapareceu. Alguém a perseguia, mas ela não sabia por quê. Não fizera nada a ninguém, nenhum mal. Seu coração escoiceava as costelas para lhe dar forças para se manter na corrida. Os olhos estavam molhados de lágrimas de medo, e o seu perseguidor continuava a segui-la, sem descanso.

Ela virou uma rua para tentar entrar em um espaço mais movimentado e fazer um caminho diferente, mas era noite. Os cidadãos de New Haven não tinham o costume de andar até muito tarde, principalmente no meio da semana. Os comércios já estavam se fechando; ela não encontrou um lugar para se esconder. Todos lhe viraram as costas.

Com as pernas dormentes, virou outra rua. Estou quase chegando.

Contudo, ao dobrar o quarteirão, um soluço que nunca foi ouvido de fato chegou a sua garganta.

O homem apontou uma arma para sua testa, e o disparo foi tão alto que seu eco fez Jason Kent despertar do pesadelo.

Estava pingando com suor frio. Por um momento, ao acordar, o barulho do tiro pareceu real e ficou gravado em seu crânio, reverberando junto às batidas de seu coração.

Olhou para o lado, para a janela sem cortinas que dava vista ao centro da cidade. Não havia nada de anormal. No entanto, seus sonhos sempre o perturbavam. Como se já não bastassem os números, Jason suspirou.

Automaticamente, lembrou-se do dia em que tudo começara.

Era mais um fim de tarde monótono na cidade de Chicago: O céu estava cinza, não de nuvens, mas sim com a conhecida poluição que cercava a cidade há tempos. As ruas estavam uma loucura com a pressa dos automóveis às seis horas da tarde para buscar e levar pessoas, e o som das buzinas se espalhava e parecia ecoar nas paredes dos prédios ao redor. Altos edifícios espelhados se erguiam por todos os lados, alguns parecidos demais que podiam chegar a confundir alguém que não estava acostumado com a rotina.

A mãe de um Jason de dez anos falava ao telefone prendendo o celular entre a bochecha e o ombro enquanto o levava por uma mão e a outra procurava um documento na bolsa. Estavam no meio de uma multidão que se empurrava para andar na calçada.

Jason tentava chamar a atenção da mãe, puxando a manga do sobretudo, mas ela o ignorou. Tinha uma expressão séria e carregada ao discutir com a pessoa no telefone sobre seu trabalho.

Estava distraída demais para perceber que o semáforo que queria atravessar se fechara antes de pôr o pé na rua. Quando se deu conta, já era tarde. O filho se desgrudara dela por um segundo e continuou o caminho mesmo quando ela tentou puxá-lo de volta. Um ônibus acelerou.

Teria sido esmagado se um morador de rua não o tivesse tirado do caminho em tempo.

Ele o agarrou pelas axilas, tirando-o da frente do ônibus por tão pouco que pôde sentir o vento provocado pela velocidade sacudir-lhe as roupas. Levou Jason para a calçada novamente, onde a mãe estava desesperada. Ela o abraçou, pedindo desculpas, e o homem já estava indo embora como se nada tivesse acontecido quando ela o chamou.

Ele usava calças jeans surradas, coturnos sujos e uma jaqueta velha e larga. Tinha cabelos negros compridos cheios de nós que passavam a impressão de não serem cortados e cuidados há muitos meses, cobertos por uma touca de lã esfarrapada. Juntando todos os fatores e o olhar levemente esfomeado, era claro que era um mendigo.

Jason não prestou atenção na conversa dos dois. Com seus dez anos, manteve os olhos arregalados de susto e incompreensão. Assim que foi tirado da frente do ônibus, brilhantes números laranjas surgiram acima das cabeças de cada pessoa ali até onde sua vista alcançava, um emaranhado de riscos que mudava sem padrão e que diminuíam gradativamente, uns mais rápidos do que outros.

Como era jovem na época, contara para sua mãe quando chegaram em casa. Tinha a esperança de que tudo desaparecesse até lá, mas não aconteceu. A Sra. Kent levou o assunto na brincadeira, acreditando ser apenas uma imaginação da criança.

Porém, o assunto continuou. Jason não entendia o que era aquilo e, apesar de seus pais ficarem preocupados com o que ele falava, continuou insistindo. Eles, por fim e após três meses, o levaram a um hospital para ver se havia sofrido algum choque.

Foi quando ele entendeu. As portas da UTI se abriram, levando em uma maca uma velhinha de olhos fechados. Seus números marcavam sete, e pelo relógio Jason viu que regrediram na velocidade de segundos. Ao chegarem no zero, nenhum número mais brilhava em sua cabeça, e o marcador de batimentos cardíacos anunciou que ela não mais estava viva.

Aterrorizado, Jason não comentou esse episódio com os pais, mas não negou ao seu médico o que passara a ver logo que fora salvo do acidente. O doutor recomendou um psicólogo depois de dizer que era fruto de um trauma. Jason sabia que não. Poderia ter acreditado naquilo se não tivesse visto a senhora morrer na sua frente.

Mais seis meses se passaram e o psicólogo não adiantou, tampouco a seguinte terapia. Seus pais ficaram desapontados e muito antes disso já começaram a pensar que era louco.

Quando o quase-acidente de Jason completou um ano, eles o internaram em um hospital psiquiátrico.

Voltando ao presente, ele desviou o olhar da janela. Imaginou o que seus pais teriam feito se também tivesse lhes contado sobre os sonhos: uma vez por mês, a garota de sempre aparecia, e em todas as vezes era morta de uma forma diferente.

Deveria ter se acostumado depois de tanto tempo, mas não. Acordava nas noites em que o pesadelo o atormentava para recordá-lo de que ainda existia. A pior parte era sentir o mesmo que ela sentia, o medo, o desespero, as dúvidas, a esperança. Então, tudo era novamente tirado dela, e ele acordava sentado em sua cama.

Tentara chegar a uma conclusão por muitos anos, embora nunca tivesse encontrado uma plausível.

Não estava com humor para tentar pensar em outra agora, portanto verificou o relógio na cabeceira da cama. Ainda faltavam duas horas para que a primeira aula em Yale tivesse início, mas não conseguiria voltar a dormir e não queria correr o risco de se atrasar como antes de ontem.

Levantou-se, arrumou os pertences, trocou de roupa e foi preparar o café da manhã. Cogitou a ideia de ligar a televisão, mas resolveu dar mais uma olhada na matéria ao invés disso. Um dos livros que pegara emprestado na biblioteca, o mais fino deles, estava pronto para ser devolvido.

— Só um louco cursaria Arquitetura – murmurou para si mesmo enquanto observava os outros livros que tinha para ler. – Mas o que eu sou se não isso?

Faltando meia hora para dar o horário correto, pegou as chaves e saiu do apartamento.

— Bom dia, Howard – cumprimentou o porteiro quando chegou no térreo.

— Boa aula, garoto! – O senhor respondeu animado.

Jason sorriu para ele e foi para o carro. Ao contrário do que imaginara a princípio, muitos estudantes já haviam chegado na universidade e conversavam sobre as primeira aulas. Ele deixou o livro na biblioteca primeiro, então seguiu para onde achava ser a sala.

Estava quase com medo de ter se perdido de novo quando cabelos loiros familiares e armações de óculos grossas se juntaram a ele.

— A primeira aula é pra cá, Jason – Rebeca lhe disse, sorrindo e indo para outra direção. – História das construções, hoje.

Ele fez uma careta.

— Vai dizer que você não gosta? – ela perguntou, indignada. – É minha matéria preferida!

Ele ergueu as mãos em uma brincadeira.

— Não tenho nada contra.

— Então, como está indo na adaptação? Vi o monte de livros que pegou. Não dá para ler tudo aquilo em um mês e não ficar maluco.

Jason quase riu com a ironia.

— Vou buscar resumos ou algo assim.

— Como eu tinha dito, se você... – Rebeca foi interrompida por alguém que pulou em suas costas e se pendurou nela.

— E aí, gatinha? Anda me traindo com ele? – Uma garota linda perguntou a ela. Sua pele era negra e os cabelos volumosos eram bem-cuidados. Jason a reconheceu como sendo a amiga de Rebeca que a chamou para ir embora no outro dia.

— Eu nunca te trocaria – Rebeca disse, arrumando os cabelos atrás da orelha. – Você que me abandonou pelo Phillip.

Jason não estava entendendo nada, e foi só quando as duas abriram uma gargalhada que ele percebeu que era uma brincadeira.

— Jason, essa é a... – Rebeca começou a apresentar, mas a outra garota tapou sua boca com a mão.

— Sou a Halee, muito prazer. A amiga mais engraçada, divertida e companheira que você vai conhecer. – Ela abriu um sorriso de dentes brancos perfeitos.

— Dá pra ver que você é engraçada mesmo, com essa piada – Rebeca replicou, afastando sua mão do rosto. – Ele é tímido, não está vendo? Vai ficar é assustado com você.

Dessa vez, Jason realmente riu.

— Não, de jeito nenhum. Eu sou o Jason, Halee. É um prazer.

— Viu? – Halee falou, provocando a amiga. – Todos me adoram.

— Não tem como não rir da sua cara. – Rebeca checou o relógio de pulso. – Vamos, está na hora de entrar.

— Vão indo, eu tenho que encontrar o Phillip antes – Halee disse, e mandou beijos estalados antes de se virar e ir procurar alguém.

— Eu disse que ela tinha me trocado – Rebeca se lamentou com Jason, que (olhem só, que novidade!) não tinha ideia do que responder.

Apenas a acompanhou para dentro da sala e tentou não deixar muito óbvio que escolheu de propósito o lugar ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Mereço reviews? Digam-me o que esperam daqui para a frente, ou me contem suas teorias. Falem sobre o clima, idk. Mas eu amo conversar :3
Mais uma coisa: vocês preferem os capítulos mais longos, mais curtos ou desse tamanho, em torno de mil palavras, está bom?

O capítulo foi inspirado no clipe da música Savin' Me, do Nickelback. Se quiserem conferir, aqui está: https://www.youtube.com/watch?v=_JQiEs32SqQ

Até o próximo!