Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 11
Capítulo 10: Forças ocultas


Notas iniciais do capítulo

Obrigada mais uma vez a todos que comentam, acompanham e favoritam!
Feliz Ano Novo (um pouco atrasado, mas tá valendo, eu espero) hahaha.
Boa leitura!



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O mausoléu brilhou com uma breve luz vermelha instantes antes de Sloan aparecer a sua frente, com seus cabelos ruivos e o olhar arrogante de sempre.

— Gabriel – disse, em um falso tom de respeito. – Queria falar comigo?

— O que você está tramando, Sloan? – ele perguntou de forma áspera, virando-se para encará-la. – Senti as forças antigas se remexendo. Você não pode estar tão desesperada a esse ponto.

— Desesperada? Oh, não, querido, eu não estou desesperada. – Ela correu as mãos por uma das paredes, sentindo a textura dos nomes de falecidos gravados ali. Mais do que isso, pôde sentir suas almas agitadas com a proximidade de seu toque. – Estou ansiosa para ver o desenrolar de tudo isso, na verdade, já que você está ficando sem tempo.

— As coisas vão mudar – Gabriel respondeu, mas não sentia a convicção que depositou na voz.

— Vão? – Sloan arqueou a sobrancelha. – Acho que não. Você já errou demais, e ambos sabemos que é proibido intervir diretamente. Não vamos esquecer dos resultados da última vez que você fez isso. Tahmoh não lhe dará uma terceira chance.

Gabriel balançou a cabeça, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Você ainda acha que isto é uma competição. Abra os olhos, Sloan! Está despertando forças que não pode controlar. Vai colocar todos nós em risco.

— Eu posso proteger os meus até que a ordem retorne – ela garantiu, sem se abalar. – Mas você não pode dizer o mesmo, não é? Se eles não tomarem participação logo por bem, farei com que seja por mal.

Gabriel deu um passo na direção dela, com um brilho perigoso nos olhos azuis.

— Não se atreva a erguer um dedo contra eles.

— Eu? Você não ouviu o que eu disse sobre não podermos intervir diretamente? – Sloan lhe deu as costas para observar o local. – Talvez recebam uma visita de um dos meus subordinados mais cedo ou mais tarde. Você vai gostar de saber quando não tiver sobrado nada para contar a história.

— Se qualquer coisa acontecer, não sobrará nada para contar a sua história.

Ela voltou a olhá-lo.

— Essa é a minha vez de ganhar, Gabriel. E ninguém vai me impedir, nem você, nem Amber.

— Você está para iniciar uma batalha que não terá vencedores. Ainda há tempo de mudar.

— Nossa conversa foi ótima – Sloan desviou o assunto. – Mas, da próxima vez, tente escolher um lugar mais agradável; aqui tem cheiro de morte. Ou melhor, deixe que eu escolha. Adeus, por enquanto.

A luz vermelha tornou a preencher o mausoléu enquanto Sloan ia embora. Assim que a claridade abrandou, Gabriel soube que precisava arrumar um jeito de acelerar os acontecimentos. Como sempre, deveria fazer tudo por baixo dos panos para que ninguém desconfiasse.


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A professora falava e falava, e, por mais que Jason copiasse o que havia nos slides, não conseguia se concentrar. Queria conversar com Rebeca, sentada na carteira ao seu lado, mas não teve coragem de interromper sua atenção. Ela anotava todas as informações nos mínimos detalhes ao mesmo tempo em que grifava coisas na apostila e fazia esboços. Ele não entendia como ela manejava tudo aquilo.

O caso da bibliotecária ainda não havia sido resolvido – pelo contrário, estava bem longe disso e a área permanecia interditada -, mas as aulas no prédio de Arquitetura retornaram. Jason ainda quebrava a cabeça ao lembrar o que havia acontecido, sem nunca chegar a uma conclusão como já era de se esperar.

E, para piorar, havia aquela visão que tivera no caminho para Allentown. Mal se lembrava do rosto da mulher, mas aquele lampejo fora o bastante para mantê-lo acordado pensando em tudo. Desde que chegara a New Haven, seu nível de abominação tinha aumentado drasticamente.

Jason olhou para Rebeca novamente, com um aperto no peito. Lionel o instruíra a contar tudo a ela, mas ele hesitava. E se ela não o aceitasse? E se achasse que estava caçoando dela? Não suportaria ver o olhar de rejeição em seu rosto como já vira tantas vezes antes nas expressões de diversos médicos. Estava com medo da reação que teria, embora desejasse mais que tudo no mundo dizer a verdade. Afinal, ela merecia que ele não fosse egoísta a esse ponto.

Como se seus pensamentos servissem de ímã, Jason ouviu aquele som da biblioteca de novo: um som agudo insuportável, como se uma caixa de som sofresse interferência. Ele olhou ao redor discretamente, as mãos tampando o ouvido, mas todos na sala continuavam prestando atenção à professora, parecendo não notar o barulho.

O ruído só fazia aumentar a cada segundo, fazendo seus tímpanos arderem. Finalmente, virou-se para Rebeca:

— Você está ouvindo isso?

Aparentemente, falara alto demais, pois os jovens que estavam mais perto se viraram para encará-lo. Rebeca franziu as sobrancelhas:

— Ouvindo o quê?

— Esse barulho – disse Jason, tentando baixar a voz apesar de mal escutar a dela por cima do som. – Como um apito.

— Não ouço nada – ela falou depois de parar para escutar.

Ele já ia perguntar se tinha certeza quando outra voz se fez presente – também a mesma voz que o chamara pelo nome na biblioteca.

Jason.

Ele olhou para o teto como um lunático, procurando pela fonte enquanto seu nome ecoava repetidamente.

Jason, você tem que ficar atento, não se esqueça disso. Estamos ficando sem tempo. Você tem que...

Antes que concluísse, a sala foi tomada pelo caos. Alguém gritou, e então as janelas explodiram de uma vez, lançando estilhaços de vidro por todos os lados, sobre as cabeças dos que estavam mais próximos. Os estudantes levantaram em um pulo e agarraram suas coisas no momento em que outra janela foi pelos ares.

— Saiam! – a professora berrou, empurrando todos na direção da porta. – Andem, saiam daqui e chamem algum funcionário!

Todos se precipitaram para a saída, mas Jason ficou congelado em sua cadeira até Rebeca agarrá-lo pelo cotovelo e arrastá-lo, fazendo-o voltar a si. Esticou o braço para pegar os pertences e correu com ela para fora da sala.

Àquela altura, os alunos das outras salas também saíam para ver o que estava acontecendo. Halee se juntou a eles enquanto o estardalhaço se espalhava. As janelas das classes mais próximas explodiram nos momentos seguintes, cortando alguns alunos e arrancando gritos de outros.

— Saiam do prédio! – um professor berrou. – Todos para fora!

Ninguém precisou ouvir novamente. Jason e Rebeca seguiram o fluxo da multidão até o campus, atordoados com o barulho. Foram mais levados pela onda do que por vontade própria, porém logo estavam com Halee em frente ao chafariz enquanto os professores encaravam o prédio com incredulidade e os estudantes comentavam entre si.

— Vou até o prédio de Direito para ver se aconteceu o mesmo com Phillip – avisou Halee, já se afastando dos dois.

Rebeca agarrou o braço de Jason mais uma vez de forma súbita, com uma força além da que ele esperava. Levou-o até longe dos outros sem explicação, para perto de alguns bancos onde ninguém poderia ouvi-los. Quando o soltou, tinha um olhar firme.

— O que foi isso? – exigiu.

— C-como vou saber? Estou tão surpreso quanto todo mundo.

— Sério mesmo que vai continuar inventando desculpas? – Rebeca perguntou, exasperada. – Eu sei que tem alguma coisa acontecendo com você, e não dá mais para esconder a verdade de mim. Dois segundos antes das janelas explodirem, você escutou alguma coisa que ninguém mais escutou, e eu não vou acreditar que foi uma coincidência.

O pânico se instalou dentro de Jason.

— Olha, talvez eu só esteja cansado e imaginei ter ouvido algo, tá bom? E sobre as janelas, quem sou eu para dizer alguma coisa? Vai ver foi algum choque térmico ou...

— Você sabia que aquele cara ia morrer de ataque cardíaco! – interrompeu Rebeca, mas não estava com raiva; Jason pôde ver que ela tentava ao máximo compreender o que acontecia, e pedia que ele explicasse. – E é óbvio que aquele quase acidente na estrada não foi só uma tontura.

Jason balançou a cabeça, engolindo em seco.

— Não posso – murmurou.

Rebeca pareceu decepcionada.

— Em algum ponto, você vai ter que confiar em mim.

— É isso que você acha, que não confio em você? – ele perguntou, surpreso.

— Não consigo ver outro motivo...

— É claro que confio em você!

— Então por que não pode me dizer a verdade?

— Porque você vai achar que sou louco! Vai achar que sou louco e vai fazer o que todos fizeram... Vai embora.

Ela pegou suas mãos e o fez olhá-la nos olhos.

— Eu não vou embora – afirmou. – E também não vou achar que é louco. Por favor, me conte. Eu quero ajudar.

Ele fechou os olhos e se lembrou mais uma vez das palavras de seu avô. Respirou fundo.

— É melhor se sentar.

Então, contou a ela. Começou pelo acidente quando tinha dez anos, quando começou a enxergar os números acima de cada um. Falou sobre a reação de seus pais e que passou doze anos no hospital psiquiátrico até Lionel tirá-lo de lá há dois anos.

A única coisa que deixou de fora foram os sonhos. Aquilo seria demais, e não estava pronto para comentar. Além disso, disse que não sabia o que estava acontecendo com as janelas, nem o que era o barulho, mas avisou sobre a voz que o chamava e o trágico acidente da biblioteca.

Rebeca ouviu a tudo séria, sem fazer interrupções. Não riu nem fez uma expressão de deboche ou medo. Simplesmente deixou-o falar até que acabasse. Quando, por fim, Jason olhou para ela em busca de uma reação, receoso do que viria, não encontrou pena em seus olhos, o que foi um alívio. Era um olhar aberto e límpido, sem julgamentos. Ela franziu os lábios por um momento, depois apertou suas mãos.

— Estou orgulhosa de você.

Aquilo pegou Jason totalmente de surpresa. Ele tinha certeza de que nada seria mais inesperado do que essa frase. Estivera sinceramente esperando por um grito, uma risada, qualquer coisa. Perguntou-se se teria ouvido direito.

— Por que estaria orgulhosa de mim?

— Bem... Você passou doze anos em um hospício e não ficou louco. E isso é um grande feito para mim.

Ele piscou, sem acreditar que Rebeca estava mesmo dizendo isso. Enquanto estavam falando, duas viaturas da polícia chegaram para analisar o prédio de Arquitetura.

— Então... você acredita? – perguntou, ainda hesitante. – Não acha que eu sou louco?

— Acredito – Rebeca respondeu imediatamente. – Quer dizer, eu não acreditaria se já não desconfiasse que tinha algo errado. Também não acreditaria se você não agisse todo estranho nem se não tivesse contado a sua história desse jeito sério. Aliás, eu acredito porque não vejo motivo para você estar mentindo.

— Sabe no que eu não acredito? – disse Jason. – No quanto você é incrível. Eu poderia contar nos dedos quantas pessoas tiveram a sua reação e só ocuparia um lugar.

Uma gargalhada atravessou os lábios de Rebeca.

— Eu vou ter que te surpreender um pouco mais, então. Vou te ajudar a descobrir o que isso significa.

— O quê?

— Isso mesmo que você ouviu.

— Não... Digo, não que eu não aprecie isso, mas, acredite, se tivesse alguma coisa para ser descoberta, eu já teria descoberto nesses catorze anos. Passei todo o tempo pesquisando, lendo e ficando mais louco do que o normal para ver o que eu tinha e não encontrei nada. Nem mesmo uma pista, e olha que eu procurei em uns lugares bem estranhos.

— Ah, mas isso era porque você ainda não me conhecia – Rebeca devolveu, piscando para ele. – Não custa nada tentar de novo, certo? Vamos lá, um pouco de esperança nunca matou ninguém.

— Em que mundo você vive?

— Isso é o de menos. O que importa agora é que eu vou te ajudar a resolver isso, queira você ou não.

Jason tentou pensar em algo para dizer. Queria contestar, alegando que não a queria envolvida na bagunça que era sua vida – o que era verdade -, que ela não precisava se preocupar. Mas, ao olhar para Rebeca uma segunda vez, viu que não adiantaria. Ela tinha aquela expressão determinada que deixava claro que não mudaria de ideia nem que ele repetisse mil vezes, e Jason também não se sentia encorajado a dispensar uma ajuda como aquela, que quase nunca lhe fora oferecida.

Portanto, tudo que foi capaz de dizer, em uma voz mais que agradecida e sabendo que nunca seria o suficiente para manifestar o que realmente sentia, foi:

— Obrigado.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou bem rápido, eu sei, mas ainda assim espero que tenham gostado. Contem-me o que acharam da reação da Rebeca, da conversa no início e o que esperam daqui para frente!
Beijos e até o próximo o/



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