Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 10
Capítulo 9: Estrada 78


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas estou postando finalmente!
Agradeço a todos os comentários que recebi e os favoritos *-* Me deixa muito feliz ver que tem gente lendo o que escrevo. Aos novos leitores, sejam todos bem-vindos!
Tenham uma ótima leitura!



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– O que você acha que aconteceu com ela?

Era a pergunta que todos em Yale se faziam desde que encontraram a área da biblioteca bloqueada por fitas e a pergunta que Rebeca lhe fazia agora enquanto a notícia da misteriosa morte da bibliotecária passava no noticiário do dia seguinte.

Jason balançou a cabeça, desviando o olhar da pequena televisão da cafeteria em que Rebeca trabalhava.

– Não sei.

Voltou a olhar para seus cadernos, tentando pensar em um projeto para a faculdade que lhe fora passado. Contudo, seus pensamentos não estavam ali. O noticiário, após informar o estado em que a mulher fora encontrada, também disse que as investigações não pareciam estar rendendo. Ao olhar as câmeras de segurança dos prédios, elas não mostraram ninguém perto da biblioteca naquele horário.

Jason tinha certeza de ter passado por várias tanto na ida quanto na volta, quando saíra correndo, tomado pelo desespero. Será que as filmagens haviam sido manipuladas? Era claro que sim, mas por que e por quem?

– Quem seria capaz de uma coisa dessas? – Rebeca tornou a perguntar, chocada. – Queimar os olhos de alguém? Isso é horrível.

Ele concordou. Já havia decidido não comentar com ninguém que estava presente quando o assassinato ocorrera. Ao invés de prolongar o assunto, disse:

– Então, está tudo de pé para hoje, certo?

– Claro – Rebeca lhe respondeu sorrindo. – Mas só saio daqui meia hora.

– Eu fico esperando.

Todos haviam sido dispensados das aulas hoje para que a polícia investigasse a biblioteca, portanto teriam o dia livre. Jason planejou fazer uma visita a seu avô e convidou Rebeca para acompanhá-lo, já que muitas coisas haviam ficado em aberto na noite passada.

– Esse ângulo está errado – ela disse, dando uma olhada por cima de seu ombro para os papeis que ele estudava. – Se fizer isso, o prédio todo vai desmoronar na primeira ventania; é uma área de colinas.

Jason franziu o cenho para sua tentativa de trabalho. Maldito professor Hennings que lhe ordenara aquilo para ter uma prova de que frequentara aulas de Arquitetura antes dali. Ele tinha razão quando imaginou que aquele professor em especial o perseguiria até se formar.

– Eu deveria diminuir? – perguntou, referindo-se ao ângulo da figura.

– Isso mesmo – concordou Rebeca com um olhar orgulhoso.

A próxima meia hora passou de forma rápida enquanto ele quebrava a cabeça para montar algo decente. Ainda não havia terminado quando Rebeca tirou o avental e anunciou que seu turno acabou.

– Vamos. – Jason guardou todas as suas coisas de volta na mochila. – Eu não aguentaria olhar para isso nem por mais um minuto.

Ela riu, dando-lhe um tapinha nos ombros.

– Ainda não se acostumou?

– Acho que nunca vou.

Eles seguiram para o carro e largaram as coisas no banco de trás. Assim que entrou, Rebeca soltou os cabelos.

– Pronta para uma aventura? – Jason perguntou, sorrindo.

– Você parece um velho falando isso.

– Então está pronta.

Ele ligou o rádio e acelerou.

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Levaram mais ou menos três horas para chegar a Allentown, Pensilvânia. E foram três horas de alta cantoria em um carro pequeno demais. Nenhum dos dois tinha uma voz muito digna, mas o que valia era a intenção.

De repente, alguma coisa aconteceu. Jason viu uma luz cegante como um farol e sentiu uma dor de cabeça que parecia querer cerrar seu crânio ao meio. Então imagens tomaram sua mente: uma faca, sangue, e uma mulher caindo no chão com a garganta cortada.

Tudo aconteceu num segundo, mas foi o suficiente para quase causar um acidente. Jason arfou e tirou uma mão do volante, fazendo com que o carro oscilasse e ameaçasse ir para a via oposta. Buzinas soaram de todos os lados.

– Jason! – Rebeca gritou, firmando o volante. Ele retomou a si e jogou o carro no acostamento, que deslizou antes de parar, causando ainda mais estardalhaço dos veículos atrás.

– Você está bem? O que aconteceu? – Rebeca lhe perguntou, tirando o cinto e se inclinando para olhá-lo de perto. – Jason, me responde!

– S-sim, eu estou bem – ele disse, trêmulo, com a respiração ainda descompassada. Que diabos fora aquilo? Parecia-se muito com os sonhos que tinha, mas quem morria era totalmente diferente da garota e também uma desconhecida. Uma visão, a resposta lhe veio como um choque, sem saber como chegara a ela. Foi uma visão.

– O que foi isso? – insistiu Rebeca.

– Nada, só... Tontura. – Jason tentou se esquivar, mas algo estava realmente errado. Seu coração estava acelerado demais, a ponto de doer, e ele não conseguia respirar direito. Levou as mãos ao peito em busca de ar.

– Me dê seu pulso – Rebeca ordenou, mas ele não estava em condições de mexer qualquer parte do corpo. Ela pegou seu braço mesmo assim e fechou os olhos para contar as batidas do coração. – Mais de 120 batidas por minuto... – murmurou, séria. – Você está tendo uma arritmia. Respire fundo e devagar.

– N-não... c-consigo... – gemeu Jason.

– Olhe pra mim e foque nos meus olhos. Sinta a minha mão em seu peito e tente soltar o ar, devagarinho, o mais que puder. Você precisa relaxar ou daqui a pouco começará a hiperventilar e vai desmaiar.

Jason olhou nos olhos verdes de Rebeca, embora não conseguisse visualizar nada muito bem.

– Vamos... sinta a minha mão e agora respire devagar. Eu vou contar um... dois... três... Solte o ar agora. De novo, um... dois... três... solte o ar e inspire, bem devagar, centrando na minha mão em seu peito e tornando sua respiração mais e mais profunda.

A mão de Rebeca era fria e sua voz firme e calma. Jason sentia-se quente, quase em chamas como se estivesse com febre, mas ao fixar-se na pressão da mão dela, ele foi relaxando e, aos poucos, foi normalizando sua respiração e a frequência cardíaca foi voltando ao normal, embora ele ainda se mostrasse alterado. No entanto, o pior já tinha passado.

– Se sente melhor? – ela perguntou, ainda com a mão fria em seu peito.

– Sim... Eu... Obrigado.

– Isso é frequente?

– Não – mentiu Jason. Não precisava preocupá-la ainda mais. – Então quer dizer que, além de arquiteta, você é médica?

– Estou bem longe disso – Rebeca disse com um sorriso tímido. – Mas já vi isso acontecer uma vez e... como fazer parar. Você devia fazer uns exames médicos quando voltarmos.

– Foi só um susto, Beck, não vai acontecer de novo – Jason garantiu, com uma firmeza maior do que a que sentia. Deu a partida no carro. – Vamos, faltam só algumas quadras para chegarmos.

Rebeca não discutiu, mas ele viu em seus olhos que ela não acreditava que estava tudo bem.

Cinco minutos mais tarde, estava estacionando em frente a uma mansão perto da área rural. A casa era branca, com três andares largos que ocupavam uma esquina inteira. Tinha um jardim bem cuidado com as mais diversas flores e grandes janelas de vidro cobertas por cortinas finas.

– Você não me disse que seu avô morava em uma mansão – disse Rebeca, surpresa.

– Não era importante. Venha, ele deve estar nos esperando.

Assim que tocou a campainha, uma senhora na casa dos quarenta anos que cuidava da residência os atendeu.

– Ah, Jason! – Puxou-o para um abraço. – Entre, entre, seu avô está na sala.

– É bom vê-la de novo, Joan – Jason disse ao entrar. – Esta é Rebeca. Rebeca, Joan.

Sua amiga cumprimentou a governanta timidamente, o que não era típico dela. Jason segurou sua mão e a guiou até a sala de estar, onde Lionel estava sentado olhando para um quadro. Seu avô se levantou ao vê-los entrando, com um sorriso simpático, e agarrou a bengala para se apoiar. Como de costume, Jason checou seus números: tinha belos anos pela frente apesar de já ter uma idade avançada.

– Jason! Vejo que trouxe sua namorada. – Ele também o abraçou.

– Ela... não é minha namorada.

– É, Jason ainda não se manifestou sobre isso – Rebeca brincou, logo em seguida apertando a mão do senhor. – Eu sou a Rebeca.

– Lionel. É um prazer conhecê-la finalmente. Jason me falou muito sobre você desde que ingressou em Yale.

– Ah, é? – Ela olhou para ele sorrindo de canto. – Então quer dizer que andou falando de mim? Muito bem, eu espero.

– Só o básico – Jason respondeu. – Sabe, que conheci uma garota que não para de falar e é a mais inteligente da turma.

– E também que o faz rir como eu nunca tinha visto – acrescentou Lionel. – Não se deixe enganar, Jason presta mais atenção do que deixa aparecer.

Os três riram, embora Jason estivesse constrangido com o rumo do assunto. Rebeca olhou em volta para os inúmeros quadros pendurados nas paredes – paisagens, vasos, artes impressionistas, renascentistas, os mais variados tipos sempre em cores vivas e convidativas. Jason também os adorava; sempre que ia para a mansão ficava observando-os por horas a fio, já que Lionel era um colecionador.

– Gosta deles? – Lionel perguntou a ela.

– São maravilhosos.

– Permita-me mostrar o meu favorito.

Os dois o seguiram pelo hall até um longo corredor do lado oposto. Nele, havia uma pintura magnífica, sem assinatura: um pássaro que Jason não conhecia com as asas abertas em frente a um monte de chamas. Costumava admirar aquele quadro mais que aos outros, principalmente por nunca tê-lo visto em nenhum outro lugar.

– É lindo – Rebeca disse, os olhos brilhando.

– Com licença – disse Joan, surgindo na entrada do corredor. – O almoço está pronto.

Eles voltaram até a sala de jantar e foram servidos com salmão e alcaparras, arroz e batatas grelhadas. Jason se sentou ao lado de Rebeca, e Lionel de frente para eles.

– Depois que terminarmos de comer, posso mostrar as outras obras que adquiri ao longo dos anos – comentou o avô, entusiasmado. Arte era uma das coisas de que mais gostava. – Modéstia à parte, é uma bela coleção.

– Dá para notar só por esses quadros que já vi – concordou Rebeca.

– Jason também desenha, você sabia?

Jason parou de mastigar, olhando para ele em um pedido mudo para que parasse de falar.

– Sabia – Beck respondeu, fingindo não perceber. – Mas ele ainda não me mostrou.

– Não é nada interessante – Jason interrompeu. – São só alguns rabiscos que eu faço para passar o tempo.

– Pior que os rabiscos de Arquitetura não vão ser – ela devolveu, rindo. – Já vi de quem ele puxou o gosto pela arte.

– Bem, dos pais certamente não foi – Lionel desatou a falar, como todo senhor fazia. – Eram muito ligados ao trabalho, entende? Não apreciavam as coisas bonitas da vida, praticamente desprezavam qualquer coisa que se desprendesse da rotina. Quando Jason era criança, costumava passar bastante tempo aqui em casa, por isso deve ter sido influenciado de alguma forma. Já tinha ouvido isso?

– Não – Rebeca respondeu, olhando Jason de esguela para ver como ele reagia àquelas informações. Ele não a fitou diretamente. – Jason não... fala muito sobre os pais.

Jason mudou pela segunda vez de assunto. Rebeca começou a comentar a estrutura da casa como a arquiteta que planejava ser. Após o almoço, como prometido, Lionel os levou a um cômodo no fim da mansão, que não abrigava nada além de todas as pinturas que tinha, como uma galeria.

Enquanto Rebeca se afastava para observá-las, seu avô se aproximou de Jason e falou, baixo:

– Ela não sabe, não é?

– Não.

– Ela merece a verdade, filho – Lionel disse.

– Eu não quero que ela se assuste – Jason respondeu, triste.

– Você só saberá se ela vai ficar com medo ou não se contar. Rebeca merece que você seja honesto com ela. Está sendo egoísta ao esconder as coisas. Posso ver nos seus olhos que você está apaixonado por ela e, considerando que ela está a seu lado mesmo não sabendo nada do seu passado, posso chutar que ela também gosta de você.

Jason suspirou.

– Em breve.

Lionel pousou a mão em seu ombro.

– Faça isso.

O resto do dia transcorreu normalmente. Jogaram baralho, caminharam, contaram histórias. Pouco depois do fim da tarde, Jason e Rebeca tomaram a estrada novamente, agradecendo a hospitalagem.

– Acho que deveríamos parar um pouco – ela sugeriu uma hora mais tarde. – Você precisa descansar. Não quero que tenha outro ataque.

– Beck, já está tudo bem, foi só um susto.

– Mesmo assim, vamos parar. Podemos comer um lanche em um bar, eu estou com fome.

– Nós comemos bolo antes de sair.

– O bolo já foi digerido. Uma pessoa não pode sentir fome mais de uma vez ao dia?

– Tudo bem, tudo bem, vamos parar um pouco – Jason concordou, conformado.

Encontraram um bar de beira de estrada relativamente em bom estado e limpo, e ele estacionou ao lado. Lá dentro estava abafado e lotado, portanto escolheram uma mesa do lado de fora e se sentaram. Enquanto Jason pediu uma cerveja, Rebeca pediu um suco e um hambúrguer para cada um.

– Você não bebe?

Sua expressão mudou minimamente.

– Não gosto. – Uma brisa soprou seus cabelos, e ela os colocou atrás da orelha como sempre fazia. – Adorei ter passado o dia com você hoje.

– Eu também.

– Sabe, tem uma coisa que eu quero te dizer. – Rebeca começou a mexer nas mãos, nervosa. – Eu não costumo sair por aí dizendo isso para todo mundo, mas... Enfim, eu queria ser direta, mas acho que não vou conseguir. Você sabe que eu acabo falando demais quando me empolgo e isso também acontece quando estou nervosa. Qual é, qualquer um fica nervoso numa hora dessas, certo? – Ela sacudiu a cabeça. – Esse não é o ponto. – Respirou fundo. – O fato é que... Eu gosto de você. Quer dizer, eu mais que gosto de você.

Ela olhou para Jason por um momento, esperando uma reação. Ele apenas piscou por um segundos, incapaz de se mover. Tinha ouvido direito? Rebeca acabava de dizer que gostava dele?

– Bom, eu só espero que as coisas não fiquem estranhas entre a gente se você não sentir o mesmo, porque isso seria horrível e eu...

Jason tomou o rosto dela nas mãos e a beijou, impedindo-a de concluir a frase. Seu coração estava disparado mais uma vez, mas agora era por um motivo bem diferente da arritmia. Estivera pensando em como seria beijá-la desde o seu aniversário, e ainda mais depois da festa de ontem. Rebeca intensificou o contato, mostrando a ele que a realidade era mil vezes melhor naquele quesito.

Eles se afastaram um pouco ofegantes.

– Então quer dizer que as coisas não vão ser diferentes entre a gente? – ela quis saber, sorrindo.

– Na verdade, eu espero que fiquem diferentes – Jason respondeu, com os lábios ainda muito próximos dos dela. – Diferentes no bom sentido, se você aceitar ficar comigo.

Rebeca riu.

– Acho que a resposta é clara. – Ela tornou a colar as bocas e disse em meio aos beijos: - Pelo menos dessa vez não teve champanhe com morango para nos atrapalhar.

– Não, mas acho que vai ter hambúrguer – disse Jason, vendo enquanto o garçom ia na direção da mesa com o pedido.

– Tudo bem. Ainda teremos tempo para isso. – Rebeca agradeceu o atendimento e pegou seu lanche. – Saúde!


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Notas finais do capítulo

*O título do capítulo se deve ao fato de a estrada que eles pegaram levando de New Haven a Allentown ser a de número 78
Vamos aplaudir de pé esse momento, galera! Primeiro beijo de Reson/Jabeca aconteceu finalmente, para a alegria dos shippers e a minha hahahaha. Espero que o momento não tenha sido broxante e que vocês tenham gostado. Então me digam aí quais suas opiniões sobre o capítulo: muito curto, muito rápido, muito demorado... Ou comentem sobre os personagens e a relação deles.
Muito obrigada a todos que leram! Leitores que ainda não se pronunciaram, fiquem livres para falar comigo quando se sentirem à vontade, eu não mordo :3
Beijos e até o próximo o/ E já desejo um feliz Natal, já que acho que não conseguirei postar novamente nessa data!