Eu estava sonhando, isso era uma certeza.

Eu nasci no fim dos anos noventa, foi uma época meio louca e divertida de se viver, as músicas e a cultura do momento era algo que ficaria marcado na história, pelo menos marcou a minha.

Eu estava caçando com minha mãe, ela era a melhor caçadora, tínhamos a licença para caçar cervos, eu e meu irmão adotivo estávamos indo para a nossa primeira caça, cada um com sua espingarda ouvindo atentamente os conselhos da velha senhora.

Lembro de ter sido a primeira vez que matei, cervo de 180kg, claro que não foi sozinho, mas meu tiro também ajudou. A primeiro momento ver a vida daquele animal inocente se esvair mexeu comigo, não quis comer naquela noite e meu irmão claramente zombou disso me chamando de frouxo.

Apesar de ser um sonho, era apenas eu vivendo meu passado. Com o tempo eu me acostumei com as caças e aprendi que certos animais estavam ali para ser mortos e caçados por outros. O problema começou quando eu me tornei a caça.

Era uma noite de inverno, estávamos no Alasca o que fazia o frio ser ainda pior. Os uivos dos lobos ao longe era a trilha sonora do momento, eu tinha 10 anos, eu estava dormindo, mas o silêncio daqueles lobos me fizeram acordar, algo estava errado, mas eu fui o único a notar.

Meus ouvidos se aguçaram e podia ouvir passos abafados na neve, num movimento rápido apaguei a vela e tentei encostar o ouvido na parede de madeira, mas sem sucesso de ouvir algo mais claramente. Acordei meu irmão e minha mãe, estávamos numa área isolada, nenhum ser humana em sã consciência viria para aquele lugar do Alasca no inverno, morreria.

O silêncio reinou mais uma vez e isso me incomodava, os dois resolveram dormir novamente e eu fiquei de tocaia, o vento começou a bater mais fortes e podia ouvir algumas árvores estalarem com a força da ventania e foi quando olhei pra fora que vi um laser passar pela janela, rapidamente segui na direção do laser, mas estava escuro demais.

—Sniper ao Sul da casa. - Sussurrei. - Ele deve estar dando cobertura a mais alguém.

—Quanto tempo temos Mason? - Sussurrou minha mãe. - Um minuto?

— Trinta segundos no máximo.

—Pegue seu irmão e fuja!

Eu iria pensar em contestar, mas nós três nos encaramos, a discussão não levaria a lugar nenhum então apenas obedecemos. Peguei minha mochila e coloquei meu rifle Enfield L42 Britânico nas costas, foi quando ouvi o tiro de supressor, mesmo com isso consegui identificar o som da arma e o local.

—130º Graus ao Sul, dragunov SVD pelo estalo ele está a mais de um quilômetro da casa.

Minha mãe pegou seu próprio rifle barret que havia comprado num dos mercados, ela daria cobertura usando minhas informações enquanto corríamos em direção a floresta. Assim que ela começou a atirar eu e meu irmão corremos, eu mantia uma desert eagles na mão, era a arma favorita da minha mãe, matamos o segundo cara que rodeando a casa e corremos mata a dentro.

Foi ai que os tiros pararam, o último tiro foi dragunov SVD e naquele instante eu sabia que minha mãe estava morta, não tínhamos mais o que fazer, então apenas corremos.

Acordei depois de reviver todos aqueles momentos, ainda era de noite, estiquei a cabeça para olhar o chão, eu não havia caído do galho ainda. Olhei meu relógio, era exatamente uma hora da manhã. Não era muito comum eu acordar de madrugada, mas tinha motivo.

—Dois chainsers. - Prendi a fivela da mochila e tirei minha sniper do ombro, olhei novamente o relógio. - Não muito longe.

Resolvi perder alguns segundos olhando meus equipamentos, ainda tinha minha Desert Eagle no coldre, mas as munições estavam acabando, ainda tinha minha faca serrilhada e meu canivete suíço, pouca comida. Precisava reabastecer logo, fechei minha jaqueta e coloquei o capuz, escondendo a camiseta de caveira que chamava um pouco de atenção, usava calça e bota militar.

Desci dos galhos da árvore e passei a correr, depois de anos me acostumei com o peso e a corrida não ficava mais cansativo como antes. Afinal, assim era a vida, adaptar ou morrer. A evolução de Darwin, sobrevive os mais fortes e essa se tornou minha realidade desde meus poucos anos de vida, então eu aprendi a ser o mais forte e por um bom tempo eu fui.

Para pessoas como eu isso é essencial.

A corrida não foi muito longa, cheguei numa colina alta e pude ver uma garota fugindo, logo ela chegaria a estrada e então consegui enxergar mais dois corredores, provavelmente seus chainsers. Tirei meu rifle do ombro e me ajoelhei, abrindo a mira e calculando a distância do tiro, 1.8km até a estrada.

A garota conseguiu escapar e puxei a trava, eles nem saberiam de onde vieram o tiro, puxei o gatilho matando o primeiro. Novamente puxei a trava e acertei o segundo no pulmão, não queria que morresse tão cedo. Saltei na direção do sobrevivente e pisei com o pé na ferida dele para estancar e doer um pouco.

—Você… - Ele tossiu. - Mason… Puller.

—Qual o nome da garota que estava procurando? - Puxei minha Desert da cintura apontando pra ele. - Qual classe?

—Não ganhamos nomes, apenas números. - Ele riu. - 3562, 5 milhões.

Então sem dizer mais nada atirei no sujeito o matando de vez, arrastei seus corpos para fora da estrada, quebrei seus aparelhos e olhei as identidades deles. Peguei meu celular e liguei a conexão de bluetooth, roubando todos os dados deles, um pequeno truque que meu irmão ensinou.

O Chainser era de terceira Classe, experiente, mas não dos melhores. Deixei de lado os dados deles e voltei a olhar o meu celular, digitei o numero que ele forneceu 3562 e então tive acesso irrestrito a ficha de quem estavam caçando.

Nome: Emilly Scooper

Idade: 16 Anos

Nascimento: Desconhecido.

Especialidade: Rastreamento.

Altura: 1.67cm Peso: 57kg

Descrição: Cabelos castanhos e olhos azuis, localização atual Carolina do Sul no ano de 2010. Vive acompanhada de uma segunda jumper, Margo Scoot.

Classe: Jumper Nível B.

Recompensa: 5 Milhões viva ou morta.

Guardei aquelas informações, as duas garotas poderiam ser de grande ajuda de agora em diante. Enquanto olhava as informações, encontrei a ficha de alguém que me interessava muito mais e isso significava que ele estava sendo rastreado.

Status do alvo: Localizado e pronto para a captura.

Fechei os punhos e apertei um botão mandando o sinal torcendo para que chegasse aonde quer que ele estivesse no momento. Diante daquela revelação resolvi olhar minha própria ficha, o que não fazia há um bom tempo.

Nome: Mason Puller

Idade: 20 Anos

Nascimento: Ano de 1996.

Especialidade: Armas e Estratégia, grandes conhecimentos em tecnologia.

Altura: 1.78cm Peso: 72kg

Descrição: Cabelos e olhos pretos, localização desconhecida. Visto última vez em São Paulo, Brasil no ano de 2022.

Classe: Jumper Nível S.

Recompensa: 15 Milhões vivo ou morto.

O valor da minha cabeça havia aumentado, haviam descoberto meu ano de nascimento, o resto eram informações antigas, nada que tenha mudado. Um pequeno apito no meu ouvido e logo apertei o botão atendendo a chamada que estava recebendo. Era meu programa de computador dizendo que recebi mais um trabalho.

—Mande minha resposta Hades, estarei indo agora fazer o serviço.

As informações estão no seu aparelho senhor. E seu recado para ele foi enviado com sucesso. Devo fazer algo a mais?

—Sim, localize Margo Scoot e Emilly Scooper, qualquer problema quero ser avisado.

Como desejar.

Como meu irmão havia me ensinado, todo o sistema tem falha e todo dia o aparelho dos chainsers é atualizado com novas informações. Por exatos 5 segundos eles são incapazes de registrar os pulos dos jumpers, eu usei essa janela para abrir meu caminho pro meu próximo serviço.

Era um desses motivos que eu me tornava o jumper mais difícil de se capturar, eu era considerado uma lenda viva para se matar. Então nós somos tabelados no sistema de rastreamento dos nossos caçadores, somos do nível S, A, B, C e D.

Somos classificados de acordo com nossos habilidades, velocidade e capacidade de combate. Assim que somos avaliados, o grupo deles designa um agente que caiba perfeitamente na nossa caracteristica. Funciona melhor que site de relacionamento, vocês se tornam o par perfeito, em alguns casos jumpers e chainsers se envolvem amorosamente.

Isso é história para outra hora.

Eu tenho três regras básicas de sobrevivência:

1- Não confie em ninguém.

2- Desconfia de tudo.

3- Esteja pronto para matar.

Dentro dessas regras, eu tinha a minha suprema, nunca ignore seus instintos. Eles mantiveram animais de várias espécies vivos até hoje e tem me mantido vivo durante todos esses anos. Então sempre que sinto algum arrepio, nervosismo e até mesmo medo eu me preparo para matar ou fugir. E é assim que com o tempo você para de ser a caça e se torna o caçador da história, e era isso que eu pretendia fazer mais uma vez, só que da forma certa.

Havia encontrado meu alvo de serviço, era hora de ser o caçador.