Olho para minhas mãos agora vermelhas. O sangue pinga delas, e eu nem me preocupo em limpar agora. O chão branco aos poucos vai se transformando em um vermelho vinho tão intenso que pode ser confundido com preto. Achei que iria me sentir assustada.

Mas não estou.

Um sorriso se forma em meus lábios, enquanto vejo Lúcia ali no chão. Seus olhos azuis estão perdendo o brilho cada vez mais, e sua pele morena perde a cor rapidamente. Um corte profundo se estende de seu peito até seu quadril. A faca está na minha mão, e nela existe um misto de DNA's. O sangue de Lúcia marca a faca, e minhas digitais também.

Ela procura os meus olhos, em meio a escuridão do quarto. Abre a boca como se o processo a consumisse por inteiro e sussurra com a voz alta o bastante para que eu possa ouvir. Com a boca seca e tremendo, ela fala as palavras devagar.

– Eu confiava em você. Por quê fez isso ?

Com uma naturalidade impressionante até para mim, me sento ao seu lado e cruzo as pernas, ainda sorrindo.

– Você sabia coisas que ninguém podia saber. Agora sabe ainda mais. Foi necessário. Desculpe.

Seus olhos tremem e ela pisca, os olhos demorando mais que o necessário para abrir.

– Eu nunca iria contar...

– Bom, vou tentar fazer uma comparação. Existe aquele livro que você pensa que não vai falar dele para ninguém, pois você tem ciúmes dele. Você acaba contando para alguém próximo que acaba dividindo agora essa história emocionante com outra pessoa. A outra pessoa se pega falando do mesmo livro para outra, que fala para outra... Enfim. Segredos são assim, entende ? Eu cometi o erro de falar do meu livro para você. Ninguém deveria saber dele, ele era só meu.

Vi a luz dos olhos dela se apagando totalmente, seu calor se esvaindo, e todo o seu corpo perdendo a cor. Pego a faca que está ao seu lado e fecho seus olhos, deixando-os marcados do liquido escuro e espesso que estava presente em todo o seu corpo. E o chão está tão sujo que é como se seu corpo houvesse sido drenado. Vou até o banheiro da casa de Lúcia, que conheço como a minha, esbarrando minha mão cheia de sangue ocasionalmente na parede, que acaba suja. Ligo a torneira e lavo minhas mãos e a faca cuidadosamente, deixando a faca ali na pia com a água ainda caindo em cima dela. Meus tênis fazem barulho no chão, e é como um eco na casa agora silenciosa. E, ao chegar na porta da casa, eu a limpo também, em questão da eliminação das impressões digitais. E com um sorriso grande em meu rosto, finjo que nada aconteceu ali, e que sou uma simples garota normal que não tem nenhum segredo que alguém não conheça, em uma cidade pequena como aquela.

Mas eu tenho muitos.

Que não podem ser descobertos.

E acabei de adicionar um na lista.