Os Cinco Filhos da Aflição : Nerlinir nas 8 Terras escrita por Raffs


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

8 dias depois...Voltei! :D Espero que estejam gostando!



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Acordei preso ao mastro de um enorme navio.

As velas se estendiam, imponentes, negras e com um brasão vermelho de três espadas fincadas em um crânio humano.

Os detalhes confirmavam: eu estava num navio dos Espadas Vermelhas, bando pirata que infernizava o Mar de Sangue constantemente. Embora muitos homens fizessem parte do bando, apenas 4 estavam no convés, próximos a mim e a outros 7 prisioneiros.Ao meu lado estavam Lonpak e o detestável Hvar. Nem sinal de Mahrmed ou Gustaf.

Um dos nossos estava com os olhos cobertos, e um dos piratas o segurava.

–Quanto tempo...

–Não sei. - Hvar me interrompeu bruscamente - Como também não sei a resposta de nenhuma das próximas perguntas que pretende fazer. Não gaste o pouco líquido que tem na boca debaixo desse sol forte.Fique calado.

E foi o que eu fiz.

–Diplomacia. - Lonpak falou, alguns minutos depois, enquanto olhava fixamente para o chão de madeira.

–Como?- Perguntei.

–Foi o que ouvi Kalysa dizer. Sabe, antes de me desacordarem.

–Está tentando procurar o sentido nisso?

–Talvez seja a resposta que procurávamos. Para aquela pergunta.

Eu captara a mensagem.

–Existe algum tipo de lei de respeito mútuo entre os Ursos e os Espadas? Talvez se fizermos um deles quebrar a regra, possamos escapar escondidos. – Lonpak tinha um bom raciocínio, mas restava a dúvida : como fazer isso?

Um dos corsários, o maior, que possuía o chapéu de mau gosto, apontou um dedo no que parecia a nossa direção. Mas apenas parecia, pois o homem que pude reconhecer como Gateston, o Covarde, trouxe alguém que estava alguns metros atrás de nós.

A garota esperneou, mas ainda assim foi arrastada para junto do capitão. Suas roupas, antes bem arrumadas, agora pareciam meio que esfarrapadas, e ela não parecia dar a mínima para isso. O capitão(cujo nome me esforcei para lembrar) Arstan Garganta Vermelha, cuja cicatriz no pescoço explicava o nome, puxou Kalysa para junto de si e a levantou pelo queixo, aparentemente analisando-a. Falou algumas palavras que não consegui ouvir para o seu terceiro subordinado, que a levou para dentro dos aposentos no centro do navio. A expressão da arkhen explicava bem o que o capitão pretendia fazer a ela.

Logo após, Garganta Vermelha andou até nós, jogando Mljet de volta ao grupo de prisioneiros.

Sua voz era grave, e soava como o rugido do tigre de pedra que ressuscitamos no templo. Ele andava com uma calopsita roxa no ombro, e possuía uma barba mal-feita rente ao rosto e ao pescoço, cheio de pequenos cortes. Talvez tivesse feito aquela grotesca cicatriz enquanto se barbeava.Vestia um sobretudo vermelho-sangue, e carregava na mão esquerda um mosquete gargosi.

–Podem esperar – Embora não estivesse exatamente dando uma ordem, gritava como se todos ali fossem surdos – Em algumas horas decidiremos o que fazer com vocês. – Ele possuía um forte sotaque, não sei exatamente de onde.

Desceu para o cais, e junto dele foi Gateston, o maior lambe-bolas que já vi em todos estes anos. Deuses, o homem realmente merecia o nome Covarde.

–Acha que ele falou sério com o “horas”? Eu meio que estou torrando aqui.

–Provavelmente é o objetivo dele.

–Calem a boca. – Resmungou Hvar.

Novamente, foi o que fizemos.

Como dito, horas se passaram e ninguém apareceu. Havíamos permanecido em silêncio. O fato de quase não termos saliva na garganta e ainda estarmos com o oceano à nossa frente enquanto ficávamos embaixo de um sol de verão pesou bastante.

–Lonpak? – O chamei apenas para ter certeza de que o elfo estava vivo.

–Sim?

Já que ele respondera, resolvi pensar em algo. O que era difícil, com a cabeça literalmente frita.

–Eu vi sua galé partir. Em Maali. Por que quando embarquei num navio ancorado lhe encontrei?

Uma pergunta estúpida, mas não podíamos fazer nada. Olhei para Hvar, e para Mljet. Os dois deviam estar se esforçando para criar um plano de fuga. Utilizando a diplomacia, se é que isso existe entre os piratas.

–Problemas internos. Aquele mágico, Essen. Causou um pequeno estrago na galé com seus truques de fogo, e tivemos que voltar ao cais.- Tive a impressão de que pensamos na mesma coisa- Falando nisso, onde ele se meteu?

Como que num passe de mágica, um homem de cabelo longo e barba trançada multi-colorida, vestindo um sobretudo negro e ornando piercings e brincos enormes se revelou na nossa frente.

–Olá. Tenho a impressão de que ouvi meu nome.

–Essen!?Como...mas como...- Lonpak falou com espanto, o que deixou sua voz aguda.

–Já disse. Um mágico nunca revela seus segredos.- Ele se encurvou, como que agradecendo, e sorriu- Mais importante, acredito que já é a terceira ocasião em que falam meu nome em tom de dúvida. Por que tanto interesse na minha localização?

–Nos solte!- Hvar foi bem direto.

–Haha! Eu apreciaria ajudar, mas acredito que não posso fazer isso.

–E de onde tira essa crença?

–Bem, pesa o fato de que gosto de ser imparcial. Eu não interfiro na história, apenas aprecio o desenrolar das linhas do destino que os deuses nos proporcionam. – Foi bem poético, e devo admitir, bonito, mas aquele não era o tipo de situação em que eu queria ouvir algo belo. Eu queria algo útil, e palavras não eram de muita serventia.- Agora, se me dão licença, vou me esconder novamente.

–Espere, espere! – Exclamei antes que o ilusionista escapasse. Ele me observou.

–Prossiga, Ishtar.

Aquilo me assustou. Como ele conhecia minhas origens, eu não sei. Aquele homem me intriga até hoje.

Tentei continuar a falar, mas as palavras entalaram na minha garganta após o que ele dissera. Essen parecia impaciente. Felizmente, Mljet continuou no meu lugar.

–Certas vezes, o observador precisa interferir na história. Quando lê um poema épico, não pensa de vez em quando “Quem foi o bastardo que escreveu isto?Ele destruiu a história de forma horrível!”? Tenho certeza que sim.

–Continue. – Essen parecia interessado.

–E se você soubesse que algo assim iria acontecer? Não tentaria mudar o rumo da história?

–Para falar a verdade, eu pararia de ler, mas entendo seu raciocínio.

–Certo, certo. Que tal interferir nessa história um pouco? Pois tenho certeza que se continuarmos aqui, a história será bruscamente interrompida. Afinal, todos os protagonistas estarão mortos. – Mljet forçou um sorriso.

O mágico pensou consigo mesmo.

Demorou alguns minutos.

–Ah, pelo amor dos deuses, decida logo o que vai fazer!-Falou Hvar Neved.

Os outros que estavam junto a nós, como Brunne e Alyssandre, estavam ansiosos. Isto é, os que pareciam vivos.

–Está decidido.- Todos se viraram para Essen.

Talvez aquele momento tenha sido o mais decisivo de todos pelos quais passei durante minhas jornadas. Sabe- se lá o que teria acontecido caso houvesse ocorrido algo diferente.

–Vou soltar apenas um de vocês. A falsa sensação de liberdade é um dos sentimentos com o qual um protagonista tem mais dificuldade para lidar.

Pouco importava. Quem fosse solto, libertaria os outros de qualquer maneira.

–Eu escolho o Ishtar.

Pare de me chamar assim, foi o que pensei. Eu não queria revelar minha identidade para pessoas que viajariam pelo mundo e estavam envolvidas com sabe-se lá quem.

Esperei que ele viesse me desamarrar do mastro, mas o mágico apenas apontou para mim e de repente minhas mãos estavam livres. Ele definitivamente tinha que me ensinar alguns truques.

–Tem um detalhe. Esqueci de falar anteriormente.

–Pode falar. – Falei, roçando meus pulsos, que estavam marcados após tanto tempo amarrados.

–Não solte eles.- Disse, e sumiu num clarão.

Pensei um pouco sobre. Por que ele diria isso? Será que se eu soltasse-os, ele iria me lançar uma maldição ou algo do tipo?

Não havia mais como saber.

–Não o ouça. Tudo que ele faz são truques baratos. – Falou Mljet.

–Ilusionistas!- Exclamou Hvar, e cuspiu.

–Que mal faria nos soltar? Aquele mágico tem algo faltando na cabeça.- Comentou Alyssandre.

–Eu não sei...o que ele fez na galé...o homem parece saber o que faz. E tenho certeza que não são coisas boas.- Brunne parecia assustado.

–Talvez devamos mesmo ouvi-lo.- Lonpak assentiu.

–Do que está falando?Acha que ele faria algo contra nós?Pelo que eu ouvi, ele não interfere nas decisões das pessoas, lembra?

–Adivinha só, isso é exatamente o que estão fazendo!- Lonpak falou sem meias-palavras.- Devemos deixar o único que pode realmente fazer alguma coisa decidir.

Os prisioneiros se entreolharam, e assentiram com a cabeça, embora alguns ainda olhassem com suplício para que eu os libertasse.

–Eu vou cumprir o plano da diplomacia. Então venho libertá-los.

–Do que está falando? Vai fazer isso sozinho?

–Não parece uma ideia muito sensata.- Disse Alyssandre para mim.

–Mljet, Lonpak. O que acham? –Entre os presentes, confiava mais naqueles dois.

–Eu acho que devia livrar pelo menos um de nós para ir junto a você. Essen comentou que não deveria nos soltar, mas parecia se referir a todos nós de uma vez.

–Bem pensado. Estou com Mljet. -Falou Lonpak.

Era uma boa ideia. Mas quem eu libertaria?

Se Lonpak fosse comigo, não haveria nenhum líder nato junto aos outros, o que os faria muito provavelmente fazer alguma besteira. Mas se Mljet fosse, não haveria ninguém para ajudar caso houvesse algum acidente ou caso os piratas chegassem.

–Vou levar Hvar. – A decisão surpreendeu até a mim mesmo. E também ao velho Neved.

–Pelo menos tem a humildade de levar alguém experiente consigo.- O velho não fazia a menor ideia de que eu estava o levando por que sabia que seria um fardo para o resto do grupo.

Desamarrei-o, desejei boa sorte aos outros e desci até o cais.

–Esse lugar pode lhe impressionar, mas já estive em sarjetas piores que isso. – Hvar se referia ao amplo e sujo espaço onde se encontravam vários piratas de várias gangues carregando caixas até seus respectivos navios, ou desembarcando após assaltos bem-sucedidos. A maioria deles estava ocupada demais para nos notar.

–Temos que encontrar o navio dos Ursos do Mar.

–Pretende contar alguma lorota a eles, não é?-Hvar sorriu discretamente- Se é para causar brigas diplomáticas deixe comigo. Sou um especialista nisso há anos! Diferentemente de alguns calouros...- Olhou com desprezo para o convés do navio dos Espadas Vermelhas.

Entendi do que ele estava falando. O ancião traíra minha família anos antes, e foi um dos fomentadores da rivalidade entre meu reino e Westka. Graças a ele e um punhado de outros homens que hoje estão ou mortos ou podres de ricos, a Tempestade aconteceu.

Tentei não me concentrar muito nisso, afinal matar um idoso tagarela poderia chamar a atenção. Pensei no que Gustaf me dissera anteriormente para me acalmar.

Seguimos andando, até chegarmos numa área que parecia bem diferente. As embarcações, os homens, tudo era diferente por ali. Tive certeza: havíamos chegado na zona de influência dos Ursos do Mar. Esse bando era diferente por um motivo simples : enquanto os Espadas Vermelhas e suas gangues subordinadas eram provenientes de Arkhang, os Ursos do Mar vinham do norte de Gargos ou das Ilhas do Norte. O contraste de culturas era visível na área de transição das duas zonas do cais.

Hvar me cutucou, se esticando para chegar no meu ombro.

–O que foi...- Meu queixo caiu antes que eu pudesse terminar a frase.

Cerca de 700m atrás de nós, o que andamos anteriormente(sabe-se lá de onde tirei tanta energia após horas torrando sem beber líquidos), o grande navio dos Espadas Vermelhas inflamava em labaredas enormes, e homens(e algumas mulheres) corriam para todos os lados, uns fugindo, outros indo ao centro da confusão.

Me concentrei em dois pontos distantes, porém mais próximos do que o navio em chamas.

Um homem, alto, de cabelos púrpura, com um manto sacerdotal.

E outro com cabelos profundamente negros, um sorriso sádico no rosto e uma espada bruxuleante na mão.


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Notas finais do capítulo

Qualquer crítica construtiva é aceita(claro que eu não gosto de ser criticado, ninguém gosta, mas se for pra ajudar, vale e muito), e comentários como "Amei, continua", por favor, não XD



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