Os Cinco Filhos da Aflição : Nerlinir nas 8 Terras escrita por Raffs


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

É...demorou, tipo pra caramba, mas chegou.
Capítulo 13, um pouco mais curto, mas foi porque ele serviu para apresentar alguns personagens e mostrar um pouco da personalidade de Vahlam.
Espero que gostem :)



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– Pelo amor de Faeris, conte logo qual o seu plano!

– Não acho que seja permitido contar esse tipo de coisa a vocês – respondeu prontamente Heldad, o mais jovem dos Fernimo. Seu avô, Quaentin, um valoroso guerreiro(assim como ele o era) recusara-se a explicar-nos sobre o próximo passo da comitiva de Vahlam. – E Faeris não é um nome de muito valor por aqui.

– Como assim? Faeris é o deus mais próximo dos mortais, como ele pode não ter tanta importância? – Lonpak mostrou-se indignado, assustando um pouco Heldad, que já o vira se transformando num urso.

– Faeris foi quem amaldiçoou os Markreej. – disse subitamente Wrland, com sua característica voz.

– Amaldiçoou? Do que está falando?

– É uma longa história que culminou naqueles olhos bicolores de Sua Alteza – comentou Heldad.

– Então está explicado…– comentou Dyseus.

– Wrland, poderia nos levar a Sua Alteza? – era o momento certo de fazer aquele pedido. Gælius parecia ser o mais próximo do príncipe Markreej depois de Elrigh Taasun. – Temos uma certa pergunta a fazer.

– Tenho certeza que qualquer dúvida que queiram tirar com Sua Alteza podem tirar comigo.

Era preciso insistir.

– Então você pode nos libertar nesse exato momento?

A imponência de Wrland falhou por alguns segundos, mas logo ele voltou à sua característica expressão.

– Se eu conseguir a aprovação de Sua Alteza Vahlam… – estava claro que ele não tinha certeza do que dizia.

– Apenas nos leve até ele. A não ser, é claro, que ele esteja ocupado demais atirando dardos num alvo.

O soldado demonstrou uma certa desaprovação pela forma coloquial com que me referi a seu Senhor.

O lugar onde estávamos era no extremo oeste do acampamento, e algumas mulheres e crianças cuidavam dos ferimentos de homens deitados numa maca. Uma tenda maior que as outras se diferenciava por ser branca, e dentro dela estavam os médicos-chefes da comitiva.

Mesmo com a tensão do local, alguns soldados sequer se preocupavam com a possibilidade de pegarem doenças, ou até mesmo transmiti-las aos enfermos, e continuavam a beber e gargalhar no local, sentados em cima de caixas lotadas com remédios, poções e equipamentos de medicina de certa forma rudimentares.

Andamos até a área norte, perto da grande tenda com o estandarte erguido. Conversando com uma mulher(que surpreendentemente tinha a pele castanha, e não acobreada), estava Vahlam, para variar com seu primo Elrigh ao lado.

–Senhor, estes homens insistem em falar com Vossa Alteza. Tentei avisá-los, mas eles querem a permissão para se evadirem da comitiva.

Vahlam olhou para nós, talvez nos analisando, depois olhou novamente para a mulher.

– Jeann, falo depois sobre isso. – disse, fazendo um sinal para que ela se afastasse.

– Entendido, meu Senhor. – ela se encurvou em reverência e foi para junto de alguns médicos que seguiam em direção à tenda branca, dando ordens para eles.

– Por que não admite logo que é péssimo na arte do flerte? – perguntou Taasun,com um risinho, antes que Vahlam falasse qualquer coisa.

O príncipe sextante deu uma cotovelada no estômago do primo.

– Fale assim outra vez e eu conto a Nuala sobre seus romances excêntricos. Você sabe muito bem que tenho uma promessa a cumprir com Maryanne.

– A Zeter? Achei que ela fosse apenas uma… – Vahlam interrompeu a frase com seu punho em direção ao estômago de Elrigh.

– Termine a frase e eu juro que me aposso de Nuala.

Elrigh não pareceu ofendido; devia estar acostumado às ameaças pesadas do parente real. Mas, de fato, se calou.

– Desculpem mais uma vez pelo meu primo. Ele tem um sério problema que envolve não saber medir as palavras. Quais eram seus interesses?

Fiquei boquiaberto com a pequena cena, então Lonpak falou em meu lugar.

– Creio que chegou nossa hora de voltar à viagem. Agradecemos a hospitalidade, mas não queremos nos envolver em guerra.

Ele olhou com desdém.

– Era apenas isso? Nunca proibi nenhum visitante de ir embora. Vocês têm minha permissão.

– Mas, Alteza… e se eles forem espiões?

– E se eles não forem, Wrland? Deuses, a guerra realmente tira a fé das pessoas. Caso eles sejam espiões, de qualquer maneira não tiveram acesso a nenhuma informação. Apenas deixe eles partirem, se essa é a vontade dos mesmos.

– Não entendo como pode ter tanta confiança em homens que conheceu ontem!

O Markreej se irritou.

– Certo. Se desconfia tanto deles, faça uma escolta até a Fronteira de Vidro. Depois, volte para cá. Estaremos o esperando.

Wrland parecia querer discutir mais, mas algo me dizia que não era boa ideia contestar as decisões de um general de guerra no acampamento dele(ainda mais quando se é um dos subordinados).

– Entendido. Reunirei doze homens. Sabe onde está Kax?

Vahlam deu sinal negativo com a cabeça.

– Aquele homem está sempre onde menos se espera. Elrigh, ajude Wrland a procurar Auberon – o braço-direito do príncipe logo se juntou ao capitão da guarda, à procura de “Kax”.

– Mais alguma coisa que queiram saber?

Mljet e Lonpak deram de ombros, e andaram de volta à tenda branca, onde estava Hvar com os bêbados. Sobramos eu e Dyseus, pois Gustaf estava tratando seus ferimentos da batalha submarina.

– Para começar, quero que saiba que não é nosso objetivo espioná-los nem nada do gênero. – raciocinei por alguns segundos – Na verdade, não é meu objetivo, nem o do rusko. Não conheço as intenções reais de nenhum dos que estão comigo. Conheci eles numa balsa vindo em direção a essas terras, faz cerca de um mês.

Novamente, o seu olho direito cor de ouro brilhou misteriosamente.

– Acredito em vocês. Quero dizer, quanto a não quererem oferecer perigo a nenhum de nós. Mas se não é esse, qual o seu real objetivo, Ishtar?

Era estranho perceber que cada vez mais pessoas estavam sabendo da minha identidade.

– Um parente próximo está em perigo aqui nas Oito Terras. Não sei qual delas. – lembrei-me das palavras que Mahrmed dissera a Gustaf – Sabe de alguma masmorra próxima?

– Masmorras? Não temos muitas…normalmente quando uma edificação é abandonada por aqui ela é invadida por ladrões, e reconstruída. E acho que não dá pra chamar isso de masmorra.

Não era a pergunta certa.

– Sabe de algum boato sobre Atterax ou coisas do tipo?

– Atterax, o Reino, aspirante a Império? Ou Atterax, o homem?

– O homem.

– Não tenho certeza. Corre por aí a notícia de que um dos Antigos está vivo de alguma maneira e escondeu-se numa das ilhas...Talvez a quarta ou a oitava. Não achei que fosse essa sua meta. Deseja mesmo se arriscar tanto?

– Não tenho escolha. Já estou aqui, foi um caminho sem volta. Sabe de mais alguma coisa?

– Não.

Péssima notícia. Eu precisava de mais informações.

Até que lembrei. Vahlam já se afastava.

– Espere, uma última coisa.

– Pois diga logo – respondeu descontente – tenho tropas para comandar.

– Por acaso o nome... – me esforcei para recordar do tal nome – Logos…Drovar! Isso, Logos Drovar. Conhece esse nome?

Ele sorriu.

– Para sua sorte, conheço. Não apenas ele, como todos os seus irmãos. – ele desmanchou o sorriso – Para o seu azar, não posso levá-lo até ele. Não agora. Há um certo... empecilho.

Fiquei confuso. Não sabia se estava feliz ou desapontado.

– Que seria…? – Dyseus me ajudou, embora provavelmente nem fizesse ideia do que eu estava falando.

– Logos está preso em Meltumbr, a capital dos domínios do meu tio.

– Ótimo, então seguiremos para lá.

– Como eu disse, há um problema.

– Que tipo de problema?

– Meltumbr está cercada. Ninguém entra, ninguém sai de lá. A não ser os militares. Será a última cidade que atacarei.

– Está dizendo que só chegarei lá invadindo a cidade?

– Não exatamente. Estou dizendo que só vai entrar lá vivo caso se junte a meu exército.

– Têm certeza que pretendem ficar? – perguntou, esperançoso, Mljet. Ele estava decepcionado em ter que voltar a viajar apenas com Hvar. Velho insuportável. – Afinal, não são obrigados a se meterem em uma guerra que não tem nada a ver com vocês.

A oferta era tentadora, mas as circunstâncias não ajudavam. Segundo o que Vahlam me dissera, eu e Gustaf teríamos que segui-lo junto ao seu exército, tudo para encontrar Logos Drovar, um homem que eu sequer conhecia. Na verdade, eu nem fazia ideia do porquê de estar seguindo um conselho do mago Essen(conselho que eu recebera num sonho).

– Devemos ficar. Mas é claro que vamos tentar evitar qualquer conflito. – eu disse. Mljet dissera que devia partir pois iria procurar outras cidades, para investigar sobre os desaparecimentos de seus compatriotas de Westka naquelas terras – A propósito, por que insistem tanto em partir? Os soldados disseram que a grande cidade mais próxima está fechada para viajantes, em estado de sítio.

– Pegaremos um atalho. E se quer realmente saber, eu particularmente não me dou muito bem com os Markreej. Nem com o bastardo Taasun.

Aquilo era uma informação nova.

– Como assim? Já os conheceu antes? E como sabe que Elrigh é um bastardo?

Alguns homens, à distância, chamaram por Mljet.

– Ei, westesi! Venha logo, não tenho o dia todo! – exclamou um loiro, provavelmente de Gargos como eu e Mljet, que tinha um olhar ameaçador e várias facas e adagas acopladas a tiras de couro em sua perna.

Mljet olhou para trás.

– Mais alguns minutos! – em seguida, tornou a se virar para mim. De repente, começou a sussurrar, como que pretendendo falar um grande segredo – Há muitos anos, o pai do príncipe raposa veio visitar a família real de Westka, ou pelo menos uma delas. Eu, como filho de nobre, fui obrigado a acompanhar as entediantes cerimônias. Iniciei uma pequena confusão com Vahlam e seu irmão, Icvan, que culparam a mim pela briga. Meu pai me defendeu, e logo o antigo Senhor Markreej passou a odiar a minha família. Acontece que meu pai era um dos conselheiros do rei Solomon, e criou desconfiança sobre os Markreej. Anos mais tarde, ele descobriu que as raposas tinham criado um mercado de escravos às escondidas no nosso reino. Desde então, cortamos relações. – ele fez uma pequena pausa – E quanto à Elrigh, Taasun é um nome comum para bastardos de grandes Senhores nas Oito Terras. Significa “o que não é desejado”.

Pensar que o pai de Vahlam poderia ter feito algo daquela magnitude me fez temer se meu pai não poderia ter feito crueldades semelhantes em seu reinado.

Perda de tempo. O reinado Ishtar já é passado, e de qualquer forma, o título de monarca obriga-nos a fazer coisas do pior gênero. Não culpo o velho Markreej.

– Não comente isso por aqui, Nerlinir. Pode causar certa… discórdia. Esses homens parecem ser muito fiéis a Vahlam. – Mljet andou rapidamente em direção aos homens que os escoltariam ao que quer que fosse a Fronteira de Vidro – Boa sorte no que quer que esteja tentando encontrar por essas terras. E lembre-se: tente não confiar em ninguém.

Certo.

Observei os catorze(os dois westesi com os doze guardas) partirem na direção oposta ao do nascer do sol. Cada um tinha seu cavalo, embora os corcéis estivessem demasiadamente desnutridos, e não fossem o tipo certo de cavalo para levar mantimentos.

– Parece que ele foi um bom companheiro para você. Há quanto tempo se conheceram mesmo? – Vahlam apareceu subitamente, como que brotando do chão – Um mês?

– Se já sabia a resposta, por que perguntar? – respondi, ainda observando o grupo se distanciar do acampamento.

– Às vezes, é melhor ter certeza absoluta das coisas. A ignorância é uma bênção, mas a dúvida passa longe disso. Ela nos instiga a achar respostas que, muitas vezes, não estamos prontos para saber. – ele continuava com seus belíssimos, porém inúteis discursos de embromação. Era um Senhor de guerra ou um filósofo? – De qualquer forma, só queria fazer um comentário.

– Pois faça. Não o proibi de nada. – seria estúpido tentar impedi-lo de fazer qualquer coisa aqui.

– Agradeço pela permissão – retrucou, com uma pitada de sarcasmo – Enfim, um mês é realmente muito pouco para se fazer amigos de verdade, não acha?

– Algumas pessoas merecem mais confiança após minutos do que outras em décadas. – deuses, eu estava me tornando como ele. Não gosto de transformar minhas palavras em poesia. – Esse comentário teve algum objetivo?

– Na verdade, não. Desculpe, eu gosto de conversar. Talvez por isso Elrigh zombe tanto do meu jeito. Eu falo muito, e ele não suporta isso.

De repente, ouvimos gritos. Quando nos viramos, uma movimentação de pessoas tinha se iniciado no limite entre o acampamento e a floresta.

– Senhor, Yvisput está de volta! – gritou de longe um servo, provavelmente das Ilhas Mulyr.

– E o que ele disse, Tayder? Alguma notícia de Ysolves? – Vahlam já estava caminhando rapidamente até a grande tenda cinza, seu quartel-general.

– Sim, Senhor. Tem mais uma coisa... – Tayder parecia preocupado.

– Amaldiçoado seja Faeris, o que foi?

– Primrule está de volta à ativa. E está atrás de todos os Markreej.

Aquilo era um real problema. Por mais que eu não quisesse me envolver com eles, Primrule era um nome mais do que conhecido para mim.


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Notas finais do capítulo

Comentem dizendo o que acharam, qualquer crítica construtiva é bem vinda :v



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