Aprendendo a viver escrita por Senhorita Fernandes


Capítulo 4
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John acordou com batidas fortes na porta, ele levantou a cabeça e logo Joana entrou sorrindo.

— Bom dia! — Joana disse. Ela seguiu até as cortinas e abriu, fazendo John piscar por causa da forte luz que havia entrado. — Fiz o seu café, levante-se! Você tem quatro cirurgias hoje!

John fez um esforço e ergueu a cabeça. Joana estava ali parada, olhando para ele com um sorriso. Suas roupas estavam como de costume: jeans, blusa solta e tênis. John se permitiu sorri um pouquinho.

— Isso! Muito bem! Sorria! — Joana disse abrindo um sorriso maior.

— Que dia é hoje? — John perguntou com a voz arrastada.

— Sábado — Joana respondeu arrumando no guarda-roupa de John. — Amanhã nós vamos pra igreja, quero você pronto às sete. Escutou mocinho?

John ergueu a cabeça para ver se Joana estava brincando.

— Sabe o que penso sobre a igreja e principalmente de Deus! — John respondeu e voltou a olhar para o teto.

Joana suspirou. Desde criança a sua avó sempre a levava aos cultos de domingo, aos 19 anos Joana finalmente ergueu a mão e virou evangélica de vez, assim como o restante de toda a sua família. Ela nunca gostou de pessoas que não era crente, mas acabou virando a segunda mãe de um ateu. Joana não entendia o que estava fazendo ali, ele era ateu, Joana nunca iria entender como foi parar naquela casa.

Ela saiu e deixou John deitado na cama.

Assim que Joana saiu John levantou e foi para o banheiro. Tomou o seu banho relaxante de sempre, gastou o mesmo tanto de água de sempre, mesmo a Joana reclamando que ele não deveria gastar água, era sempre a mesma história da falta de água em alguns países e sempre ela colocava a África no meio. As vezes ele queria gritar bem alto: FODA-SE A ÁFRICA! Mas não podia, é claro! Não com a Joana pelo menos!

John terminou de tomar banho e foi para a cozinha. Encontrou a mesa lotada de vários tipos de comidas diferentes, aquilo era comida para mais de uma pessoa.

— Por que toda essa comida? — John perguntou, ele sentou na ponta da mesa. Joana logo apareceu trazendo mais comida.

— Eu sabia! — Joana disse. — Sua irmã veio passar alguns dias aqui.

John gelou. Sua irmã? Fazia quantos anos que os dois não se viam? Provavelmente três anos, da última vez que havia se visto John havia falado coisas terríveis a ela e bom... sua irmã era o tipo de pessoa que guarda mágoas. Será que estava ali para brigar com ele? Depois de três anos?

Não demorou muito e uma ruiva apareceu. Em seus braços havia uma garotinha ainda de pijama.

— Bom dia! — ela disse.

— Só? — John perguntou olhando para a irmã.

Sua irmã ergueu o olhar, colocou a garotinha ruiva ao seu lado e sentou.

— Deveria falar o que? — ela perguntou.

— Explicar porque apareceu aqui do nada, faz três anos que você não fala comigo, Donna. Por que de repente você resolveu aparecer e ainda mais com isso ai — John apontou para criança que passava, de um jeito muito nojento e desastrado a manteiga em seu pão.

— Isso se chama Susan e isso é a minha filha! — Donna meio que gritou a resposta ao irmão. Ela cuidadosamente pegou o pão da mão da filha e a limpou, deixou a garota limpa outra vez e terminou de fazer o que ela estava fazendo.

— Não briguem na frente da garota! — Joana falou com os dois. — Vai para igreja conosco? — ela perguntou a Donna.

— Claro! — Donna respondeu, ela olhou para John e sorriu. — Esse ateu ai vai ter que passar o dia em uma igreja! — Donna riu da careta que o irmão fez.

John engoliu sua parte do café da manha e saiu. Chegou exatamente na hora da sua primeira cirurgia, não fossem fazer a cirurgia sem ele, John apenas não gostava de se atrasar para as cirurgias.

Ele passou o dia completamente sozinho, ninguém falou nenhuma palavra com ele. Bom, tinha as enfermeiras, mas tirando elas, que só falaram por causa da cirurgia ninguém disse nada, nem mesmo um “bom dia”.

Na hora do almoço, John dividiu a mesa com Amy, que ficou ali apenas calada comendo. Logo Johnny chegou, ele sentou entre os dois sem falar nada. Aquele foi o momento em que John se permitiu falar algo.

No final do almoço, quando Johnny finalmente se calou e começou a comer a sua comida. Amy olhou para John, seus olhos verdes focalizaram nos castanhos de John e ela disse:

— Amanhã é o meu aniversario! — Johnny ergueu o olhar, somente para ver o que ela iria falar. — E a minha mãe vai fazer uma pequena festinha, gostaria de saber se você gostaria de ir! — seu rosto ganhou um pequeno tom de vermelho, fazendo Johnny ri um pouco e voltar sua atenção para a comida.

— Não posso! — John respondeu. — Tenho que ir para a igreja! — ele deu de ombros. — Minha irmã e a Joana estão me obrigando a ir! — ele disse ao ver a cara de espanto do Johnny e da Amy, eles melhor que ninguém sabia que John era ateu.

No final do dia ele se encontrou com o seu psiquiatra. Mentiu para ele, disse que tomava todos os remédios, todos os dias no mesmo horário. Afirmou tanto que o Dr. Cox desistiu dos exames para ver se realmente ele estava tomando todos os remédios.

Ao chegar de noite em casa encontrou Susan deitada no sofá. Donna estava ao lado dela, ambas assistindo algo na TV.

John entrou no quarto, jogou seu celular em uma gaveta e deitou na cama. Nem sabia por que ainda tinha aquele celular, ninguém ligava para ele, nem mesmo Joana.

Ele levantou da cama logo em seguida, seguiu até o banheiro e tomou o seu relaxante banho quente. Depois de vesti a roupa, ele deitou na cama e pegou o livro que estava lendo há duas semanas.

No dia seguinte ele acordou com uma ruiva batendo furiosamente nele.

— Já são 6h25min! Acorde! — Donna gritou batendo outra vez em seus quadris.

John levantou em um pulo. Já não era tão acostumado a acorda daquele jeito carinhoso que sua irmã o acordava: aos tapas.

Ele tomou um banho. Vestiu um jeans, colocou um sapato social e a primeira camisa social que achou e vestiu.

Aos gritos ele conseguiu chegar à igreja. Estava lotada. Eles sentaram nos últimos bancos, John ligou o celular e foi ver os seus e-mails, somente para receber uma tapa da irmã, que pegou o seu celular. Logo depois Susan saiu correndo. John ficou olhando enquanto a garota corria para fora. Donna bateu no braço dele e disse:

— Vá trás dela!

— Por quê? — John perguntou rapidamente.

— Você é o ateu aqui! — Donna respondeu.

John levantou, passou pelo meio de várias pessoas. Logo avistou a sua sobrinha brincando em um cantinho. John sentou na calçada e ficou olhando a sobrinha brincar. Ficou imaginando se iria ser assim se tivesse tido filhos.

— Dr. Smith?

Ao escutar a voz, John se virou. Em pé atrás dele estava Rose Tyler, a loira da perna quebrada.

Rose estava usando uma saia branca, era acima do joelho. Usava uma blusa florida e o cabelo estava solto. Ela sorriu e John ficou de pé. A diferença de altura deles dois era enorme, Rose olhou para cima e perguntou:

— O que faz aqui? Ouvi no hospital que você é ateu.

Provavelmente John ficou vermelho. Ele, diferente de muitos por aí, não se orgulhava de ser ateu. Não era algo que fosse lhe reder prêmios, elogios e orgulho das outras pessoas.

— É — ele respondeu. — Sou ateu, infelizmente.

Rose o olhou. Ela abriu a boca para falar algo, fechando logo em seguida. Percebendo o quanto seria idiota aquilo que iria falar.

— Bom... — ela apertou as mãos uma nas outras — que tal ir me ajudar com o almoço? Já que eu aposto que você não está muito interessado na pregação.

John olhou para a sobrinha. Viu que tinha algumas mães olhando seus outros filhos, provavelmente não seria problema deixa-la ali. Afinal, era todas crianças, o que aconteceria demais? John seguiu Rose até um prédio por trás da igreja.

A mãe de Rose estava lá. Ela sorriu ao ver o médico!

John seguiu Rose até o outro lado da cozinha, lá ela entregou alguns ingredientes para John e uma faca. Ele riu de leve ao pegar a faca. Se seu pai estivesse ali, ele seria o primeiro a tirar aquela faca das mãos dele.

Foi bastante divertido cozinha com Rose ao seu lado, John tinha que admiti aquilo. No final, ele se encontrou com Donna, Susan e Joana.

— Onde estava? — Joana perguntou.

— Ajudando Rose na cozinha.

— Rose? — Donna perguntou.

— É — John respondeu. — Paciente minha...

Eles seguiram para o refeitório da igreja. Sentaram-se todos juntos, comendo a deliciosa comida. Depois do almoço, Joana ficou conversando com as suas amigas. Donna ficou observando Susan brincar, enquanto discretamente olhava os homens solteiros da sua mesma idade. E John ficou sozinho, como de costume.

— O que aconteceu com você? — a voz de Rose assustou John. Ele não a esperava ali.

— Como?

— Você é tão quieto, não gosta de ser ateu. Algo aconteceu com você, o que foi?

— Ah! — John olhou para Rose, logo depois para os seus pés. — Eu perdi alguém... sabe aquele tipo de pessoa que é incrivelmente importante pra você? Que você não sabe como vai viver em um mundo sem ela?

— Sei... — Rose respondeu.

— Eu tinha essa pessoa, mas ela morreu. Ela sempre me falava que quando ela morresse, eu deveria segui a minha vida. Porque ela não era a única no mundo que teria a capacidade de me fazer feliz, ela dizia que deveria existi outra pessoa. Alguém melhor. Que fosse capaz de me mostrar o quanto eu sou especial. Mas sinceramente? Eu nunca concordava com ela! Em nenhum momento.

Rose ficou ali encarando ele. John a encarou de volto e logo se perguntou por que havia contado aquilo para ela.

— Bom... — Rose apertou a mão dele. — Sabe onde me encontrar se precisar! — ela sorriu e saiu.

John entrou no carro e ficou esperando Joana e Donna para ir embora. Enquanto isso, ele ficou pensando em Rose. Ela com certeza era diferente. Isso era certeza! Quantos anos ela tinha? 20?

John olhou novamente para Rose. Ela estava sentada olhando para o nada. Com certeza ela também tinha um passado traumático. Mas diferente de John, ela não se deixava se consumi por isso. John diferente de Rose era fraco, ele tinha que admiti.

— Vamos? — Donna entrou no carro falando.

— Vamos! — John concordou.

Ele ligou o carro e foi embora da igreja.


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