Aprendendo a viver escrita por Senhorita Fernandes


Capítulo 3
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O restante do dia ocorreu “bem”. Ao total três cirurgias haviam sido marcadas para o dia seguinte. Ele ainda não havia tomado os seus remédios e sua dor de cabeça apenas piorava.

A hora do almoço finalmente chegou, John fez sua última anotação e seguiu para o refeitório. Ele pegou algumas coisas e um suco de alguma coisa que ele não sabia o que era, sentou na última mesa vazia que havia ali. Apesar da Amy tê-lo chamado para sentar com ele, mesmo odiando sentar sozinho, ele preferia a solidão, preferia a dor.

Ele deu a primeira colherada na comida em seu prato. Ficou mastigando enquanto sua mente viajava, John sempre fazia aquilo. Sua mente viajava para lugares onde sua vida ainda era perfeita, onde a dor não existia, onde tudo foi como ele sempre sonhou. John engoliu a comida, colocando novamente outra colherada na boca, novamente começou a mastigar e a pensar em sua antiga vida.

Sua viagem foi interrompida quando alguém pigarreou a sua frente. Ele ergueu o olhar, seus olhos se encontraram com o da loira que ele atropelou, John quase se engasgou.

E lá estava ela. Sentada em uma cadeira de rodas, o gesso deixou quase toda a sua perna imobilizada. Ela ainda usava a regata branca, que com ela sentada deixava mais desenhado seus seios, lugar que John não olhou por muito tempo. Ele ergueu mais o olhar, encontrou o rosto corado da garota e sua mãe ao lado.

— Podemos sentar aqui? — Jackie disse. — Não tem outros lugares!

John engoliu o que estava mastigando, tomou um gole do suco e respondeu:

— Claro!

Ele retirou a cadeira ao seu lado para que Rose pudesse ficar ali. A mesa não era muito grande, por isso seus pratos ficaram próximos um do outro, John não gostou daquela aproximação que Rose estava dele. Na maioria das vezes se alguém vinhesse sentar com ele... bom, isso não aconteceria, então John não saberia como ficaria com outra pessoa.

Jackie sentou de frente para os dois, observando ambos. Não gostava nem um pouco dos olhares que John lançava para a sua filha, mas por sua vez não cansava de olha-lo!

— Então? Há quanto tempo trabalha nesse hospital? — Jackie perguntou. John a olhou diretamente, seus olhos castanhos eram totalmente sem vida. Ele engoliu sua comida, limpou o cantinho da boca e respondeu rapidamente:

— Há alguns anos! — ele respondeu e voltou a olhar para o seu prato de comida. Rose ergueu o olhar para a sua mãe, fez alguns gestos com os olhos, deixando claro para ela calar a boca!

Jackie abaixou o rosto, concentrou-se totalmente em sua comida, tendo em vista que tanto Rose quanto o Dr. Smith não queria conversa com ela.

Jackie foi a primeira a terminar o seu almoço, levantou e saiu para falar com o Dr. People. Deixando na mesa, um homem depressivo e uma garota com um passado nem um pouco legal.

Rose ainda mastigando começou a observar John. Que olhava para a sua comida como se fosse a coisa mais complexa do mundo inteiro.

— Então... — Rose começou. John rapidamente ergueu o olhar em direção a loira, que sorriu ao receber atenção tão rapidamente. — Por que resolveu ser médico?

John voltou a olhar para a sua comida, de repente a comida ficou incrivelmente importante novamente. Ele detesta, na verdade odiava quando faziam perguntar daquele tipo para ele. Antes ele gostava, amava gritar para todo o mundo seu único motivo para virá médico, para ajudar as pessoas.

John olhou novamente para Rose. Seus olhos verdes continuavam fixos no seu rosto, esperando a resposta do mesmo jeito que uma criança, nem piscava com medo de perder algo.

— Queria ajudar as pessoas! — John respondeu. Rose sorriu, colocando a língua entre os dentes, coisa que John achou incrivelmente bonito... na verdade perfeito! — Resolvi ser cirurgião plástico depois de um acidente. A vizinha teve o seu rosto queimado, ela era a minha melhor amiga — John sorriu lembrando-se da loira que era a sua melhor amiga — dois anos depois e várias cirurgias, o Dr. Grace havia restaurado todo o seu rosto, ela ficou perfeita! Incrivelmente linda. Quem a olhava dizia que ela não tinha sofrido nenhum acidente... Ele é a minha maior inspiração!

— Legal! — Rose respondeu.

John a olhou, ele ergueu uma única sobrancelha e sorriu. Se ele estivesse conversando com algum médico ou coisa do tipo, esse médico provavelmente perguntaria como tudo aconteceu, quanto tempo durou todo o processo, mas Rose não. Ela apenas disse “legal”, como se aquilo fosse algo que acontecesse todos os dias.

John voltou a encarar o prato de comida, diferente das outras vezes, ele não ficou tão interessante, a coisa mais interessante naquele momento era o cheiro que vinha da loira a sua frente. Era algo parecido com o morango e vinha do cabelo dela.

John balançou a cabeça de leve. Por que ela não saia da cabeça dele? Aquela garota era estranha, bonita e sexy, mas era só isso, nada mais que isso. Ele havia se proibido pensar em outra pessoa, era algo que ele não queria. Se gostasse de outra ele iria estragar tudo, exatamente como havia feito com Maya, uma mulher ruiva na casa dos 30 anos que ele havia conhecido uns dois anos atrás. Sempre dava merda e a culpa sempre era dele. Quem iria aguentar um homem perto dos 40 com uma depressão tão grande que se fosse dividi para cada ser humano do planeta terra... bom, é melhor nem pensar!

Jackie apareceu chamando Rose. John apenas ergueu a mão e sorriu um pouquinho, Rose acenou abrindo um enorme sorriso, a língua entre os dentes novamente.

No final do dia, enquanto dirigia para sua enorme casa vazia, ele jogou os comprimidos pela janela, deixando eles por uma rua qualquer de Londres.

Ele parou o carro em frente a garagem da mansão que era a sua atual casa. Qual era a graça? A vida dele não passava de um simples teatro, onde ele fingia ser alguém que não era. John não gosta da sua vida, ela era uma porcaria, se morresse ali mesmo ninguém iria ligar, ninguém falaria nada. Bom, suas pacientes que o procuravam para ter corpos belos e sensuais chorariam, afinal ele era o “melhor”, tirando elas ninguém mais falaria nada. Seu pai nem falaria nada para a sua mãe, “é o melhor para ela” ele diria depois se perguntassem algo.

John fungou, não iria chorar por causa da inútil vida que tinha. Ele acelerou o carro, entrando na garagem. Desligou o carro e segui para o quarto. Joana já estava dormindo, viu um bilhete dizendo que o jantar estava na geladeira, ele não ligou. Apenas tirou o terno e caiu na cama, olhando para o teto e pensando em sua “linda” vida.


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