Mirror in the sky, what is love? escrita por iheartkatyp


Capítulo 13
Head over heels.




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Clara sentou-se com as pernas cruzadas no gramado em frente ao lago cristalino e observou a água enquanto caía da cachoeira e trilhava seu caminho até as partes calmas do riacho. O vento bateu em seu rosto, talvez não com tanta brutalidade como seus pensamentos batiam em sua mente. Ela não sabia o que iria fazer, não sabia como as coisas seriam dali pra frente. Se ela escolhesse Cadu, poderia estar perdendo uma história maravilhosa com Marina. Era tudo diferente com Marina, tudo que ela fazia a fazia sentir... Diferente. Maravilhosa.
Mas se ela escolhesse Marina, poderia arriscar estar desistindo do amor de sua vida, com quem esteve nos últimos sete anos. Aquela pessoa que a conhecia de dentro para fora, seu coração e sua alma, a pessoa que faria simplesmente qualquer coisa por ela. E, para completar todo o circo, ela não tinha certeza se Marina a queria.

–Você tá bem? -A voz doce de Marina invadiu os pensamentos de Clara e ela imediatamente olhou para a outra mulher, que segurava duas cervejas.

–Uhum, eu vou ficar bem. -Ela murmurou, voltando a prestar atenção no silêncio da água.

–Quer conversar sobre isso? -Ela perguntou, sentando-se ao lado de Clara. Marina abriu uma das cervejas e deu-a para Clara.

–Obrigada. -Ela agradeceu, pegando a cerveja. -Não, eu vou ficar legal. -Ela deu a Marina um sorriso sem graça. Marina sentiu o peito apertar quando viu como Clara estava agindo. Alguma coisa estava errada com ela. Alguma coisa estava deixando-a triste e para baixo.

Marina deixou um suspiro escapar e olhou para Clara novamente. -Ok, então... Claramente alguma coisa está errada com você e você não quer falar sobre. Eu entendo. Mas, então, acho que o mínimo que eu posso fazer é tentar fazer com que você se sinta melhor. -Ela contemplou. Clara lançou para Marina com um olhar confuso.

–Como? -Ela perguntou, intrigada.

Marina abaixou as sobrancelhas e olhou para Clara. -Há mais ou menos um ano atrás, eu fui para um bar gay com alguns dos meus empregados. Era nossa noite de folga e, até onde eu pude perceber, eu tinha dançado com algumas pessoas e estava realmente gostando da noite. -Ela soltou um gemido antes de continuar. -Eu estava no bar, sentada, enquanto conversava com alguma garota aleatória que eu planejava em levar para casa quando alguém me abraçou pelas costas. Ela era loira, linda, alta, e parecia ter um corpo dos deuses. -Ela suspirou.

–Meu deus, você não tá... -Marina a interrompeu.

–Sim, eu estou. Agora não me interrompa, antes que eu me arrependa de estar te contando isso. -Ela exalou, com graça, e viu os olhos de Clara focados nos dela, enquanto continuava. -Bom, ela me disse que passou a noite inteira me olhando, observando de perto... E, acredite em mim, quando uma garota tão linda como ela te diz que vêm te assistindo a noite inteira num bar, você seria idiota se não se aproveitasse disso. E foi isso que eu fiz. Mas mal eu sabia que, quando ela disse que havia me assistido a noite inteira, ela quis dizer exatamente isso. Me assistiu... A noite inteira.... De perto.... -Ela disse, quase sussurrando. -Enfim, eu perguntei qual era o nome dela, e ela disse que era Jessica, e depois as coisas meio que fugiram do controle... Quando eu pude perceber, nós estávamos de volta no meu apartamento e ela estava arrancando minhas roupas. Eu juro, quero dizer exatamente isso, ela estava arrancando elas. -Clara deu uma risadinha enquanto continuava a ouvir a história sobre Jessica. -Bom, eu acho que tudo começou quando nós estávamos, bom... Você sabe. No início tava tudo bem, ela até tava gemendo. Como uma pessoa normal. E... -Ela parou, voltando a imaginar a cena que só havia conseguido descrever para sua psicóloga até hoje.

–E...? -Perguntou Clara, inclinando a cabeça á medida que sua curiosidade lhe invadia.

–E... O melhor jeito de explicar seria... Meu Deus, eu não acredito que vou dizer isso. Esse foi realmente um dos únicos filmes que eu já vi, e é perfeito para o que eu tô tentando explicar. -Marina suspirou.

–Meu Deus, fala logo! -Os olhos de Clara imploravam por um desfecho na história que tirou Marina dos trilhos por algum tempo.

–Você já assistiu The House Bunny, com a Anna Faris? E sabe aquela coisa que ela faz para lembrar o nome das pessoas. Pois bem, quando o climax chegou, ela começou a... -Ela parou novamente.

–Ah, meu Deus, ela não... -Começou Clara, mas foi logo interrompida por Marina.

–Ah, sim, ela fez isso. Ela começou a gritar o meu nome daquele jeito... Era como transar com a Samara do Exorcísta. -Clara começou a agarrar-se a grama enquanto ria histericamente. -E fica pior! Eu fiquei com medo de dormir aquela noite, achei que ela fosse enfiar um pano com álcool na minha cara e me levar embora pra Turquia. Mas, no fimzinho da noite, eu me rendi a alguns minutos de sono e, quando eu acordei, ela estava lá... Me observando... Quase colada no meu rosto. Eu me desesperei, fiquei assustada. Inventei qualquer desculpa dizendo que precisava trabalhar e saí disparada daquele lugar. Depois inventei outra desculpa, uma qualquer, mas ela não aceitava nenhuma delas. Ela não foi embora.

–Uau. -Comentou Clara, com uma expressão ilegível no rosto. Era engraçado, e assustador.

–Eu tive que chamar a polícia, literalmente, pra tirar ela de lá. E mesmo assim ela passou cinco meses indo e voltando, me ameaçando, pedindo outras noites. Ela planejou um casamento! -Marina ficou repulsa ao pensar em Jessica. -Ela foi presa por alguns meses, mas pelo visto já está por aí novamente. E não me esqueceu. -Ela exalou um suspiro.

–Nossa. Eu realmente não sei o que dizer. É uma história engraçada e assustadora ao mesmo tempo. -Ela riu.

–Cala a boca, foi realmente muito assustador. -Marina brincou.

Ela terminou a cerveja que ainda estava em uma de suas mãos e, devagar, levantou-se de seu lugar na grama. -Bom, de qualquer jeito... Eu vou dizer oi pra família da Vanessa. Espero que você se sinta melhor. Eu te vejo lá dentro. -Ela disse, esperando uma resposta ao menos carinhosa vinda de Clara.

–Te vejo daqui a pouco. -Ela disse, viramdo-se novamente para a água cristalina. Marina deu dois passos, quando ouviu o tom de voz baixo de Clara chamar por seu nome. -Obrigada. -Ela sorriu, fazendo com que Marina abrisse o sorriso mais verdadeiro que ela havia dado naquele dia.

Quinze minutos haviam se passado e Clara ainda estava sentada na grama, com seus pensamentos focados em Marina e Cadu. Ela ainda não havia conseguido parar de pensar nas consequências de cada decisão. Escolher Cadu seria como um passaporte para nunca mais ver Marina. E Clara tinha certeza que o amava, mas também tinha certeza de que não conseguiria viver com isso.

Mesmo assim, escolher Marina seria como assumirmo o risco. Primeiramente, ela teria de desistir de tudo que havia construido com Cadu nos sete anos que eles haviam namorado. E, segundo, e se Marina não a quisesse? E se ela a assustasse tanto quanto Jessica? Marina odiava compromissos e havia deixado claro que não conseguia se ver ficando com apenas uma pessoa.

Foi então que Clara percebeu. Sua mente voltou a algo que Marina havia dito na noite em que elas saíram.
"Mas nem mesmo a Vanessa sabe. A única pessoa que sabe é a minha terapeuta porque eu tive que contar para que ela me ajudasse."
Marina sentia algo por ela.

Vanessa era sua melhor amiga, sua amiga há anos e nem mesmo ela tinha ideia do que havia acontecido entre Marina e Jessica. Marina contou a ela uma das piores histórias da sua vida só para vê-la sorrindo. Isso não é algo que ela faria por qualquer um.
Clara se levantou enquanto seu subconsciente acostumava-se com sua decisão repentina. Ela iria falar com Marina e iria contar como se sente. Sem mais.

Ela correu e passou pela porta da frente num pulo. Sua mente corria em voltas e via o sorriso de Marina a cada passo que Clara dava. Ela deu de cara com Vanessa e Felipe vendo tevê na sala de estar. Seus braços estavam entrelaçados, assim como seus dedos. Ela demorou dois minutos para conseguir dizer algo.

–Cadê a Marina? -Ela perguntou. O coração lhe engolindo por dentro.

–Lá em cima, eu acho. Por que? -Perguntou Vanessa, enquanto se virava para observar Clara. Ela parecia desesperada.

–Nada, só curiosidade. -Ela se virou novamente e encarou a tevê. Clara olhou para a escada e viu em cada degrau uma mudança em sua vida. Quem diria?! Ela encarou a escada por mais alguns segundos e subiu em apenas um pulo.

Ela parou em frente ao quarto das irmãs de Vanessa, seguindo a voz de Marina. Ela parou em frente á porta enquanto a entreabria. Ela observou o ambiente, e criou coragem de finalmente pôr tudo para fora.

–Meu Deus, Marina, você não sabe por quanto tempo eu esperei por isso. -Ela ouviu os gemidos vindos do outro lado da porta. O coração disparado pareceu parar. Congelar.

Ela deu dois passos para trás, esbarrando-se com o jarro de flores que estava bem ali, atrás dela. Seus olhos ameaçaram se fechar. Ela foi idiota.

Foi idiota por pensar que seria diferente.

...

Seis minutos antes.

Marina sentou-se na cama. Sua conversa com Clara não parava de se repetir em sua mente. Ela não acreditava que havia finalmente contado á alguém sobre Jessica. E ela não conseguia parar de pensar em quão estranho aquilo soaria para a outra mulher.
Ela nunca havia contado á ninguém mais de duas frases sobre si mesma, então por que sentia uma urgência em contar para Clara sobre tudo? Será que Marina gostava dela mais do que ela pensava originalmente?
Antes que ela pudesse pensar em qualquer outra coisa, uma batida leve na porta invadiu seus pensamentos.

–Entra. -Marina gritou. Uma morena baixinha entrou pela porta e sorriu para Marina.

–Oi, você! -Ela sorriu, fechando a porta novamente.

–Oi, Tracy. -Ela exalou. Esperava que a batida na porta viesse de outra pessoa.

–O que houve? Você não parece feliz em me ver. -Ela comentou, notando o brilho triste no olhar vago de Marina, que observava cada detalhe do quarto aconchegante.

–Não é isso. -Ela rebateu. -Só que eu tô com a cabeça cheia. Só isso.

Tracy chegou mais perto de Marina, que ainda estava sentada na cama.

–De qualquer maneira, o que eu posso fazer por você? -Ela perguntou enquanto Tracy chegava mais perto ainda.

–Bom, eu estava lá embaixo bebendo um pouco, quando eu lembrei de você. -Ela continuou, sentando-se ao lado de Marina.

–Pensando o quê sobre mim? -Marina perguntou, quase afastando-se do corpo da outra mulher. Seus cabelo e olhos eram tão diferentes dos de Vanessa que as duas mal pareciam irmãs.

–Pensando sobre aquela vez que nós quase namoramos... Mas não namoramos por causa da Vanessa. -Ela contemplou, percebendo a cara de Marina. Ela chegou mais perto ainda de Marina.

Marina engoliu seco o nó em sua garganta quando a mão de Tracy posou-se sobre um de seus joelhos, e subiu de lá até sua coxa.

–Bom, ela é minha melhor amiga e nós duas concordamos que era melhor assim, então, qual o problema? -Ela perguntou, tentando afastar-se do corpo da outra discretamente.

–Sim, mas nós duas crescemos. Não somos mais daquele jeito. Nós duas amadurecemos e eu pensei que pudéssemos rever nossas decisões. -Ela murmurou, chegando o rosto mais perto do rosto de Marina. Sua mão foi parar na intimidade de Marina, que se contraiu.

–Tracy, você tá bêbada. -Ela pegou a mão da morena e tirou-a de cima de si mesma. -Não tá? -Perguntou, sentindo o cheiro que invadia o ar saindo da boca da mulher.

–Eu bebi algumas doses, mas elas não significaram nada. -Ela comentou. Marina se levantou da cama, afastando-se de Tracy.

Sem pensar duas vezes, Tracy seguiu os passos de Marina. Ela a encurralou na maior parede do quarto e sussurrou.

–Qual é, Marina. Vamos nos divertir. Não tem nada de errado nisso, e a Vanessa não precisa saber.

Marina virou o rosto. Seu coração congelou.

–Eu não vou fazer isso, Tracy. Me desculpa. -Ela tentou se livrar dos braços da outra, mas ela era mais forte que Marina pensava. Seus braços prenderam as mãos de Marina na parede e ela gemeu em seu ouvido, mordendo o mesmo. Marina não sentiu nada. Nem mesmo um arrepio.

–Meu Deus, Marina, você não sabe por quanto tempo eu esperei por isso. -Ela gemeu, e Marina tentou afastá-la novamente, em vão. -Que foi, Marina? O que aconteceu com você? Você joga. É direta. Tá tão... Sem graça. Você não se importa com ninguém além de você, por que seria diferente agora? -Ela cuspiu as palavras.

–Porque eu estou apaixonada por alguém e não quero ninguém além dela. -Ela pronunciou, sentindo a sensação maravilhosa que havia sido colocar tudo aquilo para fora.

Ela estava completamente apaixonada por Clara.
E, por mais que ela tentasse evitar isso, ela sabia que não conseguiria por muito mais tempo.


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