Mirror in the sky, what is love? escrita por iheartkatyp


Capítulo 14
You've seen me crying.




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Marina Meirelles nunca acreditou no amor, ou em nada parecido, por sinal. Ela acreditava que nunca acharia alguém para amar porque isso era apenas uma fantasia criada por aqueles que sentem a necessidade ridícula de sentir algo. Algo diferente. Algo que os faça sentir especial. Ela passou a maior parte de sua vida sozinha e amargurada. Marina se recusava a acreditar em alguém, ou confiar em alguém depois de todas as pessoas que a magoaram no passado. É claro que ela já pode ter, acidentalmente, se apaixonado por alguém, mas, no fim de tudo, ela acabava no Google pesquisando "os sintomas de estar apaixonada", mas nenhuma daquelas frases clichês equivalia ao que Marina sentia ou tentava pôr para fora.
A coisa mais interessante sobre o amor é que você não pode definí-lo.
Você pode olhar no dicionário, procurar, e até pedir para que o jurado do Soletrando forme uma palavra com ele. Mas, no fim das contas, nada disso importa, pois cada um vivencia o amor de um jeito diferente. Mesmo que isso seja nunca querer deixar a pessoa com quem você divide sua vida ou rir demasiadamente das piadas de alguém. Não importa.
Se Clara contasse á alguém o por quê de ter se apaixonado por Marina... Espera... Nem ao menos ela sabia o por quê.
Para Marina, no entanto, era tudo isso e mais um pouco. Se ela percebeu que estava apaixonada de cara? É claro que não. Ela fez com que seus instintos acreditassem que ela estava confundindo as coisas. Mas o que havia feito ela perceber que estava apaixonada por Clara?
A mudança repentina no humor de Marina quando as duas estavam juntas, e urgência de Marina em tentar mudar seu jeito predador para que ela pudesse fazer Clara feliz... Ou pelo menos que pudesse, algum dia, ter a chance de ficar com ela.

...

Tracy se afastou do corpo de Marina devagar. Ela olhou nos olhos da morena, que se fechavam devagar enquanto sua mente reproduzi tudo o que ela acabara de dizer de novo, de novo e de novo.

Ela estava apaixonada por Clara Fernandes. Não havia mais como esconder ou tentar evitar. Tudo sobre Clara havia deixado Marina completamente e perdidamente louca por ela. Ela não precisava ou queria mais ninguém. Só... Ela.

–Marina... De-de-desculpa. Eu não tinha ideia. -Ela se desculpou.

–Tudo bem, eu... -Marina continuou, olhando para um lugar que não era totalmente definido. -Nem eu sabia até... Agora. -Um sorriso invadiu os lábios de Marina. -Eu amo a Clara. -Ela sussurrou. -Eu amo a Clara Fernandes. -Ela repetiu novamente. Seus olhos se estreitaram enquanto, pela primeira vez, enquanto seus lábios pronunciavam aquelas palavras novamente, ela sentia que aquilo era... Real.

–Você tá falando da irmã do Felipe? Amiga da Vanessa? -Ela perguntou, curiosamente.

–É, amiga da Vanessa... E minha amiga, também. -Ela contemplou, respirando fundo. -Desculpa, eu preciso ir. -Ela disse, correndo até a porta do quarto.

–Pra onde você vai? -Ela perguntou, observando o rosto da morena.

–Procurar a Clara. Dizer como eu me sinto. -Ela terminou. Marina passou os dedos entre os fios castanhos do cabelo alisado e percebeu uma coisa. -Espera, eu não posso. -Ela terminou. -Não posso.

–Por que não? -Tracy levantou uma sobrancelha curiosa, sem entender muito bem o que estava acontecendo.

–Porquê ela tem namorado! -Ela se exautou. -E ela não é gay. Ou pelo menos ela diz que não. Ela acha que traiu ele comigo uma vez.

–Ela acha? -A sobrancelha de Tracy ainda estava lá.

–Ela se ofereceu, eu levei ela pra casa... Mas não tive coragem. Ela estava bêbada. Muito bêbada. -Ela terminou.

–Então Marina Meirelles tem um coração, no fundo, no fundo. -Ela deu risada. Marina abriu um sorriso simples. -Vai atrás dela. -Ela disse. -Ela gosta de você, claro que gosta. Ou então, por que outro motivo ela conviveria bem com o fato de pensar que já dormiu com você? -Ela questionou Marina, que parou para pensar sobre o assunto.

–Você tem razão, eu... Eu preciso ir. -Ela disse, fechando a porta atrás de si. Tracy riu e jogou-se na cama. Era a primeira vez que via Marina agir daquele jeito.

Marina desceu as escadas em um só pulo, e encontrou Vanessa e Felipe vendo tevê. Os dois estavam sentados no sofá central da sala, com os olhos fixados no televisor que passava algum filme idiota.

–Cadê a Clara? -Perguntou Marina, encarando os dois. Vanessa e Felipe se entreolharam.

–Ela tava te procurando. Acho que ela foi pro chalé de vocês. -Disse Vanessa. Marina saiu correndo, e Felipe encarou Vanessa de uma maneira estranha.

–Essas duas tem agido tão estranho ultimamente. -Comentou Felipe, deixando a frase no ar.

–O amor pode fazer isso com você. -Comentou Vanessa, sem nem ao menos tomar alguns segundos para pensar no que responder. As palavras estreitaram os olhos de Felipe, que cerrou os dentes.

–O quê? Do que... Do que você tá falando? -Ele perguntou, estranhando o jeito com que Vanessa havia comentado sobre o relacionamento de Clara e Marina. -A Marina tá apaixonada pela Clara? -Ele perguntou.

–Dã... Não é óbvio? -Ela mexeu o rosto. -As duas têm sentimentos uma pela outra... Eu achei que você soubesse?!

–Ok... O que você andou fumando? Elas nem se gostam. -As sobrancelhas curiosas e furiosas de Felipe se levantaram, e ele ficou indomável. Clara não gostava de Marina. Não. Gostava.

–Sim, elas não se gostam... Elas se amam. -Vanessa revirou os olhos. -É impossível isso ser novidade pra você. Uma pessoa cega veria a atração que as duas sentem uma pela outra.

–Acho que eu conheço minha irmã e seria perfeitamente capaz de dizer se ela está ou não apaixonada por alguém.

–Bom... Seu sensor falhou desta vez, então. Elas se amam. -Vanessa revirou os olhos mais uma vez ao ver a cara indignada e enrugada de Felipe, que franzia a testa.

–Você esqueceu de quem estamos falando? Marina e Clara. Marina tem medo de compromisso e nunca gostou de ficar presa á alguém. Clara ama o Cadu desde que os dois se conheceram, há sete anos atrás. E ela não gosta de mulher. -Ele contemplou, fazendo com que Vanessa desse uma risada abafada.

–Meu amor, eu odeio discutir com você, e olhe que na maioria das vezes você tá sempre certo, mas dessa vez não. Clara gosta da Marina, você pode ver pelo jeito em que ela concordou em dançar com ela. Mas eu conheço minha melhor amiga e percebo o jeito com que ela olha pra Clara, o jeito que ela age quando tá com ela. E a Clara é igualzinha quando as duas estão juntas. -Ela argumentou, e Felipe fechou o rosto.

–Eu não quero mais pensar nisso. -Ele disse.

–Então não pense, mas está acontecendo e você não pode impedir. É uma decisão delas. Podemos voltar a ver o filme agora? -Ela questionou. Felipe se ajeitou no sofá e voltou a passar um dos braços por trás do ombro de Vanessa.

Quando ela deu play no filme, ele não pode evitar pensar: tinha sido assim tão idiota?

...

Marina andou até o chalé, e chegou a sentir uma ponta de desespero quando quase o virou do avesso, mas Clara não estava lá. Ela foi para o lado de fora novamente. Já era noite.
A lua estava minguante, e assim estavam os pensamentos de Clara. Uma pena. Ela odeia coisas que minguam. Seus olhos procuraram em volta de si mas ela não conseguia detectar nada além da imensa floresta que cercava os chalés de forma graciosa. Ela precisava dizer. Precisava confessar. Estava impaciente e não via a hora de encontrá-la. Precisava encontrá-la.
Foi então que ela avistou um pedaço dos cabelos correndo junto ao vento atrás de algumas árvores.

–Clara. -Ela gritou, virando-se para a outra mulher. -Eu tava procurando você. -Ela disse, correndo para alcançar os passos cumpridos de Clara.

–Pra quê? -Ela perguntou, virando-se de costas e voltando a andar para frente.

Marina franziu o rosto em sua própria confusão. Alguma coisa estava errada com Clara e ela já podia dizer aquilo. -Eu queria falar com você.

–Sobre o quê, Marina? -Ela continuou andando, enquanto Marina tentava se concentrar em algo para dizer. Clara se recusava a olhar para ela.

–Você pode esperar por mim pra gente poder conversar? -Marina estava cansada e sua respiração já havia começado a pesar sobre si.

–Porque eu esperaria por você? -Ela perguntou, parando em frente á Marina. Quando seus olhos se encontraram, o coração dela se desesperou. Clara sabia que estava errada, e que não tinha o direito de agir daquela forma. Marina não tinham nenhuma obrigação ou compromisso com ela. Mas ela sentia-se tão magoada e machucada que não conseguia pensar em agir de outra forma. Sua cabeça girou quando ela tentou voltar a andar. Mas Marina agarrou-lhe pelo braço, e as duas pararam bruscamente no meio do caminho.

–Clara. -Ela respirou. -O que tá acontecendo? O que você tem? -Ela perguntou, fazendo contato direto com os olhos castanhos á sua frente.

–Nem tudo gira em torno de você, Marina. -Ela respirou fundo antes de dizer mais alguma coisa. -Eu sei que você pensa que é uma deusa, Madre Teresa dos orgasmos, que todas as mulheres do mundo querem te ter pelo menos por alguns segundos, mas, desculpe te decepcionar, VOCÊ NÃO É. -Ela berrou, fazendo com que Marina hesitasse em dizer algo. Ela deu um passo para trás, assustada. Ela havia feito alguma coisa?
Esse foi o momento em que Clara parou para pensar e sentiu uma pontada no peito quando os olhos de Marina lacrimejaram. Ela estava chorando. Ou pelo menos, tentando chorar.

–Eu não ia... -Ela começou, mas um soluço lhe interrompeu e Marina não conseguia simplesmente cospir aquelas palavras.

–Você não ia o quê? -Ela perguntou. Por alguns segundos, sentiu uma esperança repentina no que Marina queria lhe dizer.

–Nada. -Ela disse, hesitando.

–Então o que você quer? -Perguntou Clara. Sua voz carregada de ódio fazia o sangue de Marina ferver.

–Só te dizer que... -Diga. Diga logo. Diga rápido. Se ela for embora sem dizer nada, pelo menos você terá tentado. Diga. -Eu queria pedir para que você mantesse tudo sobre a Jessica entre nós duas. -Ela respondeu, seca. Merda. Você é uma idiota.

Clara não pode evitar rir. -Pode deixar, Marina. Seu segredinho tá seguro comigo. -Ela murmurou, cerrando os dentes. É claro que era isso que ela queria. Manter entre as duas o segredo dela com uma mulher psicopata.

–Ok, então. Aproveita sua noite. Te vejo por aí. -Disse Clara, voltando a dar as costas para Marina. Ela pôde ouvir o soluço da outra mulher quando a distância entre elas começara a aumentar.

Não deixe-a ir. Pare-a. Conte a ela tudo que você sente. Não deixe-a pensar que você é uma idiota.

Marina entreabriu os lábios que permaneceram em total e absoluto silêncio. Ela tentou simplesmente pôr aquelas palavras para fora, mas as mesmas hesitaram em sair. Ela observou enquanto Clara sumia de seu campo de visão. Se contasse como se sentia, estaria ferrada.

Ou melhor, mais ferrada.


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