Annabella Starks

No dia seguinte eu e Leon estávamos esgotados demais para nos preocuparmos com o plano. Então nós fizemos o que toda pessoa em forma faz: comemos batatinhas enquanto jogávamos videogame.

Peter provavelmente iria me matar porque eu estava lambuzando seu controle com a mão engordurada de batatinhas. Por mais que eu limpasse na minha calça jeans toda vez que eu comia uma batata, o controle ainda ficava um pouco engordurado.

Eu e Leon decidimos jogar “Resident Evil”. Por favor, não me pergunte qual, afinal “Resident Evil” deve ter uns dez jogos só nos últimos cinco anos.

Você deve estar pensando: nossa, alguém como Annabella é capaz de ficar sem matar Leon e até jogar videogame com ele. Pois é, eu decidi fazer uma trégua, pois o coitado já sofreu muito e porque eu sou uma alma caridosa.

Não.

Na realidade, eu não tinha a menor ideia do porquê de eu estar ajudando ele. Eu sempre gostei de ajudar as pessoas, tudo bem, mas eu nunca pensei em sair tanto do meu próprio caminho para fazer algo tão absurdo por alguém.

Meus pensamentos foram dissipados por um Tommy com cara de quem queria dormir mais andando pela sala e sentando-se do lado de Leon.

— Bom dia — ele disse bocejando.

— E aí? — Leon disse sem tirar os olhos da tela.

— Boom dea — eu disse com a boca cheia de batatas.

Tomtom fez uma careta.

— São nove horas da manhã e você já está comendo batatinhas?

— É isso aí — foi tudo o que eu respondi.

— E os outros? — Leon pausou o jogo. Tommy bocejou novamente.

— Dylan e Jack estão dormindo e Rory saiu com Peter para fazer compras e Henry deve estar na piscina, já que eu ouvi um barulho de alguém nadando do meu quarto. Enfim, mudando de assunto, vocês vão na festa hoje?

— Que festa? — Leon perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Não — eu respondi limpando minhas mãos na minha calça jeans.

— Por quê? — Tommy fez um beicinho triste.

— Alguém pode me dizer que festa é essa? — Leon perguntou um pouco aborrecido por termos ignorado ele.

— Eu não sei também — eu respondi dando de ombros.

— Então por que você disse que não ia?

— Eu não gosto de festas.

Tommy balançou a cabeça, chateado que eu não ia pra uma festa com eles. Eu apenas revirei os olhos.

— Então — disse Leon por fim — você vai nos contar ou não que festa é essa?

Tommy fez um “ah” como se acabasse de lembrar que precisava falar qual festa era.

— Ethan decidiu montar uma festa só pros amigos, já que um músico, amigo do pai dele está vindo pra Londres.

— A gente conhece ele? — Leon perguntou.

— Não. O cara não faz parte do show business, ele simplesmente é um ótimo músico, sabe tocar muitos instrumentos.

Leon assentiu e voltou a jogar videogame.

— Qual é, Bellinha — Tommy fez cara de cachorro perdido — você precisa ir!

Eu suspirei. Eu sabia que ele não iria parar de me encher o saco caso eu não fosse.

— Não vai ser uma festa chata — Tommy começou a explicar — vai ter uma área de dança e tudo, mas vai ter a parte de dentro da casa onde vai ser servido o jantar e as pessoas vão conversar. Afinal, os amigos dos pais de Ethan vão estar lá.

Eu assenti relutante.

— Tudo bem, eu vou. Que horas vai ser?

— Começará às sete.

— Só tenho um problema.

— Qual?

— Eu não tenho vestido.

— Isso não é problema — disse uma voz atrás de mim.

Virei-me e me deparei com Amber.

Sério, essa mulher é mãe-de-ná. É só eu precisar de alguma coisa feminina que ela aparece como uma fada madrinha atrás de mim. Estranho...

— Então, você vai me ajudar? — eu perguntei depois de ficar um tempo só olhando ela.

Ela abriu um sorriso brincalhão.

— Eu vou fazer mais do que te ajudar, minha cara.

***

Quando uma pessoa for super legal com você, dizendo que vai pagar por tudo: seu vestido, almoço etc... NÃO ACEITE!

Essa pessoa quer arrancar todos os pêlos de seu corpo e quer que você use salto alto.

— EU NÃO QUERO, AMBER! — eu gritei novamente no salão. Eu sinceramente achava que Amber estava pagando demais toda aquela gente, porque ninguém estava reclamando do meu chilique.

A morena quase loira revirou os olhos.

— Calma, Bell, é só cera quente.

— Por que diabos vocês querem retirar todos meus pelinhos? Nunca estudaram biologia? São pra proteção da pele!

Amber bufou.

— É pra você ficar bonita.

— MAS EU TENHO PERNAS DE PALMITO!

— Pare de gritar.

— Okay... Mas eu ainda tenho pernas de palmito.

— Pare de ser chata, Annabella, suas pernas não são tão pálidas. Agora fique quieta que isso vai acabar logo.

E antes que eu pudesse responder, a depiladora puxou a cera da minha pele.

— FILHA DA PUTA!

***

Eu obriguei Amber a me pagar um sorvete depois da minha sessão de tortura. Meu cabelo estava macio e brilhoso, minhas pernas estavam lisinhas e minhas unhas estavam pintadas. Eu parecia uma boneca.

Uma boneca se lambuzando de sorvete de chocolate.

Depois disso, nós fomos comprar um vestido.

Passamos por uma, duas, três, quatro, CINCO drogas de lojas e Amber dizia que nenhum vestido era perfeito para mim.

Enquanto ela ia procurando o vestido, eu ia procurando um lugar pra eu sentar.

Não me leve a mal, era até legal ter esse “tempo de garotas”, mas uma hora cansa. E essa hora já tinha passado desde o momento em que a mulher me depenou.

Ou melhor, depilou.

Na sexta loja, Amber gritou “é esse!”. E senhoras e senhores, eu pude até ouvir os anjos cantar “Aleluia”. Eu estava quase levantando as mãos pro céu, quando Amber me tirou do meu torpor e me jogou no vestiário me mandando vestir o vestido.

Observei ele dentro da cabine. Ele era bonito. Não era muito curto, ele era só um pouco mais acima dos joelhos. ele era lilás, com um vestido muito confortável e com um tecido sofisticado, parecendo aqueles tecidos cristais. Ele era de alcinhas com um detalhe prata em cada uma, aberto nas costas e rodado.

Ele coube perfeitamente e depois de alguns minutos Amber trouxe os sapatos que combinavam. Eu não gostava de saltos, mas não tinha problemas em usar, então eu acabei aceitando a vontade da modelo.

Depois de comprarmos tudo fomos para casa. Já eram cinco e meia, hora de se arrumar.

***

O mais difícil foi tomar banho sem arruinar meu cabelo bonitinho. Parecia que a água era ácido pra mim da maneira que eu estava tomando.

Amber acabou se arrumando na casa de Peter mesmo, pois disse que estava um caos na casa dela, culpa de Ethan por querer montar uma festa na última hora.

Ela estava com um vestido “dourado desgastado” que totalmente combinava com seu cabelo e olhos. O vestido era de alça única, aquelas parecidas com biquíni, que amarra no pescoço. Era rodado e era justo na cintura, acentuando a boa forma da modelo.

Ela usava um par de brincos grandes de ouro e sua maquiagem era esfumaçada com uns toques de marrom e preto, destacando seus belos olhos verdes.

Depois de ter se arrumado, ela disse que ia me ajudar a me maquiar. Eu aceitei, afinal eu era muito preguiçosa e Amber parecia estar doida para me arrumar.

— Parece que você nunca fez isso, Amber, eu digo, se arrumar com uma amiga e tudo.

Ela deu um sorriso triste.

— Na verdade eu realmente nunca tinha feito isso. Geralmente as meninas me tabelavam como uma vadia só por eu ser modelo ou então queriam ser minhas amigas por causa de Ethan. De qualquer forma, eu geralmente tinha amizades masculinas como os meninos.

Eu assenti sem dizer nada. Eu quase sabia o que ela estava passando. Muitas garotas me enchiam o saco por causa de Peter, afinal o cara era muito popular na escola, mas quando elas perceberam que eu não era manipulável e tinha um temperamento difícil, elas desistiram.

Amber falou para eu deixar meu cabelo solto. Disse algo sobre eu ter um cabelo longo bonito que realçava meu rosto. Eu dei de ombros, nunca soube muito sobre moda mesmo.

A maquiagem que ela fez em mim era bem interessante. Meus olhos estavam contornados em baixo por lápis preto e em cima por uma camada de delineador bem fina. Sobre essa linha preta nas minhas pálpebras, havia uma outra linha de lápis de olho lilás.

Meus olhos estavam bonitos e chamativos, eles me davam um ar de amadurecimento o que era difícil com meus olhos azuis redondos e cara “baby” como dizia Henry.

De acessórios eu apenas coloquei meu brinco que era uma estrelinha de prata. E após isso, eu calcei meu salto lilás. Ele não tinha um salto tão fino então eu não tinha tanto perigo de cair, mesmo sabendo andar um pouquinho com eles.

Encontramos os meninos na sala e fomos para a festa. Eu quase estava dando gargalhadas da cara de Dylan enquanto ele tentava não olhar para Amber.

Separamo-nos e entramos em dois carros. Num deles, estava eu, Peter, Henry e Amber. No outro, estavam os cinco meninos.

A festa estava bombando do lado de fora. Os jovens e até alguns adultos estavam dançando e bebendo na área ao ar livre e dentro da casa – eu percebi pelas enormes portas de vidro – as pessoas conversavam e jantavam.

Eram dois pólos se encontrando. Algo bem diferente de ser visto.

Assim que entramos em casa, Peter e Henry foram beber. Jack foi puxado por uma garota assim como o Rory. Amber segurou meu braço e chamou Dylan e Leon, falando que queria que conhecêssemos o amigo de seu pai.

Fomos até uma área na sala de estar que tinha um bar. Havia dois homens conversando e eles estavam de costas.

— Pai! — a modelo exclamou enquanto corria para um dos homens e o abraçava. Quando ele se virou eu pude perceber a semelhança entre eles. Ele tinha os mesmos olhos verdes, apesar de seu cabelo ser de um castanho bem mais escuro.

— Ah! — ele disse — olá filha! Leon, Dylan, fico feliz em ter encontrado vocês.

Ele se cumprimentaram e eu, sem saber o que fazer, apenas fiquei lá.

— E você é...? — ele perguntou pra mim com um sorriso.

— Ãhm... Irmã de Peter. Annabella Starks.

— Ah você é a amiga de Amber — ele pareceu muito contente no fato de eu ser amiga da filha dele. Pelo seu olhar eu podia perceber que não era um segredo a situação de Amber em relação às outras garotas — eu sou Elbert. Pai de Ethan e Amber.

Depois de nós cinco termos trocado algumas palavras, Elbert mudou de assunto.

— Eu quero que vocês conheçam um grande amigo meu. Este é Jake DarkShadow.

O cara do seu lado virou-se e por um momento eu fiquei chocada em perceber que seus olhos eram violetas. Era muito raro ver alguém com olhos dessa cor. Ele tinha cabelo preto meio ondulado e um sorriso no rosto.

Ele começou a conversar conosco sobre instrumentos musicais e vários tipos de composições. O cara era um gênio, ele sabia muito sobre música, era compositor e sabia tocar muitos instrumentos, dentre eles violoncelo e guitarra.

Uma mulher apareceu ao seu lado da qual se apresentou como sua esposa, Angeles DarkShadow. Ela tinha cabelo preto e olhos azuis como eu, mas seu cabelo era ondulado, diferente do meu que era liso e seus olhos azuis eram um pouco mais claros. E ela era bem baixinha.

Enquanto conversávamos, uma criança começou a gritar animadamente e a rir enquanto corria. Ela se jogou nos braços de Angeles enquanto ria. Percebi que deveria ser a filha deles, tinha os mesmos cabelos pretos e seus olhos eram de um azul que parecia a mistura de um pouco dos violetas do pai e dos azuis da mãe.

— Charlotte. Você não vai dizer olá? — Jake perguntou para a garotinha.

Ela virou-se para a gente e, percebendo que estavas sendo observada por tantas pessoas, deu um curto aceno fofo com a mão e escondeu a cara no pescoço da mãe que apenas riu.

— Essa é nossa filha, Charlotte — Angeles disse com um sorriso.

— Ela tem quantos anos? — Amber perguntou enquanto olhava para a criança.

— Vai fazer cinco — respondeu Jake.

Depois de conversarmos mais um pouco, eu decidi procurar o besta do meu irmão para impedir que ele fizesse alguma coisa que ele se arrependesse já que provavelmente estava bêbado.

Percebi que Leon tinha me seguido.

— Procurando seu irmão?

Eu assenti sem dizer nada.

— Por aqui — ele me puxou para fora da casa.

— AANNNAAABEEELLA!

— Tarde demais. O bicho já está bêbado — eu murmurei.

Peter estava com as bochechas rosadas e ria sem motivo segurando um copo na mão. Eu balancei a cabeça e procurei Jack. Ele levou Peter pro carro e disse que iria levar ele pra casa já que ele queria sair o quanto antes daquela casa, algo sobre a menina que puxou ele estar perseguindo ele e sendo chata.

Eu concordei e voltei para falar avisar os meninos que estavam todos perto da piscina agora. Eu estava preocupada com Peter, afinal eu nunca realmente tive que cuidar dele e não sabia se Jack havia chegado em casa ou se tinha bebido também.

Henry percebendo que eu estava me moendo com as perguntas colocou um copo na minha mão.

— Que é isso?

— Bebida.

Revirei os olhos.

— Disso eu sei, Sherlock. Eu quero saber por que você está me dando isso?

— Para você parar de se preocupar.

Eu suspirei e decidi beber já que Leon e Amber não estavam bebendo dizendo que iam dirigir.

Sim, Amber iria dormir conosco.

Ou com um certo alguém. Se é que me entende.

Virei o copo de uma vez e deixei a música tomar conta de tudo.