Alameda dos Sonhos Quebrados escrita por KM Bárbara


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Olá 2015, olá leitores que estão me odiando, oláaa férias! E o que isso significa? Significa novos capítulos, continuação de ASQ e significa novas histórias também!
Então, é meio óbvio que eu devo pedir um milhão de desculpas pra vocês e que provavelmente todo mundo esqueceu dessa fic e tals, então, fica aqui minhas desculpas e mais um capítulo. A boa notícia é que o próximo já ta quase pronto e que em, sei lá, uma semana, ele deve estar por aí (apesar de tudo). So.. Obrigada por lerem e, já sabem, me perdoem.

PS: Alguém nos comentários citou que o primeiro capítulo estava meio confuso, então, só pra esclarecer, esse é o lance, kk. Os próximos, como eu já disse, são muito mais "claros".
Até lá embaixo.



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Alameda dos Sonhos Quebrados

(Boulevard Of Broken Dreams)

Capítulo I

A graça do Senhor Jesus seja com todos.”

– Apocalipse, 22:21.

9 anos antes.

Konoha – Interior do Japão.

Sexta, 7 de Julho.

Olhou para o chão aos seus pés, cinzento, chutando uma pedrinha solitária com seu tênis surrado. As pequenas mãos pálidas agarravam levemente as alças de sua mochila rosa aos ombros, a cabeça baixa. Continuava andando devagar, ainda carregando a pedra com seus pés, quando foi subitamente interrompida de seus devaneios. Havia esbarrado em alguém. Rapidamente elevou sua atenção à cabeça não muito mais alta que a sua, encontrando olhos negros tranquilos.

– Desculpa.

Apressou-se em falar, retrocedendo alguns passos, pronta para dar a volta pelo, reparou, belo garoto e prosseguir seu trajeto tranquilo. Mas foi parada quando a voz tranquila penetrou-lhe os ouvidos, os olhos escuros serenos. O sorriso, não muito sincero, parecia tornar-lhe mais charmoso.

– Tudo bem.

Ele estava sorrindo para ela? Ou dela? Não se permitiu pensar muito nisso. Chegar em casa tarde não era uma opção. Não hoje. Apertou as alças de sua mochila entre os dedos, suspirando e desviando os olhos do garoto bonito, caminhando a passos lentos, passando por ele. Sua voz a parou novamente.

– Espera. – Não sabia por que havia parado, mas sua voz transmitia uma sensação estranha em seu corpo de criança. Poderia perder um minuto para apreciar essa sensação mais um pouquinho, não é? – Você estuda naquele colégio perto do lago, certo?

Virou-se para ele, lentamente, piscando um pouco confusa. Como ele sabia disso? Logo, bateu-se internamente. A farda que está usando deve tê-lo dado alguma pista, talvez? Limitou-se a acenar positivamente e encará-lo, com uma expressão que mostrava sua, ainda mantida, confusão. Ele sorriu um pouco mais largo.

– É que eu sou novo por aqui... Me mudei ontem, sabe? Vou estudar lá também! E, bem... Eu não conheço ninguém... Então... Será que... Podemos ser, sabe... Amigos?

Sua voz estava insegura. E Sakura, surpresa. Completamente pasma. Amigos? Oh, ele não conhece a história ainda. Esse desejo não duraria muito, tinha certeza, e sentia muito por isso. De repente, a euforia de um dia, finalmente, feliz em casa havia passado. E ela sentia muito, mesmo.

– Err... Okay.

Restringiu-se a responder, com a voz baixa e incerta. Encarou-o por um momento, o admirando mais uma vez, antes de finalmente reparar no céu do fim da tarde tornando-se escuro. Olhou-o de novo, os finos fios negros que pareciam tão macios voando com o vento em direção a seu rosto. Apertou as alças da mochila mais uma vez, virando em silêncio e caminhando novamente. Seguindo seu caminho. Dessa vez, a voz dele não a parou.

– Sakura, esqueceu sua pedra.

Por cima do ombro, lhe lançou um olhar rápido, continuando a andar.

– Fique com ela pra você.

Respondeu simplesmente, caminhando mais rápido. Não gostaria de se atrasar pra chegar em casa. Ouviu uma breve risada à suas costas, mas continuou andando. Sem atrasos hoje.

– Nós vemos por aí!

Correu mais rápido, segurando a bolsa com mais força ao sentir as primeiras gotas de chuva cair em sua bochecha. De onde viera...? De repente, a água que caía fina e branca sobre seus cabelos róseos havia virado um conjunto de baldes cheios sobre sua cabeça. Quando finalmente deparou-se de frente ao pequeno portão branco que antecedia a porta que dava passagem à sua casa, seus cabelos já pingavam incessantes. Abriu-o com rapidez, andando o mais rápido possível para a área. Ao lado da porta de madeira envernizada, a rosada reparou, descansava tranquilamente um pequeno jarro com lindos copos-de-leite brancos, intocados. Como sempre. Mas hoje, em meio a elas já tão belas, havia uma flor a mais. Um único crisântemo branco. Uma flor diferente. Era o código delas, mãe e filha. Uma flor diferente significa surpresa. Significa entrar pela porta da cozinha.

Sem muito esperar correu para os fundos da casa, na chuva mesmo, os pés agora lamacentos. Um sorriso de dentes brancos adornava-lhe o rosto, brilhante. Girou a maçaneta sem hesitar, entrando com euforia, não se preocupando em limpar os pés sujos. A porta estava aberta. Estranhou, ao colocar-se para dentro e encontrar a chave, que elas mantinham escondida no batente inferior da porta, caída no chão. E estava tudo escuro. Seu sorriso vacilou, as sobrancelhas franzindo-se.

Entrou lentamente, observando a escuridão que possuía gradativamente a casa. A noite se aproximava com um vento frio em seus cabelos. Fechou a porta à suas costas, trancando-a por dentro e segurando a chave com sua mão direita cerrada. Caminhou mais, até aproximar-se da mesa, ao centro do cômodo. Seu sorriso voltou. Havia um bolo coberto de glacê branco e com alguns morangos em cima, um desenho que de onde estava não conseguia identificar, mas que ela já conhecia há muito tempo. Os refrigerantes em volta só alargaram mais o seu sorriso infantil. Então, saiu à procura de seus pais com uma felicidade contida. Seus olhos brilhavam como há muito. Passou pela sala rapidamente, sem reparar, tratando da mesma maneira os demais cômodos. Depois do terceiro quarto, da sala de jantar, do sótão e do banheiro inferior, além dos banheiros contidos em cada quarto, a rosada começou a se sentir ligeiramente decepcionada. Eles saíram? Mas então, uma luz no final do corredor, vindo do único quarto que não havia olhado, despertou suas esperanças. O quarto de seus pais. Deveria ter olhado primeiro nele, sua idiota. Largou sua bolsa ao chão desleixadamente, a chave ainda na mão, deixando também seus tênis no caminho, enquanto se apressava para encontra-los. O bolo mais delicioso do mundo estava à sua espera.

Adentrou no quarto fazendo barulho, enquanto ria deliciosamente e entoava um alegre “encontrei vocês!” repetitivo. Num primeiro momento não reparou no quarto escuro, a luz vindo do banheiro, e no choro baixo e denso que parecia prover do cômodo. Mas quando o fez, não conseguiu evitar que seus movimentos se contivessem. Soava desesperador. Desesperado. O sorriso sumiu de seus lábios.

Um segundo depois, já estava se movendo quase que involuntariamente. A pequena mão esquerda encostando-se levemente à madeira áspera, abrindo a porta antes entreaberta. O brilho nos olhos, já comprometidos, sumindo definitivamente. A boca rosada formando um “o” perfeito em questão de segundos. Em choque.

O banheiro que antes continha um tom porcelana que tanto gostava, de um tom tão puro, parecia ter sido profanado. A cor vermelha – escarlate, para ser mais precisa – parecia tomar mais da metade do banheiro. Violentamente profanado. Respirar havia se tornado difícil.

Seus olhos logo se focaram na banheira, a parte mais maculada do local. Difícil. O corpo pálido jazia inerte sobre as águas brandas da banheira, no canto do banheiro. Os cabelos loiros flutuavam sobre elas, tingidos pela mesma cor do líquido. A água quase espessa. O rosto, pouco identificável. Os olhos castanhos, um dos únicos fatores reconhecedores do corpo, que não pareciam mais tão dourados, encaravam-na estranhos. Sem brilho. A garganta dilacerada, com as cordas vocais expostas e gotas caindo lentamente sobre a ferida, fez o terror lhe apossar o corpo. Sentiu seus lábios tremerem, lágrimas brotando. Então, seu coração finalmente se partiu ao voltar seus olhos para o homem à sua frente. Kizashi. Rachando e rachando...

As esmeraldas de seu pai lhe encaravam, irreconhecíveis. Havia mais do que a falta de brilho nelas. Havia ódio, rancor. E não fazia a mínima ideia do por que. As lágrimas nos olhos dele pareciam às mesmas que desciam por seus olhos, os verdes tão parecidos, a dor tão similar. Então porque a repulsa emanava de sua aura? Porque tanto desprezo? Então, como um estalo com um click em sua mente, observou os dedos cálidos de seu pai apertando um dente-de-leão com brutalidade, a mão banhada de sangue e lágrimas. Sentado sobre o chão, o choro contido não parecia ter parado. Uma velha sensação lhe possuía o corpo gradativamente, em uma velocidade impressionante. Manteve o olhar perplexo sobre a flor familiar, mesmo quando seu choro passou de tristeza à dor intensa. A flor era diferente.

Era diferente.

De repente, não via mais os olhos de seu pai e o banheiro maculado, seus passos a guiando porta a fora, para a chuva que se intensificava. Parou de frente a porta principal, apoiando se nelas com as duas mãos, debruçando-se sobre o vaso. As lágrimas pingavam sobre as flores brancas já molhadas. A velha queimação no peito voltando com força, a pele formigando sobre brasas. Os pulmões pareciam encher-se de água. Era uma dor tão intensa e torturante, que a morte de sua mãe pareceu só tornar tudo mais forte. Mas não se encolheu, não tentou buscar alívio, porque no fundo – em seu subconsciente – algo sussurrava que tudo era necessário. Que a dor era merecida. E, no seu mais profundo ainda, pensou ouvir-se concordar.

Antes de fechar os olhos novamente, dessa vez de livre e espontânea vontade, sentindo a escuridão que viria a seguir, observou o crisântemo molhado com suas lágrimas ser banhado com uma gota vermelha que escorreu de seu rosto. Um sussurro sutil, e o breu total.

A próxima não será tão divertida.


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Notas finais do capítulo

Crisântemo branco – Flor que simboliza a verdade. Vista como um mediador entre o céu e a terra, a vida e a morte.
Copo-de-leite – Flor que simboliza a pureza, alegria, paz e o que é sagrado.
Dente-de-leão – Flor que simboliza a liberdade, otimismo, esperança e luz espiritual.
(¹ Flores têm vários significados, – e em cada site que você olhar, vai ter alguma coisa diferente – então eu “escolhi” o significado que, para mim, condizia mais com o momento).
(² Eu sei que é “mudei-me” o correto. PORÉM, “eles” são crianças, e eu achei meio incoerente colocar um garoto falando dessa maneira).

ENTÃO... Mesmo esquemas de reviews, certo? O de sempre. E obrigada por lerem.
Todo amor do mundo e um pouco mais pra vocês.