Alameda dos Sonhos Quebrados escrita por KM Bárbara


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olha quem está chegando com uma long fic! Então, essa aqui é história velha. E, além de velha, é uma que eu adoro escrever (um daqueles filhinhos que a gente paparica demais), mas que me custa pra caramba. É uma que segue também uma linha bem diferente da que eu estou escrevendo atualmente, até. Mas, como ela é muito amada, eu me permito viajar pelos anjos e demônios novamente (nem que seja só pra relembrar os velhos tempos). A quem chega (se chega), boa leitura. E todo aquele lance de amor que eu falo sempre, também.



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Alameda dos Sonhos Quebrados

(Boulevard Of Broken Dreams)

Prólogo

Se Deus é por nós, quem será contra nós?

– Romanos 8:31.

Sentia-se cansada, os olhos pesavam sobre as pálpebras. Piscou uma vez, retirando o suor dos cílios. Com a cabeça baixa, sua respiração descompassada e quente tocava-lhe os seios. Ergueu-a do próprio colo com dificuldade, respirando pela boca. Tudo estava escuro. Balançou a cabeça precariamente, seu corpo parecia gelatina. Tudo doía. Tentou mover-se, sem sucesso, sua cabeça pendendo para trás, sem sustento, encostando-se em uma parede suja e desconhecida às suas costas. Gotas gosmentas caíam-lhe à testa dela que, sem forças, somente fechou os olhos. Tentando não ficar cega. Pra que, mesmo?

Ouviu o barulho da porta de material santo abrir, com um som tão delicado que só foi percebido devido ao silêncio torturante que lhe era imposto, diante daquela cela asquerosa. O silêncio como esperado, se manteve constante. Sempre tão silenciosos, esses vermes! Nenhum tipo de luz entrou pela porta, observou, enquanto abria os olhos e piscava compulsivamente, evitando que as gotas sujas caíssem em seus olhos esmeraldas. Desencostou a cabeça da parede com um ofego pelo esforço, encarando o homem à sua frente. Seus cabelos vermelhos emolduravam um dos rostos mais bonitos que ela já tinha, alguma vez em sua confusa existência, ousado admirar. Ele era o pecado. Sorriu para ela, irônico, sem mostrar-lhes os dentes que, sabia, eram extremamente brancos, finalmente obtendo sua total atenção, como gostaria. Literalmente.

– Incrível como, até cobertos de sujeira e totalmente ferrados de feridas, vocês se mantém fudidamente bonitos!

Sua voz grossa e penetrante lhe preencheu os ouvidos, sentindo aquele breve tom de ameaça que sempre emanava de sua boca. Sua falsa euforia era quase palpável. Sentiu-se enjoar quando, em passos leves e quase imperceptíveis, aproximava-se dela aos poucos.

– Ah, a beleza dos anjos... – Um suspiro teatral saltou de seus lábios vívidos – Não concorda, Electus?

Ele parou em sua frente, encarando-a, falsamente à espera de uma resposta. Os olhos totalmente pretos, sem íris ou cor que os destacassem, fixavam-se sérios aos seus, verdes. As mãos pálidas ergueram-se e, lentamente, se dirigiam ao seu rosto sujo de sangue. A ânsia de vômito parecia aumentar a cada espaço conquistado. Sentiu seus braços doerem mais ao mínimo movimento. Estavam presos.

– Ah, mas eu não esperava nada menor da militis parens. – Os dedos brancos roçavam-lhe a face levemente, quase como um carinho, não fosse pelo sentimento de queimação que o simples tocar de dedos trazia-lhe à bochecha, deixando um rastro vermelho de fogo em sua pele – Não esperava menos.

Então, inesperadamente, seus lábios foram tomados em um beijo afoito, forçando a aceitação entre seus dentes. Seu corpo ainda mole não pôde reagir e, quando a língua agressiva violou sua boca, todo o ar que havia guardado foi solto, dando-o uma indesejada brecha em suas barreiras. Lágrimas vieram aos seus olhos ao sentir a inesperada dor que se forçou em seu consciente. Queimando-a pouco a pouco, de dentro para fora. Sua pele formigava mais e mais a cada toque do homem à sua frente, tornando-se insuportável. Sua mente gritava, mas por seus lábios nada saía. As mãos másculas em volta de seu pescoço, agora lhe puxavam os cabelos aproximando-a de sua boca, enquanto lágrimas involuntárias saltavam por suas bochechas como cachoeira. E, mesmo que sua mente mandasse que se defendesse, seus braços, estirados retos ao lado de seu corpo mantendo-a em pé, não se moviam. A dor se espalhava, de cima pra baixo, tão rápido que mal conseguia contar. Como se o inferno queimasse por dentro.

Fechou os olhos, tentando controlar-se, derramando as lágrimas salgadas que irritavam seus olhos, enquanto sentia o corpo másculo que um dia havia tanto almejado colando-se ao seu de maneira desejosa. O enjoo parecia crescer na mesma proporção que a dor lhe dominava, a tontura a acomodando. Piscou algumas vezes, enquanto a sua cabeça parecia ficar cada vez mais branda, ainda que amparada pelas mãos ásperas segurando-a fortemente. Seus lábios vermelhos foram abandonados repentinamente e, ao olhá-lo, pôde ver o preto de seus olhos vacilarem em pequenos pontos brancos – voltando, talvez, a cor humana – e o sorriso sádico em seus lábios. Os lindos dentes brancos expostos, pequenas presas no canto dos lábios parecendo zombar dela. E, antes de picar mais uma vez e a já tão conhecida escuridão acolhê-la como uma velha amiga, pôde ouvi-lo dizer contra sua face. Seu hálito quente banhando a bochecha outrora rosada.

– É uma pena que esses lábios suculentos não vão sobreviver por tempo suficiente para ver o novo líder mundial acabar com toda essa porcaria imunda que os humanos chamam de planeta.

14 anos antes.

Konoha – Interior do Japão.

Sábado, 7 de Julho.

O barulho de gritos eufóricos e da música que tocava ao fundo da suposta alegria se infiltrava pela madeira envernizada do armário em baixo da pia, finalmente, alcançando os pequenos ouvidos da pequena de cabelos rosados. Escondia-se do mundo, evitando o alvoroço que se tornava aquela casa nos dias do seu aniversário. Mas, afinal, cinco anos não se faz todo dia. Ainda assim, a calmaria daquele armário com cheio de amaciante lhe parecia tão mais proveitoso que aquelas crianças catarrentas rindo de seu cabelo estranho. Pensando deste modo, manteve-se sentada na madeira quente embalando sua boneca – que, graças à sua mãe, também tinha os cabelos rosados – deitada em seu colo até que a porta escura fosse aberta delicadamente e a luz se influísse por seus olhos esverdeados. Encarou o sorriso singelo que a mulher de belos e longos cabelos loiros à sua frente lhe dedicava.

– O que faz aqui, meu amor?

A voz melodiosa, quase angelical, lhe banhou os ouvidos. Os olhos, em um tom castanho dourado que brilhavam como ouro, olhavam carinhosos para a criança enquanto a pegava no colo, tirando-a do armário, e se levantando do chão. As mãos macias a seguravam com firmeza e o sorriso se tornava divertido, encarando-a falsamente séria, em uma repreensão divertida. A menina se manteve em silêncio.

– Sakura, sabe que é falta de educação deixar seus convidados sozinhos. – Os olhos verdes encaravam sua boneca, alisando o vestido vermelho que ela usava, igual ao seu. – Eles gostam de você, meu amor. Estão aqui por sua causa. – elevou os olhos, encarando sua mãe – Quem não gostaria da garotinha mais bonita do mundo, an?

Vendo o sorriso branco mais lindo de sua mãe, sentiu-se satisfeita. Os olhos castanhos eram tão calorosos e aconchegantes que nem mesmo o pior ser não se sentiria amado diante deles.

– Que tal cantarmos os parabéns agora e comermos o seu bolo de morango? Hm?

A proposta era tentadora, admitia. Mas o que a convenceu realmente foi o alargar de seu sorriso – que não sabia como ela havia conseguido, pois, podia jurar, ela já ria abertamente antes – e o arquear de suas sobrancelhas loiras perfeitas, enquanto a balançava sobre seus braços, levando-a lentamente até a sala onde as luzes já se encontravam apagadas e, com as pessoas em volta, um grande bolo branco e rosa brilhava diante das cinco velas acesas postas em cima deste. Seu pai lhes aguardava em frente à mesa, radiante, ao lado de uma cadeira.

– Vamos cantar parabéns, flor?

Recebeu-lhe Kizashi, pegando-a do colo de sua mãe e a colocando de pé na cadeira, de frente ao bolo. Olhou admirada para as pessoas à sua volta, enquanto as palma e a música já tão conhecida entoava incessante. As palmas alegres eram contagiantes. Sorriu para o pai, encarando seus olhos verdes escuros parcialmente cobertos pelo cabelo de um castanho quase ruivo que lhe caía à testa, mostrando-lhe os dentes faltando. Fixou suas esmeraldas no bolo, com suas velas exuberantes, o rosa enchendo seus olhos enquanto admirava, encantada, as belas asas de anjo desenhadas com glacê acima de lindas letras que leu com dificuldade. “Cinco anos do anjo mais precioso”. Não pôde dizer que compreendeu, mas estava tão feliz, que isso não passou de um detalhe.

A cantoria parava lentamente, enquanto olhava para as pessoas ao seu redor e absorvia seus sorrisos cativados. Abaixou-se devagar, seguindo o ritmo da música, aproximando seu rosto corado das velas acesas, apoiando suas mãozinhas sobre a mesa rodeada de doces e sentindo as mãos de seus pais leves sobre seus ombros. Então, quando finalmente o silêncio se fez presente, dirigindo uma última olhada para os sorrisos espectadores, fechou os olhos e puxou todo o ar que conseguiu para seus pequenos pulmões. Mas não o soltou. Não conseguiu. Sentiu a mão de seu pai escorrer por suas costas até sumir.

Algo dentro de seu corpo começou a arder e, ao tentar livrar-se de todo aquele conteúdo em seus pulmões, sua pele pareceu queimar e a garganta abrasar. Abriu os lábios rosados involuntariamente, num ato impulsivo do corpo em busca de alívio, mas foi ineficaz. E, quando o tempo parecia ter parado, o silêncio que lhe dava essa falsa sensação se encerrou e gritos torturantes do que parecia ser uma dor tão insuportável substituíram as alegres palmas anteriores. Isso fez a dor que acomoda seu peito parecer mais agoniante. Queimando mais e mais, subindo por sua garganta e fazendo-a se arquear mais sobre a mesa, gritando também, descontrolada. Levou as mãos à garganta, em um segundo ato inconsciente, agarrando os cabelos rosados da nuca com força. Sentiu-se erguer.

Suas mãos foram afastadas de seus cabelos, pequenos fios rosados sendo levados com suas unhas, e sua cintura foi rodeada pelos já conhecidos braços aconchegantes de sua mãe. A face de mulher, rodeada por suas luminosas ondas douradas, parecia pálida e assustada. Sentiu algo escorregar por suas bochechas.

– Sakura...

Ouviu-a sussurrar enquanto dirigia seus olhos aos dela, levemente arregalados. A boca aberta, em busca de ar. Aqueles olhos pareciam transmitir mais do que surpresa... Compreensão. Finalmente, antes de a penumbra libertar-lhe daquela dor agonizante, pode se ver refletida nos brilhantes olhos de sua mãe, ao lado do fogo das velas que ainda crepitavam. Em sua face, gotas escarlates escorriam de seus olhos que, estranhamente, não continham mais íris. Completamente brancos.

Sentiu seu corpo mais mole, levando suas mãozinhas frias aos ombros da mãe. Antes de desfalecer inteiramente sobre os gritos ensurdecedores que lhe atingiam, distinguiu um único som que parecia cada vez mais nítido. Seus olhos piscavam, enquanto a cabeça balançava. Uma voz desconhecida soou em sua cabeça, como um soco em sua mente já danificada.

Guarde esse aviso, Electus.

Não entendeu nem por um mísero segundo o que aquilo quis dizer. Mesmo quando, após tão pouco tempo, tudo pareceu acontecer novamente. Fechou os olhos se entregando à escuridão.


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Notas finais do capítulo

*Militis parens Mãe do cavaleiro. Mãe do soldado.
*Electus Eleita. Escolhida.
*Material santo Material usado nas armas dos anjos e nas construções celestes. Não existe nada se quer parecido na Terra.
OBS: Essas notas com traduções e explicações de termos (mais conhecidos como notas de rodapé) serão frequentes e importantes.
Bem.. Posso dizer que não tenho muitas expectativas? Gostaria de receber reviews, mas não os espero. Na verdade, não espero nem que alguém leia esta história (ela é querida, mas já me decepcionou demais também). Só a postei porque a amo tanto, que deixá-la sozinha e triste no fundinho do meu HD me entristecia. Vou continuar escrevendo-a e postando-a primeiramente por meu amor a ela. Sou uma pessoa difícil para long fics, ela sabe. Mais motivos para postar também podem surgir ao longo do caminho (sou uma boba esperançosa). Mas vou continuar com minhas ones despropositadas (e também muito amadas), e até há outro projeto de long vindo por aí (uma feliz, pra variar!). Quem sabe se aqui der certo e meu amor pela nova aumentar, nós não teremos uma outra long fic minha rondando pelas atualizações do Nyah. Enfim, como sempre: não tenho um beta (nem estou procurando um, na verdade), então, se algum erro daqueles inaceitáveis estiver perambulando aí pelo texto, por favor, me perdoem e avisem.Obrigada por lerem, por (se) mandarem reviews,por estarem aqui e por existirem (aquele espaço de agradecimentos de sempre). Paz, energia e todo amor que houver nessa vida pra vocês.